sexta-feira, 26 de setembro de 2014
sábado, 20 de setembro de 2014
Certeza
eleitoral
“O impecável cumprimento do calendário
eleitoral é amostra loquaz da pujança democrática brasileira.”
(Antônio
Luiz da Costa, educador)
Um desses manjados “profetas do
catastrofismo” que enxameiam a rede midiática anotava, indoutrodia, na tevê, os
“motivos” de seu mórbido ceticismo com relação ao Brasil: a “incerteza
eleitoral” e os “humores” da Bolsa. Fiz-me várias vezes a pergunta: mas a que
“incerteza eleitoral” estaria mesmo o cara se reportando?
A realização do pleito para Presidente
da República, Governadores de Estado, Senadores, Deputados, previsto no
calendário traçado pelo TSE em consonância com os ditames do regime democrático
que, mercê de Deus, rege nossos soberanos destinos políticos, com data certíssima
para acontecer, estará sendo por acaso ameaçada de adiamento ou cancelamento
por algum motivo de força maior? A resposta categórica é não!
Paira no ar, porventura, alguma tênue
dúvida quanto ao cumprimento rigoroso das diversas etapas do saudável processo
eleitoral em desdobramento? Vamos conferir quais são essas etapas. Campanha em
clima de vibração nas ruas, nos veículos de comunicação e nas redes sociais; votação
eletrônica por escrutínio secreto, seguida da apuração instantânea dos votos, procedida
de acordo com invejável esquema tecnológico criado por brasileiros, sem nada no
gênero equiparável no resto do mundo; anúncio oficial dos resultados, com
programação de um segundo turno para cargos majoritários se necessário; ao
depois, proclamação dos eleitos, posse dos escolhidos, tudo, tudo devidamente
desenhado em rigorosa conformidade com um calendário pré-definido e com regras
legais amplamente consolidadas.
Se a “incerteza” deriva da circunstância
de ainda não se saber, a esta altura da campanha, de modo certeiro, os nomes
das pessoas que a vontade soberana das urnas indicará para conduzir os rumos
deste país, seria o caso, então, de reavivar, com todo cuidado didático, para algum
cidadão “tomado de dúvida”, uma informaçãozinha essencial. É assim mesmo, desse
exato jeito, que as coisas rolam costumeiramente nos regimes democráticos. O
cidadão, na democracia, pode intuir, pode torcer, pode apostar firme nos
candidatos de sua predileção. Mas a escolha definitiva dos governantes, dos
parlamentares nos devidos trinques legais, só se processa realmente com as
apurações encerradas. Nos regimes totalitários o cenário é diferente. Não existe
incerteza eleitoral alguma. As “eleições” são de araque. Só pra efeito público
externo. Os “vencedores” são bem antes do pleito “escalados” para exercer,
“naturalmente, com patriotismo e espírito públicos acendrados”, suas nobilitantes
funções.
Então, vamos lá. Se os acontecimentos
políticos brasileiros, nesses momentos que antecedem a grande festa
cívico-eleitoral de cinco de outubro se desenrolam de maneira impecável,
demonstrativa da pujança democrática da Nação, cabe retrucar: mas que diabo de
incerteza eleitoral é essa que tanto apoquenta os “plantonistas do desalento”?
Temos algo também a acentuar quanto aos
“humores da Bolsa”, outro item objeto de preocupação dos pregoeiros do
pessimismo. São constatações que ajudam na dissipação desses infundados temores
suscitados a propósito da realidade brasileira. Neste ano de 2014, até meados
de setembro, o registro de alta nas operações roçava os 14 por cento. Tal pontuação
é considerada, mesmo por analistas ranhetas, bastante satisfatória em termos
globais.
Tem mais: quem se der ao trabalho de
consultar os números que falam das chamadas operações bursáteis vai se deparar,
indesviavelmente, com a informação de que os resultados positivos acumulados, pelas
mais de duzentas e cinquenta empresas de capital aberto que operam na Bovespa, alcançaram
de janeiro até aqui, índice (nada desprezível) superior a 50 por cento. E aí
José?
Vamos resumir, então, a ópera: malgrado
o insosso papo dos incorrigíveis “céticos de plantão”, do ponto de vista
institucional democrático não existe “incerteza eleitoral” alguma a deplorar.
Apenas certeza eleitoral a festejar.
Fla-Flu político-econômico
“Graças a Deus ainda estamos quase no
pleno emprego e não vemos, como em outros países, uma juventude
desesperançada.”
(Murilo
Ferreira, presidente da Vale)
O presidente da Vale, mineiro de Uberaba
Murilo Ferreira, concedeu à “Folha de São Paulo” entrevista em que traça lúcido
diagnóstico da conjuntura política e econômica brasileira. Diz coisas que se
colocam, tanto quando se percebe pelo tom rotineiro do noticiário nosso de cada
dia, em contraposição com os registros e vaticínios de desalento e pessimismo
propagados, com enervante frequência, por não poucos personagens influentes do
empresariado e jornalismo.
Convido o leitor a conhecer algumas das
partes mais frisantes do interessante depoimento.
“Folha:
O Brasil está crescendo pouco por falta de investimentos. Por que as empresas
não investem?
Murilo Ferreira – Não concordo com essa
afirmação. A Vale está fazendo o projeto mais intensivo em capital de sua história,
em Carajás, São US$ 19,5 bilhões.
Os
números da Vale são sempre superlativos. No geral, as empresas brasileiras não
estão investindo.
