quarta-feira, 22 de março de 2023

Bofetada na cara

 



 Cesar Vanucci

“avanços obtidos em décadas estão evaporando diante de nossos olhos"

( António Guterres, Secretário-Geral da ONU)

 

A ONU não deixa por menos. “No ritmo atual, serão necessários 300 anos para alcançar a igualdade entre homens e mulheres”. Asseverou às vésperas do Dia Internacional da Mulher, celebrado em 08 de março, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres.  O prognóstico, comportando  pitada de  exagero, soa ainda assim com o fragor de uma sonora bofetada que deixa impressos indelevelmente as marcas dos dedos na cara ruborizada da sociedade.

 No ver de Guterres, "avanços obtidos em décadas estão evaporando diante de nossos olhos". Lembrou que em alguns países, como no caso do  Afeganistão, mulheres e meninas têm sido "apagadas da vida pública". Afirmou também que os direitos reprodutivos e sexuais da mulher estão "em retrocesso", sem contar os riscos de sequestros e ataques a que se acha  submetida em diferentes partes do mundo.

 Em outro incisivo trecho de suas declarações, o Secretário Geral da ONU argumenta que a desinformação misógina e as mentiras nas redes sociais têm o objetivo de silenciar as mulheres e obrigá-las a sair da vida pública.

 O Dia Internacional da Mulher é comemorado em 8 março, sendo uma das mais importantes datas do calendário global. Evoca as lutas pelos direitos das mulheres por condições igualitárias, em todas as camadas da sociedade. A efeméride foi instituída em 1917, mas só em 1975 adquiriu ressonância universal. No ano em questão foi oficializada pela ONU. Ao contrário de muitas datas comemorativas, essa é uma das poucas  não surgidas por iniciativas do comércio. A ideia de se definir uma data para exaltar o empenho das mulheres em estabelecer paridade de direitos com relação aos homens nas atividades comunitárias tem várias origens. A teoria mais aceita é a de que tudo se originou numa conferência realizada na Dinamarca em 1910. Foi consolidada por fatídico incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist Company, Nova York, em 1911, onde pereceram  tragicamente muitas operárias.

Com o passar dos anos a luta pela igualdade de direitos ganhou constante  amplitude. O direito a participação da mulher em eleições representou um marco na marcha civilizatória. Em 1932, as brasileiras votaram pela primeira vez. Um ano após as mulheres haverem conquistado o direito de votar,  Carlota Pereira de Queirós foi eleita primeira deputada federal brasileira. No ano seguinte, em 1934, Antonieta de Barros, filha de escrava liberta, foi eleita deputada em Santa Catarina. Tornou-se a primeira parlamentar negra no país.

 Na atualidade, as brasileiras constituem 52% do eleitorado nacional, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. Mesmo assim, são minoria na política. Apenas 12% das prefeituras brasileiras são comandadas por mulheres. Nos governos dos Estados e Parlamentos a representação feminina revela-se bastante abaixo da masculina.  A desproporção observada na política prevalece também nas designações para cargos públicos, em todas as esferas.  

 Enfileiramos na sequencia algumas conquistas apontadas como significativas por movimentos feministas brasileiros em sua incansável lutam pela igualdade de direitos:

·                   1827 – Meninas são liberadas para frequentarem a escola; 1852: Primeiro jornal feminino; 1879 – Mulheres conquistam o direito de acesso às faculdades; 1910 – O primeiro partido político feminino é criado; 1932 – Mulheres conquistam o direito de voto; 1962 – Criação do Estatuto da Mulher Casada; 1977 – aprovada a Lei do Divórcio; 1979 – Direito à prática do futebol; 1988 - Primeiro encontro nacional de mulheres negras; 2006 – Lei Maria da Penha; 2015 – É sancionada a Lei do Feminicídio; 2018 – A importunação sexual feminina passou a ser considerada crime.

