sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Fervor democrático

“A democracia é boa, principalmente
porque os outros sistemas são piores.”
(Nehru, estadista indiano)

Os que não botam fé pra valer na pujança democrática brasileira e que procuram, continuamente, azedar com atos e palpites histéricos a convivência entre contrários no campo das ideias e dos posicionamentos políticos, não estão se dando  conta dos avanços extraordinários que se operam no Brasil, a cada momento, no tocante ao aprimoramento institucional. O país vai abrindo, com firmeza, ininterruptamente, como poderoso navio quebra-gelo desbravando regiões glaciais, os caminhos que conduzem à consolidação plena do sistema de procedimentos e regras políticos pelos quais a sociedade de há muito optou.
Já os setores mais lúcidos da sociedade se regozijam com as conquistas institucionais. Mas existe também, entre os bem intencionados, gente que não percebe, ainda, como se estivesse a compartilhar das teses derrotistas dos irremovíveis céticos de plantão, que essa assimilação de normas democráticas e republicanas em nossa realidade política, feita de forma razoavelmente remansosa, sem turbulências insanáveis, confere-nos hoje lugar de invejável proeminência no plano internacional. Nem todos os países, inclua-se na relação os mais desenvolvidos, mostram-se, na verdade, capacitados a articular um processo eleitoral tão transparente, com tamanha eficiência, com cronograma executado impecavelmente, prestes a ser acompanhado de apurações velozes e inquestionáveis, como esse que a Nação brasileira vive nestes dias em atmosfera de justificável euforia. Nas manchetes do mundo inteiro as eleições brasileiras são sempre – e agora acontece outra vez - saudadas como um momento de especial grandeza cívica. Prova mais que provada do amadurecimento político da brava gente brasileira. Da força imbatível das instituições democráticas que, mercê de Deus, nos regem.
Em tempos deixados pra traz o andar das coisas não era bem esse. As eleições costumavam ser marcadas por tremores sísmicos variáveis. E nem é o caso de relembrar abalos de maiores proporções que implicaram em graves perturbações à ordem constituída. A tranquilidade comunitária ficava afetada. A economia punha-se receosa face a suposições acerca de eventuais alterações futuras de rumo. As taxas de inflação e o câmbio exprimiam expectativas nervosas. Mas isso virou passado. O cenário de agora é outro, quão diferente! Os resultados das urnas, quaisquer que sejam, são acolhidos, por todos, vencedores e perdedores, como fruto de um jogo democrático modelar e como uma projeção legítima do verdadeiro sentimento das ruas. Pela voz dos eleitores o que o pleito expressa, de forma peremptória e definitiva, é uma manifestação da própria consciência cívica nacional. Não há contestá-la. Nem questioná-la. As opções tomadas nascem da soberana vontade popular.
O regime democrático possui, a exemplo das doutrinas religiosas, seus cânones sagrados. Mesmo quando as escolhas nascidas da vontade popular possam parecer insatisfatórias a nível de meras avaliações pessoais, não se pode perder de vista que um processo político, como qualquer outra ação humana, reflete o jeito de ser humano, com seus inerentes méritos e imperfeições. A democracia absorve os traços paradoxais do comportamento humano. Não deixa de ser boa por causa disso. Até mesmo porque – relembrando Nehru e Churchill, que disseram coisas muitíssimo parecidas em momentos diferentes –, em que pesem os notórios defeitos da sistemática política, tocada pela falibilidade de seus militantes, ela sobrepuja iniludivelmente, em termos de apreço à dignidade humana e de respeito aos direitos fundamentais, todos os demais sistemas até aqui inventados com o propósito de conduzir os destinos político-administrativos da espécie.
Em suma, o processo eleitoral de agora descortina-se como marco refulgente na história republicana brasileira. Estampa, novamente, o grau elevado de sensibilidade política e o amadurecimento democrático alcançado por este nosso Brasil brasileiro. Um país na rota indesviável do progresso. Hoje, mais do que nunca, face às grandes conquistas sociais e econômicas acumuladas, preparadíssimo para a invasão do futuro.


A semântica das urnas

 “Descubra como separar o joio do trigo – ou entender o que é verdade e o que é só interesse no calor da temporada eleitoral.”
(Nirlando Beirão)

Nirlando Beirão, titular absoluto no escrete do jornalismo de qualidade comprometido com o sentimento nacional, herdou do pai (dirigente empresarial de saudosa lembrança), além do nome, a inteligência arguta e a verve faiscante. Deixa isso evidenciado num saboroso texto publicado na “CartaCapital”. Intitulado “Dicionário Eleitoral (para ingênuos)”, o trabalho fornece dicas que ajudam a decifrar a semântica das urnas, ou, conforme frisa, “entender o que é verdade e o que é só interesse no calor da temporada eleitoral”.
Abaixo, de forma adaptada e resumida por este desajeitado escriba, alguns “verbetes” do divertido “dicionário”. 1)Alternância de Poder – só é essencial à democracia quando o nosso adversário está no poder. 2) Aparelhamento do Estado – os adversários nomeiam apaniguados. Nós, os melhores quadros técnicos. 3) Corrupção. Os outros a praticam de forma perene. Nossos aliados cometem apenas pequenos deslizes. 4) Visão de Deus. Todos os candidatos dizem ter fé. Os mais fervorosos são aqueles que não acreditam. 5) Delação premiada. Ela só tem valor se vazada para atingir o concorrente. Se no meio do lamaçal, surgir o nome de um aliado, o correto é dizer que as denúncias são açodadas e precisam ser apuradas a fundo, doa a quem doer. Quanto ao fato de o vazamento da delação premiada constituir também crime (...), bem esqueça.” Cenário internacional. Se uma administração aliada vai mal, a culpa é do cenário externo. Inverte-se a lógica no caso dos adversários. Se a gestão inimiga vai bem, as condições internacionais a favoreceram. 7) Marquetagem. Se o adversário sobe nas pesquisas isso se deve a ação mistificadora dos marqueteiros. Sem essa de lembrar que o nosso candidato igualmente possui um exército de especialistas em marquetagem. 8) Ano eleitoral. As ações do adversário não passam de medidas eleitoreiras. As nossas ações são decisões de governante seriamente comprometido com suas funções. 9) Velha política. Só os adversários a praticam. 10) Coligações. Promovidas por nós, deixam estampada aguda sensibilidade política, negociação de fino trato. Promovida pelos outros, denotam falta de escrúpulos, atroz barganha de princípios por conveniências.
Tamos falados.

