sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O destempero radical árabe

Cesar Vanucci *

“O fanatismo religioso é mais perigoso
que o ateísmo e mil vezes mais prejudicial.”
(Voltaire)

A Secretária de Estado Hilary Clinton está com a razão. Um filmeco asqueroso, tanto na forma quanto no conteúdo, produzido com nefandos propósitos, não poderia, por si só, desencadear esse tsunami de protestos que estremece, outra vez, o costumeiramente turbulento mundo árabe. A busca das explicações para esse avassalador destempero radical tem que ir além, muito além da mera projeção das imagens e diálogos distorcidos, retratando a figura de Maomé, sagrada para o Islã, postos a circular nas redes sociais.

O caso guarda conotações com outros incidentes recentes, como, por exemplo, o produzido por aquele pastor norte-americano, fundamentalista amalucado, que algum tempo atrás, diante das câmeras de televisão, botou fogo em exemplares do Alcorão. Outros seguidores de teorias incendiárias anti islâmicas surgem também do nada, volta e meia, tornando públicas provocações que encontram sempre uma mídia receptiva para propagá-las. São episódios que deixam à mostra inocultável intuito de açular desatinos de extremistas religiosos. Mas, tanto quanto o filme, considerado de extrema vulgaridade, não conseguem, jeito maneira, falar verdade, macular a trajetória de um líder reconhecidamente influente da história humana. Uma avaliação serena, bem objetiva, que se faça do filme e das outras despropositadas ocorrências, em círculos providos de bom senso, dentro e fora do islamismo, poderá suscitar naturalmente reações de repúdio. Mas não a ponto de estimular, com absoluta certeza, algo que lembre de leve a onda de desvario que tomou conta das ruas e praças árabes com todas as consequências funestas que aí estão.

Isso conduz a inevitável reflexão. Se o meio sensato de analisar o assunto é esse, como explicar a erupção da violência fora de controle? A pergunta comporta um conjunto de respostas surpreendentes e enigmáticas. Tanto quanto surpreendentes, incoerentes e charadisticos costumam se revelar os rumos políticos árabes desde sempre. Fica evidenciado, primeiramente, que o filme, por mais grotesco que seja, está sendo manipulado ao gosto pela ferocidade radical de diferentes tendências no afã de fortalecer manobras junto a religiosos fanáticos na conquista de espaços políticos. Multidões com reduzida capacidade de discernimento das coisas são orquestradas a bel prazer por tais lideranças. Absorvem com fervor mórbido suas exacerbadas conclamações. Abra-se parêntese para relembrar que a história humana é, desoladoramente, permeada de manifestações desse gênero. Envolvendo tudo quanto é corrente religiosa. O fundamentalismo é enfermidade universal. Parece até incurável.

Recorde-se, ainda, a propósito, que as lideranças radicais sob o foco das atenções são múltiplas. Obedecem a orientações diversificadas. São divididas, geralmente, por encolerizadas discordâncias. Um verdadeiro saco de gatos, pode-se afirmar. O que confere ao problema graus de dramaticidade e complexidade ainda maiores.

Outro ingrediente de peso no processo é de cunho político. A confusão imperante nos territórios conflagrados (na verdade, permanentemente conflagrados), pode-se dizer sem intenção de trocadilho, é das arábias. Para tanto contribuem poderosamente os maquiavélicos esquemas geo-político-econômicos que ditam o comportamento das potências com disposições hegemônicas, os Estados Unidos em realce. São tamanhas as trapalhadas no campo diplomático, com os apoios ora dados a ditadores cruéis, ora aos adversários desses ditadores (que acabam se tornando, também, via de regra, déspotas cruéis), que as ações políticas em questão correm sempre o risco de ser recebidas com descrédito popular. Os ocidentais falam em democracia, mas garantem, como acontece na Arábia Saudita e no Bahrein, a permanência no poder de alguns dos mais fechados e tirânicos regimes políticos do planeta.

Para os extremistas políticos e religiosos desses ermos não fica difícil, à vista das contradições comportamentais das grandes potências, insuflarem massas fanáticas à pratica de atos insanos. A percepção que se passa a ter, em tais redutos, é de que elas não se importam com o derramamento de sangue nem com a dignidade dos árabes. O sentimento antiamericano é também fortemente propagado em decorrência da inexistência de uma política firme e vigorosa no sentido da implantação, há décadas esperada, do Estado da Palestina. Por que, até hoje, isso não foi resolvido? A pergunta deixa um clamor de indignação no ar.