No panorama mundial são por demais impactantes as agressões aos direitos sagrados da mulher. Falaremos disso a diante.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Mulheres riscadas da vida



*Cesar Vanucci

“Nalguns países, meninas e mulheres são riscadas da vida pública” (Antonio Guterres, Secretário Geral da ONU.)

Aciono o videocassete da memória na tentativa de recompor emblemática cena dos anos 50. Naqueles tempos, os primeiros fuscas estavam sendo postos a circular nas ruas e estradas brasileiras, atiçando bastante a curiosidade popular. Mas, a aglomeração à volta do veículo, estacionado diante do palacete na praça central da cidade, derivava de outra circunstância, também singular. Graciosa jovem, envergando traje incomum para o chamado “sexo frágil” – calça comprida, blusa solta, bota unissex -, divertindo-se à pamparra com o alvoroço provocado, assumiu o volante manobrando o carro no sentido de circundar o logradouro, arrastando de um lado para o outro a multidão. Era a primeira vez que muitos estavam vendo naquelas bandas uma mulher motorista. A imagem restou como lembrança de um momento hilário totalmente ultrapassado.

 Dá causa a dilacerante impacto saber que, mais de meio século transcorrido a mulher, em dezenas de países, nos vários continentes, é impedida de repetir o gesto banal da moça dos anos 50, por conta de dogmatismo religioso de repulsiva concepção machista. Apontada como uma blasfêmia herética em hostes fundamentalistas, dirigir carro é apenas uma entre centenas de proibições rígidas, descabidas, instituídas com o fito de subjugação da mulher a ditames morais anacrônicos, anteriores até mesmo ao período de obscurantismo medieval. Isso explica a razão pela qual, ao referir-se ao dramático problema da opressão feminina detectada em diferentes plagas do planeta, o Secretário Geral das Nações Unidas, Antonio Guterres haja enfatizado que em vários lugares as meninas e mulheres, são na verdade, praticamente riscadas da vida pública.

Nesses rincões adversos às mulheres, onde seus direitos são massacrados as pessoas do sexo feminino não podem sair desacompanhadas, não podem frequentar escolas, academias, parques públicos, são impedidas de trabalhar fora, não podem escolher pares e companheiros, só viajam na companhia de país, maridos e irmãos. São forçadas a usar véus e roupagens exóticas que as “protejam” de olhares indiscretos. São submetidas a um regime de clausura, análogo não poucas vezes ao de “escrava’”. Correm riscos de serem chicoteada publicamente pelos “guardiões da moral e costumes”. A regra sobre vestimenta aplica-se também as visitantes, sendo de molde, por conseguinte a criar transtornos a alguma incauta turista.

 O que acontece na Arábia Saudita, Irã, Paquistão, Afeganistão representa amostra do tratamento mais abjeto em um punhado de países de orientação religiosa ortodoxa dispensada às mulheres. Ainda agora nas ruas de Teerã e  outras cidades no país comandado de forma despótica pelos aiatolás registram choques entre policiais e manifestantes devido ao inconformismo de parcela da comunidade iraniana contra o excesso de arbitrariedades praticadas envolvendo as mulheres. Por causa do “uso incorreto” do véu, Mahsa Amini, 22 anos foi detida e morta pela polícia de costumes em setembro do ano passado. O caso foi estopim dos movimentos de protestos que se espalharam pelo país e provocaram repressão violenta, com prisões, feridos, mortos e intensa comoção internacional.

 A palpitante questão dos direitos femininos pode ser avaliada por múltiplos aspectos. Forçoso reconhecer que são inúmeras as conquistas a serem celebradas. De outra parte, não são poucas as situações clamorosas a serem removidas. Numerosos são também os pontos relevantes a considerar em matéria de alterações viáveis quanto a normas e regras estatuídas por instituições tradicionais. A abertura de um debate em torno da ordenação Sacerdotal feminina, por exemplo, estimularia em muito o processo do emparelhamento tão almejado dos direitos da mulher e do homem.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)


Mas que legado, hein?!

