sábado, 13 de setembro de 2014

Horror demais



Cesar Vanucci *

“Dizei-me vós, Senhor Deus, se é mentira ou verdade tanto horror perante os céus.”
(Extraído de um poema de Castro Alves)

A sandice humana não para de adicionar às aflições cotidianas da coletividade informações contundentes e cruéis. O noticiário nosso de cada dia é um difusor eficientíssimo da banalização da violência. Dá pra perceber que, neste mundo de Deus onde o diabo costuma fincar enclaves, os extraordinários avanços tecnológicos euforicamente celebrados de nada têm servido para conter os atos de barbárie praticados em circunstâncias as mais impensáveis. Existe algo sempre aterrorizante a nos espreitar. E os limites da ferocidade são continuamente ultrapassados.

Nos últimos dias, deparamo-nos com três cenas de difícil comparação consideradas outras situações indesejáveis já vividas, pelas características inusitadamente brutais de que se revestiram. Assistimos, primeiramente, na tevê aquelas brutais imagens de uma rebelião de presidiários em Cascavel, Paraná, onde aparecem os amotinados degolando desafetos entre desditosos companheiros de reclusão.

Logo em seguida, vimo-nos colocados diante daquele tétrico vídeo distribuído por extremistas do tal califado islamita que se apoderou de porções territoriais da Síria e Iraque. Nele, criminoso encapuzado, pertencente a grupo que a própria Al Qaeda considera, pra estupefação geral, exageradamente radical, exibindo ameaçadora adaga, decreta o veredicto de morte por decapitação de um jornalista tomado como refém. E anuncia que as “represálias” selvagens não vão parar por aí.

Pouco depois, nos confins da África esquecida dos homens e, ao que parece, também de Deus, na Libéria, epicentro da epidemia de ebola, acompanhamos, perplexos, caçada impiedosa a uma “fera” acuada numa feira de alimentos. A presa, Deus do céu, era um ser humano com o desespero claramente estampado na face. Um fugitivo do campo de concentração em que vêm sendo confinados, sem qualquer espécie de ajuda humanitária, pra morte certa, indefesas vítimas da pertinaz doença. O infeliz, com um pedaço de madeira na mão, utilizado para defender-se, procurava, angustiado, de tenda em tenda, alimentos para sobreviver. Ao redor uma multidão ululante, tomada pelo pânico, esperava ansiosa pela providencial chegada da equipe incumbida de laçá-lo e devolvê-lo ao local de seu degredo. Junto com o turbilhão de emoções levantado pelo incidente, perguntas inevitáveis afloraram, com toda certeza, na mente dos milhões de espectadores que, traumatizados, testemunharam o desenrolar dos fatos.


Por qual razão a comunidade das nações não desvia, imediatamente, para aqueles confundós da África acossada pelo ebola, parte mínima dos enormes contingentes humanos e dos fabulosos recursos concentrados em esforços bélicos, espalhados por tantos cantos, para enfrentar o drama dessa avassaladora epidemia? Se já sabida a existência de vacina capaz de debelar o mal pela raiz, vacina essa aplicada com êxito em pacientes levados de volta das regiões afetadas para seus pagos natais, por que cargas d’água, então, santo Deus, em nome da solidariedade humana e dos valores éticos e morais, não se cogitar, com a urgência exigida, da pronta produção e remessa ágil dos quantitativos necessários do medicamento aos países atingidos pela impiedosa enfermidade? E como uma tragédia acaba sempre puxando a lembrança de outras tragédias, por qual motivo os clamores do secular sofrimento africano não são nunca acolhidos com presteza e boa vontade pela comunidade internacional?


Tópicos do momento eleitoral

“As insinuações publicadas de forma genérica e sem apresentar evidências (...)
não podem ser tomadas como denúncia formal nem fundamentada”.
(Deputado Henrique Eduardo Alves, presidente da Câmara)

Seguinte: réu confesso em caso de corrupção sob investigação judicial resolve, de repente, na véspera eleitoral, utilizar o controvertido instrumento da “delação premiada”. Aciona o gatilho de sua metralhadora giratória, passando a alvejar personagens influentes - Ministro de Estado, Governadores, parlamentares, empreiteiros -, com ênfase para elementos ligados às duas candidaturas presidenciais mais bem posicionadas nas pesquisas. Parte da grande mídia ocupa-se do episódio de forma estardalhante. Mas não se dá ao trabalho de fornecer, como seria de se esperar, maiores detalhes dos acontecimentos. Deixa de arrolar documentos probatórios, de revelar as fontes de informação e de indicar os valores das alegadas propinas que teriam sido destinadas às dezenas de pessoas da lista de nomes apontadas nas manchetes. O noticiário diz que o depoimento do réu foi tomado em segredo de justiça, devidamente criptografado e guardado a sete chaves. Em momento algum, contudo, é esclarecido como, apesar de tantas cautelas, ocorreu o vazamento da relação de nomes clandestinamente entregue, para maciça divulgação, aos órgãos de comunicação social. Registra-se, ao mesmo tempo, estapafúrdia declaração, atribuída ao réu delator. As “denuncias” seriam de maneira – ora, veja, pois! – a impedir a realização das eleições. Isto tudo posto, o que o bom senso e a prudência recomendam ao cidadão comum, naturalmente ávido por ações de combate eficaz à corrupção e, também, à demagogia, levadas em conta as circunstâncias assinaladas, é que se esforce por manter devidamente sintonizados, no acompanhamento atento dos fatos, os aparelhos de percepção pessoal. Sem deixar de ligar bem ligado, por via das dúvidas, o “desconfiômetro”.