· Dinheirama desviada para “paraísos”.
Anotem a cifra: 77 bilhões e 500 milhões de reais. Segundo a “Global Financial Integrity”, tal valor representa estimativa confiável do dinheiro ilicitamente amealhado (evasão de impostos, emissão ilegal de divisas para o exterior, atividades negociais clandestinas, corrupção e por aí vai) desviado pela bandidagem que opera no Brasil para os assim denominados “paraísos fiscais”. Com destaque especial, evidentemente, para o sistema bancário suíço, reconhecidamente um refúgio de “altíssima confiabilidade”, ao longo dos tempos, para fortunas adquiridas em inimagináveis patifarias. Essa dinheirama toda circulante fora dos controles legais equivale, presumivelmente, a 1,5% da produção econômica brasileira. Ajuda a “explicar”, no entendimento de muita gente, o motivo pelo qual o ICMF foi tão ferozmente combatido até a extinção.

Dose de cautela


 “O réu da “delação premiada” respondeu dezoito vezes “não” às perguntas dos Senadores e Deputados.”
(Dos jornais)

Num relato bem objetivo, a história trazida ao conhecimento público pode ser assim resumida: ex-executivo da Petrobras, réu confesso em crime de corrupção, optou pelo polêmico dispositivo da “delação premiada”, no processo em que se acha incurso, mirando a eventualidade de redução de pena pelos malfeitos cometidos.
Em declaração prestada sob sigilo de Justiça teria apontado, segundo a mídia, dezenas de destacados militantes políticos como enredados num suposto pagamento de propinas na estatal petrolífera. Foram citados os nomes de um Ministro de Estado, vários Governadores (entre eles, o ex-candidato à Presidência falecido no acidente aéreo que comoveu a Nação), dezenas de Parlamentares e empresários. Horas depois do depoimento secreto (pelo que se sabe, ainda inconcluso), criptografado e guardado a sete chaves por determinação judicial, as televisões, os jornais e rádios começaram a divulgar uma lista dos “personagens denunciados”, acrescida de outros mais nos dias posteriores. Foi dito que a lista teria sido passada à Justiça pelo réu. A divulgação, procedida com estardalhaço, centrou-se na indicação de nomes. Não foram reveladas as fontes das informações, nem tampouco foi fornecido qualquer dado capaz de embasar a denúncia alusiva ao propagado esquema de corrupção nas entranhas da mais importante empresa da América Latina. Chegadas as coisas a esse ponto, a CPI mista do Congresso (integrada por Senadores e Deputados), incumbida de examinar possíveis atividades irregulares na Petrobras, sentiu-se obviamente no direito e no dever de convocar o antigo executivo da empresa para dele colher um esclarecimento cabal a respeito dos candentes fatos. Convocou sessão específica para o registro de seu pronunciamento. O réu, todavia, recusou-se obstinadamente a responder às perguntas formuladas pelos Senadores e Deputados dos diferentes partidos na reunião aberta, com vasta e irrestrita cobertura da imprensa, com o fito de ouvi-lo. Disse um “não” categórico (dezoito vezes seguidas) aos representantes de um dos Poderes constituídos do país. Deixou claríssimo também que se manteria, pela mesma forma, mudo e quedo que nem penedo, caso os parlamentares deliberassem imprimir caráter secreto aos trabalhos de averiguação. Não pode permanecer sem registro nestas anotações um outro lance. Pouco tempo atrás, ouvido noutra sessão do Parlamento, que mereceu também farta cobertura midiática, o mesmíssimo réu negou enfaticamente as acusações feitas, durante horas seguidas, a respeito de procedimentos ilícitos porventura ocorridos, a qualquer tempo, no âmbito da empresa a cujos quadros pertence.
Esses, devidamente sopesados e medidos, os fatos objetivos relativos à perturbadora questão. Obvias as constatações a extrair disso tudo. Paira no ar, por conta de ações sorrateiras de bastidores, a sensação de que o intuito de semear confusão é maior do que o propósito de elucidar as coisas. Não há como ignorar também a circunstância de que o “vazamento” das noticias pertinentes ao tal “depoimento sigiloso” estão vindo a furo em instante de efervescência política. Na véspera de importantíssimo pleito eleitoral. Isso remete a uma inapelável conclusão: as pessoas que abominam a corrupção e outras mazelas da vida pública devem manter os olhares e ouvidos atentos, mas também, com toda serenidade, uma dose razoável de cautela e desconfiança quanto ao assunto. São tantos os ingredientes nebulosos dessa história, que o melhor a fazer, na linha de compreensível prudência, é aguardar do Poder Judiciário uma palavra esclarecedora que, em hora oportuna, coloque tudo em pratos limpos. A opinião pública tem todo o direito de alimentar forte expectativa em relação ao esclarecimento oficial que as autoridades competentes estão no dever de prestar.



sábado, 20 de setembro de 2014

Certeza eleitoral


“O impecável cumprimento do calendário eleitoral é amostra loquaz da pujança democrática brasileira.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)

Um desses manjados “profetas do catastrofismo” que enxameiam a rede midiática anotava, indoutrodia, na tevê, os “motivos” de seu mórbido ceticismo com relação ao Brasil: a “incerteza eleitoral” e os “humores” da Bolsa. Fiz-me várias vezes a pergunta: mas a que “incerteza eleitoral” estaria mesmo o cara se reportando?

A realização do pleito para Presidente da República, Governadores de Estado, Senadores, Deputados, previsto no calendário traçado pelo TSE em consonância com os ditames do regime democrático que, mercê de Deus, rege nossos soberanos destinos políticos, com data certíssima para acontecer, estará sendo por acaso ameaçada de adiamento ou cancelamento por algum motivo de força maior? A resposta categórica é não!

Paira no ar, porventura, alguma tênue dúvida quanto ao cumprimento rigoroso das diversas etapas do saudável processo eleitoral em desdobramento? Vamos conferir quais são essas etapas. Campanha em clima de vibração nas ruas, nos veículos de comunicação e nas redes sociais; votação eletrônica por escrutínio secreto, seguida da apuração instantânea dos votos, procedida de acordo com invejável esquema tecnológico criado por brasileiros, sem nada no gênero equiparável no resto do mundo; anúncio oficial dos resultados, com programação de um segundo turno para cargos majoritários se necessário; ao depois, proclamação dos eleitos, posse dos escolhidos, tudo, tudo devidamente desenhado em rigorosa conformidade com um calendário pré-definido e com regras legais amplamente consolidadas.

