Alucinatórias
interpretações do universo
Cesar Vanucci
“O que está no céu é igual ao que está na Terra.”
(Hermes Trismegisto)
Aceito, com absoluta
tranquilidade de espírito, mesmo confrontando a alegação da ciência de não
haver ainda reunido evidências concretas a respeito, a intrigante ideia da
pluralidade de mundos povoados de vida inteligente no infinito cósmico. Não me
entra pela cabeça, definitivamente, a tese de que este nosso minúsculo planeta
azul, uma gotícula d’água na inimaginável imensidão oceânica, possa ser a
morada exclusiva de seres providos de razão (será que é bem assim?), emoção e
criatividade. Imagino que o futuro próximo reserve aos cientistas a
esplendorosa chance de colecionarem as provas que faltam para o reconhecimento dessa
realidade.
A crença que nutro
acerca da existência de vida fora de nosso turbulento habitat me conduz,
também, de quando em vez, a reflexões em torno das reações comportamentais
humanas, algumas muito estranhas, em relação ao que nos circunda no espaço
próximo, ou no espaço mais longínquo.
No curso da história
têm sido numerosas as demonstrações de arrogância provindas das reações dos
sempre atuantes “donos da verdade”, encastelados na sede do poder em épocas
diferentes, diante dos arcanos do mundo exterior. Um exemplo famoso vem daquele
período marcado por pesado obscurantismo cultural em que Galileu Galilei, por
“condescendente” decisão de seus julgadores, foi arrastado à “prisão
domiciliar”. Segundo os conceitos científicos, com sólida escora religiosa,
dominantes na época, a Terra era um ponto fixo no universo. Ao seu redor
giravam disciplinadamente o sol, os planetas, as estrelas, por aí.
O genial cientista
revelou, num dado momento, para escândalo geral, que as coisas não eram bem
assim. Foi piedosamente intimado a desdizer-se. Caso contrário... Menos
afortunado, Giordano Buno não conseguiu safar-se, jeito maneira, das labaredas
sagradas. Condenaram-no à expiação dos crimes hediondos cometidos. Também
pudera! O frade rebelde sustentava conceitos, os mais heréticos, acerca do
funcionamento da mecânica celeste. Acreditava, por exemplo, não se
envergonhando da sacrílega crença, na pluralidade de vida nos planetas.
O bem informado leitor
sabe tanto ou mais do que eu que estes 2016 anos de civilização estão atulhados
de ocorrências parecidas, provocadas pelo fanatismo com suas visões distorcidas
e cruéis. Os doutos de hoje já não mais condenam à fogueira, pelo menos em boa
parte do planeta, pessoas que discordem das teorias solidamente assentadas sobre
o que ocorre, lá em cima e cá embaixo, nas vastidões do firmamento. Mas
conservam intata a arrogância. Carregam inteira a certeza de que, aqui mesmo na
Terra é que continuam sendo traçadas regras e exercida alguma espécie de
controle sobre os destinos cósmicos.
Quando o ser humano
teve acesso à tecnologia nuclear, utilizando-a, para não fugir ao padrão, com
fitos obviamente bélicos, um amalucado qualquer, com assento no conselho dos
“senhores da guerra”, aventou a possibilidade da realização de experiências com
artefatos bélicos na lua. A incrível ideia não foi levada avante. Mas, de modo
geral, foi recebida com naturalidade. Com a sensação confiante de que o nosso
satélite pudesse ser mesmo utilizado como uma espécie de “quarto de despejo”
para fins os mais variados. Algumas semanas atrás, por sinal, correu mundo a
notícia de que a agência espacial estadunidense e algumas corporações
empresariais estavam estudando a exploração futura das “prováveis jazidas
minerais” do satélite.
É de registro recente
ainda uma outra ruidosa manifestação, esta sem efeitos belicosos, da
embriagante autossuficiência do ser humano em suas alucinatórias interpretações
do universo desconhecido. Num conclave internacional, astrônomos renomados
entenderam de lançar um édito, proclamando simplesmente, por “a” mais “b”, que
o distante e, até aqui, inacessível Plutão deixou de ser um planeta. E “tamos”
conversados.
Diante da notícia,
pus-me a matutar, cá com os botões de meu pijama listrado, numa noite de céu
estrelado, fixando como sendo Plutão um ponto luminoso qualquer do firmamento,
como é que uma decisão dessas poderia vir a ser recebida num eventual conselho
intergaláctico de sábios? Concebi assim a cena: transmitida a desnorteante
informação, alguém entre os sábios provavelmente pediria da palavra para dizer,
tom caridoso na voz, o seguinte: “É, esses humanos não se emendam...”
Façam seus jogos, senhores!
Cesar
Vanucci
"A hipocrisia é a homenagem que
a corrupção
paga à probidade."