A candidata Marina. Marina Silva tem carisma. Obstinada, irradia simpatia. Lembra, de certo modo, em não poucos momentos, Lula no apogeu da popularidade. Tal associação de imagens serve para consolidar e até mesmo expandir seu poder de sedução eleitoral. Mas, de outra parte, noutros instantes, Marina lembra também um pouco Jânio Quadros, com aquela sua célebre retórica oca e dilacerantes contradições que marcaram efêmera e improdutiva passagem pelo governo. Recorda, um pouco também, Fernando Collor, em sua farsesca postura de “bom mocismo” naquela fase governamental em que a Nação se traumatizou com uma penca de projetos e propostas de araque, pretensamente vanguardeiros em matéria de gestão publica. Seja como for, uma coisa parece certa: a candidata do PSB e da Rede está firme no páreo presidencial.

 “Manchetômetro”. Marcos Coimbra, dirigente da “Vox Poppuli”, oferece dica intrigante em sua coluna na “CartaCapital”. Reporta-se a uma ferramenta indicativa do papel da mídia na campanha eleitoral. O Instituto de Estudos Sociais da Universidade do Rio de Janeiro botou no ar algo apelidado de “manchetômetro”. Um site que acompanha a cobertura da eleição procedida pela chamada “grande mídia”, assim compreendidos jornais de grande circulação no Rio e em São Paulo e o “Jornal Nacional” na televisão. Os dados divulgados são bastante curiosos. Do inicio do ano até meados de agosto, 275 “reportagens de capa” foram dedicadas aos principais candidatos à presidência. Delas, 210 alusivas a Dilma, 15 “favoráveis” e 195 “desfavoráveis”, ou seja, 93 por cento de abordagens negativas. Para os demais candidatos sobraram 65 textos (38 para Aécio e 27 para Campos). No caso do candidato tucano, os textos com foco positivo e foco negativo foram pau a pau. No caso do ex-governador pernambucano, prematuramente afastado da disputa, não houve menção a percentuais “pro” e “contra”.

Tópicos do momento eleitoral (II)

“Votar em Adelmo é votar na decência e no fim da corrupção”.
(Frei Beto)

“Fosse eu eleitor em Minas, votaria de novo em Adelmo Leão para deputado federal. Ele é ético, combativo, comprometido com os direitos dos mais pobres. Votar em Adelmo é votar na decência e no fim da corrupção na política.” Sabem de quem a autoria da frase? De ninguém mais, ninguém menos do que Frei Betto, titular do primeiro time na cena cultural brasileira, nome que dispensa qualquer tipo de apresentação. Comungando da opinião do grande pensador, passo ainda aos distintos leitores a informação que Adelmo Leão, médico, decano do Parlamento Mineiro (seis legislaturas consecutivas) é candidato a deputado federal nas próximas eleições. Vale a pena conhecer seu cintilante currículo.

As oscilações da Bolsa. A esmagadora maioria das pessoas – poupadores das camadas populares – recusa-se a fazer aplicações no mercado de ações pelo fato, primeiramente, de intuir que o jogo de manipulação promovido pelos megaespeculadores é bastante pesado. E, “segundamente”, por considerar despropositadas, simplesmente ridículas, as alegações amiúde registradas pelos “especialistas” quando se referem às causas das oscilações nos valores dos papéis. Como poderá alguém, provido de razoável discernimento e bom senso, levar a sério a babaquice extremada de pretensos analistas de negócios, como, por exemplo, ficou evidenciado nas explicações dadas sobre recuo no pregão ocorrido no dia 5 de setembro passado?
Um cara, com panca de porta – voz do esquema, deitou falação sobre o acontecido, proclamando com embriagante convicção que “os investidores se frustraram com a divulgação de pesquisas eleitorais indicativas da recuperação” de uma das candidatas à Presidência. E que, face a isso, “os resultados dos levantamentos abriram brecha para que o mercado vendesse ações e embolsasse os lucros acumulados nas últimas semanas.” Onde já se viu? Fica difícil desgarrar esses “especialistas” em operações bursáteis da imagem de galhofeiros deslumbrados. Gente que se diverte à pamparra com as explicações fajutas que inventam para a patuleia ignara. Patuleia essa, por sinal, que da Bolsa, prevenidamente, por essas e por outras, gosta de manter sempre considerável distanciamento.

A entrevista. Com Marina Silva aconteceu o mesmo. Os entrevistadores do “Jornal Nacional”, como já ocorrera com os outros presidenciáveis, comportaram-se (em entrevista com duração de 15 minutos) como se fossem agentes policiais inquirindo suspeito de atos ilícitos. Um desrespeito ao entrevistado e aos telespectadores!  Fica claro que, numa entrevista, o autor da pergunta desfrute, no exercício profissional, de todo direito de pedir explicações sobre questões de interesse público, mesmo que o assunto focado possa, eventualmente, desagradar o entrevistado.
 Mas nada justifica perguntas formuladas em tom inquisitorial carregado de suspeição, passando a impressão de que os entrevistados, nos casos específicos comentados, pretendentes ao mais elevado cargo da Nação, estejam ali, supostamente, como réus. Concluindo: as quatro entrevistas, feitas dentro de tão despropositados moldes, nada contribuíram para que o público ficasse inteirado, um tiquinho que seja, das plataformas de governo de cada candidato.

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