Parábola
do Semeador (Mc
4,3-8). Eis que o semeador saiu para semear. Ora, enquanto semeava, parte caiu
a beira do caminho; vieram os pássaros e comeram tudo. Parte caiu também num
lugar pedregoso, onde não havia muita terra; logo germinou porque não havia
terra profunda; quando o sol se levantou, foi queimada e, por lhe faltarem
raízes, secou. Parte também caiu entre os espinhos; os espinhos cresceram e a
sufocaram, e ela não deu fruto. Outros grãos caíram em terra boa e, crescendo e
desenvolvendo-se, produziram fruto, e renderam trinta por um, sessenta por um,
cem... Raquel
é
essa terra onde as sementes se desenvolvem produzindo frutos cem por um...
Frutos
de Sabedoria no planejamento, construção e funcionamento do Instituto Superior
de Medicina (ISMD) em 2006, onde
Raquel além de dona proprietária é professora encantando não só com sua
competência como também com a sabedoria na condução e orientação
pedagógica
e como diretora da unidade de São
Paulo. O ISMD é um núcleo
de Pós-
graduação da
Faculdade de Ciências
Medicas de Minas Gerais. Raquel é
professora da Pós-
graduação
desta faculdade. O ISMD é
um Instituto que atende gratuitamente pacientes (demanda reprimida do sistema
único de saúde), nas áreas de Dermatologia, Psiquiatria e endocrinologia. Hoje
conta com duas unidades, uma em Belo Horizonte e outra em
São
Paulo capital.
Frutos
de Bondade no
acolher tantas e tantas crianças sedentas de abraços, caricias e principalmente
da ternura de um colinho como acontece no Hospital da Baleia, na oncologia
pediátrica e na radioterapia. Graduada em Medicina pela Universidade Vale do rio verde de Três Corações,
e com um coração
repleto de amor, Raquel cuida do corpo e
da alma de pequeninos grandes e grandes pequeninos que sempre a cercam com
sede de ternura e alivio.
Frutos
de Caridade na
Universidade Federal de Minas Gerais onde é Professora e Orientadora de teses
na área de doenças infecciosas na UFMG, como pesquisadora, desenvolve projetos
em associação com a Universidade do Estado de Michigan, e com o instituto Lauro de Souza Lima, na
cidade de Bauru, São Paulo.
Raquel
tem Doutorado e Mestrado em Ciências Físicas e Biológicas pela Universidade
Federal de Minas Gerais onde também se graduou em Farmácia e Bioquímica.
Frutos
de paciente disponibilidade na
Universidade do Estado de Michigan, dos
Estados Unidos onde, sem esse Divino fruto,
não
teria condições de desenvolver, com tanta eficiência, a função de professora e
pesquisadora, nas áreas de Biologia Molecular.
Raquel é
pós-doutora
em Ciências
Biológicas
e Ciências
da Saúde
pela Universidade do Estado de Michigan e um dos seus focos de pesquisa são as
microbactérias resistentes a novos antibióticos.
Paciente
disponibilidade é
realmente o Fruto Mestre tão
necessário nessa
e noutras áreas
de pesquisa a que Raquel se dedica como
micologia medica, microbiologia clinica ocular e hanseníase, e mais
recentemente criou uma linha de pesquisa, junto com a Universidade do Estado de
São Paulo (USP), em próteses faciais 3D, para pacientes com lesões faciais.
E
esse terreno profissional maravilhosamente abençoado
chamado Raquel Vilela continua produzindo frutos que palavras não dizem,
palavras não contam, sentem-se... Vivem-se...
