sábado, 29 de outubro de 2022

A hora da decisão

 A hora da decisão


*Cesar Vanucci

Sou visceralmente democrata. Para mim, a liberdade é algo fundamental.” (Juscelino  Kubitschek de Oliveira, maior estadista brasileiro)


 O que terá a dizer o sentimento nacional neste instante decisório importantíssimo? Ocorre-nos registrar, como respostas apropriadas à indagação, as considerações alinhadas na sequencia. A Democracia é valor sagrado. Acha-se impregnada na alma das ruas. Garante o exercício pleno da cidadania, com seus benfazejos desdobramentos. Assegura a liberdade de expressão, resguarda os direitos fundamentais inerentes à condição humana. Utiliza o humanismo como trincheira de luta em favor de postulados nobres que dignificam a aventura da vida.

 Toda eleição representa marco precioso na caminhada democrática. A democracia tem, obviamente, defeitos, mas em nenhuma parte do mundo, ao longo dos tempos, testou-se regime que possa com ela se ombrear, que esteja apto a oferecer eficácia e eficiência comparáveis na condução dos destinos políticos e administrativos. Louvar as intuições democráticas, sem tergiversações é dever cívico de suprema significação. Respeitar seus ditames é imprescindível. Constitui prova de maturidade política e de elevação do espírito humano.

 Da parte do eleitor é legitimo esperar-se conscientização exata de tudo que esteja em jogo no processo eleitoral. É de a sua responsabilidade avaliar com serenidade, bom senso e espírito público as propostas e promessas colocadas pelos candidatos nas mesas de debate.  Bem como, também, analisar as posturas, dentro e fora do país,do pretendente às funções de dirigente da nação pelo próximo quatriênio. Dele, candidato, exige-se comprometimento decidido com os valores republicanos, com as instituições, com os clamores populares por medidas que proporcionem bem estar à comunidade.

O grau de sensibilidade social, nos procedimentos, atitudes e palavras do  “presidenciável” ,   há que ser devidamente sopesado. É justo, bastante compreensível aguardar de quem venha a desempenhar honrosa missão projetos e ações que promovam o desenvolvimento econômico sem ônus para as classes menos afortunadas, abra frente de trabalho para absorver as legiões de desempregados, mostre dedicação com afinco a iniciativas que eliminem os bolsões de pobreza detectados, deploravelmente, na paisagem urbana do país. Fica claro, pela mesma forma, que o voto consciente deve recair em candidato que saiba valorizar a cultura popular, respeitar as diversidades, enfrentar com destemor preconceitos aviltantes, preservar o meio ambiente, obedecer aos preceitos científicos e prestigiar os avanços da ciência.

É relevante para o eleitor, de maneira a que possa fazer um juízo adequado de valores, distinguir a verdade fatual das execráveis fake news. E não se deixar inocular pelo germe corrosivo da mentira espalhada em plataformas eleitoreiras descompromissadas com o bem comum e com a legislação democrática.

  A eleição de domingo, situada no radar das atenções mundiais, acompanhada naturalmente de enorme expectativa por toda nação brasileira, provocou oportuna manifestação do papa Francisco, gloriosamente reinante.  Saudando peregrinos brasileiros na Praça São Pedro, no Vaticano, Sua Santidade pediu a intersessão da Santa Padroeira, Nossa Senhora Aparecida, que livre nosso país do ódio, da intolerância e da violência.  A mensagem pontifícia interpreta com fidelidade os anseios da gente do povo em todos os lares brasileiros.

Que o pleito transcorra em clima de paz, sem quaisquer novas perturbações da ordem constituída, em estrita consonância com os generosos anseios da coletividade, para que a voz soberana das urnas eletrônicas se faça ouvir.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Democracia alvejada

 

Democracia alvejada

*Cesar Vanucci

“Ato programado contra a Democracia .”( Fernando Abrucio, jornalista)

 Os impactantes acontecimentos protagonizados pelo ex-parlamentar Roberto Jefferson constituem uma demonstração cabal da força demolidora do fanatismo em quaisquer de suas variáveis políticas e religiosas. O desvairado aliado de Jair Bolsonaro, com atuação intensa desde a primeira hora e  na linha de frente na campanha sucessória, foi arrastado pelos atos afrontosos cometidos a uma inglória confrontação com as instituições democráticas, legislação penal e regras civilizatórias. Participando de articulações para tumultuar pra valer, com fitos antirrepublicanos, o segundo turno das eleições, confirmou sua condição de terrorista enfronhado em maquinações perversas que agrediram em cheio a consciência cívica nacional. Nos descaminhos percorridos acabou embarafustando em beco sem saída.

 Numa investigação aprofundada que a opinião pública exige seja promovida, o talibanista de Comendador Levy Gasparian, se verá, certeiramente,  obrigado a explicar, tintim por tintim, a tresloucada enrascada em que se meteu. Terá que esclarecer se agiu solitariamente ou solidariamente com extremistas de seu naipe.

 Recolido à residência, em prisão domiciliar ocasionada por alegados problemas de saúde, Jefferson usou e abusou da prerrogativa que lhe foi concedida. Descumpriu todas as medidas cautelares estabelecidas. Frequentou febricitantemente as redes sócias para insultos, sublevações e apelos a copinchas, tão coléricos quanto ele, para saírem armados às ruas  e invadir dependências do Poder Judiciário. Desferiu, com torpeza inaudita, ataques injuriosos a Ministros do Supremo e outras personalidades. Deixou-se fotografar empunhando armas de auto calibre, em manifestações hostis a autoridades e lideranças.