Se a “incerteza” deriva da circunstância de ainda não se saber, a esta altura da campanha, de modo certeiro, os nomes das pessoas que a vontade soberana das urnas indicará para conduzir os rumos deste país, seria o caso, então, de reavivar, com todo cuidado didático, para algum cidadão “tomado de dúvida”, uma informaçãozinha essencial. É assim mesmo, desse exato jeito, que as coisas rolam costumeiramente nos regimes democráticos. O cidadão, na democracia, pode intuir, pode torcer, pode apostar firme nos candidatos de sua predileção. Mas a escolha definitiva dos governantes, dos parlamentares nos devidos trinques legais, só se processa realmente com as apurações encerradas. Nos regimes totalitários o cenário é diferente. Não existe incerteza eleitoral alguma. As “eleições” são de araque. Só pra efeito público externo. Os “vencedores” são bem antes do pleito “escalados” para exercer, “naturalmente, com patriotismo e espírito públicos acendrados”, suas nobilitantes funções.

Então, vamos lá. Se os acontecimentos políticos brasileiros, nesses momentos que antecedem a grande festa cívico-eleitoral de cinco de outubro se desenrolam de maneira impecável, demonstrativa da pujança democrática da Nação, cabe retrucar: mas que diabo de incerteza eleitoral é essa que tanto apoquenta os “plantonistas do desalento”?

Temos algo também a acentuar quanto aos “humores da Bolsa”, outro item objeto de preocupação dos pregoeiros do pessimismo. São constatações que ajudam na dissipação desses infundados temores suscitados a propósito da realidade brasileira. Neste ano de 2014, até meados de setembro, o registro de alta nas operações roçava os 14 por cento. Tal pontuação é considerada, mesmo por analistas ranhetas, bastante satisfatória em termos globais.

Tem mais: quem se der ao trabalho de consultar os números que falam das chamadas operações bursáteis vai se deparar, indesviavelmente, com a informação de que os resultados positivos acumulados, pelas mais de duzentas e cinquenta empresas de capital aberto que operam na Bovespa, alcançaram de janeiro até aqui, índice (nada desprezível) superior a 50 por cento. E aí José?

Vamos resumir, então, a ópera: malgrado o insosso papo dos incorrigíveis “céticos de plantão”, do ponto de vista institucional democrático não existe “incerteza eleitoral” alguma a deplorar. Apenas certeza eleitoral a festejar.



Fla-Flu político-econômico

“Graças a Deus ainda estamos quase no pleno emprego e não vemos, como em outros países, uma juventude desesperançada.”
(Murilo Ferreira, presidente da Vale)

O presidente da Vale, mineiro de Uberaba Murilo Ferreira, concedeu à “Folha de São Paulo” entrevista em que traça lúcido diagnóstico da conjuntura política e econômica brasileira. Diz coisas que se colocam, tanto quando se percebe pelo tom rotineiro do noticiário nosso de cada dia, em contraposição com os registros e vaticínios de desalento e pessimismo propagados, com enervante frequência, por não poucos personagens influentes do empresariado e jornalismo.

Convido o leitor a conhecer algumas das partes mais frisantes do interessante depoimento.

“Folha: O Brasil está crescendo pouco por falta de investimentos. Por que as empresas não investem?
Murilo Ferreira – Não concordo com essa afirmação. A Vale está fazendo o projeto mais intensivo em capital de sua história, em Carajás, São US$ 19,5 bilhões.

Os números da Vale são sempre superlativos. No geral, as empresas brasileiras não estão investindo.
No Brasil, não prestamos atenção ao mercado internacional. O crescimento mundial está muito abaixo do esperado. O problema se tornou mais agudo depois da crise europeia de 2011. O México e o Chile vêm avançando menos. Até 2016, não haverá mais indústria automobilística na Austrália. Mesmo na Ásia, só sinto um certo ânimo no Japão. Vivemos um período muito diferente daquele em que a economia mundial crescia 4,4% e todos comiam o mamão com açúcar da globalização. Agora chegou a vez das frutas amargas. No Brasil, as pessoas não querem enxergar isso por conta da disputa eleitoral.

O senhor acha que a disputa eleitoral aumenta o pessimismo?
Claramente. Graças a Deus ainda estamos quase no pleno emprego e não vemos, como em outros países, uma juventude desesperançada. O agronegócio é show de bola e tem uma produtividade superior à americana. Mineração e serviços são pontos fora da curva. A amargura está concentrada no setor industrial. Lamento muito, mas é São Paulo que está pagando uma conta mais alta do que outros lugares do Brasil.

Mas os empresários não reclamam da crise global. Eles dizem que a culpa é do governo.
Certamente eles são capazes de justificar suas queixas do governo e devem ter razão em muitos pontos. Mas existem alguns setores – não gostaria de polemizar citando um ou outro – em que falta tecnologia e inovação.


Por que a indústria perdeu competitividade?
Temos que fazer uma análise rigorosa. Será que o empresariado de São Paulo tem o mesmo entusiasmo do pessoal do cerrado? Será que a nova geração tem o mesmo entusiasmo para investir em tecnologia e inovação? Quando chego ao Japão e à Coreia, fico preocupado porque se estabeleceu um “gap” muito grande em relação ao Brasil. Não sei se os empresários não se atualizaram ou não estão motivados, mas essa é a realidade.

O relacionamento entre Dilma e o empresariado hoje é ruim. Se ela for reeleita, como refazer essa ponte?
Os dois lados precisam procurar o interesse do Brasil. Não podemos continuar esse Fla-Flu politico, que é estimulado por São Paulo, de onde vêm os partidos que disputam a eleição, PT e PSDB. A politica em São Paulo está muito rancorosa. É importante restabelecer as pontes para governar depois. Adversários têm ideias diferentes, mas não são inimigos.

O PT diz que o mercado financeiro faz terrorismo ao derrubar a Bolsa quando a presidente sobe nas pesquisas. O que o senhor acha?
De novo, isso é fruto da cultura política de São Paulo. Esse Fla-Flu permanente é irradiado da Faria Lima (avenida da capital paulista onde estão os grandes bancos de investimento)”.

Estas declarações do presidente da Vale, segunda maior empresa brasileira, no ramo da mineração a maior do mundo, oferecem um retrato da realidade social e econômica brasileira totalmente diferenciado daquele que insistentemente nos tem sido mostrado, sobretudo nestes momentos pré-eleitorais, pelos “profetas do desalento” e “cartomantes do pessimismo”. Esses aí, apoderados de considerável espaço midiático, “garantem” que o Brasil vem rolando, de há muito, ribanceira abaixo. O bom senso aconselha a ficar com o ponto de vista do Murilo e não abrir.