Na
literatura
caminha a passos largos como Escritora para crianças e adultos em prosa e
poesia. Seus livros carregam além da magia na leitura a magica da caridade pois
toda a arrecadação, com sua venda, é destinada a obras de caridade. Geralmente
em hospitais... Foi assim com o
"SORRISO DO JOÃO" com " A
LUA TEM MESMO QUATRO FACES", " PERENE" com
"A LEVEZA QUE A VIDA TEM E O AVC" assim aconteceu com o valor arrecadado com a
venda de " UM SONHO CARECA" da
mesma forma aconteceu com " A HISTORIA DE LUCAS" este escrito pela incrível dupla Raquel
Vilela e Rosanne Von Spperling e ilustrado com maestria pela Iara Rachid e do
qual posso dizer: LUCAS... Olhinhos vivos, atentos. Alma de gigante repleta de
indagações confiantes, de certezas..."sabia que você vinha". de
desafios "viu como sei nadar?" de necessidades, de limitações, de
sonhos, de fantasias e percepções encantando as autoras que de uma forma muito
especial e concreta construíram magistralmente, qual arquitetas de vida, em
palavras uma "tarde vida" vivida ao lado de LUCAS numa piscina, num
terno acariciar de mergulhos, braçadas e sonhos...É maravilhoso saber ler e
escrever VIDA da forma como a que pulsa nas páginas do livro e que antes gritou
silenciosamente no coração e na alma das autoras, florescendo como que, num
delicioso acalanto de amor.
“A
HISTÓRIA DE LUCAS”.
E
esse terreno abençoado continua produzindo frutos com o seu “O MUNDO DOS
PERDIDOS E ACHADOS” e mais recente lançamento.
Mas
os mais belos frutos dos abençoados terrenos Raquel e Rubens, Raquel Virgínia
Rocha Vilela e Rubens Costa Vilela são suas filhas. Sem dúvida são suas filhas:
Luiza, Priscila, Gabriela e Camila Rocha Vilela.
São
sem dúvida repito, os mais belos e preciosos frutos com o que esse abençoado terreno
nos presenteou.
Raquel
Virgínia Rocha Vilela. Casa de São Francisco agora, também é sua. Entre, entre.
Seja bem vinda!”
Manifestação
da Acadêmica Maria Inês Chaves de Andrade
“Sejam bem-vindos! É com muito carinho que os
recebemos na casa de São Francisco de Assis, nesta data solene e festiva de
seis de Outubro de 2018, em que a Academia Municipalista de Letras de Minas
Gerais se reúne em seção de posse para receber, em seu elenco de acadêmicos, a
Neo Acadêmica Raquel Virgínia Rocha Vilela.
Em cenário literário e, por isso mesmo, “porque hoje é
sábado”, Raquel Vilela exsurge enquanto autora de uma história que a tem por
personagem principal, sob um roteiro denso que a apresenta, objetivamente, dando-nos
a saber da profissional competente e titulada, de cuja aridez curricular,
deflui, atestada por inquestionável, sua sensibilidade de mulher fora de
série.
Casada com Rubens Costa Vilela, oftalmologista, com
ele teve quatro filhas: Luíza, Priscila, Gabriela e Camila, todas médicas,
permitindo-me Camila aqui pensar sua odontologia sob o léxico lusitano para
dizê-la medicina dentária. Neste momento, delicadamente, ao Dr. Rubens peço
licença para pontuar a graça que mereceu, seja por bênção e alegria, quando, ao
cuidar de olhos que veem, mereceu olhos que enxergam e identificou Raquel
Virgínia Rocha, esta mesma tornada Vilela por amor. Quem nasceu Rubens
experimenta mesmo de todo plúrimo do bem!
Agora, convém-me contar-lhes fofoca de prefácio, na
lavra de Natalina Jardim, que suspeitou de Raquel da seguinte forma: “Leva-nos
a crer que traz para o texto passagens ricas de sua feliz infância”. Na
verdade, denunciara Natalina Jardim a criança interior de Raquel, de coração,
intacta, brincando maturidades sobre temas caros, tanto preço não tenham. E
quase posso dizer, depois de ter sabido muito, que esta menina-mulher mora em
Belo Horizonte, exatamente, para certificar-nos de que o horizonte pode mesmo
ser belo, bastante seu ponto de vista, mesmo quando o mirante estiver
completamente nebuloso.
Por isso, dizem que a Baleia retornada de Nínive virou
Hospital para tê-la em si feito Jonas – possam anjos dele se insinuarem pelas
mesmas letras – tenha Deus lhe dado a missão inarredável de curar os meninos e
as “Minas” Gerais.
