segunda-feira, 1 de setembro de 2014


Bolsa, Seleção, Clubes

Cesar Vanucci*

“As “razões” da Bolsa são puro “non sense””.
(Domingos Justino, educador)


A tchurma responsável pelo jogo especulativo da Bolsa de Valores é composta de galhofeiros de marca. Vive gozando a cara da patuleia ignara, entre um ganho polpudo e outro mais polpudo em suas nebulosas operações. Operações - saliente-se de passagem - ininteligíveis à compreensão dos meros mortais. As “explicações” fornecidas sobre as “razões” das “quedas” e “altas” dos papeis, objeto de manipulações diuturnas, são prova cabal do que se está falando. Pego aqui, ao acaso, o registro da rodada de negócios de um dia qualquer. O “recuo” nas pontuações foi “provocado” por tensões da insolúvel encrenca ucraniana e por algumas frases extraídas do discurso de um cara qualquer do Banco Central dos Estados Unidos. Quem se desse ao trabalho de acompanhar os capítulos dessa “comédia” perpétua de embromações poderia perfeitamente defrontar-se com o anúncio de “outros fatores” como “justificativa” da “queda” do índice da Bolsa no mesmíssimo dia. Por exemplo: uma invasão urbana de bichos silvestres escorraçados por incêndio florestal na Nova Guiné, ou a demora num eventual acordo de não beligerância entre tribos de esquimós no Alasca. É de lascar. Mas é assim que funciona, pra gaudio da tchurma.
O “non sense” das coisas vividas na Bolsa foi mostrado de forma magistralmente bem humorada num filme antológico do inigualável Peter Sellers, intitulado “Muito além do jardim”, dirigido por Hal Ashby.

Convocação frustrante. A primeira convocação de Dunga foi pra lá de frustrante. Que historia mais desenxabida essa aí da inclusão na lista de jogadores comprometidos até a medula com o vexame do 7 a 1? Façam-me o favor. O argumento de que esses jogadores adicionam experiência ao grupo é por demais fajuto. Não convence o mais ingênuo e crédulo torcedor. A expectativa geral à volta do anúncio referente às recentes convocações centrava-se numa mudança ousada. Numa proposta remoçante. Esperava-se fossem chamados atletas exclusivamente ligados a torneios brasileiros. O desejo de quase todo mundo era de que a assim chamada “legião estrangeira” fosse devidamente escanteada. Se o critério dominante nas aspirações das torcidas tivesse prevalecido daria perfeitamente bem para que fosse testado um punhado de jogadores promissores. Atletas mais identificados com a realidade sócio-cultural-esportiva brasileira. Com foco nos times mineiros, poderiam ter sido lembrados, além de Everton Ribeiro, Diego Tardelli e Ricardo Goulart, os goleiros Vitor e Fábio, iniludivelmente os melhores na posição, e o zagueiro Dedé. (E isso aí sem cogitar da hipótese de que o treinador poderia também, por óbvios motivos, ter saído do futebol mineiro. É só por tento no que anda aprontando o Marcelo de Oliveira). Só não enxerga mesmo quem não quer. Com base unicamente em craques escolhidos nos campeonatos em curso no país, um treinador realmente capacitado, mente aberta, esmerando-se na preparação técnica e física dos elementos recrutados, encontra ao seu dispor recursos plenos para montar pelo menos dois escretes em condições mais favoráveis de representar-nos nas competições do que aquela seleção de araque constituída  de deslumbrados “garotos-propaganda de tevê”, comandados por técnicos ultrapassados, que protagonizou o maior fiasco de todos os tempos da crônica esportiva nacional.


Marca registrada da cartolagem. A Lei de Responsabilidade Fiscal, defendida pelo Bom Senso Futebol Clube e por um bocado de gente interessada na evolução dos métodos operacionais do futebol brasileiro, precisa sair logo das cogitações generosas para virar realidade. A colossal dívida contraída pelos clubes, em sua inaceitável sonegação fiscal, representa dado assaz revelador da urgência que a adoção da medida tanto reclama. Pelo noticiário esportivo de cada dia inteiramo-nos, incessantemente, que a estroinice é marca registrada da cartolagem na gestão dos negócios do futebol.




