Um cara pra lá de perigoso
Cesar
Vanucci
“Muitos
americanos têm a chance de afastar o
perigoso
Trump votando em massa em Hillary Clinton.”
(Milton Gomez, jornalista)
A
crônica jocosa do jornalismo relata que, nos idos de 1939, ao rebentar a
Segunda Guerra Mundial, um vibrante hebdomadário do Campo das Vertentes
deplorou, em grandiloquente editorial, não tivessem as grandes lideranças
mundiais ouvido com a devida atenção suas sucessivas advertências relativas aos
riscos representados pelas ações de Adolf Hitler e famigerados prosélitos.
Este
desajeitado escriba confessa, em lisa verdade, sentir-se um tanto quanto
possuído do mesmo tipo de preocupação que assaltou o espirito daquele inflamado
articulista, à hora em que faz uso de seu verbo, de alcance curto, para falar
dos temores que o afligem, como mero e despretensioso figurante no descomunal
palco da existência, diante de uma eventual ascensão à Casa Branca, em
Washington, do tal Donald Trump. A resoluta disposição desse cara em torrar
parte da colossal fortuna pessoal na pré-campanha pela legenda republicana foi
recebida, a princípio, com descrédito e até zombaria. Mas não é que, a partir
de um dado momento, sua arenga populista rasteira, impregnada de preconceitos
racistas, machistas, xenófobos, começou a sensibilizar - a ponto de causar
apreensão a lúcidos setores do pensamento político estadunidense - segmentos do
eleitorado identificados com causas radicais e interpretações mórbidas da
aventura da vida! Ei-lo, agora, triunfante, a um passo de fazer-se candidato na
disputa com o candidato que emergirá das primárias democratas, provavelmente
Hillary Clinton.
As
pesquisas acusam que Trump não vai reunir condições para superar a poderosa
competidora. Mas, pesquisa é pesquisa e eleição é eleição. Até que a vontade
das urnas, traduzindo um anseio mundial, escorrace a ambição do trilionário
candidato é preciso que alertas sejam feitos, em alta escala, sobre os riscos
representados pela eventual presença à testa da maior potência mundial de
elemento com o perfil de Trump. Defendendo sem disfarces a atuação dos EUA como
nação patrulheira do mundo, a supremacia da gente de epiderme branca em relação
aos outros, a expulsão de imigrantes, a proibição de cultos religiosos e a
construção de um “muro da vergonha” na fronteira com o México, Trump é um
perigo ambulante para os compatriotas e, também, para os viventes do resto do
mundo. Não custa nada advertir, não é mesmo?
Não estamos
sós,
pode apostar
Cesar
Vanucci
“Universo, irmão mal conhecido.”
(Jean Wahl, poeta, citado por Paulo Rónai)
A
peregrinação terrena é tecida de infindáveis interrogações. As perguntas
espocam em número infinitamente superior às respostas. Num contexto desses, de
proporções inimagináveis, a ciência é gota. Os fenômenos investigados, na longa
espera da decifração, são um oceano.
No instante
em que um telescópio super poderoso em matéria de propriedades tecnológicas
apropriadas pelo homem dá-nos conta da existência provável, num ponto distante
de outra galáxia, de um corpo celeste que ostenta características atmosféricas
assemelhadas às desta nossa ilhota solta no oceano cósmico, é perfeitamente
natural se reacenda a sempre momentosa discussão em torno da existência de vida
inteligente nas demais paragens do universo. Embora intuída pela grande maioria
das pessoas, a tese da pluralidade de mundos habitados não é oficialmente
admitida pela ciência ortodoxa.
Hoje já não
seria bem assim. Mesmo levando em conta o patrulhamento ostensivo no campo das
ideias praticado por certas correntes fundamentalistas radicais. Mas tempo
houve em que as pessoas de mente aberta, resguardando-se de ameaças, trancavam
a sete cadeados suas crenças em tão “sacrílega” hipótese. Protegiam-se, com
justificáveis temores, das consequências práticas de situações em que ideias
“tão extravagantes” pudessem vir a cair nos ouvidos de zelosos guardiães dos
conhecimentos científicos e religiosos dogmaticamente enfeixados.
A ortodoxia
científica, mesclada de fanatice religiosa, fixava conceitos inamovíveis.
Contestá-los representava risco a que ninguém queria, obviamente, se expor. As
proclamações de um luminar qualquer, revestido de pompa e autoridade, tinham
força de mandamento divino. Ái de quem ousasse contradizer, por exemplo, a
afirmação de que lá no inatingível ponto em que as águas do mar (povoadas de
terríveis monstros) e o horizonte se fundem ficava a borda de um precipício
aterrorizante! Ou a assertiva de que o sol e os demais corpos celestiais do
firmamento giravam em torno da Terra!
Retomemos o
papo sobre a descoberta nos confins galácticos do astro de configuração
parecida com a Terra. Muitas especulações começam, agora, a ser feitas a
respeito da possibilidade de se abrigarem ali espécies de vida como as que
conhecemos aqui. A inviabilidade da coleta de respostas a curto ou a médio
prazo, considerados sobretudo os
milhares de anos-luz que separam um planeta do outro, gera logicamente outras
elucubrações. Vamos supor que o local favoreça o desenvolvimento de uma
civilização com as mesmas peculiaridades. A evolução tecnológica alcançada se
situaria num estágio superior ou inferior ao nosso? Adiante.
Mantenhamos
sob mira a transformação assombrosa que este nosso mundo velho de guerra
experimentou nos últimos 50 anos. Avaliação do que poderia vir a acontecer, em
matéria de mudanças, num ciclo evolutivo de mil ou 2 mil anos a mais,
remete-nos, naturalmente, a projeções e perspectivas fantásticas. Não apenas
tão fantásticas quanto a gente consiga imaginar. Mas muito mais fantásticas do
que a gente jamais conseguirá imaginar.