A tessitura entre a cientista, a médica e a escritora,
entremeadas por uma espiritualidade inquestionável, em moldura de mulher linda,
em Raquel Vilela providenciaram um ser humano em toda dimensão que há para
dizê-lo humano, sendo. Ora, ao estudar Heidegger que indagara o sentido do ser do ente
porquanto o “ser é sempre ser de um ente” compreendeu-se que era preciso, muito
preciso que nos voltássemos à interpretação de nós mesmos se nos quiséssemos desocultar
– porque ser e ao mesmo tempo não ser, não pode ser – esse simol non esse, esse
non potest; o mesmo que se dizer ser humano e ao mesmo tempo não sendo humano,
não pode ser, vez que o homem é o ente, o que existe e que revela o ser através
do logos, que amadurece num processo histórico motivado pela questão que assola
a humanidade desde sempre: quem somos!?
Pois, Raquel Vilela sabe
que é um ser humano. Caiba a esta Academia entregar-se ao texto vivo dela, a
interpretação deflui lógica e o apontamento que se adianta é que sua aparência
é um sinal de sua essência, quando a hermenêutica dá-se a revelar, então, uma
essência rescendente de humanidade sob delicadezas que, como verdade, se torna
certeza na consciência. Veja-se. A partir do pensamento analítico abstrato,
dividindo a realidade em essência e aparência, apresenta-se Raquel Vilela
enquanto ser humano e mulher. É então que o pensamento dialético compreensivo
achega-se para revelar essa sua essência humana no momento da totalidade,
quando enquanto mulher coloca seu fundamento em si mesma e não em outro, fosse
atribuir a Deus as qualidades que a si pertencem e que ostenta na própria
confecção de si como imagem e semelhança do que aspira em fé e teologia, o Ser
plenamente Humano que a assiste sendo. E o faz através de suas obras,
lembram-se?! Fé com obras. Trata-se de roteiros de amor efetivo, ela personagem
principal, com coadjuvantes que se revelam ao Oscar e figurantes reconhecidos
como heróis, tanto recepcione cada um em sua singularidade para tomá-lo por
único. Faz AVC ser leve, carequice ser sonho e câncer, caranguejo, tanto astral
lhe impute a astrologia, dando sempre a escancarar alegrias imensas de cada
tristeza ensimesmada, quase tivesse sido sua carta natal escrita por Papai
Noel.
A alienação da essência
humana procedida em Deus desaparece quando Raquel Vilela assume-se filha Dele e
imagem e semelhança providencia a acolhida do Outro através de suas histórias,
na dimensão que pode. Brinca que foi Princesa Izabel noutra vida. Pois, crenças
à parte, de fato o que a moça tem é essa certeza imensa de que sempre laborou
pela liberdade, a liberdade enquanto valor e de todas as formas, a liberdade
pela qual luta esta Princesa Raquel nesta vida, para libertar os que se
encontram sob o jugo da doença e da angústia, na senzala do desespero.
Sabe-se que a alienação é
um risco mesmo do processo de interpretação dado que “o ser torna exterior a si
o que está nele e constitui sua essência”, considerando-a realidade diversa,
quando a entifica, na separação entre essência e aparência. Raquel Vilela não o
faz. A interpretação que oferece de si é a de uma escritora sobrecarregada
espiritualmente pelo compromisso de sê-lo, tanto se sabe, da forma como se
queira, literária e humanamente, segura do Verbo e da Palavra, que assume com
caneta, abraço, oração e bisturi.
Em Raquel, a ação de ser
humano encontra o sujeito que age com este propósito, quando, em sua ligação
com Deus, a intransitividade revela - como desvela - o ser humano a partir do
bicho-homem.”