Um derradeiro comentário. Não deixam de ser intrigantes essas provocações tacanhas, sem eira nem beira que, a intervalos, são feitas, via redes sociais e demais recursos midiáticos, por indivíduos desconhecidos, à cata ou não de celebridade instantânea. Ponho-me a matutar com os botões do pijama que, talvez, essas ações não sejam produzidas apenas por irresponsáveis desocupados. Talvez façam parte de complô urdido, sabe-se lá porque mentes doentias, com o objetivo mesmo de manter os ânimos acirrados, de ampliar divergências, de criar dificuldades. Uma forma solerte de impedir, naquele pedaço do mundo, possa frutificar, algum dia, uma convivência harmoniosa, amena e respeitável, na melhor configuração ecumênica, entre homens e mulheres de diferentes nacionalidades, etnias e crenças.



Que globalização é essa?


 "As combinações oportunisticas da economia costumam
levar, às vezes, a grandes desastres do ponto de vista humano"
(Antônio Luiz da Costa)

Que ordem econômica mundial mais frouxa é essa que entra em alucinado parafuso a um mero estalar de dedos de um especulador qualquer, envolvido em trapaça bursátil, refestelado em iate de luxo das "cote d'azur" da vida?

Que mané globalização é essa a espalhar desassossego e temor no espírito simples da gente do povo por causa de um parecer de um tecnocrata que ninguém conhece, de uma instituição que ninguém nunca antes ouviu falar, com nome lembrando marca de absorvente feminino, onde são atribuídas notas escolares aos países, como se nações inteiras pudessem ser tratadas que nem alunos de jardim de infância na cata das primeiras noções do aprendizado básico?

Que políticas econômicas desvairadas são essas, tão decantadas pela mídia, que permitem aos "donos" dos negócios do mundo, colocados acima do bem e do mal, deitar e rolar por cima da vida, do patrimônio, da saúde, do emprego dos outros, em latitudes geográficas economicamente desprotegidas? E a submeterem multidões à mercê das reações volúveis das bolsas de valores, instituições tão distanciadas da rotina amarga e da capacidade de percepção das camadas humildes quanto a Constelação Zeta Reticuli?

Que situação mais aloprada é essa em que se convoca, descerimoniosamente, para pagar a conta das empreitadas mal sucedidas no jogo internacional, pessoas que nunca aplicaram em ações e que de bolsas só conhecem, pela televisão, aquela caricatural coreografia de um bando frenético, parecendo dançarinos engravatados de "rock pauleira", celulares ou mini-receptores colados aos ouvidos, berrando a plenos pulmões frases ininteligíveis e produzindo gestos ainda menos compreensíveis? Abra-se uma pausa, nesta cruciante sequência de interrogações, para relembrar, com o espírito acariciado pelo arrebatante humor da cena, o genial comediante Peter Sellers. Num filme antológico em que vive um personagem puro e ingênuo, fissurado por televisão, vemo-lo, todo sorrisos, no recinto da bolsa, a retribuir com gestos os acenos insistentes dos desatinados apostadores à volta. Obtem-se ali o retrato da perplexidade que se apodera do homem comum diante de certos rituais cabalísticos mundanos que a comédia humana insiste em criar para diferenciar quem, supostamente, sabe das coisas, dos que nada sabem.

Mas que globalização, Santo Deus, é essa que não consegue, depois de tanta malvadeza introduzida no cotidiano de tanta gente, em tantos lugares, trazer uma promessa, um mero aceno sequer de benefício aos menos favorecidos? E que, pelo contrário, parece achar-se empenhada, o tempo todo, em só fazer crescer as desigualdades? E que celebra como feito heróico, retumbante, a "habilidade gerencial" de administradores faltos de sensibilidade social que desconhecem outros processos para reduzir custos e melhorar resultados senão o desemprego constante, o corte em despesas sociais e a rotatividade da mão-de-obra na base de custos progressivamente menores?

Que baita inversão de valores é essa que permite sejam assim ressuscitados, por conta da embromação e fajutice de minorias ousadas, conceitos da pré-história econômica, recauchutados para vigir em vastas porções territoriais onde se revele baixo o poder das exigências sociais e onde são apresentados como o supra-sumo do pensamento de vanguarda, como expressão pronta e definitiva, das políticas sociais avançadas supostamente praticadas nos países do primeiro mundo?

