quinta-feira, 16 de maio de 2024

Por falar em supersalários...

 


*Cesar Vanucci

“O que se pretende é regulamentar o que já está regulamentado”

(Domingos Justino Pinto, educador.)

 

 Pela enésima vez no curso de numerosos períodos governamentais, fonte oficial anuncia “categoricamente” a disposição de elaborar uma lei para colocar fim aos abusos dos supersalários pagos a privilegiados agentes públicos lotados em repartições das diferentes esferas do Poder.  A Constituição brasileira estabelece um teto salarial para os servidores públicos, estipulando que ninguém tem direito a receber mais do que, para ficar em num único exemplo, o Presidente da República. A regra, como tantas vezes denunciado, tem sido solenemente desrespeitada. Os holerites de muita gente, talvez milhares de pessoas, como temem executivos cônscios de seus deveres republicanos agrupam penduricalhos, itens marotos que elevam a remuneração a alturas indesejáveis. O reconhecimento geral da esdrúxula situação não resultou, até hoje em nenhuma medida concreta de contenção da irregularidade. Como existe a promessa de ser editado outro instrumento legal referente ao assunto, de modo a resolver toda essa história, tomamos a liberdade de oferecer uma sugestão de texto para o ato destinado a divulgação, como contributo que poupe o tempo do legislador. Depois das palavras protocolares do preâmbulo, vem o texto: Artigo 1° - no que concerne aos vencimentos de agentes públicos federais, cumpra-se o que manda a Constituição; Artigo 2° - revogam-se as disposições em contrário. Embaixo aponha-se a assinatura de quem de direito, dispensando-se o reconhecimento de firma em cartório. E estamos conversados.

2) “Ajudas” - Amostra loquaz – mais emblemática, impossível – de como são conduzidas, nas altas esferas decisórias universais, as magnas questões sociais, políticas e econômicas que afligem este nosso mundo velho de guerra. O governo dos Estados Unidos destinou 100 mil dólares (500 mil  reais) para as vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul. Na mesma semana, anunciou a remessa de ajuda de 30 bilhões de dólares (150 bilhões de reais) para o “esforço de guerra” (leia-se armas de destruição) do Estado de Israel. Tem mais: anunciou também auxilio, com a mesma,finalidade, de 28 bilhões de dólares (140 bilhões de reais) para a Ucrânia. Seja ressaltado que as duas parcelas mencionadas são apenas parte da substanciosa colaboração financeira concedida com objetivos bélicos.

3) Sugestão - Na televisão, alguém sugere sensatamente aos congressistas que reservem parte dos recursos provenientes das controvertidas emendas parlamentares para acudir necessidades da população do Rio Grande do Sul. Pelo que se sabe, até alguns dias atrás, apenas três deputados gaúchos haviam anunciado a intenção de carrear somas orçamentárias para tal finalidade. Na hipótese de que a sugestão anotada encontre receptividade estaremos nos deparando, alvissareiramente, com um gesto de grandeza cívica que fará muito bem à imagem do Senado e da Câmara Federal.

4) Milicianos - A inesgotável série de malfeitorias praticadas pela chamada “banda podre” da polícia carioca acaba de agregar  outro episodio chocante. O Ministério Público do Estado apurou, por meio de investigações que se arrastaram por quase dois anos, que 13 (treze) integrantes da PM, entre suboficiais e soldados, compunham aguerrida milícia na região de Belford Roxo. Os “milicianos fardados” mantinham “negócios” de drogas, armas e carros, “garantindo” proteção aos moradores e comercio estabelecido com cobrança de taxas regulares. Já devidamente trancafiados, respondendo a processo criminal, deveram ser expulsos das fileiras da corporação.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)


A união almejada pelo Brasil

 



                                         

        *Cesar Vanucci

 

“A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana.”(Franz Kafka)

  

Diante do cataclisma no Rio Grande do Sul as forças vivas da Nação estão dando magnífica demonstração de solidariedade e fraternidade. A consciência de cidadania, impregnada de humanismo, típico de nossa cultura criou as condições ideais para que todos os setores  representativos da sociedade firmassem um pacto em torno dos problemas gerados pela catástrofe.

