sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Cadê as manchetes e chamadas?

Cesar Vanucci

“Fazer o bem é um ótimo investimento!”
(Elie Horn, empresário)

No noticiário nosso de cada dia aquela sobrecarga toda de calamidades pessoais e coletivas. Tragédias reais, tragédias imaginárias. Demonstrações comportamentais opostas às regras civilizadas da boa convivência. Manifestações furibundas de mau humor, de mau agouro, de pessimismo dilacerante. Agressões permanentes a valores que conferem dignidade à aventura da vida. Paixões elevadas a estado de paroxismo intolerável. Um vale tudo que revira as coisas de cabeça pra baixo.

Culpa de quem mesmo? Bem avaliadas as circunstâncias, sobra pra todos alguma dose de culpa no cartório. Ser simples protagonista no enredo encenado pode não nos eximir por inteiro de ônus naquilo que de errado anda pintando no pedaço. Omissões, comodismo, fuga a deveres básicos, ignorância, insensibilidade social despontam, às vezes, como fatores determinantes de procedimentos que alvejam estrepitosamente o interesse público.

Procurando refletir, a grosso modo, aquilo que considera o rumo das tendências e preferências populares, concentrando-se obsessivamente na preocupação de cortejar o público, mas descuidando-se de seu papel pedagógico de orientar, a mídia apela amiúde para fórmulas sensacionalistas de comunicação. Enfatiza em demasia, com pouca consciência dos limites éticos, aspectos sombrios da conduta humana. Usa e abusa da repetição de dados e imagens que escancaram lances mórbidos do dia-a-dia. Esse enfoque equivocado na rotina da comunicação acaba obscurecendo um mundão de atos, gestos, realizações, empreendimentos que, ao contrário das ocorrências negativas insistentemente divulgadas, projetam animadoras e benfazejas perspectivas criadas pela cidadania no enfrentamento dos desafios da vida.

Os relatos sobre decisões positivas, atitudes enriquecedoras revelam-se escassos no noticiário. Há um excesso de comedimento, digamos assim, na propagação de fatos que tais. Em função disso, a opinião pública acaba sendo penalizada com desinformação sistemática a respeito de feitos extraordinários.  De situações merecedoras de aplausos e louvores nascidas de inspirados momentos em trajetórias pessoais de vida pública um tanto quanto diferenciadas dos caminhos trilhados por certas celebridades que frequentam desairosamente as manchetes. Neste preciso instante, marcado por inúmeros casos de personagens de destaque empresarial comprometidos com malfeitorias, acaba de ser registrada, por exemplo, uma história edificante, não divulgada com o realce de que se faz merecedora, envolvendo um cidadão do ramo industrial que resolveu assumir posicionamento de vida de incomparável magnitude.

Elie Horn, o nome dele. Dono de uma das maiores construtoras brasileiras, a “Cyrela”, com vários projetos em Minas, alguns recentes em Uberaba, possui fortuna avaliada em 4 bilhões de reais. Isso o remete à lista dos cem cidadãos mais ricos do país, segundo a “Forbes”. De nacionalidade síria, naturalizado brasileiro, avesso à badalação mundana, ele acaba de tomar memorável decisão, em nome também da esposa, Susy. Irá doar, ainda em vida, 60 por cento de seus bens para fins sociais, preferencialmente na área da educação. “Fazer o bem é ótimo investimento. Isso é tão óbvio, não entendo como as pessoas não compreendem” foi o que disse ao anunciar oficialmente adesão ao programa internacional “The Giving Pledge” (“Chamada à doação”). Até aqui é o único brasileiro inserido nesse programa criado em 2010 pelos bilionários Bill Gates e Warner Buffett, com o objetivo de incentivar homens de boa vontade a doarem parte das fortunas às causas sociais. Horn já é conhecido como grande filantropo pelas contribuições asseguradas a iniciativas humanitárias. Aos 71 anos, trabalhando todos os dias (“Aposentadoria é covardia”, costuma dizer), esse cidadão de dons singulares traduz numa frase seu modo de encarar a vida: “Como seres humanos, não vamos carregar nada além de nós para outro mundo. A única coisa que levamos são as boas coisas que nos acompanham em vida. Nós estamos no mundo para ser testados e cada um de nós deve transferir o que consegue com suas habilidades.”


Tirar o chapéu pra ele! E, a propósito, cadê as manchetes, as repetitivas chamadas dos telejornais, que nada dizem a respeito desse gesto de suprema grandeza de espírito?


Ciro solta o verbo

Cesar Vanucci

“O Brasil está mostrando que suas instituições estão funcionando.”
(Ciro Gomes)


Acúmulo de lances inesperados e perturbadores, rendendo fervilhantes desdobramentos, bagunçou o coreto pra valer. Vem dificultando análises atualizadas da conjuntura política.

Integrando o elenco titular do teatro político, pela condição de ex-Governador, ex-Ministro e candidato potencial à Presidência, o cearense Ciro Gomes não figura no rol dos personagens sob o foco central dos holofotes nas azedas contendas da hora presente. Seu relativo distanciamento do epicentro dos acontecimentos não o impede, entretanto, de opinar sobre as questões que no momento galvanizam a atenção pública. Ele o faz com grande fluência verbal, sem papas na língua, como se costuma dizer na linguagem das ruas, para emitir conceitos que geram controvérsias, arrancando aplausos e críticas, mas que não deixam de representar, de forma arguta e lúcida, uma linha de pensamento relevante para o debate democrático.

Em depoimentos recentes a Rodrigo Martins, na “CartaCapital”, e Felipe Castanheira, em “O Tempo”, Ciro soltou o verbo. Assestou a metralhadora giratória em próceres da situação e da oposição que frequentam as manchetes com assiduidade diária. À vista da relevância do papel que lhe está sendo reservado no enredo político, sua fala é por demais oportuna.

Ciro Gomes com a palavra.

Sobre o governo de Dilma: “O povo acha o governo um desastre, com boa dose de razão”. (...) “Dilma é decente, bem-intencionada, comprometida com o País. Mas o governo precisa mudar. A gestão da economia é ruinosa. O balé que Dilma faz com chantagistas passa um sinal contraditório do compromisso real dela com a decência. Durante 12 anos, o povo viu sua vida melhorar”. (...) “Mas agora vê tudo regredir, o salário, as políticas de proteção social, os investimentos de infraestrutura, os serviços públicos.”