No Brasil, não prestamos atenção ao
mercado internacional. O crescimento mundial está muito abaixo do esperado. O
problema se tornou mais agudo depois da crise europeia de 2011. O México e o
Chile vêm avançando menos. Até 2016, não haverá mais indústria automobilística
na Austrália. Mesmo na Ásia, só sinto um certo ânimo no Japão. Vivemos um
período muito diferente daquele em que a economia mundial crescia 4,4% e todos
comiam o mamão com açúcar da globalização. Agora chegou a vez das frutas
amargas. No Brasil, as pessoas não querem enxergar isso por conta da disputa
eleitoral.
O
senhor acha que a disputa eleitoral aumenta o pessimismo?
Claramente. Graças a Deus ainda estamos
quase no pleno emprego e não vemos, como em outros países, uma juventude
desesperançada. O agronegócio é show de bola e tem uma produtividade superior à
americana. Mineração e serviços são pontos fora da curva. A amargura está
concentrada no setor industrial. Lamento muito, mas é São Paulo que está pagando
uma conta mais alta do que outros lugares do Brasil.
Mas
os empresários não reclamam da crise global. Eles dizem que a culpa é do
governo.
Certamente eles são capazes de
justificar suas queixas do governo e devem ter razão em muitos pontos. Mas
existem alguns setores – não gostaria de polemizar citando um ou outro – em que
falta tecnologia e inovação.
Por
que a indústria perdeu competitividade?
Temos que fazer uma análise rigorosa.
Será que o empresariado de São Paulo tem o mesmo entusiasmo do pessoal do
cerrado? Será que a nova geração tem o mesmo entusiasmo para investir em
tecnologia e inovação? Quando chego ao Japão e à Coreia, fico preocupado porque
se estabeleceu um “gap” muito grande em relação ao Brasil. Não sei se os
empresários não se atualizaram ou não estão motivados, mas essa é a realidade.
O
relacionamento entre Dilma e o empresariado hoje é ruim. Se ela for reeleita,
como refazer essa ponte?
Os dois lados precisam procurar o
interesse do Brasil. Não podemos continuar esse Fla-Flu politico, que é
estimulado por São Paulo, de onde vêm os partidos que disputam a eleição, PT e
PSDB. A politica em São Paulo está muito rancorosa. É importante restabelecer
as pontes para governar depois. Adversários têm ideias diferentes, mas não são
inimigos.
O
PT diz que o mercado financeiro faz terrorismo ao derrubar a Bolsa quando a
presidente sobe nas pesquisas. O que o senhor acha?
De novo, isso é fruto da cultura política
de São Paulo. Esse Fla-Flu permanente é irradiado da Faria Lima (avenida da
capital paulista onde estão os grandes bancos de investimento)”.
Estas declarações do presidente da Vale,
segunda maior empresa brasileira, no ramo da mineração a maior do mundo,
oferecem um retrato da realidade social e econômica brasileira totalmente
diferenciado daquele que insistentemente nos tem sido mostrado, sobretudo
nestes momentos pré-eleitorais, pelos “profetas do desalento” e “cartomantes do
pessimismo”. Esses aí, apoderados de considerável espaço midiático, “garantem”
que o Brasil vem rolando, de há muito, ribanceira abaixo. O bom senso aconselha
a ficar com o ponto de vista do Murilo e não abrir.
Um espetáculo
memorável
“O público aplaudiu, de pé, os artistas,
por vários minutos seguidos, uma coisa impressionante.”
(Registro
da espectadora Mariângela Palmeira, na saída do teatro)
Os apreciadores de jazz foram
presenteados, dias atrás, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, com um
espetáculo arrebatante. As aclamações do público que lotou as dependências do
majestoso teatro, ao final da bela apresentação vocal e instrumental produzida
pelo “Caffeinne Trio” e a “Big Band”, foram de intensidade tal que os artistas
não tiveram como não acrescentar mais três interpretações ao programa
anunciado. E, a tomar por base a disposição dos espectadores que, de pé, os aplaudiam,
outros números teriam sido executados dentro do mesmo clima de entusiasmo caso
não houvesse uma limitação regimental de tempo para a apresentação. O
“Caffeinne Trio”, integrado por três esplêndidas cantoras – Sylvia Klein,
Renata Vanucci e Carô Rennó – mostrou novamente, como já havia feito na “Virada
Cultural”, a pujança e riqueza de sua
arte, revelando-se capacitado para voos mais ousados em sua trajetória que já
consigna uma série de recitais exitosos no exterior, meses atrás na Alemanha. O
“Big Band Palácio das Artes”, comandado pelo consagrado maestro e arranjador
Nestor Lombida, ex-regente da Orquestra de Câmara da Televisão Cubana,
professor de Arranjo e Improvisação no Centro de Formação Artística da Fundação
Clovis Salgado, é composto de instrumentistas do melhor quilate. Os sons são
produzidos por piano, trompetes, contrabaixo, trombones, bateria, guitarra,
percussão e saxofones. A junção dos dois grupos se fez em torno de um belíssimo
concerto que combinou o estilo dos trios femininos famosos das décadas de 30 a
50 com o jazz e musica instrumental, que são marcas da banda. O repertório
utilizado trouxe peças de famosos compositores de jazz. Inteirei-me, após o
espetáculo, do propósito dos artistas de montarem, brevemente, um recital para
turnê internacional. Pelo que foi mostrado, não fica difícil vaticinar sucesso
estrondoso à vista.