Um espetáculo memorável

“O público aplaudiu, de pé, os artistas, por vários minutos seguidos, uma coisa impressionante.”
(Registro da espectadora Mariângela Palmeira, na saída do teatro)

Os apreciadores de jazz foram presenteados, dias atrás, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, com um espetáculo arrebatante. As aclamações do público que lotou as dependências do majestoso teatro, ao final da bela apresentação vocal e instrumental produzida pelo “Caffeinne Trio” e a “Big Band”, foram de intensidade tal que os artistas não tiveram como não acrescentar mais três interpretações ao programa anunciado. E, a tomar por base a disposição dos espectadores que, de pé, os aplaudiam, outros números teriam sido executados dentro do mesmo clima de entusiasmo caso não houvesse uma limitação regimental de tempo para a apresentação. O “Caffeinne Trio”, integrado por três esplêndidas cantoras – Sylvia Klein, Renata Vanucci e Carô Rennó – mostrou novamente, como já havia feito na “Virada Cultural”,  a pujança e riqueza de sua arte, revelando-se capacitado para voos mais ousados em sua trajetória que já consigna uma série de recitais exitosos no exterior, meses atrás na Alemanha. O “Big Band Palácio das Artes”, comandado pelo consagrado maestro e arranjador Nestor Lombida, ex-regente da Orquestra de Câmara da Televisão Cubana, professor de Arranjo e Improvisação no Centro de Formação Artística da Fundação Clovis Salgado, é composto de instrumentistas do melhor quilate. Os sons são produzidos por piano, trompetes, contrabaixo, trombones, bateria, guitarra, percussão e saxofones. A junção dos dois grupos se fez em torno de um belíssimo concerto que combinou o estilo dos trios femininos famosos das décadas de 30 a 50 com o jazz e musica instrumental, que são marcas da banda. O repertório utilizado trouxe peças de famosos compositores de jazz. Inteirei-me, após o espetáculo, do propósito dos artistas de montarem, brevemente, um recital para turnê internacional. Pelo que foi mostrado, não fica difícil vaticinar sucesso estrondoso à vista.

Mais espaço para cultural nacional. A Lei 12.485, em vigor desde 2011, estabeleceu marco regulatório para a televisão, criando a obrigatoriedade da veiculação diária de 3 horas e 30 minutos de conteúdo nacional nas programações. A medida representou estimulante apoio à expansão da produção artística voltada para o setor. Especialistas na matéria, empenhados em fazer da televisão um instrumento mais bem identificado com a cultura e o sentimento nacional, defendem a ampliação do espaço mínimo estipulado para os conteúdos audiovisuais brasileiros. Por que não 50 por cento?  - perguntam. Existe talento e criatividade de sobra na praça para tocar vitoriosamente um esquema assim.  Noutros países do mundo desenvolvido vigoram há tempos exigências de veiculação de produções nacionais nessa base do meio a meio.


Um senhor entrevistador. A Rede Globo de Televisão dispõe em suas competentes fileiras o cara certo para desfazer a desfavorável impressão deixada pelas entrevistas feitas no “Jornal Nacional” com os presidenciáveis. O nome dele é Roberto D’Ávila que, semanalmente, na “Globo News”, dá lições magistrais sobre como extrair de um entrevistado, com serenidade e segurança profissionais, revelações e informações  que ao espectador interessa saber.

Interpretações eletrizantes de clássicos brasileiros

Amigos diletos encaminharam-me um vídeo contendo preciosidades musicais que tenho o prazer de compartilhar com os leitores deste blog. Trata-se de uma sequencia de clássicos de nossa MPB, com destaque para criações de Tom Jobim e Ary Barroso, interpretados pelo "Perpetuum Jazzile", um coral esloveno do melhor nível. Deleitem-se com o "Vou te contar" e "Aquarela do Brasil" e as outras melodias interpretadas pelo grupo.




sábado, 13 de setembro de 2014

Horror demais



Cesar Vanucci *

“Dizei-me vós, Senhor Deus, se é mentira ou verdade tanto horror perante os céus.”
(Extraído de um poema de Castro Alves)

A sandice humana não para de adicionar às aflições cotidianas da coletividade informações contundentes e cruéis. O noticiário nosso de cada dia é um difusor eficientíssimo da banalização da violência. Dá pra perceber que, neste mundo de Deus onde o diabo costuma fincar enclaves, os extraordinários avanços tecnológicos euforicamente celebrados de nada têm servido para conter os atos de barbárie praticados em circunstâncias as mais impensáveis. Existe algo sempre aterrorizante a nos espreitar. E os limites da ferocidade são continuamente ultrapassados.

Nos últimos dias, deparamo-nos com três cenas de difícil comparação consideradas outras situações indesejáveis já vividas, pelas características inusitadamente brutais de que se revestiram. Assistimos, primeiramente, na tevê aquelas brutais imagens de uma rebelião de presidiários em Cascavel, Paraná, onde aparecem os amotinados degolando desafetos entre desditosos companheiros de reclusão.

Logo em seguida, vimo-nos colocados diante daquele tétrico vídeo distribuído por extremistas do tal califado islamita que se apoderou de porções territoriais da Síria e Iraque. Nele, criminoso encapuzado, pertencente a grupo que a própria Al Qaeda considera, pra estupefação geral, exageradamente radical, exibindo ameaçadora adaga, decreta o veredicto de morte por decapitação de um jornalista tomado como refém. E anuncia que as “represálias” selvagens não vão parar por aí.

Pouco depois, nos confins da África esquecida dos homens e, ao que parece, também de Deus, na Libéria, epicentro da epidemia de ebola, acompanhamos, perplexos, caçada impiedosa a uma “fera” acuada numa feira de alimentos. A presa, Deus do céu, era um ser humano com o desespero claramente estampado na face. Um fugitivo do campo de concentração em que vêm sendo confinados, sem qualquer espécie de ajuda humanitária, pra morte certa, indefesas vítimas da pertinaz doença. O infeliz, com um pedaço de madeira na mão, utilizado para defender-se, procurava, angustiado, de tenda em tenda, alimentos para sobreviver. Ao redor uma multidão ululante, tomada pelo pânico, esperava ansiosa pela providencial chegada da equipe incumbida de laçá-lo e devolvê-lo ao local de seu degredo. Junto com o turbilhão de emoções levantado pelo incidente, perguntas inevitáveis afloraram, com toda certeza, na mente dos milhões de espectadores que, traumatizados, testemunharam o desenrolar dos fatos.


Por qual razão a comunidade das nações não desvia, imediatamente, para aqueles confundós da África acossada pelo ebola, parte mínima dos enormes contingentes humanos e dos fabulosos recursos concentrados em esforços bélicos, espalhados por tantos cantos, para enfrentar o drama dessa avassaladora epidemia? Se já sabida a existência de vacina capaz de debelar o mal pela raiz, vacina essa aplicada com êxito em pacientes levados de volta das regiões afetadas para seus pagos natais, por que cargas d’água, então, santo Deus, em nome da solidariedade humana e dos valores éticos e morais, não se cogitar, com a urgência exigida, da pronta produção e remessa ágil dos quantitativos necessários do medicamento aos países atingidos pela impiedosa enfermidade? E como uma tragédia acaba sempre puxando a lembrança de outras tragédias, por qual motivo os clamores do secular sofrimento africano não são nunca acolhidos com presteza e boa vontade pela comunidade internacional?