A resoluta disposição comunitária de enfrentamento da calamidade pairou, altaneira, sobre as divergências políticas do cotidiano democrático, as desavenças ocasionais da vida mundana, abrindo frentes de trabalho emergencial muito bem sucedido. Auspiciosamente, acham-se engajados com afinco nessa árdua tarefa os Poderes Públicos, com suas estruturas de serviços essenciais. A execução de tais serviços envolve pessoal das Forças Armadas, Forças Policiais estaduais, agências de saúde e educação, órgãos assistenciais dos Ministérios e Secretarias, além de ONGs, instituições educacionais, religiosas, classistas e sindicais, organizações privadas de saúde e educação, empresas e uma multidão de abnegados voluntários. Tão poderosa conjugação de vontades, de cunho altruísta e feição ecumênica, inspira a esperança de que possamos, adiante, todos juntos estabelecer clareira de entendimento na busca, já não mais de saídas de emergência, mas, sim das soluções decisivas para eventuais casos de fenômenos climáticos perturbadores.

 A formidável unidade de ações observada nesse capítulo difícil da vida brasileira é recebida com simpatia pela opinião pública. É vista pelas lideranças evoluídas, mentes lúcidas, corações fervorosos, pelos autênticos democratas como fator capaz de garantir ao Brasil avanços consideráveis na senda do desenvolvimento, começando pela reconstrução daquilo que as tormentas destruíram. Espera-se, pois, que disso se compenetrem os responsáveis pela condução dos negócios brasileiros, nas áreas políticas, na gestão pública e das atividades privadas interessados na conquista do futuro e bem-estar coletivo.

 Não há como ignorar, todavia, a existência de um pequeno bolsão de resistência à frondosa ideia da unidade nacional, desligada das paixões políticas, na busca de resultados positivos para magnos problemas que nos afligem como Nação. O drama do Sul do país mostrou-nos, outra vez, essa deplorável circunstancia. Valemo-nos para classificá-la de uma expressão popular: É o cumulo do absurdo! Shakespeare fornece definição mais adequada para a situação: “é loucura, mas tem um método”! Estamos nos referindo, obviamente, à presença insidiosa “das fake news” na divulgação dos dolorosos acontecimentos do RS. A caudal de falsidades lançada nas despoliciadas plataformas digitais, visando com torpes objetivos semear o pânico e criar uma atmosfera de rancor e revolta, deixou todo mundo atônito e indignado com a desfaçatez do grupelho que a promoveu. O tiro disparado saiu pela culatra. A irresponsável ação deflagrada equivaleu a uma cusparada para cima sem que o autor, (ou autores), saísse de baixo. Os brasileiros desejam ardentemente a união, as “fakes” pregam a desunião. Elas constituem, sem sombra de dúvida, um ato demencial, não há negar. Mas, seguem um método com a intenção de desacreditar a esplêndida junção de esforços aplaudida por todos e que nos coloca diante de lances de dedicação e heroísmo que enaltecem a condição humana.

Não dá mais para esperar. O Congresso precisa aprovar logo a regulação das plataformas digitais, doa a quem doer. Os estelionatários das redes carecem ser contidos em sua corrosiva atuação.

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

 

São muitos os sinais

  


Cesar Vanucci *

 

“A humanidade está ameaçada”.

(Alerta da OMS )

 

Com a atenção focada nos impactantes acontecimentos do Rio Grande do Sul, retomo a candente questão das mudanças climáticas extremas.

 Começo falando de um sugestivo texto de Robert Frost, relativo aos sinais emitidos pela Natureza, para suavizar um pouco o tema perturbador trazido à reflexão. Com a palavra o poeta estadunidense: “Quantas vezes trovejou antes que Franklin compreendesse o sinal? Quantas maçãs caíram na cabeça de Newton antes que compreendesse o sinal? A Natureza nos manda sinais constantemente, repetidas vezes. E, de repente, nós percebemos o significado deste sinal.”

Frequentes, ruidosos, crescentemente ameaçadores, os sinais estão sendo captados por gente da ciência, da ecologia, das lideranças comprometidas com o bem-estar social. Cuidam elas, conscientes de sua missão no contexto civilizatório, de expedir alertas fundamentados sobre os sinistros riscos que andam rondando a humanidade em consequência dos desatinos praticados contra o meio ambiente. Os desmandos são cometidos em nome de ganância desenfreada e de feroz utilitarismo, que subjugam, implacavelmente, em favor de minorias, os sagrados interesses da coletividade.

Em  recente relatório produzido pela Organização Mundial de Saúde é enfatizado que as mudanças dos eventos climáticos  ceifaram milhares de vidas nos últimos anos. As modificações também estão ameaçando a segurança alimentar e aumentando as doenças transmitidas por alimentos, água e vetores, além de afetar negativamente a saúde mental de populações. O documento sustenta que as alterações operadas no clima são uma das emergências de saúde mais graves antepostas ao desenvolvimento social e econômico do planeta.