Esta confusão econômica passa a idéia de que o mundo tem de oscilar entre a turbulência e a depressão. Nesse mundo só existiria atenção para as previsões desconcertantes e suspeitosas de ilustres desconhecidos. Em geral PHDs. De preferência, estrangeiros. Se algum deles, numa overdose de autossuficiência, num instante de mau humor, nascido, quem sabe dizer?, de uma intempériezinha doméstica, resolver largar falação e atribuir pontuação sobre os níveis de risco das economias emergentes, o melhor a fazer é sair de baixo. Cascar fora. Tudo corre o risco de desmoronar. O pessoal com poder de decisões se mobiliza para enfrentar a crise a bombordo. E alguma reforma periférica, atingindo a população, acontece. Mas, se num cenário mais sério, consentâneo com as aspirações humanas, uma outra figura, PHD em espiritualidade e saber humanístico qualquer, um Gandhi, um Helder Câmara, um João Paulo II, um Luther King, à mesma hora do douto e ignoto economista, resolve lançar às lideranças, aos que traçam os rumos políticos, uma exortação para que ponham em andamento reformas vitais de cunho social, a repercussão será bem diferente. Haverá, seguramente, manifestações ruidosas de aplausos, louvores à clarividência desses luminares do pensamento humanístico. Tudo nesse diapasão. Mas não se conhecerá, fatalmente, a curto e médio prazo, qualquer iniciativa que dê consistência prática às generosas idéias. O exemplo surrealista tem a ver com a realidade.

Conclusão inapelável: essa ordem econômica mundial que aí está e que funciona de jeito tão irracional, injusto e perverso, tem mais é que ser refeita. A convivência humana reclama, ardentemente, por práticas fraternas, solidárias, por ações sérias e respeitosas de complementaridade econômica e social entre os países. São estes os valores em condições de fazer deste um mundo melhor.

Afinal de contas, que globalização é essa que não contempla o crescimento econômico e a ascensão social de todos os países igualitariamente?

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

domingo, 23 de setembro de 2012

E agora?

Cesar Vanucci *

“A política salarial terá que ser ajustada, algum dia,
de maneira a que o teto envolvendo todas as categorias
não seja superior mais do que dez vezes do piso de remuneração.”
(Adelmo Carneiro Leão, deputado estadual)

E agora José?
A Nação inteira, aplaudindo com sinceridade e entusiasmo a Lei da Transparência, reconhecendo nesse instrumento legal prova de maturidade política e democrática, espera que na sequência das revelações acerca dos megasalários, instituídos ao arrepio da legislação e do bom senso, sejam logo definidos os procedimentos necessários para se por cobro aos abusos detectados.

Pra aturdimento geral, a contribuição do Judiciário para a escandalosa situação parece estar sendo mais opulenta do que a dos demais Poderes. Ora, veja, pois! Muita gente aí, afeita a cálculos, chega a admitir que o somatório dos abusos até aqui apurados em decorrência da aplicação da Lei, estendidos no tempo, vai acabar chegando a números inconcebíveis. Superiores até aos valores dos prejuízos causados ao Erário pelas incontáveis maracutaias que a própria Justiça vem se encarregando de julgar. Ou sejam, os impropriamente denominados “mensalões”, em suas diferentes versões, já em fase de julgamento ou ainda por julgar, envolvendo militantes políticos de diversificadas siglas. Na verdade, de todas as siglas.

Evidenciado, com constrangedora abundância de pormenores, graças a esse dispositivo saneador de recente implantação, que um mundão de gente, em escancarado desrespeito às normas legais, vem percebendo remunerações, não é de hoje, infinitamente acima do teto salarial oficialmente previsto para o serviço público, cabe agora, sem muito tititi, sem discussões espichadas, sem urdiduras jurídicas sibilinas, definir-se o que terá que ser inexoravelmente feito daqui pra frente no sentido de se por fim nas anômalas situações levantadas.

Todos os brasileiros, ciosos de suas prerrogativas cidadãs e republicanas, se posicionam, obviamente, na expectativa de decisões complementares capazes de corrigir o problemão que conveniências espúrias de toda ordem e em tudo quanto é canto criaram ao longo dos anos. Uma encrenca, brotada da leniência, da complacência, do contundente desrespeito às leis que nos regem, executada por administradores (com o poder da caneta nas mãos) mal orientados, totalmente despreparados. Isso pra só dizer o mínimo a respeito de sua reprovável conduta gestora.