Sobre o “impeachment”: “A solução do problema para um governo que a gente não gosta não é a ruptura com o calendário democrático, nem com as instituições, porque isso introduz no País uma instabilidade, um potencial de violência política que demoraríamos muitos anos para corrigir”. (...) “Em nenhuma hipótese a solução é um golpe”. (...) “Corremos o risco de colocar no comando do País alguém sem legitimidade, comprometido medularmente com a corrupção.”

Sobre o PT: “O PT tem que ceder um pouco o seu protagonismo, porque parte do problema é o PT.”

Sobre o PSDB: “O PSDB está cometendo equívoco histórico”. (...) “Embora não concorde com os rumos que eles advogam para o País, não se pode desconhecer que há ali gente muito qualificada e respeitável e toda essa respeitabilidade está sendo jogada no lixo por esse caminho golpista”. (...) “Quando o PT cometeu o mesmo desatino de tentar derrubar o FHC, eu, que tinha acabado de sair da eleição derrotado, tomei a mesma conduta. Condenei o PT, chamei o PT de golpista, defendi a democracia.”

Sobre o PMDB: “O PMDB é isso que a gente sempre conheceu”. (...) “Nós vamos contar com uma parte do PMDB que contaríamos mesmo se não houvesse o vice-presidente (...) e não vamos contar com o PMDB que sempre foi, como Michel Temer, ligado ao outro lado.”

Sobre Eduardo Cunha e Michel Temer: “Conheço bem os dois, de longa data. Temer conspira há algum tempo, tenho informações a respeito.” (...) “O vice é um homem do Cunha, e não o inverso. Está completamente comprometido.” (...) “Cunha vai para a cadeia”. (...) “O Brasil está mostrando que suas instituições estão funcionando. Podem ser lentas, podem ser contraditórias (...), mas estão funcionando”. “Você tem senador preso em flagrante, banqueiro na cadeia, coisa que nunca aconteceu.”

Sobre a carta de Temer a Dilma: “Nunca vi coisa tão ridícula, de tão baixo nível (...) cretina e risível”. (...) “Um festival de vaidades e de mágoas”. (...) “Você não nomeou fulano” (...), “foi ver não sei quem e não me levou”. (...) “Quem vazou o texto para a mídia foi ele.”

Sobre Aécio Neves: “É um velho e querido amigo, mas estou chocado como mudou. Um neto de Tancredo Neves jamais poderia pôr sua biografia em um itinerário golpista comandado por um chefe de quadrilha como é o caso do Eduardo Cunha.”

As instituições e o momento político

Cesar Vanucci

"Abalar instituições para obter resultados políticos
imediatos é um pouco como perder a alma
 imaginando que se está ganhando o mundo".
(Ministro Luís Roberto Barroso, do STF)

Tempos danados de confusos. Minorias ativistas, de diferentes tendências, utilizando aguerridas tropas de choque e retórica pomposa mode camuflarem seus reais propósitos, parecem firmemente empenhadas em instituir o caos. O pior, a eles, se lhes afiguram, nesta hora, como a melhor alternativa.

Tão estrábica concepção da conjuntura político partidária arrasta tais agrupamentos a ignorarem, tantas as maquinações urdidas, os sentimentos dos filiados do maior partido nacional. Os brasileiros desse grande Partido chamado Brasil.

A crise política exige tomada de posição urgente. Decisões ancoradas no bom senso e no respeito intransigente aos postulados democráticos. Como, aliás, expresso na poderosa conjugação de vontades que trouxe a público o ponto de vista sobre a realidade brasileira de Governadores de Estado, Juristas conceituados, líderes de organizações representativas dos diversificados segmentos da sociedade, casos da CNBB, CNI, Fiemg, Associação Comercial Minas e outras entidades classistas, patronais e laborais, noves fora, como de praxe, para a incorrigível Fiesp.

Os clamores e as expectativas da comunidade nacional voltam-se para definições políticas relevantes, a serem logo anunciadas, de maneira a que os desafios de natureza econômica possam ser enfrentados e equacionados, com a retomada de investimentos e sem mais agravos às políticas de inclusão social e à empregabilidade.

As adversidades não são poucas, forçoso admitir. Mas não há como, por outro lado, deixar também de reconhecer, em reta e lisa verdade, que coisas positivas estão ocorrendo, sob determinados aspectos. Das próprias vicissitudes estamos conseguindo, como Nação consciente de sua pujança democrática, extrair resultados de alguma forma bastante positivos. Ressoam como compensação para as numerosas contrariedades confrontadas. Nossas instituições vêm funcionando a contento, animamo-nos a dizer. Os poderes competentes movem, com relativa eficácia, combate sem tréguas à corrupção sistêmica de décadas.

Se assestarmos o olhar, pra ficar apenas num exemplo, numa investigação das muitas em curso – a chamada “Lava-Jato” -, iremos nos deparar com revelações extremamente sugestivas. A operação já flagrou, em procedimentos condenáveis, um punhado de empresários inidôneos e agentes públicos infiéis, além de 68 figurões da política, de diferentes legendas, com destaque para o PP (31 filiados), PT e PMDB (12 cada um). De outra parte, são em número de 57 os indivíduos já condenados a penas que, somadas, chegam a 700 anos. Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado são alvos de atenção nos inquéritos. À cadeia já se acham recolhidos um senador, ex-líder do Governo, os donos de algumas das maiores empreiteiras do País, um banqueiro, ex-diretores de organizações estatais. Gente que, até dia desses, era vastamente badalada nos círculos mundanos como celebridades com direito ao desfrute de prerrogativas especiais, entre elas a impunidade, nada obstante os malfeitos praticados. Esse acerto de contas é conquista de agora, recentíssima. Revela um despertar de consciência que atende aos superiores interesses da coletividade.

As considerações acima estavam alinhadas quando se fez conhecida a decisão do STF de botar ordem no processo referente ao debate sobre a proposta do impedimento presidencial, conduzida de forma imprópria e descabida pelo presidente da Câmara dos Deputados, com o apoio de correntes oposicionistas. O posicionamento da Corte documentou, uma vez mais, que as instituições estão sabendo responder adequadamente às demandas republicanas do Brasil.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Francisco, pontífice e estadista

Cesar Vanucci

“Cada ser humano é mais importante do que o deus dinheiro”.
(Papa Francisco)

Para uma humanidade aturdida com os desmandos econômicos, as distorções sociais, o radicalismo ideológico, a prepotência política originária de incontroláveis ambições hegemônicas, a palavra de Francisco ressoa como um lenitivo. Um reconfortante jato de esperança.