Paralelamente à manifestação da OMS, saiu publicada uma carta aberta que traz como signatários profissionais da saúde de todos os continentes. Nela, 300 organizações, representantes de pelo menos 45 milhões de profissionais de saúde, apelam por empenho da comunidade internacional para ações climáticas de sentido propositivo.

No relatório da OMS é acentuado ainda que “Compromissos nacionais ambiciosos sobre o clima são cruciais para os Estados.” A manifestação contempla os resultados de avolumado número de pesquisas que confirmam as incontáveis e inseparáveis ​​ligações entre o clima e a saúde. O documento descreve, além disso, como ações transformadoras em todos os setores, desde energia, transporte e Natureza, até sistemas alimentares e financiamento, são necessários para proteger a saúde.

A pandemia da Covid-19 nos revelou as ligações íntimas e delicadas entre humanos, animais e nosso meio ambiente, pontuou o porta-voz da OMS, Tedros Adhanom. “As mesmas escolhas insustentáveis ​​que estão matando nosso planeta estão matando pessoas”.

Tanto o relatório da agencia da ONU, quanto a carta aberta dos homens da ciência, vêm num momento em que eventos climáticos extremos sem precedentes e outros impactos climáticos estão agredindo, de forma inclemente, cada vez mais, a todos os seres vivos. Ondas de calor, tempestades e inundações arrebataram milhares de vidas e perturbaram milhões de outras, ao mesmo tempo em que afetaram os sistemas de saúde, as redes hospitalares e centros de atendimento médico em momentos cruciais.

Noutro ponto das abordagens feitas pela ONU é salientado que “A queima de combustíveis fósseis está nos matando e a mudança climática é a maior ameaça à humanidade”. Diz mais o documento: “Embora ninguém esteja a salvo dos impactos das mudanças climáticas, eles são desproporcionalmente sentidos pelos mais vulneráveis ​​e desfavorecidos”.

Voltaremos a falar do assunto.

 


* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

 

quinta-feira, 9 de maio de 2024

O impacto do “novo normal”

 



 

*Cesar Vanucci

“Há séculos a Natureza vem sendo transformada em dinheiro. Chegou a hora de o dinheiro restaurar a Natureza.” (Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente).

 

Os tempos das calamidades climáticas constantes são chegados. O que não tem faltado é anuncio prévio acerca da desassossegante possibilidade. A Natureza tem dado recados abundantes. A ciência não para de alertar sobre o que está por acontecer e já está, até mesmo, acontecendo.

A tragédia humanitária que se abateu sobre a Província do Rio Grande do Sul é amostra impactante do “novo normal climático”. No curto espaço de sete meses os Pampas Gaúchos foram impiedosamente alvejados. No verdadeiro cenário de guerra que se instalou em quase todas as cidades e zona rural, milhões de pessoas foram atingidas. As tempestades trouxeram inundações, deixando cidades inteiras submersas e isoladas por causa da destruição de estradas e pontes. Propriedades e lavouras foram arrasadas. O sistema de serviços essenciais ficou seriamente comprometido. Centenas de preciosas vidas foram perdidas. O numero de desabrigados alcançou cifras elevadíssimas. Uma calamidade jamais registrada naquelas paragens.

 Encarar catástrofes desse gênero com desdém e indiferença, pior ainda, com mórbido negacionismo significa fuga irracional da realidade. O negacionismo insolente é filho dileto do fanatismo ideológico. Fomenta teorias conspiratórias que desservem a causa da evolução humana.   

São múltiplos e muitas vezes imprevisíveis os desafios a serem enfrentados, daqui pra frente, pela sociedade nesta fase tormentosa de convulsão dos elementos naturais, provocadas pela insensatez e ganância dos povoadores deste belo e mal tratado planeta. Antes de nos ocuparmos de alguns aspectos relevantes da ameaçadora situação vivida pelo mundo contemporâneo, em função do aquecimento global, cumpre ressaltar um lance altamente significativo, rico em humanismo, observado em meio a volumosa carga desditosa da brusca alteração ambiental. O Brasil solidário acha-se muito bem representado nos dolorosos acontecimentos. Os Poderes públicos nas esferas Federal e Estaduais, Forças Armadas e policiais, bombeiros, órgãos de prestação de serviços comunitários, voluntários,  gente do povo, movidos pelo saudável propósito da ajuda incondicional, estão proporcionando estupenda demonstração dos frutos positivos que podem ser colhidos de uma poderosa conjugação de vontades focadas no bem comum. Coisas assim fazem renascer a esperança em momentos melhores. Amenizam o sofrimento e a dor das vítimas.

