sexta-feira, 25 de outubro de 2019



Os poetas são imprescindíveis

Cesar Vanucci

“Olhar as estrelas e dar rumo ao navio!”
(JG de Araujo Jorge, definindo a missão do poeta na “navegação” pela vida terrena)


O livro de poemas “O Círculo dos Bastidores”, de Jorge Alberto Nabut, foi lançado em Belo Horizonte em noite de autógrafos acontecida na Academia Mineira de Letras. O ato foi prestigiado por figuras de realce na vida cultural. Ângelo Oswaldo de Araujo Santos, ex-Secretario da Cultura em Minas, enalteceu em nome da AML, a produção poética de Nabut, em aplaudido pronunciamento. O professor Eduardo Veras discorreu brilhantemente sobre o livro e outras publicações do autor. A este escriba tocou também a tarefa de comentar o trabalho intelectual de Nabut. O pronunciamento feito na ocasião é reproduzido abaixo.

“Sumamente honrado com o convite do estimado amigo Rogério Faria Tavares, presidente da Academia Mineira de Letras, para dirigir saudação ao poeta Jorge Nabut, prometo não ocupar nem dez minutos do tempo de cinco minutos estipulado para a fala.

A poesia é necessária. E os poetas são imprescindíveis. Dias atrás, o telefone da mesa de trabalho soou. Movimentando-me para atender, disse em voz alta: - Ligação de Uberaba!
Alguém na sala estranhou: - Como é que você sabe disso?
Respondi de pronto: - O tilintar do telefone é sempre festivo quando a chamada procede de Uberaba, cidade natal, modéstia à parte, do Nabut e minha.
Do outro lado da linha, o poeta Jorge Nabut perguntou-me se compareceria à cerimônia de hoje. Garanti presença, acrescentando que a ausência em certos eventos só encontra mesmo justificativa quando a gente manda, no lugar, um indesejado atestado pessoal de internação hospitalar inesperada.

A poesia é necessária. E os poetas são imprescindíveis. Byron comparou a Inglaterra a um navio. Castro Alves complementou: “Um navio que na Mancha ancorou”. JG de Araujo Jorge conferiu abrangência à imagem, explicando que o mundo em que vivemos, este sim, é que pode ser mostrado como um imenso navio a singrar pela imensidão azul sideral. Na embarcação, as lideranças comprometidas com a inteligência e a cultura têm tarefas nobres a desempenhar. E qual fica sendo, então, a missão do poeta nessa história? Resposta do poeta JG: - “Olhar as estrelas e dar rumo ao navio!”

A poesia é necessária. E os poetas são imprescindíveis. Os poetas são intérpretes das coisas da vida providos de faculdades paranormais. Concorrem para descobertas constantes de ocultas belezas. Ajudam na decifração dos arcanos alojados nos planos transcendentes da aventura humana. “O olhar do poeta, girando em delírio, / vai do céu para a terra, da terra para céu (...)” Lembra Shakespeare.

Também propagador da esperança, o poeta consegue flagrar, em ações triviais, soberbo instante lírico. “Tu pisavas nos astros distraída...” O verso de Orestes Barbosa, em “Chão de Estrelas”, canção composta em parceria com Silvio Caldas, foi escolhido por Manuel Bandeira, certa feita, como o mais lindo da poética nacional.

A poesia é necessária. E os poetas são imprescindíveis. Os poetas refazem narrativas históricas. Vergastam imposturas mundanas. Colocam a sabedoria nata, o talento, a sensibilidade social, a serviço da construção humana. Enfrentam galhardamente a onda asfixiante de posturas rançosas nascidas da intolerância e do obscurantismo, tão notórios em tempos de agora. Os escritos de Castro Alves, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Adélia Prado, Vinicius de Moraes, Carlos Drumond de Andrade, Cora Coralina, Thiago Mello, entre muitos outros, documentam profusamente essa esplêndida profissão de fé na poesia.

A poesia é necessária. E os poetas são imprescindíveis. O excelente poeta Jorge Alberto Nabut, companheiro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, encontra-se aqui entre nós, a revelar-nos seus dons de esteta da palavra, ofertando-nos sua inteligente interpretação do sentido da vida. Traz, para geral embevecimento, sua mais recente criação literária. “O Círculo dos Bastidores” é considerado em avaliação de Eduardo Veras uma preciosa autobiografia literária-experimental.

Ele comparece a este sodalício, guardião sereno de saberes acumulados, para enfaticamente proclamar suas crenças no instrumento poético como forma de exaltação da cultura – tão alvejada por aí afora -, dos valores humanísticos e espirituais que recobrem de dignidade a caminhada terrena.

Com vocação vanguardeira, chama nossa atenção para o modo peculiar que escolheu para expressar seu sentimento do mundo. Proporciona-nos a todos, com as rajadas líricas disparadas nos versos, a certeira convicção de que a poesia é mesmo necessária e os poetas são realmente imprescindíveis no processo fecundo e alentador, posto que extenuante, dos avanços civilizatórios. Aplausos fartos para o Nabut. O poeta merece.”


Relembrando insólito convite


Cesar Vanucci 

A primeira coisa que um cidadão precisa ter é civismo...”
(Unamuno)

A neobobice vernacular disseminada na praça, em razão do descerimonioso emprego de vocábulos estrangeiros em papos triviais e na comunicação social escrita e falada, muitos deles (vocábulos) proferidos em inglês de araque – alguns até diriam, num inglês “morolês” – inspiram este escriba velho de guerra a reeditar texto sobre um convite insólito, recebido muitos anos atrás, quando fazia parte do quadro diretivo da nossa Rede Minas de Televisão. A relembrança permite dizer que as bestagens de hoje, ou seja, desse mórbido alumbramento cultivado por inúmeros setores da vida brasileira com relação a coisas e personagens doutras plagas, revelador de irreparável pauperismo cívico, é mesmo de datação antiga.