Palavra de Raquel Vilela
“Cumprimento os componentes à mesa, nosso Ilustríssimo
presidente da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, César Pereira
Vanucci e a Ilustríssima Acadêmica Maria Armanda Capelão que fará a saudação. A
mestre de cerimônia Maria Inês Chaves. Agradeço a presença das Presidentes
eméritas da AFEMIL e da Academia Mineira de Letras Elizabeth Rennó. Demais
autoridades aqui presentes. Agradeço a presença dos amigos da Faculdade de
Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais., e aos amigos da FAJE,
Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Agradeço a presença de meu marido
Rubens Vilela, minhas filhas, Luiza, Priscila, Gabriella, Camila e meus Genros
Daniel, Bruno, Felipe e Leonardo.
Espero não ter sido injusta deixando de partilhar a
alegria deste encontro sendo traída por algum esquecimento. Estou feliz com a
presença de todos que vieram participar comigo da alegria e emoção desta
memorável data de minha posse. É uma honra.
Hoje está fazendo uma belíssima manhã de primavera, e
com ela a proclamação da chegada das flores, estação fecunda que vem trazendo a
promessa de dias alegres e iluminados pelas belíssimas cores, que explodem
primeiro um botão e depois pura poesia.
Esta pequena descrição da primavera faz-me recordar a
mitologia Grega que lança mão do mito para explicar, a diferença entre as estações do ano. A
lenda de “Deméter” (deusa da fertilidade do solo) e sua filha “Perséfone” cujo
pai era Zeus, “deus dos deuses”.
Perséfone era considerada uma das mulheres mais
lindas. A cada dia que passava a sua beleza era mais irradiante e exalava
perfume no ar, e este produzia um encantamento divino em todos o que tinham o
prazer de ficar em sua presença.
Conta-se que Hades (deus do mundo subterrâneo,
“inferno”), buscando encontrar uma esposa, deslumbrou-se ao ver Perséfone, e
sua paixão foi tão arrasadora que ele resolveu rapta-la.
Foi então que, Deméter, mãe de Perséfone, saiu a
procura de sua filha tanto no Olimpo, quanto na Terra. Por não achar sua filha,
Deméter ficou irada e muito triste, e tais sentimentos teriam causado uma seca
prolongada na terra, já que ela era a deusa da fertilidade do solo, ás vezes
ela chorava copiosamente e como resultado, proporcionava longas enchentes.
Para acalmá-la, Zeus resolveu intervir e fez um trato
com seu irmão Hades: Perséfone teria que passar seis meses do ano ao lado de
Hades no mundo subterrâneo, e os outros seis ela estaria “liberada” para passar
ao lado da mãe.
Sendo assim, o período em que Perséfone estaria ao lado
de Hades, sua mãe ficaria muito triste, e como resultado de sua melancolia, as
folhas das árvores cairiam e a natureza reagiria com a chegada do outono, com o
passar do tempo a saudade da mãe aumentaria, e o vento então sopraria mais
forte, e a neve e o frio tomaria conta de tudo era a chegada do inverno.
Porém, os seis meses vindouros quando Hades trazia de
volta a bela Perséfone, o mundo se encheria de cores, e tudo se tornaria
fecundo, as flores desabrochariam para enfeitar a terra onde Perséfone, iria
passar, surgindo assim a primavera, e seguir-se-ia o verão, estação que
aqueceria todos os corações da terra, e sua mãe Deméter, sorria feliz
novamente.
Desde os princípios do tempo datado dos séculos V antes de Cristo, o
Homem almeja explicações para fenômenos observados na natureza, procurando
conjugá-los ao comportamento humano.
Fico imaginando que muitos de vocês devem estar pensando, porque ela
está falando de mitologia grega...? Para fazer um breve preâmbulo, que
configura a essência humana de criamos histórias ou estórias que se mesclam com
a nossa identidade e ditamos um pouco de quem somos nós.
Fui uma criança livre, feliz tive uma infância modesta, mas rica em
alegria e amor, o tempo parecia ser sempre pouco para mim, pois as ideias
fantasiosas que criava em meu pequeno mundo, pareciam não caber nele. O cenário
deste mundo era o terreiro de minha casa... muita tinta, muitas escadas... e
areia. Tudo que uma criança precisa para criar e brincar durante todo dia.