É preciso atentar para os sinais. Deu para perceber, nos dias que antecederam a tragédia no Sul, que a informação básica de que um fenômeno climático se avizinhava chegou ao conhecimento do público em tempo razoável. Zelar para o aprimoramento deste esquema é fundamental. A criação de estratégias de prevenção que contemplem obras vitais nas chamadas áreas de risco é outra medida a ser adotada. O fortalecimento da Defesa Civil com recursos tecnológicos avançados e continuo treinamento de seus integrantes para prevenir e acudir as emergências nos desastres naturais também faz parte do conjunto de providências a serem implementadas.

Atentar para os sinais é preciso. O indigesto “cardápio” dos cataclismas nascidos do adelgaçamento da camada de ozônio que circunda o globo terrestre abrange inesperados furacões, erupções vulcânicas, terremotos, secas climáticas, tsunamis e mais um colosso de coisas assustadoras. As lideranças mundiais não podem declinar do dever imperioso de definir ações inteligentes e vigorosas em defesa da coletividade. Pode estar em jogo, nessa historia do aquecimento global destes nossos tempos confusos, a própria sobrevivência da espécie humana.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

O Rio continua lindo, mas...

 


*Cesar Vanucci

 

“Uma verdadeira máfia, que tem entrado nas instituições, nos poderes, nos comércios e no sistema financeiro nacional”. (Governador Claudio Castro sobre as facções e as milícias no RJ)

 

O Rio continua lindo, como lembra Gilberto Gil, mas clamando por pronto socorro que possa curar as feridas abertas em seu tecido social. Refém das facções e milícias, sentindo-se insegura face à inoperância e corrupção de agentes  públicos, a chamada “cidade maravilhosa,” que soube encaixar na deslumbrante paisagem um complexo arquitetônico majestoso e febricitante, permanece há muito à espera de que alguém possa retirar as flechas do peito de seu Padroeiro para que São Sebastião do Rio de Janeiro possa ainda se salvar, conforme propõe Aldir Blanc em linda canção.

Na semana passada, outro surreal incidente voltou a encher de sobressalto a noite carioca. O serviço de inteligência da polícia detectou a presença, no Morro do Alemão, de integrantes graduados de uma organização do crime. As autoridades montaram uma operação de envergadura para a captura dos “fora da lei”. Mais de 300 policiais foram recrutados. Viaturas blindadas e até helicóptero foram mobilizados. O esquema de ocupação da área-alvo foi meticulosamente planejado. Quando o respeitável contingente policial, no romper da madrugada, chegou ao Morro do Alemão, deparou-se com uma situação inteiramente fora de todos os cálculos. Todas as ruas de acesso estavam bloqueadas com elementos encapuzados fortemente armados prontos para o enfrentamento da lei. Recebida a bala a guarnição policial reagiu, com o tiroteio estendendo-se por vários minutos, o que obviamente trouxe muito pavor aos moradores da comunidade. Nas horas seguintes o Governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, com desalento na voz, deu declaração pública reconhecendo o rotundo fracasso da operação, dizendo com todas as letras, pontos e vírgulas que os criminosos haviam sido dela informados previamente por agentes públicos inidôneos, pertencentes a banda podre da polícia. Isso aí representa mais uma prova assustadora da infiltração mafiosa nas esferas públicas no Rio de Janeiro, lugar que sempre foi visto no passado como a segunda terra natal de todos os brasileiros.

 

2) Bala perdida – Rio de janeiro , outra vez. No primeiro quadrimestre deste ano de 2024, quase cinquenta cidadãos, indefesos moradores de regiões dominadas por milícias e facções, foram atingidos por balas perdidas, durante troca de tiros entre a polícia e bandidos, entre membros de grupos criminosos rivais disputando território. Das pessoas atingidas oito vieram a falecer. Como é que pode?

 

3) Granadas – A Policia Federal acaba de revelar que as granadas arremessadas pelo ex-deputado Roberto Jeferson contra agentes da instituição, na véspera das eleições presidenciais, bem como as outras guardadas em sua residência, pertenciam ao arsenal da policia militar carioca. O desvio das mortíferas armas está sendo objeto de investigação. Ora, veja, pois!

 

4) Erro político – Por “falar em armas”, observadores argutos da cena pública admitem que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu “um tiro no pé”, cometendo erro político elementar, no discurso feito na manifestação em São Paulo na celebração do 1° de maio promovida pelas centrais sindicais. Foi quando pediu votos para seu candidato à Prefeitura paulista Guilherme Boulos. Pelo código eleitoral vigente posicionamentos dessa natureza, fora da fase pré-eleitoral, são taxativamente proibidos, implicando em punição para quem infrinja a lei. Mais do que de pressa, alguns partidos, entre eles o MDB que integra a colisão governamental, entraram com representações contra o Chefe do Governo na Justiça Eleitoral (STE) por propaganda antecipada. Que mancada!

