*Cesar vanucci
“o planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos”
Em sua momentosa fala na ONU, já aqui comentada em alguns
aspectos significativos, o Presidente Lula sustentou, de maneira enfática que os Estados não podem se curvar “ante indivíduos, corporações ou
plataformas digitais que se julgam acima da lei.” Proclamando a urgência da
regulamentação das redes sociais, salientou que “a liberdade é a primeira
vítima de um mundo sem regras.” Acrescentou que a essência da soberania abrange
o direito de legislar, julgar e fazer cumprir as regras dentro dos territórios
nacionais, incluindo obviamente o ambiente digital.
Criticou veementemente o que
chamou de “oligopólio do saber”, configurado na consolidação das assimetrias na
área de Inteligência Artificial. Justificou acertadamente a implementação de governança
intergovernamental da inteligência artificial, explicando que o mundo observa,
assustado que os poderes inerentes a IA estão se concentrando nas mãos de
pequeno número de pessoas e empresas, em alguns poucos países. Aduziu sensatamente:
“Interessa-nos uma Inteligência Artificial emancipadora, que também tenha a
cara do Sul Global e que fortaleça a diversidade cultural. Que respeite os
direitos humanos, proteja dados pessoais e promova a integridade da informação.
E, sobretudo, que seja ferramenta para a paz, não para a guerra.”
Noutra vertente da manifestação,
Lula declarou estarmos condenados à interdependência da mudança climática.
Registrou que o planeta já não espera para cobrar da próxima geração. Disse: “o
planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. Está cansado de metas
de redução de emissão de carbono negligenciadas e do auxílio financeiro aos
países pobres que não chegam nunca.”
O Presidente ressaltou que a Democracia não aceita a fome, a
desigualdade, o desemprego e a violência. Anotou, a propósito: “No Brasil, a
defesa da democracia implica ação permanente ante investidas extremistas, messiânicas
e totalitárias, que espalham o ódio, a intolerância e o ressentimento”.
. Em trecho do discurso voltado para a questão das clamorosas
desigualdades sociais e as dificuldades enfrentadas na conquista de patamares
de crescimento econômico satisfatórios, Lula criticou a exorbitância dos juros
cobrados, por órgãos financiadores internacionais das nações em desenvolvimento.
Assegurou: “Sem maior participação dos países em desenvolvimento na direção do
FMI e do Banco Mundial não haverá mudança efetiva.”
Chamou a atenção para um contraste assustador na esfera econômica.
Enquanto 155 milhões de pessoas ao redor do mundo passam fome, as 150 maiores corporações
obtiveram lucro de 1,8 trilhões de dólares e a fortuna dos 5 principais
trilhonários mais que dobrou. Arrematou: “a fome não é resultado apenas de
fatores externos. Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. Hoje o mundo
produz alimentos mais do que suficientes para erradicá-la.” Uma fala, sem
dúvida, lúcida e oportuna.
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