Contando assim, parece até história inventada. Não é. “Antes sesse”, como diria, em sua saborosa maneira de expressar, algum matuto dos chapadões sem fim lá das bandas do Triângulo. Uma agressão, outra a mais, à cultura brasileira estaria deixando de ser praticada. Mas o fato real, verdadeiro e contundente, é que recebi, tempos atrás, convite para participar, como jornalista, de evento, no Rio de Janeiro, no Riocentro, todo ele, o convite, da primeira à última linha, face e verso, impresso em inglês. Achei, num primeiro momento, que estava a cometer algum erro de percepção. Não estava. Li e reli o convite um bocado de vezes. Vasculhei o interior do envelope à cata de outro impresso qualquer, apegando-me ansioso à hipótese de que nele pudesse vir registrada, em idioma falado em meu país, uma explicação razoável para o inusitado prosseguimento.

Nada encontrei. Não havia motivo pra dúvida. O convite endereçado ao cidadão brasileiro, profissional de comunicação no Brasil, para debater as atividades do setor aqui neste país, envolvendo a participação, seguramente em maioria, de colegas também brasileiros, a ser realizado num centro de convenções brasileiro, em cidade brasileira, o convite, repito, estava formulado em língua estrangeira. Algo de um surrealismo único. O cúmulo dos absurdos. Um sinal alarmante a mais da onda abobalhada de estrangeirices que nos assola. Uma onda hiper ativada na panaquice, na indigência cívica e intelectual. Encurtando razões: em frescurice a mais ampla, geral e irrestrita.

Um outro dado  constrangedor nessa historinha do insólito convite  é que  organizações brasileiras respeitáveis estavam a assiná-lo. E, de forma clamorosa, mantiveram-se indiferentes aos impropérios perpetrados contra o idioma e a cultura. Já disse, repeti e torno a repetir que o emprego de vocábulos estrangeiros, na palavra falada e escrita, para classificar coisas óbvias do cotidiano, rescende a babaquice. Desqualifica intelectualmente os deslumbrados da silva que, junto com pessoas desavisadas, fazem coro com o “inimigo”, interessado em corroer, por dentro e por fora, as instituições e os valores mais sagrados da autêntica cultura brasileira. Não há como não desconfiar faça isso parte de um trabalho articulado, manhoso, sorrateiro, com o qual se busca inocular no espírito popular a idéia perversa e falsa de que somos, os brasileiros, cidadãos de segunda classe. Criaturas sem capacitação para gerir o próprio destino. No fundo mesmo aquela conversa cretina, vigorosamente rebatida em rotineiros exemplos na atuação comunitária, de um país que teria sido agraciado pelo Todo Poderoso com dádivas naturais sem igual, mas que seria povoado por uma gente nem tanto...

sexta-feira, 18 de outubro de 2019


Sula e a magia do circo

Cesar Vanucci

Todas as linguagens artísticas têm uma
esquina que cruza com a arte circense.”
(José de Oliveira Junior)

Sabe você? Sabe essas pessoas de coração fervoroso, de bem com a vida, com coragem suficiente para apostar todas as fichas à mão num propósito nobre, que lhes exige esbanjamento de tempo e energia, seguras de que as decisões tomadas representam contribuição ao processo da construção humana? Sabe esses personagens sortidos de vibração interior, que consideram as utopias alojadas na mente parte indissociável da caminhada pessoal a percorrer? E que raciocinam que nem o poeta Mário Quintana quando, liricamente, garante que “se as coisas são inatingíveis, ora, não é motivo para não querê-las, já que tristes os caminhos se não fora a presença distante das estrelas”?

Sabe essa gente de ardor contaminante, que trabalha com benfazeja obsessão, uma ideia, um projeto, um ideal, evidenciando serenidade de espírito e firmeza de convicção? Sabe você, sabe? A Sula Kuriacos Mavrudis é alguém assim. Pesquisadora, autora e diretora teatral, desfrutando desde muito cedo – como faz questão de assinalar – o privilégio de conviver com o mundo do circo, ela conseguiu compor, ao longo dos anos, a respeito do tema, um colossal acervo de documentos e depoimentos. Ganhou o direito de ser reconhecida, nos círculos da lida circense, onde sua inteligência e capacidade de articulação é objeto de apreço e admiração, como cronista maior da fascinante atividade.

O pai de Sula, trabalhador no setor da construção de hidrelétricas, no curso das décadas de 60 e 70, deslocou-se com a família por vários rincões do país. Morou em acampamentos especiais implantados nas proximidades das obras. Nesses espaços, artistas circenses eram continuamente chamados a montar suas lonas, proporcionando entretenimento e lazer às comunidades de operários isoladas em territórios distantes dos centros urbanos. Frequentadora assídua dos espetáculos, Sula tomou-se de encantamento por essa modalidade de manifestação cultural enraizada na alma popular. Dedicou-se à coleta de informações, recolheu depoimentos, enredou-se emocionalmente com o contexto circense. Inteirou-se a fundo das peculiaridades, dos problemas e aspirações do pessoal do ramo.

Tudo isso influenciou seus rumos profissionais. Conduziu-a a participação ativa em políticas culturais e assistenciais em favor da causa. Estabelecendo-se em Belo Horizonte em meados dos anos 80, passou a ser enxergada, num dado instante, como uma espécie de guardiã de saberes acumulados no tocante a esse multicolorido complexo artístico de genuíno sabor popular. Transformou-se, também, em porta-voz de postulações do setor, inserindo-se em empreitadas e promoções voltados à preservação da memória do circo e sua revitalização.