Mais
espaço para cultural nacional. A Lei 12.485, em vigor desde 2011,
estabeleceu marco regulatório para a televisão, criando a obrigatoriedade da
veiculação diária de 3 horas e 30 minutos de conteúdo nacional nas
programações. A medida representou estimulante apoio à expansão da produção
artística voltada para o setor. Especialistas na matéria, empenhados em fazer
da televisão um instrumento mais bem identificado com a cultura e o sentimento
nacional, defendem a ampliação do espaço mínimo estipulado para os conteúdos
audiovisuais brasileiros. Por que não 50 por cento? - perguntam. Existe talento e criatividade de
sobra na praça para tocar vitoriosamente um esquema assim. Noutros países do mundo desenvolvido vigoram
há tempos exigências de veiculação de produções nacionais nessa base do meio a
meio.
Um
senhor entrevistador. A Rede Globo de Televisão dispõe em suas
competentes fileiras o cara certo para desfazer a desfavorável impressão
deixada pelas entrevistas feitas no “Jornal Nacional” com os presidenciáveis. O
nome dele é Roberto D’Ávila que, semanalmente, na “Globo News”, dá lições
magistrais sobre como extrair de um entrevistado, com serenidade e segurança
profissionais, revelações e informações
que ao espectador interessa saber.
Interpretações eletrizantes de clássicos brasileiros
Amigos diletos encaminharam-me um vídeo contendo preciosidades musicais que tenho o prazer de compartilhar com os leitores deste blog. Trata-se de uma sequencia de clássicos de nossa MPB, com destaque para criações de Tom Jobim e Ary Barroso, interpretados pelo "Perpetuum Jazzile", um coral esloveno do melhor nível. Deleitem-se com o "Vou te contar" e "Aquarela do Brasil" e as outras melodias interpretadas pelo grupo.
sábado, 13 de setembro de 2014
Horror demais
Cesar Vanucci *
“Dizei-me vós,
Senhor Deus, se é mentira ou verdade tanto horror perante os céus.”
(Extraído de um
poema de Castro Alves)
A sandice humana
não para de adicionar às aflições cotidianas da coletividade informações
contundentes e cruéis. O noticiário nosso de cada dia é um difusor
eficientíssimo da banalização da violência. Dá pra perceber que, neste mundo de
Deus onde o diabo costuma fincar enclaves, os extraordinários avanços
tecnológicos euforicamente celebrados de nada têm servido para conter os atos
de barbárie praticados em circunstâncias as mais impensáveis. Existe algo
sempre aterrorizante a nos espreitar. E os limites da ferocidade são
continuamente ultrapassados.
Nos últimos dias,
deparamo-nos com três cenas de difícil comparação consideradas outras situações
indesejáveis já vividas, pelas características inusitadamente brutais de que se
revestiram. Assistimos, primeiramente, na tevê aquelas brutais imagens de uma rebelião
de presidiários em Cascavel, Paraná, onde aparecem os amotinados degolando
desafetos entre desditosos companheiros de reclusão.
Logo em seguida,
vimo-nos colocados diante daquele tétrico vídeo distribuído por extremistas do tal
califado islamita que se apoderou de porções territoriais da Síria e Iraque.
Nele, criminoso encapuzado, pertencente a grupo que a própria Al Qaeda
considera, pra estupefação geral, exageradamente radical, exibindo ameaçadora adaga,
decreta o veredicto de morte por decapitação de um jornalista tomado como
refém. E anuncia que as “represálias” selvagens não vão parar por aí.
Pouco depois,
nos confins da África esquecida dos homens e, ao que parece, também de Deus, na
Libéria, epicentro da epidemia de ebola, acompanhamos, perplexos, caçada
impiedosa a uma “fera” acuada numa feira de alimentos. A presa, Deus do céu,
era um ser humano com o desespero claramente estampado na face. Um fugitivo do
campo de concentração em que vêm sendo confinados, sem qualquer espécie de ajuda
humanitária, pra morte certa, indefesas vítimas da pertinaz doença. O infeliz,
com um pedaço de madeira na mão, utilizado para defender-se, procurava,
angustiado, de tenda em tenda, alimentos para sobreviver. Ao redor uma multidão
ululante, tomada pelo pânico, esperava ansiosa pela providencial chegada da
equipe incumbida de laçá-lo e devolvê-lo ao local de seu degredo. Junto com o
turbilhão de emoções levantado pelo incidente, perguntas inevitáveis afloraram,
com toda certeza, na mente dos milhões de espectadores que, traumatizados, testemunharam
o desenrolar dos fatos.
Por qual razão a
comunidade das nações não desvia, imediatamente, para aqueles confundós da África
acossada pelo ebola, parte mínima dos enormes contingentes humanos e dos
fabulosos recursos concentrados em esforços bélicos, espalhados por tantos
cantos, para enfrentar o drama dessa avassaladora epidemia? Se já sabida a
existência de vacina capaz de debelar o mal pela raiz, vacina essa aplicada com
êxito em pacientes levados de volta das regiões afetadas para seus pagos
natais, por que cargas d’água, então, santo Deus, em nome da solidariedade
humana e dos valores éticos e morais, não se cogitar, com a urgência exigida,
da pronta produção e remessa ágil dos quantitativos necessários do medicamento
aos países atingidos pela impiedosa enfermidade? E como uma tragédia acaba
sempre puxando a lembrança de outras tragédias, por qual motivo os clamores do
secular sofrimento africano não são nunca acolhidos com presteza e boa vontade
pela comunidade internacional?