(La Rochefoucauld)
Nada de rodear toco.
Direto ao assunto. Eu não "se" dou bem com jogo, como diria
folclórico retireiro do sítio de amigo em Macacos. Querem saber outra? Sinto
total desconforto no interior de um cassino, ou de qualquer outro ambiente
enfumaçado e enregelante onde baralhos, cartelas, roletas, dados e fichas, com
o concurso de empertigados crupiês, exerçam poder de sedução pra cima da
fervorosa legião dos aficionados em apostas. E olhem que na única vez na vida
em que resolvi introduzir uma moeda na greta de um caça-níqueis o aparelho
descarregou, para agradável surpresa, todo o conteúdo de moedas na bolsa que
carregava. Foi num cassino em Katmandu, Nepal. Recolhi a bolada e me mandei,
indiferente às ponderações à volta de que não deveria arredar pé do local já
que a sorte estava soprando forte a meu favor.
Vou mais longe:
considero extremamente tediosa, como passatempo, uma simples e inofensiva mão
de “buraco” no recesso doméstico. Fico sonolento, tanto quanto diante de
corridas de fórmula 1 ou fórmula indi
mostradas na televisão, se me aventuro a acompanhar a movimentação das cartas.
Essa idiossincrasia, ou que outro nome se aplique ao fato deste amigo de vocês
não ser ligado no chamado “jogo de azar”, não me retira, contudo, o ânimo de
arriscar, vez por outra, uma fezinha na mega-sena acumulada. Bem entendido,
desde que a fila na lotérica não esteja muito espichada.
Definido este
posicionamento, confesso, em boa e lisa verdade, considerar inócua, desprovida
de bom senso, a resistência oferecida por alguns setores ao propósito, quando
em vez anunciado, alardeado novamente em dias recentes por inspiração
governamental com apoio parlamentar, de regulamentar algumas modalidades de
apostas. Tal resistência, mesmo quando inspirada em reta intenção (desapartada,
tá na cara, da realidade), ajuda a estender ampla cortina de fumaça diante de
uma realidade que a hipocrisia social e o farisaísmo teimam desconhecer. Dizer
que no Brasil o “jogo é proibido”, como se assevera há decênios, é favorecer a
propagação, com intuitos sibilinos, de deslavada mentira. Ou se preferirem, uma
lorota boa, como diz conhecido estribilho musical.
Se o que existe,
espalhado do Oiapoque ao Chuí, não merece ser pudica e oficialmente
classificado como jogo, que denominação então se atribuir às incontáveis
versões de jogos bancados, quase que diariamente, pelas loterias, instituições
beneficentes, clubes recreativos e, ainda, na moita ou escancaradamente
dependendo da hora e do lugar, por agremiações esportivas ou outras quaisquer
engajadas no rendoso negócio do bingo? Com o célebre "jogo do bicho",
originário dos tempos do Império, acontece algo, pra dizer o mínimo,
desnorteante. O “bicho é proibido”, não é mesmo? Mundão de gente assegura tal
coisa, solenemente, com a mão no Código de Contravenções e uma piscadela marota
no olhar. Mas é mole, mole, mesmo para não apostadores contumazes, apontar-se
sem vacilações os numerosos pontos espalhados por toda a vastidão territorial
brasileira onde os palpites são religiosamente recolhidos, do primeiro ao
quinto, duas ou até três vezes por dia. Esse aí é um dos inúmeros jogos
operados em larga escala, apesar de “não regulamentados”, sabe-se lá por quais
insondáveis (e tilintantes) razões. A situação dos cassinos é parecida.
Funcionam em alguns locais de afluência turística com amplo, geral e irrestrito
conhecimento comunitário. E não é que acontece o mesmo com o chamado carteado
de aposta alta? É também “proibido”, mas não deixa de ser atração em clubes
grã-finos. Como nas outras versões de jogo acima citadas, nenhuma receita, sob
forma de taxas, entretanto, carreia... para o erário.
Dentro de um contexto
psicodélico desses, quer me parecer destituída de sentido a obsessiva
implicância cultivada em alguns redutos quanto à denominada “legalização do
jogo”. A abertura de cassinos, a regulamentação do bingo, a regulamentação do
jogo de bicho são medidas recomendáveis do ponto de vista do interesse
econômico, turístico e social. No mundo inteiro, a começar por países
limítrofes do Brasil, inseridos marcantemente no fluxo do turismo brasileiro
que demanda outras plagas, o jogo é fonte de atração, proporcionando postos de trabalho
e renda de apreciável monta. Expurgando-se dessas modalidades de apostas
eventuais mazelas de origem, decorrentes da clandestinidade hoje vigente,
colocados a funcionar sob a égide de órgãos públicos confiáveis, essas
atividades, além da abertura de frentes de trabalho, com realce também para o
setor do entretenimento artístico, absorverão para o país recursos
consideráveis. Recursos a serem convertidos, como acontece por aí afora, em
iniciativas de conteúdo social. Nosso país clama muito por tudo isso, por
empregos e realizações de proveito social.