 No domingo 23 de outubro, faltando uma semana para a definição das eleições, ao ser chamado às falas pela Justiça, reagiu de forma calculada e extrema ferocidade à ação da policia federal encarregada de conduzi-lo de volta à prisão. Entrincheirado em sua mansão disparou 50 projeteis com fuzil provido de mira telescópica e arremessou 3 granadas na direção dos agentes que ali estavam cumprindo ordem superiores, ferindo dois deles, danificando uma viatura oficial, por pouco não provocando uma tragédia de proporções mais avultadas.

 O que aconteceu em seguida, gerando atmosfera de filme de suspense, foi bastante preocupante. O governo anunciou a ida do Ministro da Justiça ao local para provável e descabida negociação com o ex- parlamentar sedicioso, que postou mensagem dizendo que não se renderia aos policiais. O contato do Ministro com o dito cujo, se ocorreu, terá sido apenas por telefone. A polícia Federal teve comportamento diferenciado e comedido, até que a prisão fosse consumada. Algumas pessoas de proa da mesma corrente política de Jefferson deram realce nas redes a sua belicosa conduta, enaltecendo a “façanha”. Chegou-se  ao cumulo de convocar simpatizantes para postarem-se à volta da residência cercada pela lei, com o objetivo de impedir sua detenção. Jornalistas que cobriam o fato foram intimidados e agredidos. Um irresponsável deputado federal extrapolou todos os limites, anunciando, espalhafatosa e falsamente que tropa do exercito seria deslocada para Levy Gasparian, a fim de resguardar o autor da inominável balbúrdia.  Até o autodenominado padre kelman, personagem sem votos (inclusive sacerdotais, como dito repetidamente na imprensa) que andou bagunçando  debate importante para a vida brasileira, apareceu diante dos holofotes da tevê posando de negociador.

Chamou a atenção dos observadores a circunstancia de que no epilogo da trama os apoios da patota de Roberto Jefferson foram minguando, cedendo lugar a versões surreais e desconexas do acontecido.

 Esse chocante capítulo da historia política brasileira terá, obviamente muitos desdobramentos. Ficará para sempre reconhecido como uma tentativa insidiosa de alvejar a Democracia.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

sábado, 22 de outubro de 2022

A eleição que continua

 

A eleição que continua

                                                                                                          *Cesar Vanucci        

                         "A desinformação é tanta que até a imprensa tradicional repete fake news.”                                                                                                                            (Ministro Alexandre de Moraes)

1) Plano 3D

Devido provavelmente a um descuido – já que manifesta a inconveniência para a candidatura situacionista, neste momento pré-eleitoral, de divulgação desse teor -, fontes do ministério da economia deixaram vazar noticia alusiva ao propósito governamental de adotar, ainda no presente exercício, plano econômico de contenção de gastos denominado 3D pelo Ministro Paulo Guedes. Quando se deram conta do lapso cometido, os tecnocratas em finanças apressaram-se em dizer que a coisa não era bem como a imprensa estava a propagar. O plano em causa consistiria na desindexação, da inflação de salários, aposentadoria e outros benefícios sociais, numa tentativa de não ultrapassar o teto dos gastos públicos. O titular da pasta da economia assim explicou, de acordo com o noticiário, o significado do “3D”: desvinculação, desindexação e descentralização. De forma mordaz jornalistas da área econômica encontraram outro significado para o plano: desastroso, danoso, desditoso.

 

2) Segundo turno

A campanha eleitoral no segundo turno atingiu grau de efervescência nunca vista anteriormente. Nesta reta final o “vale tudo” chutou pra escanteio todas as regras éticas. Além da produção ininterrupta de fakes, ganharam desassossegante notoriedade às pressões de toda ordem, com vistas a persuadir, agradar, intimidar, manipular eleitores desprevenidos. Chama a atenção, por exemplo, a exagerada carga de “bondades” distribuídas na 25° hora da acirrada porfia. São benefícios sem suporte orçamentário, de efêmera duração, com mais do que certa probabilidade de afetar as contas públicas em futuro próximo. Não são poucos os cidadãos, chefes de família que se confessam perturbados com os ataques desabridos entre pessoas e grupos contendores, bem como com o assedio nos ambientes de trabalho envolvendo familiares e conhecidos. São visíveis – argumentam – os sinais de angustia e desgaste emocional. A saúde mental da população está seriamente afetada.

 

3)Fakes

O TSE recebeu quase 20 mil denúncias de fake news na atual campanha eleitoral. É quase certo que esse volume de conteúdos falsos, alvejando reputações, represente apenas parte da avalancha de desinformação propalada pelas redes com impetuosidade de grama tiririca. A Corte judicial bem que se esforça em reprimir o esquema, mas tudo indica que os meios legais para a contenção dos abusos são insuficientes para se contrapor à velocidade da maléfica irradiação facultada pela internet. O problema das fakes é universal. Em todas as partes do mundo a momentosa questão vem sendo tenazmente debatida, na busca de soluções que não coloquem em risco a liberdade de expressão. Indoutrodia, a justiça americana condenou um “ especialista” em espalhar falsidades pela mídia eletrônica a pagar multa de 1 milhão de dólares. Se a moda pegar por aqui...

 

4)Poupança.