Na recente peregrinação pela África, continente largado à própria sorte pelos homens e, às vezes, pelos próprios deuses das diversificadas crenças cultivadas por seus injustiçados habitantes, vemo-lo, novamente, no impecável exercício do magistério espiritual e no altivo desempenho da função de grande estadista. O Papa dos confins do mundo expediu de novo convocação às lideranças e às criaturas providas de consciência social. Pediu-lhes repensem os rumos trilhados pela sociedade neste mundo do bom Deus em que o tinhoso, com a cumplicidade de um montão de gente, costuma plantar atemorizantes enclaves. Mostrou a necessidade imperiosa da reformulação das estruturas socioeconômicas de modo a proteger a essência da vida.

Quênia, Uganda e República Centro-africana, países que simbolizam com crueza a injustiça e miséria imperantes neste planeta azul, ouviram-no dizer que se sentia em casa nos contatos feitos com as periferias profanadas em sua dignidade humana. Na formulação da agenda de viagem tentaram dissuadir Chico de botar os pés nos citados países. Os riscos em matéria de segurança seriam demasiados. “Vou de qualquer jeito”, redarguiu. “Se não puderem me levar, eu me atiro de paraquedas”. Acerca de possíveis ameaças de atentado (declaração atribuída a enfezado dirigente do ”Califado”, dizia que ele seria o último Pontífice), fez uso também de seu bom humor: “Mais do que das pessoas, na África tenho medo dos mosquitos”.

Circulando em veículo sem proteção blindada nas regiões visitadas proferiu palavras de incomum sabedoria. Sobre o terrorismo: “A experiência demonstra que a violência, o conflito e o terrorismo se alimentam do medo, da desconfiança e do desespero que nascem da pobreza e da frustração”. Acentuou ainda que o nome de Deus “não pode ser usado para justificar o ódio e a violência”. Voltou a profligar a sistemática da corrupção, espalhada como erva daninha por tudo quanto é canto: “A corrupção é um caminho de morte, existindo em todas as instituições, também no Vaticano”. Proclamou que os pobres representam a estrela guia de seu pontificado, fazendo alusão ao que chamou de “sabedoria das periferias”.  “Uma sabedoria que brota de obstinada resistência do que é autêntico, dos valores evangélicos que a sociedade do bem estar, entorpecida pelo consumo desenfreado, parece ter esquecido”. Arrematando um dos pronunciamentos, registrou que “cada ser humano é mais importante do que o deus dinheiro”, anotando que a ninguém é concedido o direito de “desconhecer a terrível injustiça da marginalização urbana” (...), “uma ferida provocada pelas minorias que concentram o poder e a riqueza, que os dilapidam egoisticamente, enquanto a crescente maioria das pessoas precisa refugiar-se nas periferias abandonadas, poluídas, descartadas”.

Esses luminosos conceitos foram extraídos de um relato, rico em pormenores, sobre a viagem de Francisco, feito pelo jornalista Claudio Bernabucci, da “CartaCapital”.


Tenda de Deus

Cesar Vanucci

“Natal é a exuberância vital de Deus derramada no mundo.”
(Juvenal Arduini)

Vasculhei os arquivos à cata de texto natalino, com mais de duas décadas, da lavra deste desajeitado escriba. Não consegui localizá-lo, mas em compensação “recuperei”, por assim dizer, uma genial mensagem, guardadinha lá no fundo da gaveta, o papel já com aquela tonalidade amarelecida do desgaste do tempo, de ninguém mais, ninguém menos, que Juvenal Arduini. Exatamente, do sábio orientador de inúmeras gerações universitárias. Saudoso e lendário personagem de lutas memoráveis, uma vida inteira consagrada à construção humana. Sacerdote, professor, sociólogo, deixou gravadas, com ternura infinda, nos corações e mentes de milhares de pessoas, imagens de sua presença fulgurante no púlpito e na cátedra. O fascínio de seu verbo e a universalidade de sua pregação ficam bem evidenciadas nesse trabalho de sua autoria, a propósito da magna data do calendário cristão, que será estampado hoje neste espaço, com notória vantagem para os leitores. A todos meus votos de um Feliz Natal!

“Natal é a exuberância vital de Deus derramada no mundo. Ele veio ao mundo para ficar conosco e misturar seus passos aos nossos. Deus quis chegar à humanidade passando pelos caminhos humanos. Fez-se criança. Veio com olhar de criança, ternura de criança, inocência de criança, beleza de criança. Chegou como criança para não assustar-nos. Deus não gosta de amedrontar. Nós é que usamos o “nome” de Deus para intimidar os outros. E para nominá-los.
Jesus nasceu pobre. “Não havia lugar” para ele. Foi colocado na manjedoura de animais. Quis ser solidário com os pobres. Ensinou-nos a anunciar o Evangelho e a “lavar os pés” dos pobres.
O pintor Georges de la Tuor mostra Maria que apresenta o Menino, com as mãos generosas, em gesto de oferta. Maria está a dizer que a Criança não lhe pertence. Pertence à humanidade. As mãos de Maria entregam o Projeto de Deus a todos nós. Cumpre-nos concretizá-lo.
O Verbo se fez carne. A Palavra de Deus comparece ao mundo envolta em tecido humano. A humanidade esconde e revela o significado de Jesus, que pensa, fala, alegra-se, chora, angustia-se, sente compaixão pelos doentes e famintos. É profundamente humano, sem deixar de ser Deus.
A Criança de Belém é tenda, onde Deus habita. Nessa tenda, o pastor nômade vai buscar a humanidade nas encostas e nas veredas. O amor do Pai enviou o Filho para salvar a humanidade. Natal lembra a humanidade toda, mas de modo especial o desempregado, o enfermo, o desnutrido, o angustiado, o injustiçado, o morador de rua. Cristo quis morar entre nós para repartir a vida plena, para valorizar o ser humano, para dignificar a criança, a mulher e o excluído.
Natal é festa e compromisso. É alegria e práxis. Celebrar o Natal é prolongar a presença viva de Jesus. Natal é agir hoje, como Cristo agiu em seu tempo. Natal é limpar a consciência, é espalhar o amor, plantar a justiça, ativar a solidariedade, repensar a história, suscitar o clamor profético, é intensificar a libertação radical. Natal é sacudir o torpor, quebrar a rotina, desencarvoar o rosto cínico, fazer saltos, é ousar o inédito, recuperar a ética vitalista, é atalhar a decomposição política. Natal é reativar a Fé, enraizar a fraternidade, abolir o trabalho infantil nocivo, é resgatar a dignidade daqueles que foram expropriados de sua humanidade. Natal é partir mais uma vez com Jesus.
É teu Natal, Jesus. Ajuda-nos a espantar as sombras. Ajuda-nos a sair da noite. Ajuda-nos a “refazer” o mundo, para que nossa humanidade tenha teu semblante, tua voz, tua ternura, teus gestos, tua esperança. Criança de Natal ajuda-nos a crescer contigo. Ajuda-nos a ter a coragem de seguir tua audácia. Criança do Natal: és água da sabedoria, és arquiteta do universo, és palavra escrita em carne, és tenda de Deus.”