DISCURSO
DA ACADÊMICA ELIZABETH RENNÓ, PRESIDENTE DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS, EM
MINHA POSSE COMO PRESIDENTE DA AMULMIG
Reproduzimos na sequência a integra do esplêndido pronunciamento
da acadêmica Elizabeth Rennó, primeira mulher a presidir Academia Mineira de
Letras, na solenidade de posse em que fui investido das funções de presidente
da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (Amulmig), dia 19 de julho
de 2016.
“A 8 de abril
de 1963, por um grupo de intelectuais, tendo à frente Alfredo Viana de Góes,
foi fundada a Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais.
Alfredo de
Góes, o fundador, foi o marco primeiro de um conjunto literário, amplidão que
se compõe de representantes de municípios mineiros, brasileiros e do exterior.
A alma, a
inteligência criativa e o valor de Alfredo Marques Viana de Góes, expressos em
sua obra, sob o pseudônimo de H. Buyutrago de la Contria, caracterizam a
sensibilidade do autor.
Alfredo foi
exemplo de participação, na literatura, no trabalho, pelo entusiasmo que nunca
o abandonou e o incentivou a diplomar-se em Direito, já entrado em anos.
É este o
objetivo da nossa Municipalista herdado de seu fundador, seguir os caminhos da
Literatura, do Humanismo, da Cordialidade, como templo de luz e de trabalho.
Outros
intelectuais perseguiram a exploração da palavra nos textos e nos poemas
construindo o corpo acadêmico.
A Comunidade
da Amulmig destaca-se pela integração de seus membros, o que torna as Sessões
Literárias um encontro cordial e amigo.
A sede atual
foi conseguida pelo esforço e persistência do ex- Presidente Jésus Trindade
Barreto e da Professora e Deputada Marta Nair Monteiro, junto ao Governo
Municipal.
O que era, a
princípio, uma casinha rodeada de árvores centenárias, apresenta-se hoje como a
sede da Amulmig, agradável, bem conservada, ampliada, acolhedora.
O segundo
Presidente de nossa Academia foi Tasso Ramos de Carvalho, que, apesar do pouco
tempo à frente do mandato assumido, realizou tarefa eficiente, conservando os
legítimos interesses e a tradição de nossa entidade.
Jésus Trindade
Barreto assumiu a Presidência da Amulmig em dois mandatos: o terceiro e o
quinto, dignificados por um comando digno de sua postura realizadora.
O quarto
Presidente foi Luiz Carlos Abritta, que abriu as portas da realização
literária, com sua programação exemplar para a divulgação e a manutenção do
egrégio cultivo de cultura, nos oito anos que esteve à frente deste trabalho
construtor.
Após o
Presidente Jésus Trindade Barreto, assumi este honroso posto há oito anos,
tendo sido empossada como Acadêmica em setembro de 1990.
Procurei, com
as bênçãos de São Francisco, nosso Patrono, exercer o fazer literário pela
fraternidade e união entre os nossos Acadêmicos, na doação da palavra,
instrumental primeiro para um labor consciente.
Sob a luz do
Espírito Santo, desejamos que a imortalidade que coroa o nosso mister seja a da
benemerência, da caridade e do dever cumprido.
Agradecemos os
bens que nos foram concedidos.
As pedras do
caminho já se foram. Elas também nos favoreceram. Os obstáculos, os
desencontros e as tristezas são instrumentos que contribuíram para o crescimento
e a fortaleza do caráter.
Longe de ser
um organismo apático e desinteressado pelo mundo que o rodeia, as Academias de
Letras têm como escopo, gravado no seu Compromisso de Posse, o pugnar pela
pureza do idioma pátrio, procurando sempre os sítios do Bem, do Belo e da
Verdade. A Língua é a nossa Pátria, digna em seu exato e claro desempenho,
interpretada pelo nosso trabalho literário e acadêmico, louvada em ação
participativa.
As Academias
de Letras serão anacrônicas, reuniões de literatos em desfile de apresentações,
se não perseguirem a objetivação de um crescimento global produtivo, envolvendo
as várias áreas do conhecimento e do florescimento do ser. Da criação, a
partida é dada pela reflexão e pela visão crítica de um pensar mais profundo.
Uma academia
repetitiva em suas reuniões apresentadas como mero desfilar de autores não
encarna aquela totalidade de que nos fala Henry James ao definir o texto como
“um ser vivo, contínuo e uno e como um corpo, seus elementos devem funcionar em
integração.”