Uma das fakes mais alardeadas na hora presente diz respeito a desagradável perspectiva de um confisco da poupança, como já ocorreu em período governamental lúgrobe do passado. O fato permite que rememoremos a campanha em que Fernando Collor se elegeu presidente, numa disputa com Luiz Inácio Lula da Silva. O político alagoano afiançou com estardalhaço, que seu oponente iria, se eleito aplicar a indesejável medida confiscatória. Lula negou enfaticamente. No final das contas quem acabou  assinando o calamitoso ato do confisco, que levou muitas famílias  ao desespero, foi justamente o autor da denuncia. Que teve seu prestigio abalado a ponto de ser “convidado” a deixar a presidência.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Nos tempos do “voto de marmita”

 

Nos tempos do “voto de marmita”

                                                                                                    *Cesar Vanucci

                                                   “As fraudes eram uma constante.” (Estudo do TSE)

A dinâmica do processo eleitoral na vida democrática contempla a possibilidade de seu constante aperfeiçoamento. O atual sistema de votação e apuração de votos implantado no Brasil, reconhecido mundialmente como modelar, representa amostra frisante dessa benfazeja escala de aprimoramento.

O esquema anteriormente vigorante, da chamada “marmita” com cédulas que continham os nomes dos candidatos, produziu situações fraudulentas inumeráveis, apesar da fiscalização da Justiça Eleitoral e agremiações partidárias. Em várias circunscrições eleitorais, com conluio de muita gente não era incomum uma quantidade expressiva de votos brancos e nulos serem computados proporcionalmente à votação realmente auferida por candidatos, de modo a favorecer sua ascensão ao cargo pretendido. Nos chamados “currais coronelísticos”, envelopes com cédulas eram entregues a “cordatos eleitores”, conduzidos aos postos de votação sob implacável vigilância de cabos eleitorais. Os “votantes”, em não poucas oportunidades não sabiam se quer em quem estavam “votando”. Essa situação anômala do chamado “voto de cabresto” deu origem a muitas historietas que entraram para o folclore político. Uma delas: perguntado sobre o candidato em que votou, um desses “dóceis eleitores” respondeu “não saber o nome do gajo, já que o voto é secreto, uai!”...

O TSE rememora passagens sugestivas desses tempos. Até 1996, quando o voto eletrônico passou a ser gradualmente implementado, as suspeitas de fraude eram componente de tensão a mais num dia de eleição, que naturalmente já guardava emoção avolumada.  No período em questão, não havia apuração de imediato. Os resultados não eram divulgados no mesmo dia , como agora ocorre.  A contagem cédulas espichava-se por até semanas. Essa circunstancia fazia crescer o azedume dos ânimos entre escrutinadores e fiscais dos partidos. Em clima assim, as alegações de fraude eram constantes. Durante a apuração a cada cédula mal preenchida, qualquer dúvida que houvesse sobre a real intenção do eleitor – ao marcar com um “x” o quadrado do candidato ou ao escrever o nome ou o número do escolhido – armava-se uma discussão entre os fiscais dos partidos e os escrutinadores que podia tomar um bocado de tempo. E, não raro, essa discussão resultava na anulação de votos e, por vezes, da urna inteira.

As denominadas “urnas grávidas” já traziam votos antes mesmo de abrir as sessões pras votações. Como não dava para separar os fraudulentos dos autênticos, todos os votos da seção eleitoral acabavam sendo impugnados – isso quando o trambique era descoberto. Urnas com mais votos do que eleitores inscritos na respectiva seção eram algo corriqueiro. As razões para isso eram muitas, começando pelas falhas no cadastro eleitoral, em que a mesma pessoa podia ter vários títulos. E, no tempo em que o cadastro eleitoral não era unificado, havia ainda os “eleitores-fósforo”, que ganhavam esse nome porque “riscavam” (votavam) em várias seções na mesma eleição. Quem saía perdendo era a vontade soberana dos eleitores.

Outro tipo de tramoia ficou conhecido por “mapismo”. Consistia no seguinte: o placar dos votos apurados ia sendo registrado conforme a conveniência do escrutinador. Com as urnas abertas e os votos já contados, era difícil descobrir de onde era o voto e para quem havia sido dado.  Essa manobra solerte forçava fatigante recontagem – atrasando ainda mais o resultado final.

Pelos poucos exemplos enunciados, tem-se uma visão do extraordinário avanço que o sistema da urna eletrônica, tão virulentamente combatido pelo negacionismo fundamentalista, representa  na história de nossa evolução política e democrática.

 

                      Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Nunca, jamais, em tempo algum...

 

Nunca, jamais, em tempo algum...

                                                                             *Cesar Vanucci

 

“É loucura, mas há um método” (Shakespeare)

 

“Isso é intriga da oposição, outra fake”.  Esta foi, num primeiro momento, nossa reação diante da notícia do incidente ocorrido em Aparecida. Mas, pouco depois, confrontando imagens estampadas na TV, demo-nos conta do equívoco cometido na avaliação do fato. O que se passou, em recinto sagrado, na celebração consagrada a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, provocado por desordeiros travestidos de militantes políticos, foi uma algazarra que aviltou a consciência cristã e o sentimento cívico da Nação. Jamais, em tempo algum, assistiu-se no país a uma cena tão desrespeitosa a valores tão caros à devoção marial de que se acha saudavelmente impregnada a alma popular. Ao redor do candidato de sua preferência, num arremedo de comício, impróprio para o lugar e ocasião, emitindo aos berros, frases ensaiadas de campanha política, os apoiadores de Jair Bolsonaro tiveram o desplante de vaiar na porta da Basílica, o arcebispo Dom Orlando Brandes no instante solene em que era proferida a homilia evocativa da consagração à Padroeira. Os apupos ecoaram estridentemente à hora em que o prelado pedia a proteção divina para os pobres, para as crianças, para os que têm fome. Não satisfeitos com tanto abusos, os desordeiros partiram para intimidações a integrantes da equipe da TV Aparecida. Tudo isso se processou durante romaria à Basílica que reuniu incalculável multidão de devotos. No púlpito, debaixo de aplausos estrepitosos, um sacerdote explicou que a data era dedicada a pedidos de bênçãos, não de votos. O desvairado procedimento causou impacto negativo junto a opinião pública, motivando manifestações de indignação em todo seguimento da sociedade.