Tópicos do momento eleitoral
“As insinuações
publicadas de forma genérica e sem apresentar evidências (...)
não podem ser
tomadas como denúncia formal nem fundamentada”.
(Deputado
Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara)
Seguinte:
réu confesso em caso de corrupção sob investigação judicial resolve, de
repente, na véspera eleitoral, utilizar o controvertido instrumento da “delação
premiada”. Aciona o gatilho de sua metralhadora giratória, passando a alvejar
personagens influentes - Ministro de Estado, Governadores, parlamentares,
empreiteiros -, com ênfase para elementos ligados às duas candidaturas
presidenciais mais bem posicionadas nas pesquisas. Parte da grande mídia
ocupa-se do episódio de forma estardalhante. Mas não se dá ao trabalho de
fornecer, como seria de se esperar, maiores detalhes dos acontecimentos. Deixa
de arrolar documentos probatórios, de revelar as fontes de informação e de
indicar os valores das alegadas propinas que teriam sido destinadas às dezenas
de pessoas da lista de nomes apontadas nas manchetes. O noticiário diz que o
depoimento do réu foi tomado em segredo de justiça, devidamente criptografado e
guardado a sete chaves. Em momento algum, contudo, é esclarecido como, apesar
de tantas cautelas, ocorreu o vazamento da relação de nomes clandestinamente
entregue, para maciça divulgação, aos órgãos de comunicação social.
Registra-se, ao mesmo tempo, estapafúrdia declaração, atribuída ao réu delator.
As “denuncias” seriam de maneira – ora, veja, pois! – a impedir a realização
das eleições. Isto tudo posto, o que o bom senso e a prudência recomendam ao
cidadão comum, naturalmente ávido por ações de combate eficaz à corrupção e,
também, à demagogia, levadas em conta as circunstâncias assinaladas, é que se esforce
por manter devidamente sintonizados, no acompanhamento atento dos fatos, os
aparelhos de percepção pessoal. Sem deixar de ligar bem ligado, por via das
dúvidas, o “desconfiômetro”.
A candidata Marina. Marina
Silva tem carisma. Obstinada, irradia simpatia. Lembra, de certo modo, em não
poucos momentos, Lula no apogeu da popularidade. Tal associação de imagens
serve para consolidar e até mesmo expandir seu poder de sedução eleitoral. Mas,
de outra parte, noutros instantes, Marina lembra também um pouco Jânio Quadros,
com aquela sua célebre retórica oca e dilacerantes contradições que marcaram
efêmera e improdutiva passagem pelo governo. Recorda, um pouco também, Fernando
Collor, em sua farsesca postura de “bom mocismo” naquela fase governamental em
que a Nação se traumatizou com uma penca de projetos e propostas de araque,
pretensamente vanguardeiros em matéria de gestão publica. Seja como for, uma
coisa parece certa: a candidata do PSB e da Rede está firme no páreo
presidencial.
“Manchetômetro”.
Marcos Coimbra, dirigente da “Vox Poppuli”, oferece dica intrigante em sua
coluna na “CartaCapital”. Reporta-se a uma ferramenta indicativa do papel da
mídia na campanha eleitoral. O Instituto de Estudos Sociais da Universidade do
Rio de Janeiro botou no ar algo apelidado de “manchetômetro”. Um site que
acompanha a cobertura da eleição procedida pela chamada “grande mídia”, assim
compreendidos jornais de grande circulação no Rio e em São Paulo e o “Jornal
Nacional” na televisão. Os dados divulgados são bastante curiosos. Do inicio do
ano até meados de agosto, 275 “reportagens de capa” foram dedicadas aos
principais candidatos à presidência. Delas, 210 alusivas a Dilma, 15
“favoráveis” e 195 “desfavoráveis”, ou seja, 93 por cento de abordagens
negativas. Para os demais candidatos sobraram 65 textos (38 para Aécio e 27
para Campos). No caso do candidato tucano, os textos com foco positivo e foco
negativo foram pau a pau. No caso do ex-governador pernambucano, prematuramente
afastado da disputa, não houve menção a percentuais “pro” e “contra”.
Tópicos do momento eleitoral (II)
“Votar em Adelmo
é votar na decência e no fim da corrupção”.
(Frei Beto)
“Fosse eu eleitor em Minas, votaria de
novo em Adelmo Leão para deputado federal. Ele é ético, combativo, comprometido
com os direitos dos mais pobres. Votar em Adelmo é votar na decência e no fim
da corrupção na política.” Sabem de quem a autoria da frase? De ninguém mais,
ninguém menos do que Frei Betto, titular do primeiro time na cena cultural
brasileira, nome que dispensa qualquer tipo de apresentação. Comungando da
opinião do grande pensador, passo ainda aos distintos leitores a informação que
Adelmo Leão, médico, decano do Parlamento Mineiro (seis legislaturas
consecutivas) é candidato a deputado federal nas próximas eleições. Vale a pena
conhecer seu cintilante currículo.