A Academia
Municipalista procura desenvolver o seu trabalho na procura de ascensão para
todos os seus membros, com a promoção de palestras, concursos e estímulo para
publicações.
O nosso
Boletim anual, desenvolve um exercício criativo e estimulante incrementando a
publicação das obras de seus acadêmicos; o Boletim da Biblioteca instrui e
favorece o conhecimento de áreas educativas e literárias, além de resgatar a
memória histórica da Academia.
O nosso
trabalho representa o propósito que parte de um cotidiano e se transpõe pela
palavra a patamar mais elevado procurando preservar a memória histórica e
perseguindo os valores constitutivos de consciente modernidade, traduzida pelo
exercício do social em prol dos ideais da comunidade em suas necessidades
globais.
Temos o dever
de plantar a semente da confiança no futuro brasileiro. É imperiosa a nossa
contribuição, como artífices do fazer literário, na divulgação de páginas de
conteúdo formativo para que se ilumine a escuridão vivencial.
Tornamo-nos
educadores.
A Cultura é
inseparável da Educação. Para Cecília Meireles, a Educação deve ser voltada ao
sentimento humanístico. E acrescenta os conceitos sobre os verdadeiros
educados: os que sabem, os que creem, os
que agem, os que não vacilam diante de nada, porque não desservem a um ideal
que é o seu, os que jamais seriam capazes de trocar um pequeno interesse
coletivo por um grande interesse próprio; os que não vergam, os que não
suplicam, os que não mentem e os que não temem.
Segundo Paulo
Freire, a educação só pode ser encarada como um quê fazer humano, o que remete
a uma ação humanística. Será cada vez mais libertadora esta ação quando encarar
o homem como pessoa.
Depreende-se
que os homens se educam a si, mediatizados pelo mundo, a partir de uma posição
reflexiva crítica, tanto do educando quanto do educador, em consciente fazer
humano.
Educação não
se separa de Cultura, são interdependentes no seu propósito de que educar é
imprescindível aliada do desenvolvimento ético e humanista.
O território
acadêmico é constituído pelos postulados educacionais. É o que fazem as
Academias de Letras, posicionando ensinamentos através de palestras,
seminários, sessões literárias: disseminam Cultura.
A história da
Municipalista é a história de Minas Gerais, traduzida pelo universo que compõe
o seu conjunto de membros ilustres, de representantes de municípios de todo o
Brasil, e de outros países, que constroem o corpo literário da entidade.
A Palavra é o
instrumental de um escritor, que a maneja na concretização de seus ideais
literários.
Que a nossa
palavra esteja voltada para as exigências da matéria e do espírito, na acepção
tomista de que o ser é composto de corpo e alma. Nesta dicotomia, é preciso
separar o joio do trigo visando ao crescimento do ser.
É a Cultura,
através da Educação, que forma o caráter de um apreciador de livros e
postulados literários.
Aqui, na nossa
querida Amulmig, florescem Cultura, Educação, Ética, Ensinamento. E mais, o
mais precioso e fraternal acolhimento em sessões qe se tornam fontes de saber, pela
contribuição de seus componentes no trazer textos poéticos e trechos prosaicos,
ricos de conteúdo em direção ao Bel
Presidente
César Vanucci, faço-lhe hoje a entrega de um bem muito precioso para mim: a
direção da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais.
Nos oito anos
em que a presidi, e nos anos em que participei de seus quadros, muitas riquezas
foram acrescentadas ao meu currículo. Além de conduzir esta plêiade de
escritores, zelar pela nossa sede com
reformas, decoração do ambiente e do paisagismo, controlar e preservar o nosso
patrimônio físico e financeiro, reformar o Estatuto e o Regimento da entidade,
acompanharam-me a Amizade e a Fraternidade neste trajeto.
Muitos foram
os oradores ilustres que nos brindaram com palestras, inseridas na História de
Minas Gerais, na Poesia, na Literatura, nas Ciências Humanas. A Música, a
decoração natalina sempre artística, as comemorações tradicionais e
obrigatórias pelo Estatuto, como as datas do aniversário, o dia de São
Francisco, nosso Patrono, as Sessões Solenes de Posses, a lembrança de nossos
acadêmicos falecidos, os acontecimentos que povoaram estes últimos anos, são
constituintes da história cívica e cidadã da Academia Municipalista de Letras
de Minas Gerais.
É este tesouro
que conservo no coração e que lhe passo, esperando que seu desempenho à frente
desta entidade, conserve e reanime esta convivência amena e fraterna.
Presidente
Cesar Vanucci, espero que sua ação presidencial seja coroada pelo brilhantismo
e pela competência, que lhe são peculiares, junto a esta missão sagrada. “