A carta de Temer

Cesar Vanucci

“Agravo vulgar à política é confundi-la com a astúcia.”
(Gracián, pensador espanhol)

A carta endereçada por Michel Temer a Dilma Rousseff, apontada por alguns de seus correligionários como um gesto de astúcia política para o momento, é um documento desprovido de grandeza. Empobrece a biografia do Vice-presidente. Encaminhada às redações dos telejornais na mesma hora (ou quem sabe até antes) da entrega à destinatária, faz pouco caso da inteligência das pessoas.

Não há como o Vice, por mais que se esforce, desvencilhar-se do importante papel exercido como protagonista de proa, tanto pras coisas boas quanto pras negativas, neste enredo politico administrativo dos últimos cinco anos de governo. Seu partido, revelando-se cada dia mais peemedebista do que nunca, ocupa com reconhecida voracidade postos e instâncias decisórias num punhado de ministérios, secretarias, organizações estatais, empresas mistas. Muitos nomes de projeção de seus quadros estão sob mira nas investigações da Justiça. Querer, então, de hora pra outra, descerimoniosamente, passar para o respeitável público, até subliminarmente, a ideia da existência de uma antiga dissociação de interesses, de uma discordância aguda em torno de questões capitais na condução dos negócios administrativos em relação ao governo do qual faz parte, chega a ser risível, pra não dizer melancólico.

O que se recolhe do episódio é uma sinalização a mais de que a Nação brasileira vê-se diante de uma conjuntura política amarga e confusa, frustrada por identificar nas lideranças, em todas as legendas, personagens despojados de ideias, imaginação e criatividade.

E, por falar nisso, não é que o Eduardo Cunha continua desafiando abertamente a consciência cívica e democrática brasileira com suas danações?


sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Golpe não!

Cesar Vanucci

“A decisão de abrir o tal processo de impeachment decorreu de
propósitos puramente pessoais, em claro e evidente desvio de finalidades”.
(Manifestação unânime dos Governadores do Nordeste, no mesmo
dia do anúncio da decisão do Presidente da Câmara dos Deputados)

Golpe, sim senhor! Nada de tapar sol com peneira. Sem essa de tergiversar, dourar pílula, recorrer a subterfúgios, sofismas, eufemismos para tentar justificar o injustificável, em questão tão séria. O que se escancara diante do olhar atônito da sociedade não são meros indícios, mas afrontosa disposição de retrocesso nas conquistas institucionais.

Bem pesadas, medidas e avaliadas as circunstâncias e consequências políticas, o intempestivo e ilógico posicionamento do Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, representa sem margem a dúvidas um golpe desferido contra a democracia. A chantagem explícita documenta instante ignominioso na vida brasileira. Projeta enredo perturbador, que não pode deixar de ser rechaçado com veemência pela consciência cívica da Nação.

O saudável contraditório no plano das ideias, que só a Democracia tem condições de proporcionar aos homens e mulheres de boa vontade, garante naturalmente, Deus louvado, a qualquer cidadão, o direito de criticar abertamente a atuação governamental. De expressar livremente, sem constrangimentos, agora e sempre, sua desconfiança com relação ao que os dirigentes do país realizam  em matéria política e econômica. De condenar decisões tomadas amiúde nos altos escalões que estejam desalinhadas com as legítimas aspirações sociais e comunitárias. Como tem sucedido na atualidade.

O teste da democracia é a liberdade de crítica, como proclamou alguém famoso. Já essa manobra, com jeito de vendeta mesquinha, configurando inequívoco abuso de poder de um parlamentar que ficou notabilizado no cenário político por nauseabundas traquinagens, não pode ser considerada, jeito maneira, à luz do bom senso, numa interpretação criteriosa e lúcida dos acontecimentos, ato a ser levado a sério num país cioso de sua pujança democrática.

Por divisarem na insolente atitude ameaça clara às conquistas do Estado de direito, lideranças de reconhecida representatividade apressaram-se, assim que divulgada a decisão de Eduardo Cunha, em expressar seu inconformismo e repúdio ao esquema golpista em andamento. De forma unânime, os Governadores do Nordeste, independentemente de vinculações partidárias, classificaram o processo instaurado como “absurda tentativa de jogar a Nação em tumultos derivados de um indesejado retrocesso institucional”. Acrescentaram que “o tal pedido de impeachment decorreu de propósitos puramente pessoais, em claro e evidente desvio de finalidade”. Arremataram a nota de repulsa dizendo-se “mobilizados para que a serenidade e o bom senso prevaleçam” e pontuando a necessidade de que em vez de golpismos, o Brasil recorra à “união, diálogo e decisões capazes de retomarem o crescimento econômico, com distribuição de renda”.

A Conferência Nacional dos Bispos (CNBB), noutro pronunciamento de elevado sentido cívico, manifestou “imensa apreensão ante a atitude do Presidente da Câmara dos Deputados”. Sublinhou: “No caso presente, o comando do Legislativo apropria-se da prerrogativa legal de modo ilegal. Indaga-se: que autoridade moral fundamenta uma decisão capaz de agravar a situação nacional com consequências imprevisíveis para a vida do povo? Além do mais, o impedimento de um Presidente da República ameaça ditames democráticos, conquistados a duras penas”.

Estou sentindo até aqui, nessa história toda, falta da voz altiva de Minas. Revejo JK: “Sou visceralmente democrata. Para mim a liberdade é algo fundamental.” Revejo também Tancredo Neves: “O primeiro compromisso de Minas é com a liberdade”. Revejo ainda Paulo Pinheiro Chagas: “Brasil intrépido e generoso, com seu velho horror ao arbítrio e seu enternecido amor à liberdade”.