A opinião pública –fácil perceber – não se revela nada disposta a engolir, passivamente, a continuidade desse processo de fraudes e de outros ilícitos cometidos de má fé. A aberração das folhas de pagamento mantidas com recursos dos contribuintes que contemplam alguns milhares de privilegiados, em diversificadas áreas, com remunerações astronômicas, num país que adota salário mínimo da ordem de R$ 622,00, é algo por demais indigesto. Como explicar, por exemplo, aos professores da rede estadual em Minas – uma categoria que luta com denodo, arrostando incompreensões e sacrifícios sem conta – pelo simples reconhecimento do direito elementar de acesso ao piso salarial nacional dos educadores, que há indivíduos, pra ficar num exemplo na multidão de contemplados, que chegam a perceber mais de 200 mil reais por mês num Tribunal de Justiça? Que os holerites de outros milhares de servidores, em incontáveis repartições, em todos os Estados da Federação, acusam cifras infinitamente superiores ao teto salarial legalmente constituído, consensualmente fixado?

As lideranças políticas, os dirigentes dos Poderes estão no dever moral irrecusável de buscar, com toda urgência, saída decente para esse desvairado carrossel salarial. O estudo sobre a adoção das medidas complementares indispensáveis à Lei da Transparência não pode sofrer demora.

Certos aspectos complexos da política salarial envolvendo servidores públicos, do tipo da duplicidade de fontes pagadoras, consagrada legalmente, não poderão, evidentemente, dentro desse efervescente contexto, deixar de ser considerados com critério, objetividade e bom senso na fixação das diretrizes que fatalmente regulamentarão o assunto.

A invocação, pura e simples, da tese do “direito conquistado”, não poderá servir de álibi generalizado para as mil e uma extravagâncias perpetradas. A história dos megasalários precisar ser devidamente reescrita. Doa a quem doer.



As Olimpíadas e a Escola

 “O entrelaçamento da Escola com o Esporte é responsável,
 em vários países, pelo sucesso nas disputas olímpicas.”
(Antônio Galhardo, educador)

A crônica olímpica revela que a participação dos países escolhidos para sede dos jogos é costumeiramente expressiva nas competições, não importa o quanto se distanciem das superpotências esportivas na pontuação geral.

Por superpotências sejam reconhecidos os Estados Unidos, a China e, também, a Rússia, mesmo que este país, após o desmoronamento do império bolchevista, tenha reduzido acentuadamente suas possibilidades de ameaçar a hegemonia esportiva estadunidense.

Essa circunstância recomenda cuidemos de colocar desde já nossas “barbas de molho”, à vista dos até aqui frustrantes desempenhos dos representantes das cores brasileiras nas quatrienais disputas. Se pretendemos, de fato, assegurar resultados que não venham a nos causar aborrecimentos futuros, a preparação dos atletas nas diversas modalidades esportivas terá que se traduzir em eficiência, esmero e cuidados especiais. Tanto quanto na estruturação logística do magno evento. Como o apito da contagem regressiva para as Olimpíadas do Rio já soou, é tempo mais do que chegado para se deflagrar o exaustivo trabalho de identificação dos quadros potencialmente aptos a concorrerem às provas.

Isso terá que vir acompanhado, evidentemente, de programação de treinos intensivos, mode que as equipes convocadas aprendam, à altura das expectativas, a subir mais vezes, muitas vezes mais que no passado, ao pódio das premiações.

Noutros lugares do mundo, onde triunfos olímpicos são festejados amiúde, a escola tem representado sempre grande manancial na formação de atletas. Entre nós, desoladoramente, isso não sucede. O complexo educacional conserva-se, inexplicavelmente, desatento à possibilidade de estabelecer conexão digna de nota com o esporte. Procede como se o esporte não constituísse instrumento poderoso no encaminhamento da juventude para o jogo da vida.

Doutra parte, os encarregados do monitoramento oficial das ações educacionais, a cúpula responsável pelas diretrizes gerais do ensino em todas as faixas, não parecem nada propensos a introduzir práticas esportivas como item relevante na grade curricular. Não é difícil imaginar o esperdício cumulativo de oportunidades, anos e anos a fio, provocado por essa ausência de percepção do verdadeiro papel do esporte no processo pedagógico.

Saiba, no entanto, o distinto leitor que, em tempos idos, muitos lugares do território brasileiro costumavam abrigar núcleos atuantes, providos de visão vanguardeira das coisas da vida, que sabiam cuidar de estabelecer preciosas vinculações entre grupos de estudantes vocacionados e centros especializados em treinamento esportivo. Os frutos desse salutar intercâmbio foram, tanto quanto sei, copiosos. Trago aqui, na condição de testemunha ocular, um depoimento.