 

Cesar Vanucci

 

"Recebemos este governo numa situação de penúria” (Presidente Lula)

 

 Com o passamento do Coronel Lupércio Rozendo, o filho primogênito, Tonhão, ficou incumbido de conduzir o inventário. Abastado homem de negócios o coronel era dono de propriedades rurais com extensas plantações, planteis de gado leiteiro e gado de corte, aviário, casas de aluguel, lojas comerciais, veículos de alto valor, máquinas agrícolas, usina de pasteurização, alambique, fábrica de queijos e doces, além de possuir participação acionária em agencias de carros e outros rendosos negócios.

 Meio desajeitado, com cara de quem comeu e não gostou, Tonhão reuniu a patota dos herdeiros, para explicar o que havia feito no cumprimento de sua missão um mês depois de transcorrida a cerimônia fúnebre de despedida do chefe do clã familiar. Desembuchou logo as informações por todos esperadas. – “o pai, como vocês estão careca de saber, era muito desconfiado, concentrava as coisas, não dividia com ninguém os dados sobre as posses. Era, também, um cara danado de desorganizado. Vasculhei o escritório, topando com uma bagunça dos diabos, tudo fora do lugar. Os registros dos negócios uma esculhambação. Vai demorar um tempão mode que colocar tudo no devido jeito.”

 O papo do Tonhão com os irmãos vem à memória no momento em que tomamos ciência dos relatórios do Vice-Presidente, Geraldo Alckmin e colaboradores acerca de como foram encontrados os negócios públicos do país pela equipe de transição. Fica muito claro, pelas explicações vindas a furo, que vai demorar um tempão mode que colocar tudo no devido jeito!

 A situação detectada pelos técnicos na avaliação do legado governamental passado aos novos dirigentes da Nação não é apenas tão grave como se imaginava. É muito mais grave do que jamais se conseguiria imaginar. A fileira dos desacertos encontrados é de extensão descomunal. Vai aqui ligeira amostra: 14 mil obras inacabadas em diferentes áreas da governança, 4 mil delas só na educação. Rede rodoviária aos pandarecos. Políticas Sociais destroçadas. Os números e dados aterrorizantes da Pandemia da Covid-19 são amostra impactante do que andou rolando no período em matéria de saúde pública. Sistema vacinal desmantelado.  A estagnação econômica prolongada elevou a índices alarmantes o desemprego e o subemprego. A desigualdade social avolumou-se, a pobreza ao rés do chãoalastrou-se. A legião dos brasileiros em “situação de rua” cresceu assustadoramente. O teto de gastos foi insensatamente violado, várias vezes por conta de estratégias eleitoreiras.

Os desatinos políticos de teor antidemocrático, os clamorosos equívocos na política ambientalista, incluindo o espezinhamento de direitos dos Povos Originários, o negativismo científico permeando todas as engrenagens do relacionamento comunitário representaram outras notas dissonantes de um período marcado por demagogia obscurantista. Na lembrança popular praticamente não restou qualquer registro de um grande projeto executado ao longo do período governamental que passou.

O Brasil perdeu o papel de destaque como protagonista nos fóruns internacionais em consequência dos posicionamentos isolacionistas, quando não hostis, assumidos no concerto das nações.

E o que não dizer dos estarrecedores acontecimentos de caráter antidemocrático, levados avante após a posse dos eleitos por grupos golpistas que invadiram as Sedes dos 3 Poderes e estabeleceram a anarquia e o desassossego na Capital da Republica?   

O desabafo do Presidente empossado, Luiz Inácio Lula da Silva faz todo sentido: "Recebemos este governo numa situação de penúria, em que as coisas mais simples não foram feitas. De forma irresponsável, o presidente preferiu contar mentiras no 'cercadinho' do que governar esse país".