  Filme de pavor

Cesar Vanucci *

"Comparados com os filmes de agora, os filmes de  pavor de outrora provocam bocejos e tédio nos meninos do pré-escolar."
(Josefina Cantidio, professora )

Vasculhando as ladeiras da memória, deparo-me com as imagens de um filme visto quando tinha entre 9 e 10 anos de idade, no cine Royal, em Uberaba. Consegui driblar, naquele dia, a implacável vigilância do comissário de menores. Vetado para menores de 14 anos, o filme tinha por título "O Polvo". Animo-me a toma-lo como o primeiro momento de pavor de que tive real consciência.

A ação se passava numa ilhota perdida na imensidão oceânica. Havia um farol operado por duas pessoas. O bicho que dava título à fita era de tamanho descomunal. Ameaçava, tetricamente, com seus gigantescos tentáculos, os moradores da ilha. Fiquei um bom tempo assombrado com aquelas cenas arrepiantes. Imagino que, concebido artesanalmente, em branco e preto, utilizando parcos recursos cenográficos e efeitos especiais paupérrimos condizentes com a tecnologia da época, o celuloide não conseguiria arrancar hoje, de uma criança da mesma idade, nada além de um bocejo e olhar de enfado.

O mundo mudou e o cinema com ele mudou também. As crianças de agora são bombardeadas diuturnamente por diferentes versões de terror, brotadas menos da ficção e muito mais de uma realidade cruel, que permite sejam os horizontes infantis na convivência social incessantemente alargados. O pavor para elas, como para os adultos, deixou de ser esporádico. Não carece ser alimentado apenas pela fantasia literária. Adquiriu múltiplas facetas. Sofisticou-se, se é que assim se pode dizer. Passou a ocupar espaço permanente na aventura cotidiana. Povoa as ruas. É trazido bruscamente pra dentro dos lares. Banalizou-se, sem deixar, contudo, de produzir impactos nunca vistos em extensão e intensidade em qualquer outro período da história.

Das guerras de antigamente – como as de agora e as de sempre, abomináveis – ouvia-se falar coisas arrepiantes. Mas já os aspectos chocantes dos entreveros belicosos destes nossos dias, incomparáveis em ferocidade e destruição, costumam ser vistos quase que ao mesmo tempo e hora em que ocorrem. E isso por conta de sistemas tecnológicos avançadíssimos, direcionados a campos de batalha ao invés de serem destinados a espaços onde as pessoas de boa vontade se esforçam por construir o bem estar humano.

As cenas de tortura de prisioneiros no Iraque, na Síria, na Líbia, na Somália, no Afeganistão e noutras paragens conturbadas, as notícias sobre crueldades aplicadas pelos russos na Chechênia, por militares americanos aos reclusos em Guantánamo - alguns deles, como já ficou documentado, detidos por engano no Afeganistão -, os carros e os homens bombas que executam ensandecidas tarefas em tantos lugares, os massacres em Gaza, a guerra fraticida na Síria são sinais do pavor interminável dessa beligerância envolvendo países, etnias e crenças radicais que a insânia humana se esmera em espalhar.

Agreguem-se a elas as cenas dos corpos estraçalhados pelas ações terroristas, os edifícios destruídos com gente dentro nas rotineiras retaliações a terroristas e presumíveis colaboradores, as informações e imagens sobre sequestros, fome, pandemias que grassam em regiões miseráveis e alguns filmes modernos de pavor e ter-se-á configurado o quadro de horrores da hora presente. É um quadro composto de lances de tal perversidade que acaba fazendo de uma nova projeção de "O Polvo", aqui e agora, certeiramente, uma distração inocente, inofensiva, sem recomendação de censura para guris entre a fase da desamamentação e o pré-escolar. Tá danado.


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