Chega agora a explicação acerca da circunstância de os holofotes desta narrativa estarem focados em Sula Kuriacos Mavrudis, apelidada carinhosamente de “Grega”. Fique sabendo, então, o “respeitável público” que essa valorosa “parceira do circo”, como se autodenomina, presidente da “Rede de Apoio ao Circo”, que aglutina uma centena de circos e famílias de artistas de circo, é autora de uma publicação intitulada (em trocadilho sugestivo, bolado pelo Olavo Romano) “Encircopedia – Dicionário Crítico Ilustrado do Circo no Brasil”. Enfeixando histórias, verbetes e fotos, em 500 páginas, linda e sugestivamente ilustradas, a publicação, lançada com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura, no governo passado, dota a cultura nacional de um compêndio enciclopédico magnífico. Único, ao que parece, no gênero.

Não se detém aí a ação criativa de Sula. Confiante de que o projeto venha a se tornar, em breve, radiosa realidade, ela concebeu a implantação em BH, numa área já devidamente demarcada, onde funcionou, bocado de tempo atrás, a estação de trens da Gameleira, a “Cidade do Circo”, destinada a abrigar as artes circenses em suas diversas manifestações. Ela acolherá circos itinerantes, escola de circo, circos sociais, companhias familiares circenses, trupes de palhaços, cursos de capacitação, qualificação e aperfeiçoamento profissional, biblioteca especializada. Um termo de cooperação técnica, firmado entre a Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte e a Rede de Apoio ao Circo, constitui o ponto de partida dessa viagem
da inteligência e sensibilidade artística pelos trilhos dos sonhos da comunidade circense.

Não há como não nos rejubilarmos com essas iniciativas. Afinal de contas, fazemos, todos nós, parte do “respeitável público” que, nalguma ocasião de nossas vidas, sentados em toscas arquibancadas de madeira, sob as lonas esverdeadas de teatros improvisados em terrenos baldios, nos deixamos arrebatar pela magia e emoções do circo. Pelas proezas e peripécias produzidas por palhaços, equilibristas, contorcionistas, malabaristas, trapezistas, ilusionistas, amestradores de animais, bailarinos, motociclistas arrojados com seus “globos da morte”. A memória das ruas conserva essas cenas, de forma indelével, envoltas em carinho e saudade.
  



Tópicos da atualidade

Cesar Vanucci

“Democracia implica redistribuição da renda,
criação de empregos e bem-estar social crescente.”
(Ulysses Guimarães, sempre atual)

A Ministra da Agricultura, com a firme convicção dos que se crêem donos de “verdades” que não cabem ser questionadas, disse num simpósio internacional não existirem no Brasil condições propícias para o cultivo de produtos orgânicos. Conhecidos nossos, com atuação no setor da agricultura familiar, levantam, a propósito da douta opinião, a hipótese de que as estepes siberianas e o Alasca talvez sejam locais mais apropriados para essa modalidade de prática agrícola...

Com arrogante e frenética disposição, bem ao seu estilo, roçando as raias da paranoia, Donald Trump dá andamento à colossal construção de um muro na extensa divisa com o México, país considerado aliado incondicional dos Estados Unidos (imagine só se não fosse!). Explica, exultante, que a cerca comportará sofisticado sistema eletrônico, dispositivos para disparos de choques elétricos, arame farpado, vigilância permanente com cães ferozes e militares instruídos a atirarem nas pernas de indesejáveis imigrantes. Um repeteco chocante do “muro da vergonha”, implantado por ditadura comunista que dividiu a Alemanha por quase três décadas, até 1989. Muro que entrou nos anais da história como referência abominada pela consciência democrática mundial.

A inusitada e descabida exigência de apresentação de CPF em compras de produtos e serviços clama por urgente intervenção das autoridades competentes. Coletadas ao acaso, aqui vão amostras de situações desconcertantes vividas pelos fregueses. CPF para compra de barras de cereais em farmácia. CPF para poder ingressar num parque público em busca de momentos de lazer. CPF para aquisição de talão de estacionamento rotativo, mesmo que por período de apenas uma hora ao preço de quatro reais e quarenta centavos. Essa “invenção de moda” – como era de costume dizer-se em tempos de antigamente – alveja o bom-senso e produz desdobramentos indesejáveis, como é lícito imaginar.

Os de boa memória, retornando a fatos sucedidos na vida administrativa mineira anos atrás, hão de se lembrar dos categóricos argumentos levantados em favor da tese de que o Estado deveria abrir mão do controle de sua pujante rede de organizações bancárias em favor de instituições privadas. O dinheiro apurado nas operações, etecetera e tal, coisa e loisa, constituiria decisivo suporte para o tão almejado equilíbrio das contas públicas. Perguntar não ofende, tá bem? Será que isso ficaria mesmo demonstrado numa eventual reavaliação do processo de privatização transcorrido, em que fosse utilizado trabalho de auditoria que escarafunchasse devidamente a questão? Oportuno manter esse lance no foco das atenções à hora em que defensores da privatização de ativos públicos a qualquer preço, ostentando a mesma linha de raciocínio, saem a público dizendo que a privatização da Cemig representa a “salvação da lavoura” para as combalidas finanças das Gerais.