Nasci cercada de montanhas da famosa Serra Del´Rei, ou melhor Serra do
Curral, no familiar Bairro Floresta. A minha casa foi a primeira da rua ainda
de chão batido, e bem a frente desta rua era um enorme matagal, excelente para
uma cabeça criativa, ver todos os fantasmas. Do outro lado da rua, era um
despenhadeiro, e lá baixo, se construiria mais tarde, os dois Túneis de Belo
Horizonte (Túnel da Lagoinha, e Tancredo Neves), onde antes existia um campo de
futebol, que se chamava Campo do Galena, lugar onde eu acostumava descer para
brincar. Na primavera, tempos de Perséfone, o campo se enchia de uma florzinha,
uma margaridinha de cor laranja intensa, era o anúncio da primavera.
Eu também vivi para ver e brincar em meio à natureza porque sou da época
das Tanajuras... e a meninada ficava louca. É... sou natural das Minas Gerais e
nasci na cidade de Belo Horizonte, casula de 10 irmãos, fui a única que nasci
em um hospital, na época maternidade São Lucas. Belo Horizonte...
Morar entre montanhas... acho que aguça nosso sensu comum poético.
Primeiro que a montanha sempre nos convida a subir, e lá de cima mirar o mundo
sob outra perspectiva. Além disso, a caminhada até o topo é sempre um apelo
reflexivo, que nos transporta com o sentimento de que não é apenas chegar no topo
e ver com outros olhos, mas descobrir o que esta caminhada te ensinou até você
chegar aí. Pensar em Belo Horizonte é sempre uma bela cena que se abre.
Hoje quando olhamos para trás vislumbramos o que antes era apenas um
arraial, com o passar dos anos, observou-se um crescimento do então vilarejo,
que começa mostrar os primeiros contornos de uma pequena cidade. A princípio
este é um processo muito óbvio na instituição de qualquer cidade. Porém, de
forma despercebida esquecemo-nos dos anseios que foram almejados quando tudo
começou, quantas aspirações foram aí depositadas, quantos medos e adversidades
foram enfrentados para que esse progresso fosse alcançado.
Toda cidade divide um pouco desta verdade, são construídas de sonhos.
Cria-se primeiro o cenário, depois os atores entram em cena e assim começa o
processo histórico, que perpetua através do tempo, envolvidos pelas conjecturas
do momento histórico. O tempo vai modelando os acontecimentos e de repente
existe ali, exatamente neste lugar, neste arraial, nesta cidade várias
biografias para contar, como Maria Clara Machado escritora e dramaturga
brasileira famosa por suas peças infantis, Fernando Tavares Sabino escritor e
jornalista, Hélio Pelegrino médico e poeta, Elizabeth Rennó primeira mulher a
ocupar a presidência da Academia Mineira de Letras e seu legado bibliográfico
enriquecedor, Maria Armanda Capelão escritora de mais de 30 livros infantis e
detentora de vida rica e gloriosa e muitos outros grandes personagens que
contribuem com o processo histórico de nossa cidade, mesmo que não sejam
naturais desta, mas que a tenha escolhido para instituir parte da construção de
sua vida. Afinal, Lar é o local que escolhemos para depositar parte de nossas
esperanças, vivências e experiências humanas.
A história desta cidade se mescla com a coragem de desbravadores
bandeirantes. João Leite da Silva Ortiz,
foi um bandeirante que chegou até a Serra de Congonhas na corrida para
encontrar minas de ouro. Encantado pela beleza destas serras João Ortiz, apesar
de não ter encontrado o tão sonhado ouro, estabeleceu-se neste lugar que passou
a se chamar Arraial do Curral del Rei.
A cidade de Belo Horizonte foi escolhida em 1893, no início do século
XIX, para ser a capital do Estado de Minas Gerais, após averiguação de que a capital,
Ouro Preto, não oferecia estrutura para expansão urbana devido seu relevo
acidentado. Por essas razões, Belo Horizonte foi escolhida pela localização
privilegiada, zona da Mata, e também pelo relevo e clima favoráveis, sendo
assim a cidade foi totalmente planejada no modelo de vanguarda urbano da época
A década de 40 do século XX foi marcada pelo avanço da industrialização.