 Outro episódio que vem causando penosa  impressão no espírito popular diz respeito a uma denuncia feita, em Goiânia pela Senadora eleita Damares Alves, ex-Ministra de Estado. Ela declarou que na Ilha de Marajó crianças, inclusive recém-nascidos foram vítimas de horripilantes crimes de pedofilia. O governo do Pará, os Ministérios Públicos Federal e Estadual, a Secretaria de Segurança daquele estado, órgãos de direitos humanos estão reclamando provas da escabrosa denuncia. Damares havia alegado possuir provas, entretanto, agora alega apenas ter ouvido dizer que isso teria sucedido. Jornalistas brasileiros estão informando que uma história parecida, reconhecida posteriormente como fake, foi intensamente propagada nos Estados Unidos contra Joe Biden, na campanha de Donald Tramp. Parece maluquice, mas há um método.

Segundo turno

 Segundo turno

                                                                                                                     *Cesar Vanucci

“Politica não é coisa para amador”

(Domingos Justino Pinto, educador).

 

 O cidadão comum espanta-se, muitas vezes, com as trilhas sinuosas percorridas pelos políticos. Acontece que a política, numa parodia relativa aos versos de  melodia popular bastante conhecida, “tem razões que a própria razão desconhece; faz juras de amor e depois esquece.” E não apenas isso. Esquece também os agravos, as desavenças, os desentendimentos, as discordâncias, os entrechoques do passado, tidos nalgum momento, erroneamente, como insanáveis e definitivos.

 Aí estão como palpitante evidência desse estado de coisas predominante, não é de hoje nos arraiais políticos, os novos arranjos, os pactos, as negociações, as alianças firmadas com vistas ao segundo turno, numerosas delas inimagináveis até outro dia.

  O “presidenciável” Luiz Inácio Lula da Silva, empenhado na composição de uma “frente ampla” que possa garantir-lhe, tal qual ocorreu no primeiro turno, ganho de votos na rodada final da sucessão, tem agora como aliados Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckimin, José Serra, Simone Tebet, Ciro Gomes, ferrenhos adversários em inflamadas campanhas eleitorais, em diferentes épocas. Os Ministros Joaquim Barbosa e Celso de Melo, ex-presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), críticos em dias não muito remotos da gestão lulista; Marina Silva ex-pretendente à chefia de governo em oposição a Dilma Rousseff, Pérsio Arida, André Lara Resende, Armínio Fraga, Henrique Meirelles, economistas que em dado instante adotaram posição contraria às diretrizes econômicas petistas são personagens que agora identificam em Lula o candidato que melhor encarna o sentimento democrático da Nação.

 Vejamos, em seguida, o que anda rolando no pedaço contrário. No rol dos apoiadores, para segundo turno, do candidato Jair Messias Bolsonaro, figuram, pela mesma forma nomes que, ainda outro dia se contrapunham, enfaticamente, à sua atuação. Caso frisante envolve o ex-Juiz Federal e ex-Ministro Sérgio Moro. Eleito Senador pelo Paraná, saiu no ano passado do Ministério Da Justiça em conflito aberto com o chefe do Executivo, acusando Bolsonaro de interferências desabridas na Policia Federal. Sua atitude motivou a abertura de um inquérito, ainda em curso na Alta Corte, para apuração de responsabilidades. Moro anunciou oficialmente sua adesão à campanha em prol da reeleição do Presidente. Em momento não muito recuado, o chamado “centrão” era apontado por Bolsonaro e companheiros de sigla como uma excrescência na vida política. E não é que a base de sustentação no plano parlamentar do atual ocupante do Palácio do Planalto está hoje confiada, justamente, ao “execrável” agrupamento?

 Assim, a política. Travessa, desconcertante, astuciosa, incoerente, atividade repleta de ardis e irreverência, que não se presta decididamente a manejos de amador. Mas, de qualquer forma, um instrumento valioso no debate das ideias e propostas que alicerçam o processo democrático.

 Essas composições de forças promovidas pelos contendores fazem parte de um jogo complexo que exerce certo fascínio no espírito popular. Subsidiam o eleitor com informações preciosas para a tomada de decisão em seu próximo retorno às urnas eletrônicas. Fica claro que as adesões obtidas por cada um dos aspirantes à presidência, por mais representativas que sejam não excluem a necessidade da apresentação de propostas que contemplem os anseios generosos da sociedade. Mais ainda: que representem cabalmente os clamores doridos da gente do povo marginalizada no desfrute de benefícios sociais que as leis, a cartilha de direitos humanos, o bom senso, a ética humanística estipulam para todos os indivíduos independentemente de sua crença, raça, sexo ou qualquer diversidade.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

domingo, 9 de outubro de 2022

Política da vida

 

Política da vida 

                                                      *Cesar Vanucci  

        "(...) Política é nobilitante e expressa sentido de cidadania.”  (Padre Juvenal Arduini, sociólogo e professor)

 

Criatura admirável, provida de incomum sabedoria, soube colocar os talentos do espírito a serviço do mundo, das causas sociais, dos excluídos na partilha dos bens terrenos prodigalizados pela Natureza ou produzidos pelo labor humano.   Chamava-se Juvenal Arduini. Padre, escritor, sociólogo, professor, tribuno eletrizante. Desfrutei do privilégio de extensa convivência, muito fecunda para mim em benefícios, com esse admirável mestre. Em certa ocasião, ao homenageá-lo, disse-lhe que o considerava o padre Lebret brasileiro. Atualizo o conceito. Nutro hoje convicção plena - repassando lances do seu trabalho apostólico e revendo escritos brotados de sua pena refulgente e ensinamentos transmitidos em sua fala civicamente desassombrada - que faz todo o sentido proclamar também que o citado padre Lebret, festejado pensador, foi o Juvenal Arduini francês.