A ciência
alega não dispor ainda de elementos para proclamar a existência de vida
inteligente fora do orbe terráqueo. Sob esse aspecto, os estrondosos avanços
tecnológicos espaciais valeram pouco. Continuamos, praticamente, a propósito,
no mesmo patamar informativo científico dos remotos momentos da censura
ameaçadora que impedia a discussão aberta, transparente, do apaixonante tema.
Isso, todavia, não impede que muita gente, consciente de sua cidadania cósmica,
em diferentes cantos desta imensa pátria terrena, vagando solta em mares
intermináveis pontilhados por sextilhões ou mais até de astros - entre eles o
tal planeta que guarda similitude com o nosso -, aceite pacificamente a ideia
de que não estamos sós no universo.
Enfrentar a crise
e achar soluções
Cesar
Vanucci
“Não
se espantar com nada talvez seja o único meio.”
(Horácio)
As
estarrecedoras revelações contidas nas gravações reservosas, feitas com
próceres influentes pelo “muy amigo” Sérgio Machado – outro ativo protagonista
do festival de bandalheiras que assola o país – não deixam margem a dúvidas.
Quem tem olhos pra enxergar e ouvidos pra escutar pode abrir mão,
tranquilamente, das bolas de cristal, tarôs, búzios, ou quaisquer outros
instrumentos utilizados pelos ocultistas em exercícios adivinhatórios, e
antever com fervorosa convicção que a intrigante novela política brasileira
reserva, prafrentemente, nova sequência de emocionantes capítulos. Com
informações tão ou mais perturbadoras do que as até agora disseminadas.
“Não
se espantar com nada talvez seja o único e melhor meio”, como aconselharia
Horácio, de se conservar a serenidade nesta baita confusão das arábias.
Confusão, como sabido, produzida por devastador conluio de corrupção montado
com implacável desfaçatez por um bando bem identificado de políticos,
empresários e agentes públicos despreparados e arrogantes. Apoderada de animadora
expectativa, muita gente acreditava que os timoneiros da nau em movimento estivessem
suficientemente aptos a conduzi-la pelas rotas de navegação traçadas rumo a
porto seguro. Mas, falar verdade, a sensação que se tem, neste preciso momento,
é de que um nevoeiro espesso lançou-a num verdadeiro “mar de sargaços”, de
transposição pra lá de dificultosa. A impressão deixada até aqui é de que os
navegantes não se mostram a altura da importante missão que se lhes foi
atribuída. É preciso rever as cartas de navegação, fazer uma releitura atenta e
esmiuçada dos mapas. Olhar as estrelas de modo a reencontrar o caminho a ser
singrado é dever indeclinável do comandante do navio.
As
revelações vindas a lume, com seu inocultável teor conspiratório, indicativas
de uma disposição nefanda de tentar abafar as investigações, levantam justificado
clamor. Afinal, são apurações respaldadas na consciência cívica da Nação. A
opinião pública repele com indignação as manobras urdidas nos ambientes penumbrosos
frequentados pela politicagem miúda, confiante em que as instituições saberão
reagir com rigor a tão sórdidas provocações.
Faz
todo sentido, para analistas políticos dos acontecimentos, imaginar que outras
situações extremamente desagradáveis estejam prestes a ser deflagradas. A
sinalização de que isso possa ocorrer é abundante. Do Ministério recentemente
constituído fazem parte, já desconsiderada a figura do defenestrado Romero
Jucá, sete outros elementos na alça de mira da Lava Jato. O substituto do ex-ministro
compõe a lista dos investigados da Operação Zelotes. Tem mais: é de molde a
produzir desconforto, mesmo admitindo que os cidadãos escolhidos desfrutam de
conceito profissional, a circunstância de que ex-patronos de causas do célebre
deputado Eduardo Cunha estejam a ocupar funções relevantes no corpo ministerial.
E o que não dizer da presença danada de incômoda, claramente evidenciada, do supracitado
parlamentar na linha de frente do esquema político dominante, a gozar de
prerrogativas de mando e intervenções totalmente inaceitáveis? A ponto até de
impor um nome de integrante de seu grupo, pessoa com prontuário desabonador e
desqualificante, como líder parlamentar do governo recém-formado.
Um
outro dado que confunde bastante o espírito popular diz respeito aos repentinos
e estratégicos vazamentos de matérias confidenciais extraídas de processos que
correm sob sigilo judicial. Salta aos olhos que os vazamentos obedecem a um
método. Quem os promove? Com quais intuitos? Por qual razão os setores
competentes se trancam em copas com relação a tão estranho e sistemático
procedimento? Afigura-se indispensável que o Poder Judiciário ofereça à Nação uma
palavra esclarecedora sobre essa sucessão de desconcertantes ocorrências.
A
conjuntura política reclama das lideranças mais lúcidas, em todos os setores –
é o próprio óbvio ululante - uma reflexão aprofundada. Reflexão essa que deve
vir rapidamente acompanhada de ações capazes de caracterizar uma conjugação de
vontades poderosa na busca de saídas justas, equilibradas, acordes com os generosos
anseios coletivos e com o sentimento democrático, para as situações
momentaneamente adversas que nos afligem.
A
crise é de enorme dimensão. Nada, contudo, que um país como o Brasil, com suas
invejáveis virtualidades, com sua concepção de vida calcada em utopias
positivas e impressionante capacidade, historicamente comprovada, de resolver
pacificamente conflitos agudos, não possa, respeitando valores e crenças
inalienáveis, solucionar a tempo e a hora.