Num instante assinalado pela escassez de lideranças e ideias, muitos da geração deste desajeitado escriba evocam, saudosisticamente, personagens que deixaram impressas, na caminhada da construção nacional, pegadas cintilantes. Ulysses Guimarães, pela atuação no capítulo da redemocratização, foi um desses. Faz sentido, pelo sabor de atualidade de que ainda se revestem, reproduzir, aqui, apreciáveis conceitos por ele expendidos. Vamos lá: “Democracia é estado de direito, liberdade de pensamento e de organização popular, respeito a autonomia dos movimentos sociais. Repousa na existência de partidos políticos sólidos. Democracia significa voto direto e livre, significa restauração da dignidade e das prerrogativas do Congresso e do Poder Judiciário, significa liberdade e autonomia sindical, significa liberdade de informação e acesso democrático aos meios de comunicação de massa. Democracia implica democratização das estruturas do Estado, implica resgatar a soberania nacional, implica redistribuição da renda, criação de empregos, e bem-estar social crescente.”




Klinger Sobreira de Almeida *



IRA →Trilha do Caos



“Deixa a ira, e abandona o furor, não te indignes para fazer o mal.” Sl 37:8

No quadro da geografia psíquica do Ser, as emoções constituem o balizador das atitudes nos relacionamentos e diante de todas às circunstâncias ao longo da travessia.

Em linguagem metafórica, diríamos que as emoções, no amplo espectro dos sentimentos, são “bússolas” que podem indicar rumos certos ou caminhos equivocados.  Quem maneja a bússola e regula o azimute, buscando a rota desejada? O portador! Este definirá rumo e operacionalizará o instrumento. Se algo der errado, a rota se perde.

As emoções existem para a dinâmica dos sentimentos. Regula-os em conformidade aos caminhos desejados pelo homem. Este é o senhor, o dono. Todos têm consciência dessa supremacia? Não! Muitos, ao invés de senhores, são dominados – autênticos escravos das emoções. Preferem, noimpériodo livre-arbítrio, ceder.Autômatos, curvam-se ao turbilhão interior.

A Ira, nos primórdios da Igreja Católica, entrou na composição dos sete pecados capitais: Orgulho, Inveja, Avareza, Luxúria, Gula, Preguiça e...  Ira. Ou seja, segundo os teólogos, vícios matriciais que os cristãos deviam combater para evitar a perda da vida.

A Ira, sentimento inato (não há como extingui-lo!), quando emerge em voragem emocional, sem controle, pode causar grandes estragos, pois seus derivados têm o poder do ataque repentino, ou a permanência para engendrar o mal: mágoa, raiva, ódio, ressentimento, fúria, cólera, vingança... São variantes que desembocam, de imediato ou na preparação temporal e oportuna, em atos de ofensas morais ou físicas, perseguições, traições, injúrias, calúnias, difamações e até assassinatos.

Via de regra, e isto é inexorável, a Ira descontrolada, que pode atingir o “outro”, retorna em efeito boomerang. Os Irados sofrem o abandono dos bons; costumam cair em sérias dificuldades ou mesmo na miséria material e/ou moral; não raras vezes, a violência também os encontra; morrem cedo ou acabam na prisão...

Não havendo como extinguir o sentimento de Ira, cabe ao indivíduo manifestá-lo, sob controle, quando conveniente, em situações que exigem coragem, indignação... Por exemplo: a corrupção que se alastrou nas camadas dirigentes (políticos, empresários etc), exige a indignação do cidadão de bem; escrever, difundir protestos, participar de movimentos legais que exijam perda de mandato, modificação das leis casuístas...

Como controlar a Ira? Como utilizá-la tão somente para situações construtivas? Primeiro, ter consciência de que é um frágil diante desse sentimento. Segundo, entender seu efeito destrutivo. Terceiro, saber de seu retorno nocivo e querer elevar-se.

Nesse tríplice entendimento, o Indivíduo Irado (alguns se gabam de “não levar desaforos”, “ser estopim curto”, “impiedoso na vingança” etc), deverá buscar os ambientes de calma, o convívio com a natureza; habituar-se a leituras amenas e instrutivas; dedicar um tempo a ouvir músicas suaves; evitar a agitação das rodas do álcool e outras drogas; selecionar um círculo de amizades que agregam no bem.

Em suma, vamos manejar a “bússola das emoções” para direcionar a travessia humana no rumo certo. Domar a IRA! Evitar a “Trilha do Caos”!

* Militar Reformado/Membro ALJGR/PMMG

sexta-feira, 11 de outubro de 2019


Assim falou Célia Laborne Tavares

Cesar Vanucci

“Célia viaja no amor em sua plenitude.”
(Acadêmica e poeta Yeda Prates Bernis)

Do alto de ricas vivências espirituais, projetadas já em 94 anos de infatigável labor intelectual, Célia Laborne Tavares brinda o público ledor de paladar requintado com o relançamento de um livro primoroso. “O Quinto Lotus”, como magistralmente pontua a poeta e acadêmica Yeda Prates Bernis, é “uma das expressões mais fortes do seu espírito, trazendo consigo seu rico mundo interior conquistado em momentos especiais em que o amor sempre prevalece ao encontrar-se com o Divino”. Na introdução da obra é explicado o significado simbólico do título. Os Lótus representam o que pode ser denominado centros de energia. O quinto lótus corresponde ao centro da garganta. Quando se abre, permite o desabrochar do “interesse pela luz divina”, concedendo às pessoas a deleitosa sensação de um contato mais aprofundado com a sua própria essência interna.

Por décadas a fio, inicialmente no extinto “Diário de Minas” e, posteriormente, em o “Estado de Minas”, Célia Laborne Tavares, dona de invejável fluência verbal, divulgando mensagens impregnadas de humanismo e espiritualidade, participou ativa e intimamente, conforme avaliação da magnífica Lúcia Machado de Almeida, registrada no ano de 1972, “da misteriosa engrenagem cósmica, como parte dela integrante.” Procurou sempre, continuando a fazê-lo ainda nos dias de hoje, em afã criativo que não esmorece, a interpretar com amorosidade e sabedoria, de modo a que possam beneficiar as pessoas na vida cotidiana, as lições transcendentes da poética, posto que por vezes conturbada, aventura humana. Provêem daí os conceitos admiráveis que desfilam na publicação de 100 páginas entregue na sessão de autógrafos no dia 28 de setembro passado, ato que reuniu à volta da autora, em clima de justificável louvação pelo papel que ocupa na cena da inteligência, grupo de admiradores altamente representativos da cultura mineira.