Situações surreais


Cesar Vanucci

“A ruptura institucional introduz no Brasil uma instabilidade e um
potencial de violência política que demoraríamos muitos anos para corrigir.”
(Ciro Gomes)

Por obra e arte desse incrível personagem chamado Eduardo Cunha, que não se enrubesce um tiquinho que seja diante dos rotineiros desatinos praticados, a Câmara dos Deputados viveu no último dia 8 de dezembro situações de um surrealismo sem par.

A zorra toda teve início na reunião da Comissão de Ética convocada pela quinta vez consecutiva para votar o relatório reconhecendo a admissibilidade do processo por quebra de decoro do presidente da Casa, o supracitado Eduardo Cunha, em razão das declarações falsas acerca das contas secretas mantidas em bancos no exterior em depoimento prestado noutra comissão parlamentar. A aguerrida “tropa de choque” do parlamentar, numa manobra fastidiosa, lançando mão de fajutos argumentos, impediu outra vez mais que a votação fosse levada a cabo. Apoderou-se do tempo para inconsistente prosa até o momento fatal do começo da “ordem do dia” da reunião plenária, como já havia feito nas reuniões precedentes, de forma a impedir votação desfavorável aos interesses do deputado, apontado pela Procuradoria Geral da República por procedimentos ilícitos nas investigações da “Lava-Jato”.

Logo na sequência, nos trabalhos plenários, contrariando praxe regimental, Eduardo Cunha recusou-se peremptoriamente a abrir espaço aos deputados para pronunciamentos e discussões a respeito da importante matéria constante da pauta. Anunciou de imediato votação secreta para a composição de Comissão Especial incumbida de conduzir o exame do processo de impedimento da Presidenta Dilma Rousseff, instituído por ele próprio, Cunha, de forma inepta e despojada de sustentação legal, consoante abalizadas opiniões de renomados juristas. O presidente da Câmara limitou-se a informar aos seus pares que duas chapas iriam concorrer ao pleito. Uma delas contendo nomes indicados pelas lideranças partidárias. Outra reunindo elementos sugeridos por oposicionistas e parlamentares desfavoráveis às indicações feitas pelas mencionadas lideranças. Concluída a votação, dando ciência dos resultados, favoráveis à chamada “chapa avulsa”, por ele elaborada de comum acordo com as bancadas oposicionistas, deu por encerrados os trabalhos, convocando reunião para o dia seguinte a fim de ser complementada a relação dos membros da Comissão.

O caráter arbitrário das atitudes assumidas pelo presidente da Câmara, com intervenções que extrapolaram os limites de sua alçada e agrediram o bom senso, ficou muito bem documentado nos dois episódios. Tanto isso é verdade que o Ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, focado no segundo deles, resolveu suspender a instalação da Comissão Especial para análise do processo de impeachment constituída nos moldes descritos. O magistrado acolheu recurso proposto por parlamentares do PC do B onde se defendeu votação aberta para a eleição da Comissão Especial e se argumentou que as indicações de nomes para comporem a referida Comissão devem ser de indicação estrita das lideranças partidárias. O Ministro explicou que sua decisão foi tomada “com o objetivo de evitar a prática de atos que eventualmente poderão ser invalidados pelo Supremo Tribunal Federal, obstar aumento de instabilidade jurídica com profusão de medidas judiciais posteriores e pontuais, e apresentar respostas céleres aos questionamentos suscitados.” Recomendou ainda que se promova de imediato, debate e deliberação do assunto pelo Tribunal Pleno, “determinando, nesse curto interregno, a suspensão da formação e a não instalação da Comissão Especial, bem como dos eventuais prazos, inclusive aqueles, em tese, em curso, preservando-se, ao menos até a decisão do Supremo Tribunal Federal prevista para 16/12/2015, todos os atos até este momento praticados.”             

A manifestação do Ministro foi recebida com sensação de alívio por parte da opinião pública, chocada face à sucessão de lances inconsequentes, derivados de vingança mesquinha e chantagem explícita, que vêm sendo praticados pelo parlamentar com a prestimosa ajuda de setores extremados da oposição, numa tentativa de ruptura da ordem democrática que tem causado mal estar e desassossego em amplos setores da sociedade. Sociedade essa que não oculta seu desagrado com um mundão de coisas que vem acontecendo no país à conta de políticas governamentais equivocadas, mas que não aceita, sob pretexto algum a quebra de preceitos democráticos consolidados.

A carta de Temer

Cesar Vanucci

“Agravo vulgar à política é confundi-la com a astúcia.”
(Gracián, pensador espanhol)

A carta endereçada por Michel Temer a Dilma Rousseff, apontada por alguns de seus correligionários como um gesto de astúcia política para o momento, é um documento desprovido de grandeza que empobrece a biografia do Vice-presidente. Encaminhada às redações dos telejornais na mesma hora (ou quem sabe até antes) da entrega à destinatária, faz pouco caso da inteligência das pessoas.

Não há como o Vice, por mais que se esforce, desvencilhar-se do importante papel exercido como protagonista de proa, tanto pras coisas boas quanto pras negativas, neste enredo político administrativo dos últimos cinco anos de governo. Seu partido, revelando-se cada dia mais peemedebista do que nunca, ocupa com reconhecida voracidade postos e instâncias decisórias num punhado de ministérios, secretarias, organizações estatais, empresas mistas. Muitos nomes de projeção de seus quadros estão sob mira nas investigações da Justiça. Querer, então, de hora pra outra, descerimoniosamente, passar para o respeitável público, até subliminarmente, a ideia da existência de uma antiga dissociação de interesses, de uma discordância aguda em torno de questões capitais na condução dos negócios administrativos em relação ao governo do qual faz parte, chega a ser risível, pra não dizer melancólico.

O que se recolhe do episódio é uma sinalização a mais de que a Nação brasileira vê-se diante de uma conjuntura política amarga e confusa, frustrada por identificar nas lideranças, em todas as legendas, personagens despojados de ideias, imaginação e criatividade.