Tópicos do momento eleitoral

“As insinuações publicadas de forma genérica e sem apresentar evidências (...)
não podem ser tomadas como denúncia formal nem fundamentada”.
(Deputado Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara)

Seguinte: réu confesso em caso de corrupção sob investigação judicial resolve, de repente, na véspera eleitoral, utilizar o controvertido instrumento da “delação premiada”. Aciona o gatilho de sua metralhadora giratória, passando a alvejar personagens influentes - Ministro de Estado, Governadores, parlamentares, empreiteiros -, com ênfase para elementos ligados às duas candidaturas presidenciais mais bem posicionadas nas pesquisas. Parte da grande mídia ocupa-se do episódio de forma estardalhante. Mas não se dá ao trabalho de fornecer, como seria de se esperar, maiores detalhes dos acontecimentos. Deixa de arrolar documentos probatórios, de revelar as fontes de informação e de indicar os valores das alegadas propinas que teriam sido destinadas às dezenas de pessoas da lista de nomes apontadas nas manchetes. O noticiário diz que o depoimento do réu foi tomado em segredo de justiça, devidamente criptografado e guardado a sete chaves. Em momento algum, contudo, é esclarecido como, apesar de tantas cautelas, ocorreu o vazamento da relação de nomes clandestinamente entregue, para maciça divulgação, aos órgãos de comunicação social. Registra-se, ao mesmo tempo, estapafúrdia declaração, atribuída ao réu delator. As “denuncias” seriam de maneira – ora, veja, pois! – a impedir a realização das eleições. Isto tudo posto, o que o bom senso e a prudência recomendam ao cidadão comum, naturalmente ávido por ações de combate eficaz à corrupção e, também, à demagogia, levadas em conta as circunstâncias assinaladas, é que se esforce por manter devidamente sintonizados, no acompanhamento atento dos fatos, os aparelhos de percepção pessoal. Sem deixar de ligar bem ligado, por via das dúvidas, o “desconfiômetro”.

A candidata Marina. Marina Silva tem carisma. Obstinada, irradia simpatia. Lembra, de certo modo, em não poucos momentos, Lula no apogeu da popularidade. Tal associação de imagens serve para consolidar e até mesmo expandir seu poder de sedução eleitoral. Mas, de outra parte, noutros instantes, Marina lembra também um pouco Jânio Quadros, com aquela sua célebre retórica oca e dilacerantes contradições que marcaram efêmera e improdutiva passagem pelo governo. Recorda, um pouco também, Fernando Collor, em sua farsesca postura de “bom mocismo” naquela fase governamental em que a Nação se traumatizou com uma penca de projetos e propostas de araque, pretensamente vanguardeiros em matéria de gestão publica. Seja como for, uma coisa parece certa: a candidata do PSB e da Rede está firme no páreo presidencial.

 “Manchetômetro”. Marcos Coimbra, dirigente da “Vox Poppuli”, oferece dica intrigante em sua coluna na “CartaCapital”. Reporta-se a uma ferramenta indicativa do papel da mídia na campanha eleitoral. O Instituto de Estudos Sociais da Universidade do Rio de Janeiro botou no ar algo apelidado de “manchetômetro”. Um site que acompanha a cobertura da eleição procedida pela chamada “grande mídia”, assim compreendidos jornais de grande circulação no Rio e em São Paulo e o “Jornal Nacional” na televisão. Os dados divulgados são bastante curiosos. Do inicio do ano até meados de agosto, 275 “reportagens de capa” foram dedicadas aos principais candidatos à presidência. Delas, 210 alusivas a Dilma, 15 “favoráveis” e 195 “desfavoráveis”, ou seja, 93 por cento de abordagens negativas. Para os demais candidatos sobraram 65 textos (38 para Aécio e 27 para Campos). No caso do candidato tucano, os textos com foco positivo e foco negativo foram pau a pau. No caso do ex-governador pernambucano, prematuramente afastado da disputa, não houve menção a percentuais “pro” e “contra”.

Tópicos do momento eleitoral (II)

“Votar em Adelmo é votar na decência e no fim da corrupção”.
(Frei Beto)

“Fosse eu eleitor em Minas, votaria de novo em Adelmo Leão para deputado federal. Ele é ético, combativo, comprometido com os direitos dos mais pobres. Votar em Adelmo é votar na decência e no fim da corrupção na política.” Sabem de quem a autoria da frase? De ninguém mais, ninguém menos do que Frei Betto, titular do primeiro time na cena cultural brasileira, nome que dispensa qualquer tipo de apresentação. Comungando da opinião do grande pensador, passo ainda aos distintos leitores a informação que Adelmo Leão, médico, decano do Parlamento Mineiro (seis legislaturas consecutivas) é candidato a deputado federal nas próximas eleições. Vale a pena conhecer seu cintilante currículo.

As oscilações da Bolsa. A esmagadora maioria das pessoas – poupadores das camadas populares – recusa-se a fazer aplicações no mercado de ações pelo fato, primeiramente, de intuir que o jogo de manipulação promovido pelos megaespeculadores é bastante pesado. E, “segundamente”, por considerar despropositadas, simplesmente ridículas, as alegações amiúde registradas pelos “especialistas” quando se referem às causas das oscilações nos valores dos papéis. Como poderá alguém, provido de razoável discernimento e bom senso, levar a sério a babaquice extremada de pretensos analistas de negócios, como, por exemplo, ficou evidenciado nas explicações dadas sobre recuo no pregão ocorrido no dia 5 de setembro passado?
Um cara, com panca de porta – voz do esquema, deitou falação sobre o acontecido, proclamando com embriagante convicção que “os investidores se frustraram com a divulgação de pesquisas eleitorais indicativas da recuperação” de uma das candidatas à Presidência. E que, face a isso, “os resultados dos levantamentos abriram brecha para que o mercado vendesse ações e embolsasse os lucros acumulados nas últimas semanas.” Onde já se viu? Fica difícil desgarrar esses “especialistas” em operações bursáteis da imagem de galhofeiros deslumbrados. Gente que se diverte à pamparra com as explicações fajutas que inventam para a patuleia ignara. Patuleia essa, por sinal, que da Bolsa, prevenidamente, por essas e por outras, gosta de manter sempre considerável distanciamento.