As oscilações da Bolsa. A esmagadora
maioria das pessoas – poupadores das camadas populares – recusa-se a fazer
aplicações no mercado de ações pelo fato, primeiramente, de intuir que o jogo
de manipulação promovido pelos megaespeculadores é bastante pesado. E,
“segundamente”, por considerar despropositadas, simplesmente ridículas, as
alegações amiúde registradas pelos “especialistas” quando se referem às causas
das oscilações nos valores dos papéis. Como poderá alguém, provido de razoável
discernimento e bom senso, levar a sério a babaquice extremada de pretensos
analistas de negócios, como, por exemplo, ficou evidenciado nas explicações
dadas sobre recuo no pregão ocorrido no dia 5 de setembro passado?
Um cara, com
panca de porta – voz do esquema, deitou falação sobre o acontecido, proclamando
com embriagante convicção que “os investidores se frustraram com a divulgação
de pesquisas eleitorais indicativas da recuperação” de uma das candidatas à
Presidência. E que, face a isso, “os resultados dos levantamentos abriram
brecha para que o mercado vendesse ações e embolsasse os lucros acumulados nas
últimas semanas.” Onde já se viu? Fica difícil desgarrar esses “especialistas”
em operações bursáteis da imagem de galhofeiros deslumbrados. Gente que se
diverte à pamparra com as explicações fajutas que inventam para a patuleia
ignara. Patuleia essa, por sinal, que da Bolsa, prevenidamente, por essas e por
outras, gosta de manter sempre considerável distanciamento.
A entrevista. Com Marina
Silva aconteceu o mesmo. Os entrevistadores do “Jornal Nacional”, como já
ocorrera com os outros presidenciáveis, comportaram-se (em entrevista com
duração de 15 minutos) como se fossem agentes policiais inquirindo suspeito de
atos ilícitos. Um desrespeito ao entrevistado e aos telespectadores! Fica claro que, numa entrevista, o autor da
pergunta desfrute, no exercício profissional, de todo direito de pedir
explicações sobre questões de interesse público, mesmo que o assunto focado
possa, eventualmente, desagradar o entrevistado.
Mas nada justifica perguntas formuladas em tom
inquisitorial carregado de suspeição, passando a impressão de que os
entrevistados, nos casos específicos comentados, pretendentes ao mais elevado
cargo da Nação, estejam ali, supostamente, como réus. Concluindo: as quatro
entrevistas, feitas dentro de tão despropositados moldes, nada contribuíram
para que o público ficasse inteirado, um tiquinho que seja, das plataformas de
governo de cada candidato.
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Eternamente
Zélia
Cesar Vanucci*
“Posso
afirmar que um dos seres humanos que mais me tocaram e me acresceram na vida,
ensinando-me a servir despretensiosamente foi ela, Zélia de todos nós”. (Antônio
Sores Dias, ex-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais).
O
escritor Vicente Muzinga Oliveira reuniu, com arte e engenho, mais de uma
centena de depoimentos sobre a vida e obra de Zélia Savala Rezende Brandão, enfeixando-os
num livro precioso, sugestivamente intitulado “Eternamente Zélia”. A bela
ilustração da capa ficou por conta da pintora Esthergilda Menicucci. As páginas
da publicação narram com fotos e abundantes informações a trajetória da mentora
do famoso Grupo Científico Ramatis. O lançamento do livro ocorreu numa concorrida
festa litero-musical na Assembleia Legislativa de Minas Gerais no último dia 20
de agosto.
Texto
de minha autoria – “Esta obreira de Deus de nome Zélia” – figura entre os
depoimentos. Eis o que registrei.
Inserido
sutilmente em nossa esfuziante aventura do cotidiano, existe um mundo
fascinante, povoado de percepções transcendentes. Deste mundo fazem parte seres
humanos muito especiais. Gente provida de dons singulares que atingiram patamar
superior na escala da evolução espiritual. Vejo-os, de mim para comigo, como
obreiros de Deus. Despertam onde atuam irradiante simpatia, sentimentos de
apreço bastante carinhosos, revestidos de certo toque reverencial. Enxergam as
pessoas e situações à sua volta com olhares de enternecido amor. Como são
relativamente poucos, não fica assim tão difícil distingui-los em meio às
multidões, por conta de suas ações criativas, suposições audaciosas e propostas
de transmutação humana.
Honrado
com o convite para juntar depoimento pessoal a um documentário sobre a doutora Zélia
Savala Rezende Brandão, elaborado por grupo de amigos e admiradores de sua
fecunda obra, não vacilo, um instante sequer, em reconhecer na história da
personagem mencionada os sinais indicativos de um desses obreiros de Deus.
Agindo
no território dos labores mágicos, deixando à mostra extraordinária sutileza de
espírito e infinita delicadeza, dona Zélia percorre os caminhos que conduzem
aos mistérios da mente, aos segredos das energias, na busca de sincronia entre
os planos humano e espiritual da existência. É mentora do Grupo Cientifico
Ramatis, organização espiritualista e assistencial que desenvolve programa de
enorme alcance humanitário nos setores da ciência e da sociologia. Os estudos
teóricos experimentais e práticos da parapsicologia ali realizados são voltados
para a expansão da solidariedade social e do amor universal. Sob a clarividente
liderança dessa médica e humanista, especialistas em medicinas alternativa e
tradicional, muitos deles “seus filhos” por adoção afetiva, todos voluntários, entregam-se
com dedicação a edificante trabalho coletivo em favor dos excluídos sociais.