E, por falar nisso, não é que o Eduardo Cunha continua desafiando abertamente a consciência cívica e democrática brasileira com suas danações?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Incrível profecia

Cesar Vanucci


“Está na vida o mistério.”
(Henriqueta Lisboa)

Amável mensagem do renomado escritor Carlos Perktold, a proposito do artigo “Espantoso recado”, publicado na edição de 14 de novembro do DC, animou-nos a trazer outro relato instigante na linha da chamada “temática transcendente”. Antes, entretanto, de recontar a estranha história, vejamos o que Perktold falou:  “Ave Cesar, Incrível sua coluna de hoje, da qual acredito de A-Z. São mistérios que vamos demorar milhões de anos para descobrir.
Maior surpresa ainda foi sabê-lo irmão do Augusto Cesar Vanucci, que nos deixou cedo e era brilhante diretor de espetáculos da Globo, ator, participou de vários filmes nacionais. Era meu admirado à distância. Meu abraço”.

Agora, sim, vem o relato prometido.

Tanto quanto a morte, a vida é recheada de mistérios imperscrutáveis. É como, aliás, sublinha Henriqueta Lisboa, em sugestivo registro poético: “Não na morte. Está na vida o mistério. Em cada palavra ou abstinência.” Fatos desconcertantes e enigmáticos, inexplicáveis sob as luzes mais profusas do conhecimento consolidado, deixam gravada na memória e na emoção da gente, por vezes, uma interrogação que nos acompanha pela existência inteira. Ao longo de extensa caminhada como repórter e como estudioso de fenômenos transcendentes, pude reunir expressivo acervo de casos instigantes que, pelo tradicional enfoque da lógica racional, não passam de tremendas charadas de interpretação impossível.

Aqui está um desses casos.

Abril de 1952. Eu deixava a redação do “Diário do Triângulo”, localizada na avenida Leopoldino de Oliveira, centro da cidade de Uberaba, para uma reportagem.  Naquele tempo o córrego das Lajes deslizava, como sugestivo adorno, por toda a extensão da avenida. Não havia ainda sido enclausurado nas entranhas da terra em nome de uma questionável modernice urbanística. O jornal era dirigido por Souza Junior, filho de Nicanor de Souza, pioneiro no jornalismo diário na região do Triângulo Mineiro.

Procurava um transporte, quando avistei, estacionando nas imediações, o jipe de um grande amigo, o então pracista de produtos farmacêuticos José Marcus Cherém. Ele ofereceu-me carona e, atraído pelo assunto da pauta que iria cumprir, dispôs-se a acompanhar-me pelo tempo necessário na coleta dos dados.

É hora, a esta altura, de explicar que o meu deslocamento, naquela manhã, a uma casa modesta, de cinco cômodos, na região da Abadia, prendia-se à intrigante revelação de que no local estava ocorrendo uma sucessão de fenômenos sobrenaturais que mantinham moradores e vizinhos em verdadeiro sobressalto. Objetos se movimentavam de um lugar pra outro como se mãos invisíveis os empurrassem. Escritos a carvão eram impressos, de repente, nas paredes, ao mesmo tempo que pequenos focos de incêndio irrompiam, brusca e assustadoramente, num ou noutro ponto do lugar. Tinha-se ali bem configurado o que especialistas em parapsicologia costumam denominar de “polstergeist”, expressão vinda do alemão. Cabe, agora, esclarecer que muitos especialistas na matéria costumam estabelecer uma estranha conexão entre o fenômeno e a presença, nas moradias em que ocorre esse tipo de manifestação, de adolescente em fase inicial de menstruação. Para o pessoal da redondeza a casa era mal assombrada e regida por forças demoníacas.

Seguindo com máxima atenção o que vinha rolando, depois de providenciar a limpeza das paredes da sala onde a escrita a carvão era misteriosamente produzida, trancamos a porta que dava acesso à dependência por uns poucos minutos. Ao reabri-la, o inacreditável explodiu diante dos olhos. Paredes, teto e piso estavam coalhados de dizeres. A frase mais saliente, espalhada por tudo quanto é canto, anunciava: “Cherém, futuro deputado!” Tomados de assombro, pudemos testemunhar que os registros caligráficos, nos termos descritos, se repetiram por mais de uma vez, até o fenômeno, passados alguns dias, se extinguir tão subitamente quanto começou.

Os dizeres a carvão tiveram força de presságio. Anos mais tarde, José Marcus Cherém, optando de repente pela carreira política, foi eleito, sucessivamente, vereador, presidente da Câmara de Uberaba, vice-prefeito, deputado estadual, vindo a exercer o cargo de Secretário de Estado. Bem provavelmente, teria chegado, por força de talento, simpatia e méritos, ao Congresso Nacional, caso não houvesse sido arrebatado prematuramente de nosso convívio por uma enfermidade cardíaca. Lembro-me bem: na semana que antecedeu sua partida, visitando-o no hospital, consagramos, os dois, um bom pedaço do papo fraternal entre amigos de longos anos à rememoração daquela incrível profecia, expressa de modo tão perturbador e enigmático numa manhã de abril do ano de 1952, no bairro da Abadia, em Uberaba.


Interrogações inquietantes

Cesar Vanucci

“Pergunta, em tom entre intrigado e irônico: mas quem será
que vende as armas ao Estado Islâmico e seus terroristas?”
(Mino Carta, jornalista)

A trajetória do “Califado Islâmico”, com sua apavorante visão do mundo, é repleta de inquietadoras interrogações. A crueldade dos atos praticados pela falange fundamentalista deixa um rastro de aturdimento e indignação no espírito popular. Leva as pessoas a matutarem sobre quais poderiam vir a ser mesmo as causas mais remotas de tão incontrolável fúria.

Fica inadmissível supor que a intolerância religiosa, mesmo no grau de exacerbação mais elevado, seja capaz de desencadear tantas manifestações hostis aos que professem ideias diferentes das expressas nos “dogmas de fé” do EI. “Dogmas” esses criados nas cacholas enfermas desses falsos arautos do Islã. Aliás, porta-vozes credenciados do Islã, uma corrente espiritual de nobres inspirações humanísticas, ocupam as fileiras da frente na condenação pública veemente às execráveis interpretações dos textos sagrados feitas por esses fanáticos engajados em “guerra santa” contra a civilização. O Papa Francisco classificou, recentemente, de “blasfema” a alegação de que as calamidades produzidas por obra do Califado atendem à vontade divina. Mas, olhando bem por dentro a questão, é possível chegar-se também à conclusão de que a busca de justificativa para a maldade constitui, desde sempre, um esforço totalmente inócuo.

A expansão crescente do Califado gera um punhado de desassossegantes interrogações. As explicações fornecidas a respeito das situações cabulosas detectadas deixam muito a desejar.