Conceitos que temos a satisfação de reproduzir na sequência. “Há uma mensagem imensa pairando sobre todos, no caminho da fraternidade, da concórdia, da igualdade, da solução dos conflitos. Ecoa em cada ponto da terra a voz da justiça, da humanidade, do amor”.

“Amigo, o dia é de luta e não de desespero, a hora de procura e não de renúncia às respostas que já estão chegando. Basta parar, um instante, no silêncio e começar a ouvi-las. Basta identificar-se com elas sem muitos comos e porquês.”

“Não é tempo de flores, mas as flores estão guardadas para quando a hora chegar. Deixa que também de tuas mãos brotem violetas e que teus olhos respondam às estrelas. Muitos necessitam de ajuda nesses dias rudes, muitos aguardam tuas menores respostas, como marco do início do caminho.”

“Estamos num tempo de experiências, que começam na terra e se perdem entre os astros; estamos no inicio de percepções que procuram aflorar-se em cada silêncio, para que o sentido da vida penetre em todos e em tudo. É hora de se inteirar das origens que fazem da vida a grande comunhão.”

“Neste tempo fértil de oferendas claras, temos as mãos repletas de dádivas, e distribuí-las é o ritual mais belo que nos foi proposto. Muitos permanecem, ainda, no cotidiano de incertezas e nesse amanhecer violento, eles não conseguem captar o perfume novo que envolve a terra. Por isso, as palavras vêm para amenizá-los.”

Vê-se, pois, que da sabedoria e sensibilidade da prosadora e poeta Célia Laborne Tavares brotam lições de permanente atualidade. Frutos, como se diz no Evangelho, que permanecem.


Coisas bastante estranhas
Cesar Vanucci

“Uma das características da política externa é espelhar não só a
realidade atual, mas aquela que projetamos para o nosso país e para o mundo.”
(Celso Amorim, ex-chanceler brasileiro, criticando 
o pronunciamento do presidente Bolsonaro na ONU)

Coisas estranhas, acabrunhantes, estarrecedoras, algumas resvalando o grotesco, pipocando na panela de pressão da atualidade brasileira. Atenção focada nos autores das aflitivas encrencas, dá pra perceber, com nitidez, serem bem mais numerosos do que seria legitimo supor os protagonistas deste instante político despossuídos do bom-senso e equilíbrio emocional exigidos para o exercício das nobres funções de que se acham investidos.

É uma história despropositada atrás da outra. Teor sempre chocante. Aqui está uma penca delas. Nem saberíamos garantir se as mais representativas do alentado desfile de absurdidades que se desenrola diante do olhar perplexo da opinião pública.

O presidente da República desperdiça, na tribuna da ONU, chance histórica magnífica de poder transmitir ao mundo uma mensagem que expresse o autêntico sentimento nacional e projete as portentosas possibilidades oferecidas pelo Brasil de se inserir, com presença realçante, no processo global da construção humana. Seu discurso foi conceitualmente equivocado. Em tom belicoso, sentiu-se num comício a angariar votos nalgum lugarejo dos cafundós do Judas onde demoram a chegar notícias sobre questões essenciais ligadas ao desenvolvimento.

Na arenga não reservou uma silaba sequer a um tema precioso para a comunidade internacional, qual seja, a chamada “Agenda 2030”, centrada nos “objetivos de desenvolvimento sustentável” previstos para futuro próximo, ao contrário do que seria de se esperar, naquele preciso instante, de um chefe de estado. “Em compensação”, alvejou ferinamente um líder indígena mundialmente admirado, registro recebido com aturdimento pela qualificada audiência da sessão de abertura dos trabalhos da ONU.

Um dos filhos do Presidente, senador da República, candidato a titular da mais importante representação diplomática brasileira no exterior, emitiu juízo de valor altamente depreciativo sobre as instituições democráticas. Deixou-se ainda fotografar, ao lado do leito do pai, convalescente de cirurgia, exibindo truculentamente um trabuco na cintura. A cena parece extraída de um filme de faroeste. Já o outro filho havia dito pratrazmente, em acintosa manifestação de desapreço à democracia, que bastariam um cabo e um soldado para fechar o Supremo.

O ex-procurador geral da República confessa, em livro de memórias e entrevistas, que em duas ocasiões distintas, carregando no coldre uma pistola, adentrou o recinto da Suprema Corte, com o fito de promover um “acerto de contas”. O “plano” envolvia o assassinato de um ministro, ex-companheiro de outras jornadas e agora “desafeto”, seguido de auto-extermínio. Tudo encaixado no melhor estilo de um drama policial cinematográfico de terceira categoria. O ato demencial não se concretizou, à hora em que o indicador já roçava o gatilho, por razões que a própria razão desconhece...

Da assim denominada Vaza-jato, com sua metodológica e atordoante divulgação, e das pasmosas revelações do ex-procurador geral jorram dados - não suficientemente contestados, ou ainda só timidamente desmentidos, num ou noutro ponto - acerca de manobras inaceitáveis engendradas com fitos políticos, visando a incriminação de alguns cidadãos investigados por suspeita de corrupção.