 

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

quinta-feira, 2 de maio de 2024

Letra e música magistrais

 


Cesar Vanucci *

 “Tu pisavas nos astros  distraída...” 

(Orestes Barbosa, no clássico “Chão de estrelas”, composto em parceria com Silvio Caldas)

 

A crônica literária registra uma manifestação de Manuel Bandeira, que causou na época em que foi feita, anos atrás, grande surpresa e chegou a provocar, até mesmo, um certo clima polêmico. Indagado sobre quais seriam os mais belos versos da poesia brasileira, o grande vate, sem titubeios, respondeu: “Tu pisavas nos astros distraída.” A resposta colocou no foco das atenções um clássico da MPB, “Chão de estrelas”, de onde os versos apontados por Bandeira foram retirados. Conferiu, também, justo realce a um excelente poeta popular que não frequentava os salões acadêmicos mais refinados. Orestes Barbosa, coautor da melodia, ao lado do portentoso intérprete Sílvio Caldas.

 

Arrostando rançosos preconceitos com o veredito proferido, o autor de “Evocação do Recife” convidou-nos, de certa maneira, com a autoridade de inconteste conhecedor do fascinante oficio da versejação, a aprender extrair das canções populares brasileiras outros achados poéticos.

 

Partilhando dessa certeza de que a incomparável música popular feita no Brasil é um repositório de poesia da melhor qualidade resolvi, quando de minha passagem pela direção da Rede Minas de Televisão, abrir espaço especial num dos programas que criei (“Um livro aberto”, dedicado à temática literária) para interpretações musicais do cancioneiro nacional. O canto era acompanhado de comentários sobre os versos das composições.

 

Dentro dessa linha de raciocínio, resolvi também, em certo período, ampliar a tal coleção de frases com letras de melodias conservadas no carinho e enlevo pela memória das ruas.

 

Algumas delas. “A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar; tão leve, mas tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar.” (“A felicidade”, tema do filme “Orfeu negro”, Vinicius de Moraes e Tom Jobim).

 

“Mas que bobagem, as rosas não falam. Simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti...” (samba-canção “As rosas não falam”, de Cartola).

 

“Atire a primeira pedra, ai, ai, ai. Aquele que não sofreu por amor.” (“Atire a primeira pedra”, Mário Lago e Ataulfo Alves).

 

“Vê, estão voltando as flores. Vê, nessa manhã tão linda. Vê, como é bonita a vida. Vê, há esperança, ainda” (marcha-rancho, “Estão voltando as flores”, Paulo Soledade).

 

“Quem nasce lá na vila, nem sequer vacila em abraçar o samba, que faz dançar os galhos do arvoredo e faz a lua nascer mais cedo.” (“Feitiço da vila”, Vadico e Noel Rosa).

 

“Batuque é um privilégio, ninguém aprende samba no colégio.” (“Feitio de oração”, Noel Rosa e Vadico)

 

“Se a lua nasce por detrás da verde mata mais parece um sol de prata, prateando a solidão.” (“Luar do sertão”, toada, Catullo da Paixão Cearense).

 

“Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe, faz a hora, não espera acontecer.” (“Pra não dizer que não falei de flores”, Geraldo Vandré)

 

“O mundo é uma escola, onde a gente precisa aprender a ciência de viver, pra não sofrer.” (“Pra machucar meu coração”, Ary Barroso)

 

“Fazer samba não é contar piada, quem faz samba assim não é de nada; um bom samba é uma forma de oração, porque o samba é a tristeza que balança e a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste não”. (“Samba da bênção”, Vinicius e Baden Pawell).

 

“Ai! Que amar é se ir morrendo pela vida afora. É refletir na lágrima, um momento breve de uma estrela pura cuja luz morreu.” (Serenata do Adeus”, Vinicius de Moraes).

 

“Nesta viola eu canto e gemo de verdade; cada toada representa uma sodade.” (“Tristeza do Jeca”, toada, Angelino de Oliveira).

 

“Tu és, de Deus a soberana flor. Tu és de Deus a criação, que em todo o coração sepultas o amor, o riso, a fé e a dor em sândalos dolentes.” (“Rosa”, valsa, Alfredo Vianna, o Pixinguinha).

 

“O mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito...” (“O mar”, Dorival Caymmi).

 

 

*  Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

A SAGA LANDELL MOURA

Por falar em supersalários...

  *Cesar Vanucci “O que se pretende é regulamentar o que já está regulamentado” (Domingos Justino Pinto, educador.)     Pela enési...