Conservam-se fiéis à sábia lição popular de que a serenidade de Deus está
presente nas coisas que as pessoas realizam em conjunto. Asseguram suporte
técnico e administrativo nas clínicas alopáticas, homeopáticas, psicológicas e
de massoterapia; na farmácia bem sortida de recursos fitoterápicos, nas creches
em que centenas de garotos desfrutam de uma condição social saudável. As
massagens, aplicadas em volume considerável, proporcionam aos pacientes benéfica
terapia energética. Todo esse portentoso complexo de serviços, desdobrados em diligências
diuturnas, é complementado por ações permanentes de coleta e doações de bens de
utilidade para encaminhamento a pessoas carentes. Valendo-se de núcleos
operacionais externos, bastante ativos, o Grupo Ramatis estende ramificações a
outras paragens brasileiras e do exterior.
À
frente da grandiosa obra, no afã febricitante de semear benefícios à mancheia,
dra. Zélia projeta a nobreza espiritual do Ramal. A expressão de soberana
bondade e soberana sabedoria do Ramal, com sua concepção mágica da vida.
Possuidora
de dinamismo dir-se-á místico, dra. Zélia utiliza as vibrações positivas para
promover equilíbrio e harmonização na convivência comunitária.
Em
sua ilimitada capacidade de doação ao próximo, cumprindo vocação pode-se dizer messiânica,
abre portais que acessam conhecimentos transcendentes. Encoraja criaturas de
boa vontade, sequiosas de saberes essenciais, a aprenderem explorar os
territórios desconhecidos dentro e ao redor do homem, ajudando-as a desempenhar
seu papel no palco da vida num mundo em efervescente transformação.
São
copiosos os frutos colhidos ao longo de tão prodigiosa empreitada. Está lá no
Evangelho: frutos fadados a permanecer.
Eleição
e pesquisa
Cesar Vanucci*
“Uma
coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”.
(Do fraseado das ruas).
Trato aqui de eleição e
de pesquisa eleitoral. Estou calvo de saber que, embora façam parte de um mesmo
contexto, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Pesquisa é prognóstico.
Aponta tendência de momento, sujeita a chuvas e trovoadas, algo que poderá vir
a acontecer. Eleição é ação consumada,
fava já contada, inhambu no embornal, temperatura já definida. Pode ser que os
números apurados numa e noutra situação sejam coincidentes. Mas também pode ser
que não seja. Registros históricos falam disso.
Dou exemplo. Quando o Célio
de Castro tornou-se Prefeito de Belo Horizonte, a discrepância entre as
previsões de votos e os votos efetivamente depositados nas urnas foi
atordoante. No dia da eleição, as manchetes trombeteavam que seu principal
contendor estava com a vitória assegurada. Não estava. Célio levou a melhor praticamente
em todas as urnas. Esse fato por si só, bem como episódios análogos
transcorridos noutras ocasiões, não são de molde a desqualificar, jeito
maneira, as pesquisas. Nem, tampouco, colocam sob suspeição o trabalho dos
institutos que as promovem. As coletas de dados, ao que atestam especialistas
da matéria, são concebidas com técnica profissional e cientifica consagrada. As
observações registradas por muitos a respeito da circunstância de nunca terem
sido consultados, nem de haverem conhecido alguém que tenha sido abordado para
opinar não se revestem de significado maior quando se conserva sob mira a
dimensão do universo potencialmente disponível para entrevistas.
As pesquisas integram,
visto está, o jogo eleitoral. Projetam periodicamente inclinações de voto que permitem
aos candidatos azeitarem as campanhas. Desempenham, por conseguinte, papel de razoável
significação na vida democrática. Nas ditaduras, elas não passam de estrondosos
blefes perpetrados pelos donos do poder. O Egito e a Síria, recém-saídos de
“eleições”, são amostras elucidativas de como se desenvolve nos regimes
despóticos o processo da consulta prévia aos eleitores. Na pátria dos “faraós fardados”,
a pesquisa de boca de urna apontou quase 100% de preferência para o general que
veio a ser “eleito”. O resultado não seria menos espantoso se o índice houvesse
alcançado extravagantemente outro patamar. Digamos, 125%. Nos domínios de
Bashar al Assad, em que
vimos o “candidato opositor” recomendar enfaticamente, numa proclamação aos
votantes na véspera do pleito, que apoiassem o tirano sírio, concorrente ao
cargo pela enésima vez, o “boca de urna” foi um tiquinho mais comedido. A
preferência pelo “eleito” roçou os 90%.
Retomando
as pesquisas dentro do figurino democrático. Há que se chamar atenção para a circunstancia
de que os institutos empregam metodologias diferenciadas nas apurações dos
dados, o que pode levar, algumas vezes, a índices desencontrados. Uma
demonstração de ocorrências desse gênero é extraída de recentes consultas
procedidas por três qualificados órgãos que atuam no ramo das pesquisas.
Concernentemente a um mesmo item proposto a eleitores que ainda não haviam definido
preferencia por candidatos, o Ibope, a Vox Populi, a Datafolha colheram,
respectivamente, as respostas na sequência reproduzidas: 1) “ninguém, branco e
nulo” – 17%, 7%, 4%; 2) “não sabe, não respondeu” – 39%, 67%, 46%. As
divergências, então apontadas, comprovam a diversificação de critério, ajudando-nos
a compreender porque pesquisa é pesquisa e eleição é eleição.