Atos e pronunciamentos numerosos deixam exposta a exacerbação de egos de vários personagens do universo judicial, notabilizados por maçantes tertúlias diante dos holofotes midiáticos e por questionáveis decisões monocráticas conturbadoras da ordem jurídica. Numa dessas decisões, juiz da Alta Corte obstaculiza a apuração de fato sobre a movimentação irregular de recursos públicos. Noutra, a interdependência dos Poderes é lesionada. Uma invasão policial descabida ocorre em gabinete do Parlamento. Um procurador com vencimentos acima do teto constitucional e um deputado fazem coro, em “chororô” público, para espanto da patuléia, traduzindo inconformismo e descontentamento com os “baixos valores” dos holerites mensais de cada qual.

Um cara qualquer, ligado à Funarte, classifica a classe teatral brasileira de “radicalmente podre”, e chama a maravilhosa atriz Fernanda Montenegro de “sórdida”. Outro cara deprecia a desassombrada Greta Thunberg, que encantou o mundo com sua fala, chamando-a de “anã infeliz”. Em órgãos importantes, como o Iphan, técnicos categorizados são substituídos por apaniguados políticos. Balas criminosas disparadas por agentes públicos cariocas despreparados continuam ceifando vidas inocentes. E nada de punições consentâneas com a gravidade das ocorrências nos sempre “rigorosos inquéritos” instaurados. O atentado à Marielle e assessor continua rendendo notícias fabricadas com interesse procrastinatório. Nada de desfecho à vista quanto aos mandantes. Alguém da equipe das apurações chegou a denunciar a existência de uma “central de mutretas” com a finalidade de espalhar confusão. Quanto ao Queiróz, o insondável mistério que rodeava seu “desaparecimento” acaba de ser desfeito. Ele está com a mãe de um ciclista de Brasília...

Parando por aqui. O jeito mesmo é implorar a misericordiosa interseção da santa padroeira de Romaria, aprazível recanto do Triângulo das Gerais: Valha-nos Nossa Senhora da Abadia da Água Suja!



Rogério Faria Tavares *
viVER EM VOZ ALTA / ABDULAI SILA,
O PRIMEIRO ROMANCISTA DA GUINÉ BISSAU


Fundada em 1963, a Academia Municipalista de Letrasde Minas Gerais (Amulmig) já teve presidentes como Alfredo Marques Vianna de Góes e Jésus Trindade Barreto. Hoje, seus destinos são conduzidos pelo jornalista Cesar Vanucci, por quem tenho sincera admiração. Dono de pensamento franco, livre, independente, está sempre atento ao que realmente é do interesse público, defendendo, com lucidez e coragem, causas justas e sintonizadas com o que é, de fato, o melhor para a sociedade brasileira, como comprovam os artigos de sua autoria para o DIÁRIO DO COMÉRCIO. Sob sua batuta, tomei posse como membro da Amulmig no ano de 2017, representando o município de Belo Horizonte e tendo como patrono o escritor Fernando Sabino.   Desde então, religiosamente, realizo duas conferências anuais na bela sede da entidade, na rua Agripa de Vasconcelos, no bairro das Mangabeiras. Já falei sobre os escritores Alfredo Camarate e Avelino Fóscolo, dos tempos da fundação de Belo Horizonte, sobre a escritora Elvira Vigna, cujo legado romanesco é tema de minha tese de doutorado, sobre a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e sobre a autora guineense Odete Semedo, que morou em nossa cidade, quando estudante da PUC Minas. Na terça feira dessa semana, tive o prazer de retornar à Amulmig para falar sobre Abdulai Sila, o primeiro romancista da Guiné Bissau. Creio ser benéfico a todos nós, falantes do português, conhecer mais e melhor a literatura produzida em nosso idioma nas diversas regiões do mundo, sobretudo nas mais distantes, sobre as quais ainda sabemos muito pouco. A literatura africana de língua portuguesa tem ganhado alguma notoriedade no Brasil, sobretudo por conta das obras de Mia Couto e José Eduardo Agualusa. O leitor brasileiro de fato aprecia o que eles escrevem, o que entendo como um possível sinal de que há espaço para a chegada de outros autores do mesmo campo ao nosso mercado editorial. Nascido em 1958 em Catió, pequena cidade ao sul de seu país, Abdulai Sila escreveu quatro romances e três peças de teatro. O primeiro romance, “Eterna Paixão”, foi lançado em 1994, e versa sobre a euforia e a desilusão do povo nos anos posteriores à independência da Guiné Bissau, proclamada em 1973. O segundo, “A última tragédia”, veio a público em 1995 e alude ainda ao período colonial. O texto conta a história de Ndani, uma adolescente que é obrigada a aculturar-se, tendo que abrir mão de seu nome (passando a chamar-se Daniela) e até de suas crenças religiosas, quando se converte ao catolicismo. O terceiro livro é “Mistida”, de 1997. O volume é composto, como comenta a professora Moema Parente Augel, por dez capítulos, dez histórias, dez mistérios, sem que haja um herói ou um personagem principal. Finalmente, o quarto livro ganhou o título de “Memórias Somânticas” e foi lançado em 2016. Entre os estudiosos de sua obra, há os que aproximam o autor guineense de escritores como Gabriel García Marquez e Isabel Allende. Outros enxergam em sua produção traços de uma literatura engajada nos dramas do seu tempo, embora ela não seja nada panfletária. Todos os críticos, no entanto, afirmam que Abdulai Sila foi quem definitivamente inscreveu a Guiné Bissau no mapa da literatura mundial, pondo em circulação os bens e valores culturais de sua gente. É o que mais importa.