 

Ao relembrar personagem de tão maiúscula presença na cena intelectual, aquinhoado de dons humanísticos e espirituais invejáveis, amigo muito querido, meu compadre, tomo a liberdade de substituir, com notória vantagem para o leitor, meu comentário nesta fase eleitoral por palavras extraídas da vasta e valiosa obra deixada pelo mestre. São pensamentos vigorosos, oportunos e atuais, como se verá adiante.

 

Vamos lá. Assim falou Juvenal: “Em tempo de eleições (...) é oportuno refletir sobre a política. Política deriva de “poleteia”, no grego. “Polis” significa cidade, região habitada. E “polites” é cidadão. Verifica-se que, originalmente, política é nobilitante e expressa sentido de cidadania.

 

Política é fenômeno eminentemente social e promove a sociedade como todo. Política tem significado de associação, convivência e aliança. A política existe para reunir pessoas, integrar grupos e povos para responder aos desafios sociais. A verdadeira política suscita a socialização substancial e elimina o dilaceramento feroz entre pessoas, organizações e partidos.

 

A política está organicamente ligada ao povo. É destinada a servir o povo e não a subordiná-lo a interesses mesquinhos. A Constituição brasileira foi ousada e lúcida ao tratar da relação entre poder e povo. No artigo primeiro, parágrafo 1, a Constituição declara: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Aí está proclamação constitucional lapidar que dignifica Nação moderna. O poder emerge do povo. E também é exercido pelo povo mediante os eleitores ou diretamente. O poder está no povo, permanece no povo. O povo pode outorgar funções aos políticos, mas não lhes transfere o poder. Estritamente, o poder é do povo e não dos governantes. Há políticos que agem como se fossem donos do poder, que pertence ao povo. Isso é usurpação do poder popular.

 

Há muitos tipos de política. A política humanizada, social, ética e comprometida com a população. A política prostituída, corrupta e perversa. A política autoritária, tirânica e a política submissa, servil. Há política séria que responde às necessidades da população e política corrompida que se apodera dos recursos que pertencem aos pobres.” (...) “A realidade política, em si, é valor humano, social, cultural e histórico. A política sadia é necessária à sociedade. Não se trata de abolir a política, mas de limpá-la. Há que resgatar o potencial político dos povos. É urgente instaurar (...) a política da justiça e não da miséria. (...) A política da ética (...) A política da vida e não da morte. A política deve estar comprometida com o clamor da humanidade sofrida e com a responsabilidade histórica.”

 

*  Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

Semântica das urnas

  Semântica das urnas

                                             Cesar Vanucci *

        “Descubra como separar o joio do trigo – ou entender o que é  verdade e o que é só interesse no calor da temporada eleitoral.”                       (Nirlando Beirão)

 

O jornalista Nirlando Beirão, de saudosa memória, reconhecido no período em que atuou como  titular absoluto no escrete do jornalismo de qualidade comprometido com o sentimento nacional, era dotado de inteligência arguta e a verve faiscante. Deixou isso esplendidamente evidenciado num saboroso texto publicado, anos atrás, na revista “CartaCapital”. Intitulado “Dicionário Eleitoral (para ingênuos)”, o trabalho fornece dicas que ajudam a decifrar a semântica das urnas, ou, conforme frisa, “entender o que é verdade e o que é só interesse no calor das temporadas eleitorais”.

 Abaixo, de forma adaptada e resumida por este desajeitado escriba, alguns “verbetes” do divertido “dicionário”. 1)Alternância de Poder – só é essencial à democracia quando o nosso adversário está no poder. 2) Aparelhamento do Estado – os adversários nomeiam apaniguados. Nós, os melhores quadros técnicos. 3) Corrupção. Os outros a praticam de forma perene. Nossos aliados cometem apenas pequenos deslizes. 4) Visão de Deus. Todos os candidatos dizem ter fé. Os mais fervorosos são aqueles que não acreditam. 5) Delação premiada. Ela só tem valor se vazada para atingir o concorrente. Se no meio do lamaçal, surgir o nome de um aliado, o correto é dizer que as denúncias são açodadas e precisam ser apuradas a fundo, doa a quem doer. Quanto ao fato de o vazamento da delação premiada constituir também crime (...), bem esqueça.” Cenário internacional. Se uma administração aliada vai mal, a culpa é do cenário externo. Inverte-se a lógica no caso dos adversários. Se a gestão inimiga vai bem, as condições internacionais a favoreceram. 7) Marquetagem. Se o adversário sobe nas pesquisas isso se deve a ação mistificadora dos marqueteiros. Sem essa de lembrar que o nosso candidato igualmente possui um exército de especialistas em marquetagem. 8) Ano eleitoral. As ações do adversário não passam de medidas eleitoreiras. As nossas ações são decisões de governante seriamente comprometido com suas funções. 9) Velha política. Só os adversários a praticam. 10) Coligações. Promovidas por nós, deixam estampada aguda sensibilidade política, negociação de fino trato. Promovida pelos outros, denotam falta de escrúpulos, atroz barganha de princípios por conveniências.