Nessa época foi inaugurado o Complexo Arquitetônico da Pampulha (composto pela
Igreja de São Francisco de Assis, o Iate Tênis Clube, a Casa do Baile e o
Cassino, hoje Museu de Arte da Pampulha, circundando a Lagoa da Pampulha),
encomendado pelo prefeito em exercício Juscelino Kubitschek, com projeto
assinado por Oscar Niemeyer, paisagismos de Roberto Burle Marx, com painéis de
Candido Portinari, e as esculturas de Alfredo Cesshiatti e José Pedrosa.
Nos anos 60 e 70 a capital passou por um processo acelerado de
crescimento urbano que avançou sobre suas ruas, quando foram demolidas casas e
áreas verdes e ergueram-se altos prédios, em um processo de descaracterização
da "Cidade-Jardim".
A partir dos anos 80, a desaceleração econômica prevaleceu e os
movimentos sociais urbanos organizavam-se para reivindicar direitos urbanos
básicos, como transporte público, atendimento médico e acesso à educação. A
partir do início da década de 90, Belo Horizonte é marcada por programas e
projetos de melhorias urbanas e sociais, com a efetiva participação popular,
fazendo Belo Horizonte chegar ao século XXI com quase 2,5 milhões de habitantes
distribuídos em seus 331 km².
Eu sou da época de tradições e também dos anos Dourados de Belo
Horizonte. Como é citado no livro da autora Marilene Guzella Lemos, intitulado
“ Belo Horizonte, Nos anos Dourados”, eu
também me recordo do famoso café Pérola, das lojas Grande Camiseiro, Do Bico
das Canetas, Lojas Brasileiras, Mesbla, Embrava, Inglesa Levi, Casa Sloper,
Perfumaria Lourdes, dentre outras. Como a própria Marilene diz: “Os Anos
Dourados foram Tempos de paz”, mas o seu lugar na história não é marcado por páginas
em branco. Sobre eles existem muita coisa para contar”.
Belo Horizonte é uma cidade sonho, assim como a maioria das cidades, e
como diz Machado de Assis no ano de 1900:
“ Um dos ofícios do homem é fechar e apertar muito os olhos a ver se
continua pela noite velha o sonho truncado da noite moça...” Portanto,
continuemos a sonhar a nossa Belo Horizonte.
Escolhi como Patrono da cadeira de número 334 um Mineiro natural da Bela
cidade de Boa Esperança, sempre me identifiquei com sua escrita, talvez porque
nós dois nascemos em cidades abraçadas por belíssimas Serras, eu a Serra do
Curral Del Rei, e ele da Serra da Boa esperança. Falar de Rubem Alves para mim
não é uma tarefa árdua, no tocante a sua complexa personalidade, eu jamais
conseguiria alcançar todas elas realizando análises profundas, mas quando penso
em Rubem Alves, sempre faço um paralelo com uma criatura alada, de mente
desprendida de convenções, um lutador de si mesmo. Como diz Kierkegaard (...)
Mas o voo nos faz lembrar os seres emancipados das condições Telúricas, um
privilégio reservado para as criaturas aladas...”
Rubem Alves é natural de Boa Esperança Minas Geral, escritor pedagogo,
poeta e filósofo de temas variados, cronista do cotidiano, contador de
estórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros e psicanalista. Ele é
considerado um dos intelectuais mais famosos e respeitados do Brasil. Autor de
vastíssima obra, já publicou textos sobre educação, meditações teológicas,
crônicas e estórias infantis. Foi membro da academia Campinense de Letras,
professor emérito da Unicamp e cidadão honorário de Campinas.