A entrevista. Com Marina Silva aconteceu o mesmo. Os entrevistadores do “Jornal Nacional”, como já ocorrera com os outros presidenciáveis, comportaram-se (em entrevista com duração de 15 minutos) como se fossem agentes policiais inquirindo suspeito de atos ilícitos. Um desrespeito ao entrevistado e aos telespectadores!  Fica claro que, numa entrevista, o autor da pergunta desfrute, no exercício profissional, de todo direito de pedir explicações sobre questões de interesse público, mesmo que o assunto focado possa, eventualmente, desagradar o entrevistado.
 Mas nada justifica perguntas formuladas em tom inquisitorial carregado de suspeição, passando a impressão de que os entrevistados, nos casos específicos comentados, pretendentes ao mais elevado cargo da Nação, estejam ali, supostamente, como réus. Concluindo: as quatro entrevistas, feitas dentro de tão despropositados moldes, nada contribuíram para que o público ficasse inteirado, um tiquinho que seja, das plataformas de governo de cada candidato.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014


Eternamente Zélia

Cesar Vanucci*


“Posso afirmar que um dos seres humanos que mais me tocaram e me acresceram na vida, ensinando-me a servir despretensiosamente foi ela, Zélia de todos nós”. (Antônio Sores Dias, ex-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais).

O escritor Vicente Muzinga Oliveira reuniu, com arte e engenho, mais de uma centena de depoimentos sobre a vida e obra de Zélia Savala Rezende Brandão, enfeixando-os num livro precioso, sugestivamente intitulado “Eternamente Zélia”. A bela ilustração da capa ficou por conta da pintora Esthergilda Menicucci. As páginas da publicação narram com fotos e abundantes informações a trajetória da mentora do famoso Grupo Científico Ramatis. O lançamento do livro ocorreu numa concorrida festa litero-musical na Assembleia Legislativa de Minas Gerais no último dia 20 de agosto.
Texto de minha autoria – “Esta obreira de Deus de nome Zélia” – figura entre os depoimentos. Eis o que registrei.

Inserido sutilmente em nossa esfuziante aventura do cotidiano, existe um mundo fascinante, povoado de percepções transcendentes. Deste mundo fazem parte seres humanos muito especiais. Gente provida de dons singulares que atingiram patamar superior na escala da evolução espiritual. Vejo-os, de mim para comigo, como obreiros de Deus. Despertam onde atuam irradiante simpatia, sentimentos de apreço bastante carinhosos, revestidos de certo toque reverencial. Enxergam as pessoas e situações à sua volta com olhares de enternecido amor. Como são relativamente poucos, não fica assim tão difícil distingui-los em meio às multidões, por conta de suas ações criativas, suposições audaciosas e propostas de transmutação humana.

Honrado com o convite para juntar depoimento pessoal a um documentário sobre a doutora Zélia Savala Rezende Brandão, elaborado por grupo de amigos e admiradores de sua fecunda obra, não vacilo, um instante sequer, em reconhecer na história da personagem mencionada os sinais indicativos de um desses obreiros de Deus.

Agindo no território dos labores mágicos, deixando à mostra extraordinária sutileza de espírito e infinita delicadeza, dona Zélia percorre os caminhos que conduzem aos mistérios da mente, aos segredos das energias, na busca de sincronia entre os planos humano e espiritual da existência. É mentora do Grupo Cientifico Ramatis, organização espiritualista e assistencial que desenvolve programa de enorme alcance humanitário nos setores da ciência e da sociologia. Os estudos teóricos experimentais e práticos da parapsicologia ali realizados são voltados para a expansão da solidariedade social e do amor universal. Sob a clarividente liderança dessa médica e humanista, especialistas em medicinas alternativa e tradicional, muitos deles “seus filhos” por adoção afetiva, todos voluntários, entregam-se com dedicação a edificante trabalho coletivo em favor dos excluídos sociais. Conservam-se fiéis à sábia lição popular de que a serenidade de Deus está presente nas coisas que as pessoas realizam em conjunto. Asseguram suporte técnico e administrativo nas clínicas alopáticas, homeopáticas, psicológicas e de massoterapia; na farmácia bem sortida de recursos fitoterápicos, nas creches em que centenas de garotos desfrutam de uma condição social saudável. As massagens, aplicadas em volume considerável, proporcionam aos pacientes benéfica terapia energética. Todo esse portentoso complexo de serviços, desdobrados em diligências diuturnas, é complementado por ações permanentes de coleta e doações de bens de utilidade para encaminhamento a pessoas carentes. Valendo-se de núcleos operacionais externos, bastante ativos, o Grupo Ramatis estende ramificações a outras paragens brasileiras e do exterior.

À frente da grandiosa obra, no afã febricitante de semear benefícios à mancheia, dra. Zélia projeta a nobreza espiritual do Ramal. A expressão de soberana bondade e soberana sabedoria do Ramal, com sua concepção mágica da vida.

Possuidora de dinamismo dir-se-á místico, dra. Zélia utiliza as vibrações positivas para promover equilíbrio e harmonização na convivência comunitária.

Em sua ilimitada capacidade de doação ao próximo, cumprindo vocação pode-se dizer messiânica, abre portais que acessam conhecimentos transcendentes. Encoraja criaturas de boa vontade, sequiosas de saberes essenciais, a aprenderem explorar os territórios desconhecidos dentro e ao redor do homem, ajudando-as a desempenhar seu papel no palco da vida num mundo em efervescente transformação.

São copiosos os frutos colhidos ao longo de tão prodigiosa empreitada. Está lá no Evangelho: frutos fadados a permanecer.




Eleição e pesquisa

Cesar Vanucci*


Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”.
 (Do fraseado das ruas).