 Este desajeitado escriba não resiste à tentação, após a leitura do “Dicionário” de Nirlando Beirão, de juntar ao texto outra sugestiva definição sobre política. O autor é Pierre Augustin Caron de Beaumarchais considerado por biógrafos figura emblemática do “Século das Luzes” (XVIII), foi, aliás, muito mais que um brilhante dramaturgo. Escritor, músico, poeta, instrumentista, professor, inventor, homem de negócios que amealhou fortuna, exerceu também, vivenciando ascensão social fulminante, a carreira diplomática. Aqui a definição:

 “... fingir ignorar o que se sabe e saber o que se ignora; entender o que não se compreende e não escutar o que se ouve; sobretudo, poder acima de suas forças; ter frequentemente como grande segredo ou esconder que não se tem segredos”; (...) “parecer profundo quando se é apenas, como se diz, oco e vazio; desempenhar bem ou mal um papel”; (...) “procurar enobrecer a pobreza dos meios pela importância dos objetivos: eis toda a política (...)”.

 E como arremate, vem agora mais esta intrigante observação sobre o comportamento político, muito em voga no passado, nas hostes da militância partidária coronelística: “aliado meu não tem defeito. Adversário, se não tem, eu boto...”.  

*Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

O dia seguinte

 O dia seguinte

                            

                                                *Cesar Vanucci

 

“Não houve nenhuma contestação quanto aos resultados das eleições de 02 de outubro” (Presidente do TSE, Ministro Alexandre de Moraes, a respeito do pleito)

 

Antes de tudo mais, olhos voltados para os acontecimentos do histórico 02 de outubro, falemos da extraordinária festa cívica vivenciada pela Nação. Os brasileiros demos uma demonstração agigantada de maturidade democrática, num pleito que registrou de norte a sul, de leste a oeste, perfeita sintonia dos lares e das ruas com os ditames da convivência ordeira e pacifica. Seja, igualmente, mais uma vez louvada a irrepreensível conduta da Justiça Eleitoral, responsável pela estrutura de votação e apuração que tanto assombro e admiração produz aqui e alhures.

 Reportemo-nos, na sequência, aos resultados. Foram, de certo modo, surpreendentes, numa disputa que se revelou a mais renhida após a redemocratização.  No tocante a contenda presidencial, a margem de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da silva, na vitória parcial conquistada, foi menor do que as pesquisas assinalavam. O Presidente Jair Messias Bolsonaro mostrou, na chegada condição excepcional para adiar a definição para um segundo momento. Paralelamente a isso ampliou sua força política com o triunfo significativo de numerosos integrantes de seu grupo em cargos executivos e legislativos. Tem-se por certo que a campanha do segundo turno será bastante acirrada ficando nada fácil para o observador prognosticar acerto sobre quem sairá vencedor, já que o páreo pode vir a ser decidido, como se diz, “no olho eletrônico”.

Os próximos dias, reservados pelos presidenciáveis ao esforço de atrair alianças, oferecerão muitas emoções. Lula vai empenhar-se em ampliar o leque de apoios a que seus partidários convencionaram de denominar “frente ampla”. Suas articulações, como tudo faz crer, se estenderão aos domínios eleitorais em que Simone Tebet e Ciro Gomes se destacaram. Nos redutos petistas vem sendo propagado que os contatos, nos dois casos, serão diretos com Simone e com a cúpula do PDT. Do outro lado, espera-se que Bolsonaro procure reestabelecer o pacto que vigorou no pleito de 2018 com o governador reeleito de Minas Gerais. Romeu Zema, como foi amplamente noticiado, manteve-se, no primeiro turno, em posição de neutralidade com relação à competição presidencial.

Simone Tebt saiu-se na porfia como estrela em ascensão na constelação política brasileira. Ciro Gomes, provido sem duvida alguma de boas qualificações intelectuais e técnicas, perdeu-se no labirinto das contradições e estratégias equivocadas que adotou na corrida presidencial.

 A propósito do evento eleitoral, o Presidente do TSE, Ministro Alexandre de Moraes explicou, em coletiva à imprensa, não ter havido contestação alguma aos resultados das urnas. Disse, também, acreditar que o acirramento entre as candidaturas no 2* turno será político e que os ataques a Justiça Eleitoral não devem intensificar-se.

 Tudo isto posto, a sensação de que se acha a nação agora  apoderada é de que os próximos capítulos dessa maratona presidencial serão simplesmente eletrizantes. Dos contendores espera-se que se comportem à altura desse momento épico de evolução democrática inconteste evidenciado pela nossa gente. Que cada um deles saiba executar a contento a missão relevante de que se fazem protagonistas centrais. Exponham suas ideias, tragam à mesa dos debates, sabatinas e entrevistas propostas que contemplem o desenvolvimento econômico, o combate às desigualdades sociais, a eliminação de bolsões de pobreza aguda, enfim a invasão do futuro pelo nosso país, tão rico em potencialidades e virtualidades.

 

  Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

sábado, 1 de outubro de 2022

Chegada a hora

 

Chegada a hora

Cesar Vanucci *

 

“Eleição é um teste cívico periódico para se manter a boa saúde democrática.”

(Antônio Luiz da Costa, educador)

 

Em idos tempos, anteriores ao estrondoso advento da era da comunicação digital, disputantes de cargos eletivos e próceres partidários costumavam recorrer, nalguns instantes de efervescência política, a uma frase declinada como uma espécie de refrão. A frase “em tempo de guerra, mentira como terra...” sintetizava, com adequação, o duelo flamejante das acusações e denúncias trazidas a público.