Ditos
ligeiros
Cesar Vanucci*
“Não troco meu “oxente” pelo “ok”
de ninguém”. (Ariano Suassuna)
· A
inteligência brasileira em pranto. “Partiram primeiro” (lembrando Camões)
Ariano Suassuna, João Ubaldo, Rubem Alves. Um trio de bambas no ofício de fazer
jorrar das palavras instantes de beleza e sabedoria. Na fecunda obra de cada
qual se revelam presentes vestígios de aprofundada conexão do artista com o
sentimento de mundo, além de transbordante e contaminante identificação com o
sentimento nacional mais entranhado.
· O
cinquentenário da morte Ary Barroso e o centenário de nascimento de Dorival
Caymmi estão sendo lembrados neste momento. Oportunidade esplêndida para que os
apreciadores da boa música, daqui e de qualquer lugar do mundo, possam
revisitar a fabulosa obra desses dois ícones da arte mais autentica e
representativa da cultura nacional. Bastaria a “Aquarela do Brasil”, nosso
segundo hino nacional, para garantir a Ary a condição de gênio. Mas o mineiro
de Ubá, com inconfundível talento, deixou centenas de outras preciosidades. O
baiano Dorival, que optou por morar em Minas alguns anos de sua criativa
existência, é também outro patrício com marca reluzente na historia artística.
“O que é que a baiana tem?” encabeça a lista interminável dos clássicos que
deixou. Tratemos de reverenciá-los com carinho.
· Sequestro
do jovem soldado israelense foi o pretexto encontrado recentemente para a interrupção
de uma das breves tréguas acertadas no conflito sem fim com o recomeço da
destruição, a tiros de canhão e bombas despejadas de aviões, de casas, escolas,
asilos, hospitais no gueto conhecido por Gaza. O governo estadunidense e a ONU,
repercutindo denuncia dos dirigentes de Telavive, acusaram então os autores da
alardeada abdução de crime hediondo, exigindo a libertação imediata da vítima.
Só que, de repente, não mais do que de repente, descobriu-se que o militar
desaparecido não havia sido sequestrado coisíssima nenhuma, em momento de
trégua negociada. Lamentavelmente, havia perdido a vida preciosa em combate. E agora
José? Como continuar dormindo com um bombardeio desses?
· Não
é necessário grande esforço para admitir que Dilma Rousseff tá com a razão. Diz
ela: - “Há hoje, de forma deliberada um processo de criação de expectativas
negativas, extremamente nocivas para o país, tal como aconteceu na Copa”. Falar
verdade, isso não é nada bom para o Brasil.
· Ouço
dizer que o Clube Atlético Mineiro prepara o lançamento de um projeto de
construção de um grande estádio em Belo Horizonte. Com o majestoso Mineirão e a imponente arena
do Horto será que faz algum sentido um empreendimento dessa envergadura? Na
hipótese de que os recursos existam ou possam vir a ser levantados para uma
empreitada dessas, por que não carreá-los para iniciativas que atendam melhor
as necessidades da gloriosa agremiação e sirvam melhor o interesse
futebolístico brasileiro?
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Bolsa,
Seleção, Clubes
Cesar Vanucci*
“As “razões” da Bolsa são puro “non sense””.
(Domingos Justino, educador)
A
tchurma responsável pelo jogo especulativo da Bolsa de Valores é composta de
galhofeiros de marca. Vive gozando a cara da patuleia ignara, entre um ganho
polpudo e outro mais polpudo em suas nebulosas operações. Operações -
saliente-se de passagem - ininteligíveis à compreensão dos meros mortais. As
“explicações” fornecidas sobre as “razões” das “quedas” e “altas” dos papeis,
objeto de manipulações diuturnas, são prova cabal do que se está falando. Pego
aqui, ao acaso, o registro da rodada de negócios de um dia qualquer. O “recuo”
nas pontuações foi “provocado” por tensões da insolúvel encrenca ucraniana e
por algumas frases extraídas do discurso de um cara qualquer do Banco Central
dos Estados Unidos. Quem se desse ao trabalho de acompanhar os capítulos dessa
“comédia” perpétua de embromações poderia perfeitamente defrontar-se com o
anúncio de “outros fatores” como “justificativa” da “queda” do índice da Bolsa
no mesmíssimo dia. Por exemplo: uma invasão urbana de bichos silvestres
escorraçados por incêndio florestal na Nova Guiné, ou a demora num eventual
acordo de não beligerância entre tribos de esquimós no Alasca. É de lascar. Mas
é assim que funciona, pra gaudio da tchurma.
O
“non sense” das coisas vividas na Bolsa foi mostrado de forma magistralmente
bem humorada num filme antológico do inigualável Peter Sellers, intitulado
“Muito além do jardim”, dirigido por Hal Ashby.
Convocação frustrante.