Trato aqui de eleição e de pesquisa eleitoral. Estou calvo de saber que, embora façam parte de um mesmo contexto, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Pesquisa é prognóstico. Aponta tendência de momento, sujeita a chuvas e trovoadas, algo que poderá vir a acontecer.  Eleição é ação consumada, fava já contada, inhambu no embornal, temperatura já definida. Pode ser que os números apurados numa e noutra situação sejam coincidentes. Mas também pode ser que não seja. Registros históricos falam disso.
Dou exemplo. Quando o Célio de Castro tornou-se Prefeito de Belo Horizonte, a discrepância entre as previsões de votos e os votos efetivamente depositados nas urnas foi atordoante. No dia da eleição, as manchetes trombeteavam que seu principal contendor estava com a vitória assegurada. Não estava. Célio levou a melhor praticamente em todas as urnas. Esse fato por si só, bem como episódios análogos transcorridos noutras ocasiões, não são de molde a desqualificar, jeito maneira, as pesquisas. Nem, tampouco, colocam sob suspeição o trabalho dos institutos que as promovem. As coletas de dados, ao que atestam especialistas da matéria, são concebidas com técnica profissional e cientifica consagrada. As observações registradas por muitos a respeito da circunstância de nunca terem sido consultados, nem de haverem conhecido alguém que tenha sido abordado para opinar não se revestem de significado maior quando se conserva sob mira a dimensão do universo potencialmente disponível para entrevistas.
As pesquisas integram, visto está, o jogo eleitoral. Projetam periodicamente inclinações de voto que permitem aos candidatos azeitarem as campanhas. Desempenham, por conseguinte, papel de razoável significação na vida democrática. Nas ditaduras, elas não passam de estrondosos blefes perpetrados pelos donos do poder. O Egito e a Síria, recém-saídos de “eleições”, são amostras elucidativas de como se desenvolve nos regimes despóticos o processo da consulta prévia aos eleitores. Na pátria dos “faraós fardados”, a pesquisa de boca de urna apontou quase 100% de preferência para o general que veio a ser “eleito”. O resultado não seria menos espantoso se o índice houvesse alcançado extravagantemente outro patamar. Digamos, 125%. Nos domínios de Bashar al Assad, em que vimos o “candidato opositor” recomendar enfaticamente, numa proclamação aos votantes na véspera do pleito, que apoiassem o tirano sírio, concorrente ao cargo pela enésima vez, o “boca de urna” foi um tiquinho mais comedido. A preferência pelo “eleito” roçou os 90%.
Retomando as pesquisas dentro do figurino democrático.  Há que se chamar atenção para a circunstancia de que os institutos empregam metodologias diferenciadas nas apurações dos dados, o que pode levar, algumas vezes, a índices desencontrados. Uma demonstração de ocorrências desse gênero é extraída de recentes consultas procedidas por três qualificados órgãos que atuam no ramo das pesquisas. Concernentemente a um mesmo item proposto a eleitores que ainda não haviam definido preferencia por candidatos, o Ibope, a Vox Populi, a Datafolha colheram, respectivamente, as respostas na sequência reproduzidas: 1) “ninguém, branco e nulo” – 17%, 7%, 4%; 2) “não sabe, não respondeu” – 39%, 67%, 46%. As divergências, então apontadas, comprovam a diversificação de critério, ajudando-nos a compreender porque pesquisa é pesquisa e eleição é eleição.


 Ditos ligeiros
Cesar Vanucci*

“Não troco meu “oxente” pelo “ok”
de ninguém”. (Ariano Suassuna)


·     A inteligência brasileira em pranto. “Partiram primeiro” (lembrando Camões) Ariano Suassuna, João Ubaldo, Rubem Alves. Um trio de bambas no ofício de fazer jorrar das palavras instantes de beleza e sabedoria. Na fecunda obra de cada qual se revelam presentes vestígios de aprofundada conexão do artista com o sentimento de mundo, além de transbordante e contaminante identificação com o sentimento nacional mais entranhado.


·     O cinquentenário da morte Ary Barroso e o centenário de nascimento de Dorival Caymmi estão sendo lembrados neste momento. Oportunidade esplêndida para que os apreciadores da boa música, daqui e de qualquer lugar do mundo, possam revisitar a fabulosa obra desses dois ícones da arte mais autentica e representativa da cultura nacional. Bastaria a “Aquarela do Brasil”, nosso segundo hino nacional, para garantir a Ary a condição de gênio. Mas o mineiro de Ubá, com inconfundível talento, deixou centenas de outras preciosidades. O baiano Dorival, que optou por morar em Minas alguns anos de sua criativa existência, é também outro patrício com marca reluzente na historia artística. “O que é que a baiana tem?” encabeça a lista interminável dos clássicos que deixou. Tratemos de reverenciá-los com carinho.


·     Sequestro do jovem soldado israelense foi o pretexto encontrado recentemente para a interrupção de uma das breves tréguas acertadas no conflito sem fim com o recomeço da destruição, a tiros de canhão e bombas despejadas de aviões, de casas, escolas, asilos, hospitais no gueto conhecido por Gaza. O governo estadunidense e a ONU, repercutindo denuncia dos dirigentes de Telavive, acusaram então os autores da alardeada abdução de crime hediondo, exigindo a libertação imediata da vítima. Só que, de repente, não mais do que de repente, descobriu-se que o militar desaparecido não havia sido sequestrado coisíssima nenhuma, em momento de trégua negociada. Lamentavelmente, havia perdido a vida preciosa em combate. E agora José? Como continuar dormindo com um bombardeio desses?

·     Não é necessário grande esforço para admitir que Dilma Rousseff tá com a razão. Diz ela: - “Há hoje, de forma deliberada um processo de criação de expectativas negativas, extremamente nocivas para o país, tal como aconteceu na Copa”. Falar verdade, isso não é nada bom para o Brasil.

·     Ouço dizer que o Clube Atlético Mineiro prepara o lançamento de um projeto de construção de um grande estádio em Belo Horizonte.  Com o majestoso Mineirão e a imponente arena do Horto será que faz algum sentido um empreendimento dessa envergadura? Na hipótese de que os recursos existam ou possam vir a ser levantados para uma empreitada dessas, por que não carreá-los para iniciativas que atendam melhor as necessidades da gloriosa agremiação e sirvam melhor o interesse futebolístico brasileiro?






segunda-feira, 1 de setembro de 2014


Bolsa, Seleção, Clubes

Cesar Vanucci*

“As “razões” da Bolsa são puro “non sense””.
(Domingos Justino, educador)


A tchurma responsável pelo jogo especulativo da Bolsa de Valores é composta de galhofeiros de marca. Vive gozando a cara da patuleia ignara, entre um ganho polpudo e outro mais polpudo em suas nebulosas operações. Operações - saliente-se de passagem - ininteligíveis à compreensão dos meros mortais. As “explicações” fornecidas sobre as “razões” das “quedas” e “altas” dos papeis, objeto de manipulações diuturnas, são prova cabal do que se está falando. Pego aqui, ao acaso, o registro da rodada de negócios de um dia qualquer. O “recuo” nas pontuações foi “provocado” por tensões da insolúvel encrenca ucraniana e por algumas frases extraídas do discurso de um cara qualquer do Banco Central dos Estados Unidos. Quem se desse ao trabalho de acompanhar os capítulos dessa “comédia” perpétua de embromações poderia perfeitamente defrontar-se com o anúncio de “outros fatores” como “justificativa” da “queda” do índice da Bolsa no mesmíssimo dia. Por exemplo: uma invasão urbana de bichos silvestres escorraçados por incêndio florestal na Nova Guiné, ou a demora num eventual acordo de não beligerância entre tribos de esquimós no Alasca. É de lascar. Mas é assim que funciona, pra gaudio da tchurma.
O “non sense” das coisas vividas na Bolsa foi mostrado de forma magistralmente bem humorada num filme antológico do inigualável Peter Sellers, intitulado “Muito além do jardim”, dirigido por Hal Ashby.