 De nosso isolado posto de observação, atentos ao que lemos e escutamos, dos protagonistas das competições eleitorais e porta-vozes, damo-nos conta de que essa expressão parece haver caído em desuso. Está fora de moda. Perguntamo-nos por quê? A resposta que acode é simples. A tal frase - com jeito, repita-se, de bordão, ou coisa equivalente - não consegue exprimir com fragor apropriado a avassaladora torrente de informações dúbias ou inteiramente falsas, os doestos, as sibilinas assacadilhas despejadas nas redes sociais. Redes reconhecidas como fontes de consulta mais incrementadas na atualidade. Muita gente vislumbra, nesse impactante esquema de divulgação, instrumento de propaganda de impensável descarte nestes tempos amalucados.

 Admitamos, com pitadinha de condescendência, a hipótese de que a orientação geral passada pelos comandos partidários aos encarregados da marquetagem não contemple a avalancha de exageros detectada. Os excessos cometidos ficariam a débito do descontrole emocional ou fanatice de apaixonados seguidores dos candidatos.  Mesmo assim, sob mira crítica, não há como desfazer, ou deletar, a incômoda sensação de que na campanha os limites éticos foram extrapolados. A propagação, às vezes com ímpeto de rastilho de pólvora, de notícias desairosas, alvejando adversários, revelou-se volumosa. Infinitamente mais do que a própria e, aí sim, absolutamente necessária disseminação das propostas de trabalho trazidas pelos candidatos.  

Eis-nos, neste preciso momento diante da decisão tão aguardada pela consciência cívica da Nação.

 É oportuno enfatizar que o jogo democrático tem regras claramente definidas. A livre expressão das ideias, as discordâncias são garantidas pela Carta Magna. Levantar, a esta altura de nosso estágio democrático, suspeição a respeito da legitimidade de um sistema  de coleta e apuração dos votos mundialmente louvado, constitui expediente nada democrático e deslavada má-fé. De igual modo, há que ser visto como achincalhe aos nossos foros de cidadania o não reconhecimento dos resultados, por qualquer capricho.  

 Ao eleitor consciente impõe-se o discernimento de saber distinguir, na frenética onda de impropriedades espalhadas, os propósitos realmente positivos e edificantes, contidos nos projetos e propostas debatidos, daquelas maquinações demagógicas e desconstrutivas que, desafortunadamente, enxamearam a corrida atrás do voto.   

 A receita democrática é essencialmente esta: quem conseguir aglutinar maior contingente de votos ficará, obviamente, investido da sagrada missão de conduzir os destinos nacionais. A campanha chega ao epilogo assim que anunciados oficialmente os resultados soberano e inapelável das urnas

 E se Deus assim permitir em resposta a justos anseios da sociedade, estaremos inaugurando  etapa radiosa em nossa história política. Aguardada com expectativa, mais do que isso, com fervorosa esperança, essa nova etapa, congregando as forças vivas e produtivas da Nação, haverá de favorecer a retomada do desenvolvimento econômico e social. Haverá de garantir definitiva ruptura com os obstáculos que se antepõe à consolidação pelo Brasil de seu destino de grandeza.                                                

 

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Ucrânia, impasse amedrontador

Ucrânia, impasse amedrontador

                                                                    *Cesar Vanucci

 

“Invoco o principio da autodeterminação dos povos para meu país”                                        (Volodymyr Zelensky, Presidente ucraniano).

 

 Este nosso mundo velho de guerra sem porteira vai de mal a pior. O conflito na Ucrânia é amostra contundente desse estado de coisas perturbador.  A insânia belicista que levou as tropas russas a se apoderarem de uma fatia considerável do território vizinho acena, em curto prazo, com perspectivas que podem se tornar de repente catastróficas.

 O façanhudo Vladimir Putin mantém o mundo em sobressalto com ameaças aterrorizantes. Depois de anunciar a convocação de 300 mil reservistas como reforço para as frentes de batalha, trombeteou, com a arrogância que lhe é peculiar, que a Rússia está pronta para utilizar armas nucleares na defesa das posições conquistadas. A estes anúncios estapafúrdios seguiu-se outro comunicado desconcertante. As populações das regiões sob controle dos invasores estão sendo convocadas a participar de “referendos” sobre a anexação dos lugares em que vivem à “pátria mãe”, ou seja, a Rússia imperial. Não é muito difícil prever os resultados da “consulta”. Esta a “lógica” da situação maquiavelicamente engendrada: com “maciça adesão popular” à ideia da anexação os territórios ocupados colocam-se sob jurisdição de Moscou. Qualquer tentativa ucraniana, ou de prováveis aliados, de recuperá-los será vista como agressão a Rússia. O revide será com emprego de armamento nuclear.

 O representante do kremlin no Conselho de Segurança da ONU deixou claro esse raciocínio perverso. A respeito do surreal plebiscito, já em curso, é interessante dizer que o questionário a ser preenchido pelos votantes é no idioma Russo e que o monitoramento do processo é feito, “obviamente, com lisura e isenção”, por comitês russos. Palavra de ordem nos veículos de comunicação, fachas e cartazes em profusão fazem conclamações desse gênero: “A Rússia é o futuro”! “Estamos unidos por uma história de 1.000 anos”; “Durante séculos, fomos parte do mesmo grande país. A desintegração do Estado foi um enorme desastre político. É hora de restaurar a justiça histórica.” Não constituirá surpresa alguma se a apuração apontar, “150% de aprovação”...