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

segunda-feira, 13 de março de 2023

Mal sem remédio


                    *Cesar Vanucci

 Confiar e acreditar em Deus é remédio” (Alexandre Barão Acuña)

 

Atendendo a recomendação médica, permaneci distanciado das canchas cerca de um mês. De volta ao batente, renovo a disposição de compartilhar com o distinto leitorado considerações, opiniões, informações, prosaicas quimeras que possam expressar, interpretações singelas da trepidante aventura da vida.

Vamos abordar, em seguida, tema que frequenta insistentemente as preocupações da gente do povo: o preço dos remédios. Algo que, sob certos aspectos representa, na vida de muitos, por paradoxal que seja, um mal sem remédio.  

As políticas de preços adotadas pelas grandes corporações farmacêuticas costumam dificultar o acesso de multidões a formulas medicamentosas lançadas com o declarado propósito de minorar os padecimentos de pessoas enfermas. A lucratividade exagerada lobrigada nas operações do setor se sobrepõe de longe ao sagrado interesse social. O valor de alguns produtos essenciais, imprescindíveis no processo de cura, se eleva em não poucas ocasiões, a patamares inacessíveis mesmo a consumidores dotados de razoável poder aquisitivo.

Em situações extremas, como sabido, o Poder Público é acionando pela Justiça de modo a custear as despesas de tratamento, resguardando assim, a margem da lucratividade arbitrada pelos “donos dos remédios.” De quando em vez, face a uma ou outra emergência, as autoridades competentes se valem do dispositivo legal da quebra de patente em tentativa de refrear o ímpeto altista dos laboratórios. Isso acontece de raro em raro. Não correspondem por inteiro às respeitáveis exigências sociais.

O relacionamento dos consumidores com o setor industrial responsável pela fabricação de remédios, com a regulação indispensável de organismos governamentais, carece de reformulação visceral. O valor que avulta entre todos  os demais, no processo em questão, deve ser o bem estar humano. O que importa mais em tudo isso é a saúde do ser humano. Todos os aspectos restantes têm que ficar, forçosamente, subordinados a instancia maior que é a vida.

É obvio que a pesquisa, a criatividade, o engenho, a inventiva das pessoas e instituições empenhadas na descoberta de formula medicamentosa eficaz, fazem por merecer compensações justas pelos seus feitos auferidos na lida meticulosa das experiências processadas em laboratórios. A sociedade terá que encontrar, mais cedo ou mais tarde, consideradas todas as conveniências em jogo, uma solução harmoniosa que contemple as expectativas do publico consumidor e a valorização do mérito científico identificado nas descobertas e manuseio de remédios de maneira a facilitar a liberação para uso universal, amplo, geral e irrestrito do produto detentor de comprovado poder curativo.

No afã de colaborar com o consumidor, o governo brasileiro instituiu a “farmácia popular”. Esvaziada na gestão passada, como ocorreu com tantas outras iniciativas oficiais de cunho social, a proposta é tímida diante das necessidades reais. De qualquer maneira, a questão tem dimensão mais abrangente. Sua escala é universal. Há que ser resolvida em fóruns internacionais.

E já que estamos falando em remédio, não resisto à tentação de passar a diante um receituário de remédios baratos elaborado pelo médico  integrativo, Alexandre Barão Acuña: “exercício físico é remédio, jejum é remédio. Rir é remédio. Verduras e frutas são remédios. Sol é remédio. Amar  e ser amado é remédio. Gratidão é remédio. Deixar de lado a ofensa é remédio, meditação é remédio. Pensar positivo e manter o estado de espírito bom é remédio. Confiar e acreditar em Deus é remédio. Bons amigos é remédio. Ser perdoado e perdoar também são ótimos remédios. Utilizando todos esses remédios com certa frequência na sua vida eu tenho certeza que você vai precisar muito menos dos remédios de farmácia.”  

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br

A SAGA LANDELL MOURA

Uma mulher rodeada de palavras

                             *Cesar Vanucci “Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida” (verso da canção “M...