Convocação frustrante. A primeira convocação de Dunga foi pra lá de frustrante. Que historia mais desenxabida essa aí da inclusão na lista de jogadores comprometidos até a medula com o vexame do 7 a 1? Façam-me o favor. O argumento de que esses jogadores adicionam experiência ao grupo é por demais fajuto. Não convence o mais ingênuo e crédulo torcedor. A expectativa geral à volta do anúncio referente às recentes convocações centrava-se numa mudança ousada. Numa proposta remoçante. Esperava-se fossem chamados atletas exclusivamente ligados a torneios brasileiros. O desejo de quase todo mundo era de que a assim chamada “legião estrangeira” fosse devidamente escanteada. Se o critério dominante nas aspirações das torcidas tivesse prevalecido daria perfeitamente bem para que fosse testado um punhado de jogadores promissores. Atletas mais identificados com a realidade sócio-cultural-esportiva brasileira. Com foco nos times mineiros, poderiam ter sido lembrados, além de Everton Ribeiro, Diego Tardelli e Ricardo Goulart, os goleiros Vitor e Fábio, iniludivelmente os melhores na posição, e o zagueiro Dedé. (E isso aí sem cogitar da hipótese de que o treinador poderia também, por óbvios motivos, ter saído do futebol mineiro. É só por tento no que anda aprontando o Marcelo de Oliveira). Só não enxerga mesmo quem não quer. Com base unicamente em craques escolhidos nos campeonatos em curso no país, um treinador realmente capacitado, mente aberta, esmerando-se na preparação técnica e física dos elementos recrutados, encontra ao seu dispor recursos plenos para montar pelo menos dois escretes em condições mais favoráveis de representar-nos nas competições do que aquela seleção de araque constituída  de deslumbrados “garotos-propaganda de tevê”, comandados por técnicos ultrapassados, que protagonizou o maior fiasco de todos os tempos da crônica esportiva nacional.


Marca registrada da cartolagem. A Lei de Responsabilidade Fiscal, defendida pelo Bom Senso Futebol Clube e por um bocado de gente interessada na evolução dos métodos operacionais do futebol brasileiro, precisa sair logo das cogitações generosas para virar realidade. A colossal dívida contraída pelos clubes, em sua inaceitável sonegação fiscal, representa dado assaz revelador da urgência que a adoção da medida tanto reclama. Pelo noticiário esportivo de cada dia inteiramo-nos, incessantemente, que a estroinice é marca registrada da cartolagem na gestão dos negócios do futebol.




  Filme de pavor

Cesar Vanucci *

"Comparados com os filmes de agora, os filmes de  pavor de outrora provocam bocejos e tédio nos meninos do pré-escolar."
(Josefina Cantidio, professora )

Vasculhando as ladeiras da memória, deparo-me com as imagens de um filme visto quando tinha entre 9 e 10 anos de idade, no cine Royal, em Uberaba. Consegui driblar, naquele dia, a implacável vigilância do comissário de menores. Vetado para menores de 14 anos, o filme tinha por título "O Polvo". Animo-me a toma-lo como o primeiro momento de pavor de que tive real consciência.

A ação se passava numa ilhota perdida na imensidão oceânica. Havia um farol operado por duas pessoas. O bicho que dava título à fita era de tamanho descomunal. Ameaçava, tetricamente, com seus gigantescos tentáculos, os moradores da ilha. Fiquei um bom tempo assombrado com aquelas cenas arrepiantes. Imagino que, concebido artesanalmente, em branco e preto, utilizando parcos recursos cenográficos e efeitos especiais paupérrimos condizentes com a tecnologia da época, o celuloide não conseguiria arrancar hoje, de uma criança da mesma idade, nada além de um bocejo e olhar de enfado.

O mundo mudou e o cinema com ele mudou também. As crianças de agora são bombardeadas diuturnamente por diferentes versões de terror, brotadas menos da ficção e muito mais de uma realidade cruel, que permite sejam os horizontes infantis na convivência social incessantemente alargados. O pavor para elas, como para os adultos, deixou de ser esporádico. Não carece ser alimentado apenas pela fantasia literária. Adquiriu múltiplas facetas. Sofisticou-se, se é que assim se pode dizer. Passou a ocupar espaço permanente na aventura cotidiana. Povoa as ruas. É trazido bruscamente pra dentro dos lares. Banalizou-se, sem deixar, contudo, de produzir impactos nunca vistos em extensão e intensidade em qualquer outro período da história.

Das guerras de antigamente – como as de agora e as de sempre, abomináveis – ouvia-se falar coisas arrepiantes. Mas já os aspectos chocantes dos entreveros belicosos destes nossos dias, incomparáveis em ferocidade e destruição, costumam ser vistos quase que ao mesmo tempo e hora em que ocorrem. E isso por conta de sistemas tecnológicos avançadíssimos, direcionados a campos de batalha ao invés de serem destinados a espaços onde as pessoas de boa vontade se esforçam por construir o bem estar humano.

As cenas de tortura de prisioneiros no Iraque, na Síria, na Líbia, na Somália, no Afeganistão e noutras paragens conturbadas, as notícias sobre crueldades aplicadas pelos russos na Chechênia, por militares americanos aos reclusos em Guantánamo - alguns deles, como já ficou documentado, detidos por engano no Afeganistão -, os carros e os homens bombas que executam ensandecidas tarefas em tantos lugares, os massacres em Gaza, a guerra fraticida na Síria são sinais do pavor interminável dessa beligerância envolvendo países, etnias e crenças radicais que a insânia humana se esmera em espalhar.

Agreguem-se a elas as cenas dos corpos estraçalhados pelas ações terroristas, os edifícios destruídos com gente dentro nas rotineiras retaliações a terroristas e presumíveis colaboradores, as informações e imagens sobre sequestros, fome, pandemias que grassam em regiões miseráveis e alguns filmes modernos de pavor e ter-se-á configurado o quadro de horrores da hora presente. É um quadro composto de lances de tal perversidade que acaba fazendo de uma nova projeção de "O Polvo", aqui e agora, certeiramente, uma distração inocente, inofensiva, sem recomendação de censura para guris entre a fase da desamamentação e o pré-escolar. Tá danado.


A SAGA LANDELL MOURA

Uma mulher rodeada de palavras

                             *Cesar Vanucci “Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida” (verso da canção “M...