*Jornalista e presidente da Academia Mineira de Letras


sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Inconfidência sessentão

Cesar Vanucci

“Considero o Inconfidência o melhor clube do mundo”.
(Daniel Antunes Junior, 97 anos, decano do movimento leonistico)

Numa assembléia festiva de rico colorido humano, o Lions BH Inconfidência, segundo clube mais antigo instituído nas Minas Gerais, recepcionou a governadora do Distrito LC-4, Edite Buéri Nassif, e empossou os novos dirigentes do clube para  período leonistico que se extingue em 2020. O ato ocorreu na aprazível residência da presidente do clube, Yeda Saba Monteiro, no bairro São Bento, Belo Horizonte, contando com o comparecimento maciço de associados e a presença de numerosos convidados.

O Lions Clube BH Inconfidência, responsável por apreciável volume de iniciativas assistenciais e culturais na crônica leonistica, destaca-se também pela circunstância de ser a instituição que ofereceu ao LC-4 o maior número de governadores. Seis, ao todo. Da lista faz parte o saudoso jornalista e dirigente classista José Costa, fundador do “Diário do Comércio”. Ele e sua valorosa companheira, Dalva Mota Costa, também já não mais entre nós, são reconhecidos no seio da comunidade dos clubes de serviço como “casal símbolo” do movimento leonistico.

Coube a um desses ex-governadores, o único ainda em plena atividade com seus 97 anos de vida consagrada ao nobre ideal do serviço desinteressado, Daniel Antunes Junior, remanescente do grupo de fundadores do Inconfidência e decano das ações empreendidas pela organização, o encargo de saudar a governadora e integrantes de sua comitiva. Em fala arrebatante, Daniel relatou passagens significativas desses sessenta anos de triunfante jornada. Ministrou, pode-se dizer, como fruto de preciosas vivências na condição de ativo militante do chamado terceiro setor, sugestiva aula sobre a missão social afeta, no mundo de hoje, aos homens e mulheres engajados em causas humanitárias.

A “Invocação a Deus”, tradicional no ritual leonistico, como também acontece no tocante à entoação da primeira estrofe e estribilho do “Hino à Bandeira", foi proferida por Maria Carolina Mendonça. O texto preparado para a ocasião, de cunho humanístico e espiritual, tocou muitíssimo a sensibilidade dos presentes. A parte cerimonial foi conduzida com eficiência pela secretária Lete Beleza.

Em sua mensagem de agradecimento, ressaltando que a visita ao Lions Inconfidência era a primeira de cunho oficial feita em sua gestão, a governadora Edite Buéri Nassif apontou o clube como um núcleo de prestação de serviços modelar, no qual todos os participantes do leonismo devem buscar exemplos e inspirações. Anunciou suas metas para o mandato em curso, conclamando companheiros-leões a concorrerem para o aumento dos quadros de associados, de forma a dar sustentação às empreitadas e projetos bem sucedidos da instituição, bem como a implementarem novas frentes de trabalho em favor dos excluídos sociais e da valorização da cultura brasileira. A presidente do Inconfidência, Yeda Saba Monteiro, ofereceu à dirigente máxima do movimento leonistico, como lembrança de sua visita, exemplar da esplendida obra “Juscelino Kubitschek – Profeta do Desenvolvimento”, de autoria do economista e jornalista Carlos Alberto Teixeira de Oliveira, circunstância que permitiu a companheiros-leões  presentes, debaixo de aplausos, a se referirem com entusiasmo aos tempos de febricitante progresso e desenvolvimento vividos pelo Brasil durante o mandato governamental do inesquecível estadista.

A governadora Edite Buéri Nassif, associada do Lions Clube Vespasiano, é graduada em Direito, Pedagogia e História, com cursos de pós-graduação nesses segmentos. De seu currículo profissional constam mais os seguintes registros: professora e diretora no ensino estadual, diretora de unidades universitárias, presidente da 113ª subseção da Ordem dos Advogados, presidente da Fundação Vespasianense de Saúde, membro da Academia Mineira de Leonismo. Na visita reportada fez-se acompanhar, entre outros, pelo primeiro vice-governador Clebert José Vieira, secretário João Luiz Pereira Issa, tesoureiro Edelbrando Ramos Ribeiro, e Maria Celeste Martins, coordenadora de divisão.

O encontro comemorativo dos sessenta anos do Inconfidência, no último 28 de setembro, sábado, revestido, como se depreende da narrativa, de especial brilhantismo, foi encerrado com um almoço de congraçamento.

Cultura e humanismo

Cesar Vanucci

“A força da cultura une as pessoas (...) em
independência e liberdade através do direito e da arte.”
(Pestalozzi)

O Automóvel Clube de BH foi palco, no dia 26 de setembro, de imponente e prestigiado encontro cultural. Deu-se ali o ato de lançamento de um novo livro do jornalista Rogério Zola Santiago. Na condição de presidente da Amulmig, este escriba saudou o autor com as palavras reproduzidas na sequência. 

Honrado com a incumbência desta fala protocolar de saudação ao jornalista e poeta Rogério Zola Santiago, andei me questionando, olhar focado na opulenta programação literomusical traçada para esta noitada, se não seria o caso, então, de se descartar minha despretensiosa manifestação, já que ela convergirá, obviamente, para a reafirmação de conceitos alusivos ao ilustre personagem já sobejamente conhecidos da distinta plateia.

Os que aqui nos reunimos, cidadãos representativos de variados setores pensantes da comunidade, nutrimos pelo autor de “Exercícios de Partida - Metáfora Clandestina”, apreço e admiração. Perfeitamente justificáveis – reconheça-se – diante da esplêndida obra de sua lavra. Obra esta, por sinal, que fez por merecer de alguém da magnitude do crítico literário Fábio Lucas a louvação entusiástica a seguir reproduzida: “Rogério se firma entre os mais hábeis cultores da palavra poética em linguagem portuguesa contemporânea”. É ainda o renomado crítico literário que, a propósito de “Exercícios de Partida”, afiança trazer o livro “ensinamentos preciosos sobre como fazer literatura polivalente (...) em versos plenos de essência e desafios.”