A primeira convocação de Dunga foi pra lá de frustrante. Que historia mais
desenxabida essa aí da inclusão na lista de jogadores comprometidos até a
medula com o vexame do 7 a 1? Façam-me o favor. O argumento de que esses
jogadores adicionam experiência ao grupo é por demais fajuto. Não convence o
mais ingênuo e crédulo torcedor. A expectativa geral à volta do anúncio referente
às recentes convocações centrava-se numa mudança ousada. Numa proposta
remoçante. Esperava-se fossem chamados atletas exclusivamente ligados a
torneios brasileiros. O desejo de quase todo mundo era de que a assim chamada
“legião estrangeira” fosse devidamente escanteada. Se o critério dominante nas
aspirações das torcidas tivesse prevalecido daria perfeitamente bem para que
fosse testado um punhado de jogadores promissores. Atletas mais identificados
com a realidade sócio-cultural-esportiva brasileira. Com foco nos times
mineiros, poderiam ter sido lembrados, além de Everton Ribeiro, Diego Tardelli
e Ricardo Goulart, os goleiros Vitor e Fábio, iniludivelmente os melhores na
posição, e o zagueiro Dedé. (E isso aí sem cogitar da hipótese de que o treinador
poderia também, por óbvios motivos, ter saído do futebol mineiro. É só por
tento no que anda aprontando o Marcelo de Oliveira). Só não enxerga mesmo quem
não quer. Com base unicamente em craques escolhidos nos campeonatos em curso no
país, um treinador realmente capacitado, mente aberta, esmerando-se na
preparação técnica e física dos elementos recrutados, encontra ao seu dispor recursos
plenos para montar pelo menos dois escretes em condições mais favoráveis de
representar-nos nas competições do que aquela seleção de araque constituída de deslumbrados “garotos-propaganda de tevê”,
comandados por técnicos ultrapassados, que protagonizou o maior fiasco de todos
os tempos da crônica esportiva nacional.
Marca registrada da cartolagem.
A Lei de Responsabilidade Fiscal, defendida pelo Bom Senso Futebol Clube e por
um bocado de gente interessada na evolução dos métodos operacionais do futebol
brasileiro, precisa sair logo das cogitações generosas para virar realidade. A
colossal dívida contraída pelos clubes, em sua inaceitável sonegação fiscal,
representa dado assaz revelador da urgência que a adoção da medida tanto
reclama. Pelo noticiário esportivo de cada dia inteiramo-nos, incessantemente,
que a estroinice é marca registrada da cartolagem na gestão dos negócios do
futebol.
Cesar
Vanucci *
"Comparados com os filmes de agora, os filmes de pavor de
outrora provocam bocejos e tédio nos meninos do pré-escolar."
(Josefina Cantidio,
professora )
Vasculhando as ladeiras da memória, deparo-me com as imagens
de um filme visto quando tinha entre 9 e 10 anos de idade, no cine Royal, em
Uberaba. Consegui driblar, naquele dia, a implacável vigilância do comissário
de menores. Vetado para menores de 14 anos, o filme tinha por título "O
Polvo". Animo-me a toma-lo como o primeiro momento de pavor de que tive
real consciência.
A ação se passava numa ilhota perdida na imensidão oceânica.
Havia um farol operado por duas pessoas. O bicho que dava título à fita era de
tamanho descomunal. Ameaçava, tetricamente, com seus gigantescos tentáculos, os
moradores da ilha. Fiquei um bom tempo assombrado com aquelas cenas
arrepiantes. Imagino que, concebido artesanalmente, em branco e preto,
utilizando parcos recursos cenográficos e efeitos especiais paupérrimos
condizentes com a tecnologia da época, o celuloide não conseguiria arrancar
hoje, de uma criança da mesma idade, nada além de um bocejo e olhar de enfado.
O mundo mudou e o cinema com ele
mudou também. As crianças de agora são bombardeadas diuturnamente por
diferentes versões de terror, brotadas menos da ficção e muito mais de uma
realidade cruel, que permite sejam os horizontes infantis na convivência social
incessantemente alargados. O pavor para elas, como para os adultos, deixou de
ser esporádico. Não carece ser alimentado apenas pela fantasia literária.
Adquiriu múltiplas facetas. Sofisticou-se, se é que assim se pode dizer. Passou
a ocupar espaço permanente na aventura cotidiana. Povoa as ruas. É trazido
bruscamente pra dentro dos lares. Banalizou-se, sem deixar, contudo, de
produzir impactos nunca vistos em extensão e intensidade em qualquer outro
período da história.
Das guerras de antigamente – como as
de agora e as de sempre, abomináveis – ouvia-se falar coisas arrepiantes. Mas
já os aspectos chocantes dos entreveros belicosos destes nossos dias,
incomparáveis em ferocidade e destruição, costumam ser vistos quase que ao
mesmo tempo e hora em que ocorrem. E isso por conta de sistemas tecnológicos
avançadíssimos, direcionados a campos de batalha ao invés de serem destinados a
espaços onde as pessoas de boa vontade se esforçam por construir o bem estar
humano.
As cenas de tortura de prisioneiros
no Iraque, na Síria, na Líbia, na Somália, no Afeganistão e noutras paragens
conturbadas, as notícias sobre crueldades aplicadas pelos russos na Chechênia, por
militares americanos aos reclusos em Guantánamo - alguns deles, como já ficou
documentado, detidos por engano no Afeganistão -, os carros e os homens bombas
que executam ensandecidas tarefas em tantos lugares, os massacres em Gaza, a
guerra fraticida na Síria são sinais do pavor interminável dessa beligerância
envolvendo países, etnias e crenças radicais que a insânia humana se esmera em
espalhar.
Agreguem-se a elas as cenas dos
corpos estraçalhados pelas ações terroristas, os edifícios destruídos com gente
dentro nas rotineiras retaliações a terroristas e presumíveis colaboradores, as
informações e imagens sobre sequestros, fome, pandemias que grassam em regiões
miseráveis e alguns filmes modernos de pavor e ter-se-á configurado o quadro de
horrores da hora presente. É um quadro composto de lances de tal perversidade
que acaba fazendo de uma nova projeção de "O Polvo", aqui e agora, certeiramente,
uma distração inocente, inofensiva, sem recomendação de censura para guris
entre a fase da desamamentação e o pré-escolar. Tá danado.
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