 A descomunal farsa vem sendo objeto da condenação universal.

 Dias atrás, o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky, fez na Assembleia Geral das Nações Unidas, escudado no principio da autodeterminação dos povos,  um apelo dramático no sentido de que a soberania da Ucrânia venha a ser restaurada. A permissão para que usasse a tribuna por meio de vídeo conferencia foi assegurada pela grande maioria dos países membros da instituição. Algumas poucas representações opuseram-se a sua manifestação. Outras poucas, incluído, inexplicavelmente o Brasil, se abstiveram. Em fala comovente ele reportou-se às atrocidades da guerra, à destruição das cidades, ao drama dos refugiados, à resistência heroica aos invasores, pedindo a punição da Rússia pelos atos praticados. Usando também a tribuna da ONU, o Presidente dos EUA, Joe Biden, criticou, com veemência, a atitude de Putin, lembrando que numa guerra nuclear não há lugar para vencedores. Afirmou textualmente: Se as nações podem perseguir suas ambições imperiais sem consequências, então pomos em risco tudo o que essa instituição (ONU) representa." Segundo ele, a guerra acontece para "extinguir o direito da Ucrânia de existir.” Analistas de política internacional admitem que os posicionamentos inflexíveis hoje dominantes a começar pela prepotência dos russos, geram impasses, à primeira vista, intransponíveis. Isso dificulta saídas diplomáticas para contenda, aumentando os temores de que um descuido qualquer nas ações desencadeadas pelas partes possa acender o apavorante “alerta vermelho”.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)


Giro pelo noticiário

 

Giro pelo noticiário

*Cesar Vanucci

“Mulheres iranianas saem às ruas em protesto contra a repressão aos seus direitos, imposta pelos Aiatolás” (Do Noticiário nosso de cada dia).

 

1) Direitos femininos espezinhados.

Discursando na ONU, o Presidente Joe Biben, dos Estados Unidos verberou com palavras cáusticas, apoderado de justa indignação, a atuação dos aiatolás do Irã pela virulenta opressão aos direitos femininos. Tomou por base, entre outras situações gravosas, a ação truculenta da policia de costumes daquele país que resultou na morte de uma jovem de 22 anos pelo “crime” de uso inadequado do véu para cobrir o rosto. Como amplamente noticiado a brutal ocorrência deflagrou reações no citado país com grupos significativos de mulheres bradando nas ruas seu inconformismo, despojando-se dos véus, cortando os cabelos num desafio aberto aos “guardiões da moral” responsáveis pelo “recato e pureza” de hábitos de suas subjulgadas compatriotas.

Até a semana passada a ação policial iraniana já contabilizava vinte seis mortos e centenas de prisões.   Em numerosos países, por sinal, vem sendo registradas tempestivas reações contra os abusos praticados em terras iranianas por conta da fanatice machista religiosa. Com relação a esse fato há um registro a mais a deplorar: a situação de submissão imposta às mulheres na Arábia Saudita (e também no Paquistão, para citar mais um exemplo) é tão ou mais revoltante do que daquilo que acontece no Irã. Causa espécie a circunstancia dessas violações a direitos tão legítimos não serem, hora alguma, igualmente criticadas, como aconteceu agora no tocante ao Irã, na mesma tribuna da ONU. A clamorosa omissão pode ser “explicada” por espúrias conveniências geopolíticas e econômicas. A Arábia Saudita, país de feição medieval, como alguns outros da orbita islâmica, desponta do cenário internacional como detentora de imensuráveis reservas petrolíferas exploradas em consórcios com as grandes companhias ocidentais que atuam nesse rendoso setor.

 2)Aquecimento global

O secretario Geral da ONU, Antônio Guterrez vem advertindo seguidamente os países membros da entidade acerca dos riscos progressivos na escalada, até aqui sem controle, do aquecimento global. Tem explicado, valendo-se de pesquisas idôneas que o adelgaçamento da camada de ozônio, a devastação florestal, os degelos, as diversas modalidades de crimes ambientais detectados mundo afora são fontes geradoras de pandemias, de escassez de alimentos, de condições climáticas desfavoráveis à saúde e, por conseguinte de pobreza aguda, desnutrição e fome, desigualdades sociais gritantes, ameaças de toda ordem à sobrevivência humana. As sensatas advertências ao que tudo parece não vêm sendo levadas a sério por boa parte das lideranças. Um significativo exemplo desse interesse minguado pelas palpitantes questões aventadas por Guterrez é dado aqui mesmo em nossos pagos, quando porta-vozes governamentais asseguram, enfaticamente, que a devastação florestal e a fome são pura falácia...

 3) FHC

Fernando Henrique Cardoso quebra o silêncio.  Fala pouco e diz tudo. Em curta, sensata e incisiva mensagem, sem citar nomes, sequer o da candidata Simone Tebet, apoiada por seu partido (PSDB), conclama os eleitores a votarem em 2 de outubro em pretendentes a cargos eletivos compromissados com a democracia, com os direitos fundamentais e com disposição para combater as desigualdades sociais, a miséria, a fome e os crimes ambientais

 4)Recado

Recado para relientos de carteirinha de todos os matizes: aproveitem, restam poucos dias pra vocês espinafrarem, discutir, produzir desavenças com familiares, virar a cara para amigos, hostilizar desconhecidos, enfim promover fuzuê com xingamento de mãe, entrar em briga aberta com o mundo por causa da política.

 

                            Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

 

A SAGA LANDELL MOURA

O instinto belicoso do bicho-homem

                                                                                                     *Cesar Vanucci Faço um premente a...