De onde procede essa dinheirama toda aplicada pelo EI? Ainda agora, depois do “massacre de inocentes” em Paris, repetiu-se que os recursos do movimento terrorista advêm da venda de produtos extraídos dos poços de petróleo sob seu controle. Mas, “pera aí”. Tal explicação chega a ser simplória. É lógico supor que um bombardeio aéreo bem articulado, dos numerosos feitos pelas aviações mais bem equipadas do planeta, possa desmantelar em poucos momentos qualquer estrutura de produção, refino e armazenamento de combustível. Existiriam, por acaso, razões supervenientes, bastante poderosas, acima da compreensão comum, que desaconselhassem reação armada nesses termos?

Avancemos um pouco mais. A comercialização de combustível pressupõe montagem de esquemas logísticos eficazes para que o produto seja levado do ponto de partida ao destino. Estamos falando de oleodutos, frota de caminhões, transportes marítimo e ferroviário. Desnecessário sublinhar que tudo isso também pode ser neutralizado em curta fração de tempo com ataques aéreos.

Outro lance intrigante. Venda e compra de óleo não são feitas, obviamente, sem intercessão bancária. Qual é o sistema bancário que dá sustentação às  transações? Seria impraticável para órgãos de segurança dos governos interessados averiguarem como se operam as negociações?

Há outros aspectos nebulosos (ou serão tenebrosos?) a comentar. As tropas do EI, a televisão não cansa de mostrar, dispõem de considerável equipamento bélico. São tanques, mísseis, carros de assalto, artilharia pesada, por aí. Aceitando, para fins de argumentação, a discutível tese de que esse arsenal tenha sido formado com exclusivo material capturado aos adversários, deparamo-nos com um probleminha logístico de solução complicada. Como é que os terroristas se arranjam com a reposição de peças? E com a renovação dos estoques de munição? Como tudo chega até eles? As fontes fornecedoras das mercadorias essenciais ficam localizadas onde mesmo? E, de novo, quais são as conexões bancárias utilizadas?

Já se aventou a hipótese de que o Califado seja financiado, nos bastidores, por forças ocultas. Fundamentalistas encastelados em centros decisórios do poder político de outro país. Talvez até de algum país integrante da coalizão montada para combate a aguerrida facção. Caso de relembrar aqui desnorteante revelação há tempos trazida a público pelo jornalista e cineasta Michael Moore. Conta ele que nas mesquitas de Riad, capital da Arábia Saudita, ocorreram efusivas celebrações por ocasião da derrubada das Torres Gêmeas em Nova Iorque.

São numerosas, visto está, as charadas que clamam por decifração. A começar pela tremenda dificuldade que os observadores encontram, em não raros momentos, para definir com precisão quem está inteiramente contra ou inteiramente a favor de quem.  Confusão das arábias. O caótico cenário está tomado por movediços interesses e conveniências geopolíticos, econômicos, militares.
                                                                                                                                                                 

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O Califado e sua sinistra proposta

Cesar Vanucci

“Usar o nome de Deus para justificar
a violência e o ódio é uma blasfêmia".
(Papa Francisco)

O chamado “Califado Islâmico”, autor de sinistra proposta de destruição implacável dos valores humanísticos que conferem dignidade à aventura humana, continua a espalhar o horror por onde consegue implantar núcleos operacionais acionados por  fanáticos militantes. Ocupando áreas no oeste da Síria, norte do Iraque e frações territoriais da Líbia, estimadas em até 250 mil quilômetros quadrados – um Reino Unido inteiro –, ramificou-se em regiões da África e de outras partes do Oriente Médio, além de criar células atuantes em lugares incertos e não sabidos de países do continente europeu.

As pretensões dessa organização terrorista, que se nutre ideologicamente de rançosas e distorcidas interpretações dos textos sagrados islâmicos para atos hediondos volta e meia cometidos, é transformar-se num movimento de abrangência global. Com vistas a consolidar tal objetivo empenha-se em conquistar mentes sectárias receptivas à nefanda ideia de disseminação de retrógrados conceitos fundamentalistas de vida por tudo quanto é canto do planeta.

A origem do “Califado” remonta às manobras guerrilheiras constituídas no Afeganistão com base nas “madastras talebãs” para combater a invasão russa. Tal qual aconteceu com componentes da Al Qaeda, os extremados partidários do Al-Tawhid wa al Jihad, durante largo período aliados dos ferozes seguidores de Osama bin Laden, fizeram parte das fileiras dos combatentes afegãos favorecidos pela incrementada ajuda militar e financeira do Ocidente, sobretudo dos Estados Unidos. Com a retirada dos russos do território afegão, eles passaram a considerar o governo americano o principal inimigo, igualzinho fez a Al Qaeda, organização da qual se desligaram mais adiante.

Considerados ainda mais extremados que os antigos companheiros da ainda bastante atuante Al Qaeda, os integrantes do “Estado Islâmico” cultuam a imagem de seu fundador, o jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, morto em 2006 num bombardeio.  O herdeiro de Zarqawi nos dias atuais é Abu Bakr al-Baghdadi. Ele sucede bin Laden no topo da lista dos “inimigos públicos”. Proclamou-se, em ato realizado numa mesquita iraquiana, “califa de todos os muçulmanos”. Invocou na ocasião uma palavra basilar do fundador do movimento: “A fagulha foi acesa aqui no Iraque e seu calor irá intensificar-se, se Alá assim o permitir”. Comandando verdadeiro exército intoxicado pelo fanatismo, com participação majoritária árabe, mas formado também, segundo algumas estimativas, por mais de 30 mil europeus, boa parte deles recrutados em regiões marcadas pela exclusão social, o sanguinário Califa ameaça o mundo inteiro com “guerra santa” sem quartel.

Pouco importa a esse tresloucado dirigente da amedrontadora falange, ou aos seus belicosos comparsas, o que o resto do mundo pensa a respeito de suas horripilantes ideias. Pouco lhes importa a repulsa que as ações do Califado provocam na consciência internacional e, de modo particularizado, na comunidade muçulmana. Comunidade muçulmana essa que nega, peremptoriamente, legitimidade às descabidas versões introduzidas pelo EI em trechos do Alcorão. Contra tudo e contra todos, o Califado acena com o desvario terrorista como “instrumento eficaz” na derrubada dos valores e conceitos celebrados por homens e mulheres de boa vontade em todas as latitudes, pertencentes a todas as culturas religiosas, etnias e nacionalidades, como conquistas definitivas da civilização humana.