Retorno o olhar para a Uberaba dos idos de 50. No Liceu do Triângulo Mineiro, embrião do poderoso complexo educacional criado pelo magistral escritor Mário Palmério, e no Colégio Diocesano, dirigido pelos Maristas, cerca de dez (talvez um bocadinho mais) colegas de sala de aula e contemporâneos no ensino médio ostentavam com justa ufania títulos de campeões brasileiros de natação infanto-juvenil. Só em minha classe, no Triângulo, faziam parte desse invejável grupo os nadadores campeões Edelweiss Simões, detentora além do mais de um titulo sul-americano, Helice Jurity Ferreira, Maria da Fé Gigliotti, os irmãos Vicente e Cícero Lima. Zuzinha Camargo e Lênio Lima, alunos do Diocesano, são outros craques que acodem à lembrança velha de guerra. Repito, todos, todos eles verdadeiros ases da natação. E por que isso acontecia? Qual a razão da concentração de índice tão expressivo de atletas consagrados num mesmo segmento, numa mesma cidade interiorana?

Um grupo arrojado e idealista, à frente os saudosos José Tiradentes Lima, Diocleciano Pereira de Souza e Orcival Barra, entendeu de apostar todas as fichas do cacife no talento dos jovens. Criou, na então Cultura Física, mais tarde Associação Esportiva e Cultural, numa piscina de 25 metros de extensão, um centro de treinamento que permitiu despontassem todas essas esplendidas revelações atléticas. A valorosa moçada abiscoitou títulos estaduais e nacionais à pamparra. O trabalho, mais adiante, com a saída de cena de seus idealizadores, foi deploravelmente interrompido.

Imaginem só se essa ação de vanguarda houvesse se espichado no tempo! Com certeza, algum daqueles muitos atletas laureados em competições nacionais acabaria por emergir triunfante de alguma piscina olímpica.

Esse registro, buscado nas ladeiras da memória, reforça uma crença de muita gente: a de que o potencial da escola carece ser descoberto, ainda que tardiamente, na composição de nossos futuros quadros olímpicos.

Tamos conversados.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

IV ENCONTRO CULTURAL DA AML

Companheiros Acadêmicos, Companheiros Leões e Domadoras, Amigos da Academia Mineira de Leonismo,

A Academia Mineira de Leonismo tem o prazer de convidar para seu IV Encontro Cultural a se realizar no dia 25 (vinte e cinco) de setembro, terça feira, às 20 (vinte) horas, no Auditório do 4º andar da sede da FIEMG - Avenida do Contorno, 4.456, Funcionários, Belo Horizonte.
Expositor: Acadêmico Sóter Baracho
Tema: Ari Barroso – Gênio da Raça.
Contamos com sua valiosa presença.
CL Cesar Vanucci - Presidente / Cal Graça Amaral - Secretária
 

Parcialidades políticas suburbanas

Cesar Vanucci *

“A informação jornalística não pode omitir dados
que facilitem a compreensão do leitor ou do ouvinte.”
(Antônio Luiz da Costa)


A campanha eletiva presidencial na Venezuela está polarizada em torno das candidaturas do controvertido Hugo Chaves, que concorre a um novo mandato debaixo de cerrado bombardeio midiático internacional, e Henrique Capriles, governador de uma das unidades federativas daquele país.

Os dois presidenciáveis apresentam propostas governamentais bem antagônicas. Deixam à mostra divergências profundas em questões fundamentais. Num ponto, porém, demonstram perfeita convergência de opiniões. Ambos os dois, dizendo-se confessos admiradores de um mesmo líder político brasileiro, anunciam o propósito de seguir, no exercício do poder, caso as urnas se lhes mostrem favoráveis, a linha de atuação político-administrativa do dito cujo. O brasileiro em referência é o ex-Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva.

Uma perguntinha, agora, sem intenção de melindrar ninguém: por que será que os grandes órgãos e colunistas destacados do jornalismo brasileiro, que volta e meia insistem em atrelar as imagens de Hugo Chaves e Lula, teimam pirracentamente em sonegar tão sugestiva informação ao respeitável público leitor e ouvinte?

Uma outra manifestação recente dessa proverbial má vontade da mídia quanto a certas figuras de relevo na cena nacional que não deve, igualmente, permanecer desapercebida, diz respeito à sucessora de Lula, Presidenta Dilma Rousseff.

Em tempos ainda próximos, lamentava-se bastante, aqui por estas bandas, a desatenção extrema que envolvia lá fora as realizações brasileiras e os personagens de maior realce engajados no esforço de construção nacional em prol de um País moderno e pujante política, econômica e socialmente. De 2002 para cá muita coisa mudou no tocante à visão estrangeira da gente e coisas brasileiras.

