“... o halo mágico que envolve Rapa Nui.”
(J.J.
Benitez, escritor)
Continuo a falar dos enigmas deste planeta azul. Com seus
165 quilômetros quadrados, situada a quase 4 mil quilômetros de Santiago do
Chile, Rapa Nui – conhecida por Ilha de Páscoa -, possessão chilena, é um
enigma que já rendeu estudos alentados, segundo recente avaliação, em mais de
dois mil livros. A tentativa complicada de oferecer uma explicação lógica e
racional para o que aconteceu, em tempos imemoriais, naqueles confins do mundo,
tem mobilizado, ao longo dos anos, as atenções, a imaginação e a inteligência
de um exército de arqueólogos, antropólogos, oceanógrafos, etnólogos,
exploradores e aventureiros de formação a mais variada.
Apesar dessa avalancha bibliográfica, os segredos
que rondam Rapa Nui, considerada pelos seus habitantes como o “umbigo do
mundo”, permanecem intocáveis. Como os de tantos outros sítios arqueológicos
espalhados por este planeta azul. As interpretações, de um modo geral, não são
nada convincentes. As interrogações fundamentais continuam reclamando
respostas. Os textos que se propõem a decifrar a descomunal charada revelam-se,
via de regra, insatisfatórios, insuficientes e, até mesmo, simplórios. Isso
acontece, de forma mais frisante, na hora em que pipocam os “esclarecimentos”
concernentes aos supostos recursos técnicos que teriam sido empregados pelos
antiquíssimos habitantes da ilha na construção e, depois, no deslocamento e
fixação das colossais estátuas. A operação, como é sabido, envolveu esforços
dir-se-á sobre-humanos dos responsáveis pela tarefa para vencer distâncias
enormes, numa geografia acidentada, repleta de escarpas, ao longo de toda a
ilha.
Não é nada fácil absorver a teoria de que os moais,
numerosíssimos, teriam sido caprichosamente esculpidos com instrumentos toscos
manipulados por um bando de silvícolas com noções primitivas de vida social e
de conhecimento técnico. Fica difícil também conceber que, com os mesmíssimos
rudimentares instrumentos, as mesmíssimas despreparadas criaturas hajam logrado
extrair, de uma pedreira, as fatias gigantescas de rochas vulcânicas utilizadas
nas portentosas esculturas. Não menos difícil é aceitar que, depois de toda
essa extenuante empreitada, realizada sabe-se lá em qual espaço de tempo,
medido por algumas dezenas de anos, e com quais insondáveis intuitos, os
pascoanos de eras passadas hajam, complementarmente, conseguido transportar por
quilômetros, na força bruta, com o auxílio presumível de cordas, os frutos de
sua obsedante faina artística, afixando-os simetricamente em pontos
estratégicos, alguns bastante elevados, ao redor da ilha. Os moais são peças
inteiriças de quinze a vinte metros de comprimento. Pesam até 50 toneladas.
Exigiriam muito muque do pessoal da ilha para serem colocados nas posições em que foram achados
pelos embasbacados colonizadores de Rapa Nui, por ocasião da descoberta do
extraordinário sítio arqueológico.
Para esses problemas indecifráveis, as tradições
orais dos habitantes de Páscoa, recebidas naturalmente com desdém pela ciência,
apontadas como extravagante manifestação mitológica de agrupamentos indígenas
dominados pela superstição, oferecem respostas desconcertantes. Respostas que
se colocam, evidentemente, à deriva da compreensão do homem comum.
Os antigos habitantes de Rapa Nui seriam
remanescentes de uma civilização avançada, que povoou o lugar em tempos
desconhecidos. Seriam detentores de poderes excepcionais. “Estavam aptos” a
produzir, com a força mental, algo conhecido como “mana”, uma energia, de
acordo ainda com as lendas, capaz de deslocar objetos pesados a longa
distância. Uma “explicação” a mais para um enigma que acumula infindáveis
perguntas, para as quais não se conhece ainda resposta plausível.
Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)