Como sublinhado, os predicados de Rogério são bastante conhecidos. Sua criatividade, posicionamentos em favor da livre expressão das ideias, sua forma de utilizar o ofício das letras como instrumento de construção humana, tornam-no um apreciado propagador da palavra social. Propagador da palavra social é função – seja frisado - da qual nenhum intelectual realmente digno de se enquadrar nessa condição tem o direito de abdicar, no labor cotidiano.

Isso ajuda responder o questionamento que levantei acerca da conveniência desta descolorida fala protocolar, nesta festa cheia de amorosidade e brilho feérico difíceis de serem suplantados.

Fique claro, pois, ser este um evento de exaltação da cultura. Instante de celebração das conquistas do espírito. Promoções desse gênero são indissociáveis do processo da evolução civilizatória. Perfeitamente razoável, portanto, seja aqui ouvida manifestação de obvio conteúdo. A melhor retórica é a repetição, como pontuava Napoleão Bonaparte. Reafirmemos coisas mesmo que de todos já sabidas. Enfatizemos, outra vez, os méritos, como prosador e poeta, de nosso anfitrião Rogério. Tratemos de consignar, novamente, aquilo que luminares do pensamento de vanguarda (Pauwels e Jacques Bergier) asseveram: “O espírito humano é que nem o paraquedas, só funciona aberto!” Cuidemos de nos prevalecer desta consagração de uma trajetória pessoal positiva para proclamar que a cultura é uma formidável força ordenadora da sociedade.

Importantíssima em todas as etapas de nossa peregrinação pela pátria terrena, a cultura se mostra imprescindível, sobretudo, nas horas em que são detectados surtos obscurantistas de negação frontal dos valores do espírito. Surtos esses provocados, como se pode detectar em diferentes lugares mundo afora, por minoritárias correntes fundamentalistas comprometidas com o trasanteontem da vida. Noutras palavras, gente de conduta radical, alojada rancorosamente nas lateralidades ideológicas e notabilizada pelo afã negativista de criar embaraços e obstáculos à invasão do futuro pela sociedade.

As criaturas de boa-vontade, engajadas na nobre lida da difusão da palavra social, devem ter sempre presente a historieta emblemática do debate travado, tempos atrás, entre Hermann Goering, vice-líder nazista, e o iluminado pensador Louis Pauwels. Palavras de Goering: “Todas as vezes que alguém perto de mim fala de cultura, eu saco o meu revólver.” Réplica de Pauwels: “Todas as vezes que perto de mim alguém fala em revólver, eu saco do coldre a minha cultura”.

Confessamo-nos agradecidos por este ensejo afortunado, graças ao lançamento do livro de Rogério, de poder enaltecer, uma vez mais, a cultura. Os participantes deste encontro estamos conscientes de ser a cultura uma projeção do humanismo e da espiritualidade. Humanismo e espiritualidade que, por sua vez, promanam da mensagem de amor e de paz vinda do fundo e do alto dos tempos e dirigida aos que sabem conservar acesa a esperança num mundo melhor, mais fraterno, mais solidário, mais ecumênico. Mundo em que se possa contemplar, como almeja o único grande estadista contemporâneo, Papa Francisco, a conexão dos que o povoam, independentemente de crenças políticas e religiosas, etnias e gêneros, com os valores humanísticos que conferem dignidade à aventura humana.

Maria Inês Chaves de Andrade *
  PELAS GRETAS DA VIDA

Eu ainda não entendi o estresse que esta mocinha está promovendo, certa de que, seja como for, "o homem não se confunde com sua obra", exatamente, porque muitas subjetividades a comprometem, pelo que não me interessa senão o que ela disse e disse com muita pertinência a propósito das frustrações de sua geração. Agora, se a voz desta geração a qual pertencem nossos filhos e netos, vem de Greta ou de quantas gretas venha, que seja. Veio de Malala. Virão de muitas mais. E que sejam ricas, pobres, brancas, negras, pois, e que falem. E que bradem antes de serem alvejadas. Aghata já nada dirá. Pois, e que venham "manipuladas"... Não sou versada senão nalguma convivência com um Asperger ou outro, mas creio impossível convencê-los a fazer, a não ser o que querem, inexoravelmente. E apoiar demanda de filha acometida da patogenia de Einstein, com tudo o que se tem, parece-me razoável aos pais, fôssemos nós. Não consigo convencer-me por adesão. Termino achando tudo uma imensa maldade e isto sim me apavora porque nos vejo sendo manipulados também e com força. Olha a sociedade civil e o planeta que estamos a entregar à geração de Greta, que é a de tantos depois de nós! Este mundo precisa discutir seriamente. Pois, que olhem as crianças que ladeiam Greta neste mundo, as empobrecidas e esfomeadas, então, as 'silenciosas", mais as silenciadas por nós mesmos e esqueçam Greta, senão para escutar bem o que ela bem falou, porque a mim me parece que tudo é plano de fuga de adultos que nunca crescem, verdadeiramente, e não querem mirar o inescapável. E agora, esclareça-se: não há intento de provocação, pelo que peço que se não ofendam pessoalmente porque, por óbvio, tenho compreensão diversa, mas não a tomo por adversa, porque se trata de interpretação que se oferece noutro ponto de vista de um largo mirante. Convivamos em paz e civilizadamente.

* Acadêmica, secretária da Amulmig

A SAGA LANDELL MOURA

Uma mulher rodeada de palavras

                             *Cesar Vanucci “Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida” (verso da canção “M...