Os aterrorizantes atentados na França, os de agora e os de janeiro passado, os brutais atentados na Nigéria, a derrubada criminosa do avião russo de passageiros no Sinai, as explosões mortíferas em Beirute, episódios mais recentes nessa escalada de ódio solto, levantam previsões arrepiantes. Na conclamação de líderes qualificados em prol da necessidade de se montar uma estratégia mundial eficiente no enfrentamento das ameaças do EI, há quem identifique, nos acontecimentos de agora, perturbadores sinais de gestação de um conflito bélico de proporções inimagináveis. Chega-se até a falar em III Guerra Mundial. Deus nos livre e nos guarde dessa calamitosa perspectiva!

Como é que o Chico soube?

Cesar Vanucci

“Estou boquiaberto. Chico Xavier
anteviu este nosso encontro.”
(Augusto Cesar Vanucci, setembro de 80)


A comemoração do Dia Nacional do Combate ao Câncer, nesta sexta-feira, 27 de novembro, tem por objetivo conscientizar a população sobre práticas preventivas no combate à enfermidade que a cada ano, só no Brasil, registra cerca de meio milhão de novos pacientes. O diagnóstico precoce é apontado pelos especialistas como fator primordial no processo de cura. Em Minas operam numerosas instituições benemerentes constituídas com o propósito de assistir as pessoas nessa área da saúde pública. Várias são reconhecidas, no apreço comunitário, como referências importantes, em razão dos serviços prestados. Caso, para ficar num exemplo, do Mário Penna, com seu bem aparelhado complexo médico-hospitalar e eficiente estrutura de assistência social.

A menção dessa organização estimula-me a contar aqui um instigante episódio, conhecido de pouquíssimas pessoas. Um registro especial recuado, de conotações mágicas, na trajetória de realizações do hoje Instituto Mário Penna.

Atendendo a convite do Lions Clube Inconfidência, à época presidido pelo engenheiro Reginaldo Sólon Santos, Augusto Cesar Vanucci esteve em Belo Horizonte, em setembro de 1980, para uma palestra na Casa da Indústria.

O então diretor do núcleo de programas musicais e humorísticos da Rede Globo fez uma exposição, para plateia numerosa, sobre as infinitas perspectivas que se abririam, no futuro, na comunicação social, em consequência dos velozes avanços tecnológicos da era eletrônica.

Na recepção no aeroporto, Augusto Cesar, que acabara de conquistar o cobiçado “Emmy” nos Estados Unidos pelo programa “Arca de Noé - Vinicius para crianças”, aludiu ao fato de haver estado, horas antes, em São Paulo, com seu grande amigo Chico Xavier, cujo nome estava lançando, numa campanha nacional, ao Prêmio Nobel da Paz.

Antes da assembleia do Lions, os dirigentes do Inconfidência foram procurados pelo casal Adalberto e Beatriz Ferraz, ambos de saudosa memória. Os dois expressaram o desejo de contato especial com Augusto, a fim de inteirá-lo de um problema social aflitivo e de verificar a possibilidade do mesmo se engajar, com outras pessoas de boa vontade, na busca de solução para o assunto. Ficou acertado que, após a palestra, o encontro seria promovido. Ato contínuo, na secretaria da Fiemg, foi elaborado um ofício, assinado por mim, por Beatriz, Adalberto, Reginaldo e esposa Julinha, narrando o caso. Augusto só veio a tomar conhecimento dos fatos depois de levantada a assembleia e, aí sim, ser convidado para uma reunião, numa pequena sala, com o grupo reduzido dos signatários do oficio.

Na reunião, o casal Ferraz - valorosos voluntários da obra – reportou-se à situação extremamente dramática vivida pelo Mário Penna, hospital criado na base do idealismo e abnegação por um punhado de pessoas abrasadas pelo sentimento da solidariedade social. Concluído o relato concernente ao aflitivo drama enfrentado pela instituição, Augusto Cesar, possuído de grande emoção, fez uma revelação que deixou todo mundo estupefato.

Começou dizendo desconhecer, até aquele momento, a existência do Mário Penna. Informou, na sequência, que em São Paulo  Chico Xavier lhe pedira, com empenho, com aquele tom suave de voz todo seu, que não deixasse, jeito maneira, de atender a um apelo angustiado que lhe seria feito, em Belo Horizonte, no sentido de prestar ajuda a uma organização dedicada a assistir cancerosos carentes. “Estou boquiaberto”, asseverou. “O Chico anteviu este nosso encontro”.

Os desdobramentos dessa incrível história podem ser assim sintetizados. Augusto colocou-se, com ardor e entusiasmo, a serviço da causa. Tornou-se um de seus benfeitores. O “Fantástico”, programa que criou e dirigia, reservou espaço, em edições sucessivas, ao problema das dificuldades do Mário Penna em sustentar-se financeiramente. A organização foi inserida entre as beneficiárias do “Criança Esperança.” No Palácio das Artes e no Mineirinho foram realizados, um atrás do outro, espetáculos de artistas famosos, inclusive do exterior, com renda exclusivamente destinada à assistência oncológica prestada pelo Mário Penna aos menos favorecidos. As reportagens na televisão estimularam o governo federal a carrear recursos para a obra. O hospital Luxemburgo surgiu dentro desse contexto.

Desnecessário, a esta altura, enfatizar que, em hora alguma, Chico Xavier foi procurado, por qualquer dos elementos que conduziram o papo com Augusto Cesar naquela noite, para atuar como intermediário na busca do generoso auxílio concedido. A misteriosa intercessão do ilustre personagem correu por conta de desígnios situados muito além dos parâmetros aceitos pela lógica comum nas rotinas da convivência humana.













OS EMMYS CONQUISTADOS PELA ARTE BRASILEIRA


No artigo acima publicado, “Como é que o Chico soube?” aludo ao fato de que o mano Augusto Cesar Vanucci foi o primeiro brasileiro a conquistar o Emmy em Hollywood. A partir dali, até nossos dias, artistas brasileiros, integrantes das equipes da Rede Globo, arrebataram outras treze estatuetas. O Emmy é o mais cobiçado troféu da televisão mundial.


Vejam abaixo um registro dessas conquistas, na reprodução de reportagem divulgada no “Bom Dia Brasil”, edição do dia 24 de novembro.

http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/videos/t/edicoes/v/tv-globo-ganha-dois-premios-emmy-internacional-que-e-o-oscar-da-tv-mundial/4629766/

A SAGA LANDELL MOURA

Uma mulher rodeada de palavras

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