Alguns veículos de comunicação de irradiação nacional parecem não se dar conta, todavia, em não poucas ocasiões, dessa significativa mudança. São movidos por preconceitos descabidos, ou parcialidades políticas suburbanas. Prova eloquente desse comportamento despropositado pode ser extraída de fato recente que colocou em foco, de maneira reluzente, a Presidenta Dilma Rousseff. Pelo segundo ano consecutivo, ela foi apontada como terceira mulher mais poderosa e influente do planeta, pela conceituada revista “Forbes”. Na classificação geral, posicionou-se atrás apenas da chanceler Ângela Merkel, da Alemanha, e da Secretária de Estado estadunidense, Hillary Clinton. A publicação, enfatizando ainda mais a missão da Presidenta, optou por estampar sua imagem na capa da edição que enfeixa a reportagem dedicada ao assunto. O trabalho jornalístico ressalta a influência política, econômica e social exercida pelas três líderes, “pessoas que impactaram fortemente a comunidade global”. Merkel é lembrada pela atuação na crise na zona do euro. Hillary, pela forma de gerir crises nos relacionamentos diplomáticos mundo afora. Dilma, pelos programas de cunho vanguardeiro na economia e na inclusão social.

E não é que, aí também, a grande mídia nativa, birrentamente, registrou o fato, aqui e ali, com avareza de detalhes, coisa só explicável diante de maroto intento de deixá-lo passar desapercebido!


O telefone vermelho

O compadre é homem de palavra. Nunca faria uma ursada comigo.”
(Coronel do interior procurando tranquilizar os correligionários)

Interessado no preenchimento de uma vaga em órgão público, indicação do genro no bolso do colete, aquele chefe político do interior, amigão do Secretário, correligionário leal, procurou-o em seu gabinete. A recepção foi entusiástica. “Só faltou banda de música”, o chefe político registraria, ao relatar o “causo” uns quinze anos mais tarde.
- Dona Candinha, como vai passando? Ainda faz daquelas gostosas broas? E o Euzebinho, que notícias me dá daquele malandrão? E os outros companheiros: o Jeremias, o Antônio Adão, o Laurito? E, afinal, o que traz o compadre até a gente?
O visitante, deslumbrado com o tratamento a pão de ló que lhe estava sendo dispensado, explicou as razões da viagem. O lugar estava vago. Os adversários de olho na “boca”. Os companheiros haviam se reunido e resolvido indicar o Candinho, moço preparado, de muito boa estirpe, companheiro firme da última campanha, puxador de voto certo nas eleições vindouras.
“- Mas só isso? É pra já. Avisa ao Candinho que ele já pode se considerar nomeado. Os companheiros podem até cuidar da festa comemorativa. E contem comigo, ouviu? Levo a patroa. Aproveito e passo um fim de semana na fazenda do compadre...”  E sem permitir que o outro largasse o agradecimento já engatilhado, pegou o telefone vermelho sobre a mesa de jacarandá, discou alguns números e transmitiu a ordem:
- Prepara logo o ato de nomeação. Quero assiná-lo amanhã, sem falta. Sem falta, está ouvindo?
O outro, ao que parece, estava ouvindo, já que, do lado de cá, o Secretário, num gesto com a cabeça, demonstrou a sua satisfeita concordância. O chefe político retornou radiante aos seus pagos. O semanário local estampou entrevista de primeira página, edição de domingo, informando que “o ilustre coronel, sempre atento aos superiores interesses da comunidade, da qual se tornara, pelos inúmeros serviços prestados, um líder inconteste, resolvera com rapidez e eficiência, contando com os préstimos do Secretário, seu grande amigo e compadre, os graves problemas que haviam determinado a sua ida à Capital”.
Dois meses transcorridos e nada da nomeação sair. O Coronel, meio desconcertado, valia-se sempre de uma mesma frase para afastar a desconfiança que lavrava no meio da companheirada: “O compadre é homem de palavra. Nunca faria uma ursada comigo...” Mas acabou, pelo sim, pelo não, por programar nova viagem à Capital. Tratamento de rei o que lhe foi dispensado. O Secretário veio ao seu encontro, “mal, mal anunciada a minha presença. Teve até garçom de luvas brancas, a me servir chá com bolacha...” Quando explicou, escolhendo bem as palavras, em cúmplice surdina, a razão de sua viagem, o Secretário “quase teve um troço”, explodindo em atitude contrafeita que representou o oposto da maneira discreta com que abordara o delicado assunto:
- Mas, como?! A nomeação do Candinho ainda não saiu? Isso não fica assim mesmo!...
Tomou, novamente, o telefone de mesa vermelho, tornou a discar alguns números e despejou, nos ouvidos de seu colaborador, a maior espinafração da história: - Definitivamente, não aceito explicações. O senhor agiu de forma negligente. Exijo já a elaboração do ato. Não tem mais, nem menos. Quero o ato preparado para assinatura, amanhã cedo. Volto a repetir: amanhã cedo, sem falta.
O Coronel ficou impressionadíssimo com a cena. Nunca vira seu companheiro, em tantos anos de convivência, agitado daquela maneira. Voltou pra sua terra inteiramente desarmado, sem alimentar no espírito qualquer suspeição quanto à disposição do Secretário em resolver o problema. Só alguns meses mais tarde, nomeada para o cargo outra pessoa, e com o Candinho já definitivamente engajado no partido adversário, ficou sabendo, devido a uma indiscrição do oficial de gabinete do Secretário, que naquela Secretaria, o telefone vermelho era uma peça decorativa, noutras palavras, um mero enfeite de mesa. Nada mais do que isso.

*Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

No domínio das energias sutis

Cesar Vanucci *

“Morrer é só não ser visto”.
(Fernando Pessoa)

Acabei a leitura, de uma sentada só, de livro muito interessante em que são relatadas as incríveis experiências do paranormal estadunidense James van Praagh. Este cidadão tem o dom de estabelecer, com pessoas da platéia, em programas de televisão, de grande aceitação popular, insólitos diálogos. Os atendimentos individuais em seu consultório são também marcados pela singularidade. Ele costuma liberar informações desconcertantes, atribuídas a entes queridos ligados às mesmas e não mais pertencentes ao mundo dos vivos. As revelações, na maior parte das vezes, provocam forte impacto. A idéia de um contato desse gênero, que possa envolver forças ou energias do além, marca de modo bastante vigoroso os telespectadores.

Isso me leva a recordar que, alguns anos atrás, o “Fantástico”, da Globo, levou ao ar, com a participação de pessoas interessadas - ao que se afirmou - em desmascarar falsos paranormais, uma série de reportagens concernentes a essa polêmica modalidade de comunicação. Um ator especialmente treinado em técnicas de persuasão de público, valendo-se de jogo de palavras ardiloso e de deduções que incorporam elementos da psicologia, demonstrou como se faz possível engabelar indivíduos de boa fé, com falsas propostas de cunho místico. A performance do ator, sem dúvida convincente, oferece condições para explicar uma que outra – não todas –manifestação estranha produzida por Praagh junto ao público. Mas, de qualquer maneira,não especificamente no caso do paranormal dos Estados Unidos, cujo trabalho é encarado, ao que se sabe, com seriedade por parapsicólogos renomados, tem o sentido de um alerta em relação a eventuais espertalhões, “especializados” nessa área dos fenômenos inexplicáveis em arrancar algum, ludibriando incautos.

Mas nada do que James van Praagh consegue fazer na televisão, ou muito menos – está claro – do que os responsáveis pelo propalado desmascaramento de falsos sensitivos conseguem realizar com seus criativos e astuciosos estratagemas, aproxima-se tenuamente, como explicação, ou elemento de analogia, do “espetáculo” – chamemo-lo assim – que presenciei, há uns vinte anos, no Teatro Vanucci, Shopping da Gávea, Rio de Janeiro. Uma paranormal de nome Célia promoveu no recinto – sabe-se lá como – algo fantástico, extraordinário, inimaginável, nessa linha de contatos com o outro mundo. Casa superlotada, umas setecentas pessoas, dos mais diferentes bairros da antiga capital da República, de cidades das redondezas e de outros Estados, presenciaram tudo.

Depois de uma exposição interessante, rica em pormenores, acerca das variáveis infinitas de aplicação das chamadas energias sutis, de que é composto nosso enigmático e fascinante universo, a sensitiva dispôs-se a operar, inteiramente lúcida e com plena articulação das palavras e controle dos movimentos, andando de um lado para outro do palco, como “canal” numa comunicação, segundo garantiu, com criaturas que já haviam deixado este nosso “vale banhado de lágrimas”. E que, em vida, integraram o universo afetivo das pessoas presentes. Ninguém, no público, fez qualquer intervenção oral, qualquer pedido por escrito. Debaixo de silêncio absoluto, respeitoso, só dona Célia falou. Em dezenas de intervenções, chamou pessoas pelos nomes, indicando os números das poltronas em que se achavam sentadas. E, na seqüência, uma a uma, passou-lhes mensagens, “recebidas na hora”, dos parentes e amigos já “encantados”. As palavras foram obviamente recebidas com emoção, arrancando confirmações surpreendentes quanto aos dados apontados.

Num determinado instante teve-se a impressão de que a sensitiva havia cometido uma derrapagem. Ledo engano. Ela pediu a um cidadão, numa poltrona próxima à minha, que anotasse o recado de alguém cujo nome citou. O cidadão em referência assinalou não conhecer a pessoa mencionada. Célia admitiu: sim, ele estava com inteira razão. O “contatado” era, na verdade, filho de um amigo e vizinho seu, morador do apartamento de número tal, edifício tal, bairro tal. O espectador convocado a levar o recado emocionou-se às lágrimas. Os dados anunciados estavam rigorosamente corretos.

Essa sensitiva, tanto quanto sei, nunca foi levada a um estúdio de televisão para por à prova seus extraordinários dons, sua capacidade de utilizar, de forma tão arrebatadora, o poder inimaginável das chamadas energias sutis. Que muita gente, em reta intenção, enclausurada em dogmatismos religiosos rançosos, encontra dificuldades intransponíveis em aceitar.



Era uma vez duas Taças!

“Muita gente importante do futebol brasileiro ainda não se deu conta da verdade proclamada por Lincoln: pode-se enganar todo mundo durante algum tempo e certas pessoas durante o tempo todo, mas não se pode enganar todo o mundo todo o tempo.”
(Antônio Luiz da Costa)


Parar já com a enganação. Com esta perversa engabelação. Com a venda abusiva de ilusões. Ou com qualquer outro tipo de reação, verbal ou por escrito, que sirva pra alimentar a idéia de que estamos percorrendo os caminhos corretos nos preparativos que objetivem a reconquista de lugar de realce no palco futebolístico mundial. Não estamos. Tudo que se fez até agora, nessa montoeira de equívocos praticados, conduzirá a seleção, implacavelmente, em futuros compromissos, a rotundos fracassos. Outros mais da lista recente.

Tempo, se bem que escasso, ainda existe pras necessárias reformulações. O que anda faltando mesmo é vontade política para fazê-las. A vitória sobre a Suécia, logo após a frustrante campanha olímpica, deu novo alento à comissão técnica, comandada por Mano Menezes, mas não ajudou nadica de nada a desfazer, numa avaliação objetiva, ancorada em grau maior de exigência por parte dos entendedores de futebol, a desalentadora sensação de que, a continuarem as coisas como vão, a vaca acabará mesmo atolando no brejo.

As reformas precisam ter início pelos conceitos básicos. Carecem ser procedidas sem tardança. Sem choro nem vela. Sem novas concessões a fórmulas desgastadas na condução do esquema da preparação. A Copa das Confederações, preâmbulo importante do evento magno de 2014, já está batendo na porta. Se a Comissão Técnica não for substituída, se os métodos de convocação e os trabalhos nas quatro linhas não sofrerem alterações a breve prazo, babau! Era uma vez uma Taça. Era uma vez, aliás, duas Taças.

Os timecos que têm representado até aqui o futebol pentacampeão em grandes competições não se mostram, de modo algum, à altura, nem tecnicamente, nem fisicamente, nem psicologicamente, de cumprir a missão de enorme envergadura que o país do futebol pretende atribuir ao escrete a ser formado.

A reforma almejada não pode ser de meia sola. Terá de ser de solado inteiro. E, por favor, nada de recorrer ao surrado expediente de se anunciar alguma reforma pra não se fazer reforma alguma.

Dia desses, apoderado de inconformismo diante do feio estilo retranqueiro adotado nos gramados pela totalidade de nossos treineiros, em estado de desconforto face à submissão dos mesmos a critérios viciados na convocação dos atletas, pus-me a interrogar os botões de meu pijama acerca de algumas questões relevantes. Uma delas: a conveniência de se partir inovadoramente para a estruturação de um comando coletivo pra cuidar da orientação técnica do selecionado. Quem sabe até com a participação no grupo (a ser totalmente renovado) de um esportista vitorioso noutra modalidade competitiva! Alguém com reconhecido poder de gerenciamento, que seja capaz de injetar ânimo e entusiasmo novos, em dosagens certas, no elenco a ser constituído. José Roberto, do vôlei feminino, se encaixaria bem nesse perfil.

Craques do futebol do passado, tais como Zico, Tostão, talvez Pelé, ou Romário, partilhando responsabilidades na complexa empreitada, são nomes que também poderiam ser cogitados nessa desejável recomposição de quadros com o fito de recolocar as coisas nos devidos trinques.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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