Menino criado nas Minas Gerais, cercado pelas serras da bela cidade de
Boa Esperança, sempre demonstrou desde cedo seu fascínio pela leitura. Ele foi
uma criança tímida e seus pais se mudaram para a cidade do Rio de Janeiro,
quando ele era ainda criança. Filhos de pais evangélicos, ele seguiu a tradição
familiar estudando teologia e se tornou Pastor evangélico da igreja
Presbiteriana do Brasil. A influência religiosa em sua vida sempre foi muito
forte, e por muitas vezes sentiu-se tolhido pela doutrina adotada pela igreja a
qual pertencia. Sua vibrante capacidade de pensar e de fazer questionamentos
profundos aos dogmas adotados pela sua crença religiosa despertou crescentes conflitos
por parte da cúpula que regia sua igreja. Sempre foi muito criticado por seus
pares, pois demonstrava em seus sermões, seu inconformismo mediante as várias
questões religiosas. Especialmente, no tocante da visão de Deus, pois a visão
interpretativa que era apreciada pela formação presbiteriana, era de um Deus
com postura punitiva, e que exigia dos fieis algumas barganhas para a
instituição da Graça divina. Como a
direção da igreja começou a sentir-se ameaçada por suas ideias, resolveu após
algumas advertências, incluindo proibição de alguns sermões, exonera-lo da
igreja presbiteriana, como punição a um sermão, no qual, ele revelava a
importância de nunca abandonarmos o nosso lado criança.
Rubem Alves tem um papel crucial na Teologia da Libertação, e nesta
época começou a reunir, com Frei Beto, e Leonardo Boff. A sua veia literária
infantil estava apenas começando...
Ele casou-se, ainda jovem, como pastor e teve três filhos dois homens, e
uma temporona. A esta filha que deu-lhe o nome de Raquel.
Raquel teve uma importância fundamental na longa fase da literatura
infantil de Rubem Alves. Nascida com uma deformidade de fissura labial, com
alterações morfológicas importantes que comprometiam face, foi submetida a
muitas cirurgias reparatórias. Este fato, o transportou para uma fase de
profundos questionamentos, sobre o sofrimento humano. Sendo assim, muitas vezes
em seus livros ele deixa expressar um sentimento de culpabilidade pela
deformidade de sua filha. Era como se ele tivesse agora acreditando em um Deus
punitivo, a mesma visão de Deus que ele tantas vezes questionará por não
aceitar, agora o atormentava. A forma que ele encontrou para trabalhar com este
conflito, foi começar a escrever histórias infantis que pudessem ajudar a sua
filha a enfrentar seus desafios. Desafios estes que eram pautados tanto pelo
tratamento da alteração anatômica em si, como aqueles de lidar com as
distorções da sociedade, e ao lidar com o que era diferente, levando em
consideração aos inúmeros constrangimentos que ele enfrentou com ela em locais
públicos.
Rubem Alves tinha um caso de amor
com a vida, esta é a frase que ele escolheu para que escrevesse em sua
lápide. No livro “Arquivos Literários” da nossa querida Elizabeth Rennó, em um
de seus prefácios dedicado a José Afrânio Moreira Duarte, ela começa sua
apresentação com a seguinte frase. “A bússola que sempre norteou os caminhos de
José Afrânio Moreira Duarte, chama-se solidariedade.” Ousando-me a parafrasear
a referida autora eu assim escreveria.
A Bussola que sempre norteou os caminhos de Rubem Alves, chama-se
inquietação amorosa...” pois em todos os seus textos é possível identificar,
seu amor pelo belo, sua intimidade com Deus, seu espírito livre e apaixonado
pela educação, seu encantamento pelo novo, por tudo aquilo que leva o
homem a ter uma atitude reflexiva e
transformadora na formação de um ser moral .
O Que Rubem Alves tinha era um modo de ver as coisas diferentes. O modo
como os poetas vêm e são convidados a descreverem com palavras, a bela imagem
que lhes ressaltou aos olhos. Este modo diferente de ver as coisas simples do
cotidiano e ofuscá-las com detalhes sensíveis, e a facilidade com que abordava
temas difíceis que permeiam a vida de todo ser humano com simplicidade e
autenticidade, é que fez de Rubem quem ele foi e sempre será para seus
leitores.
Para exemplificar e deixar o aroma no ar deste grande escritor lerei
parte de seu livro. “Anotações essenciais”
de Rubem Alves.
(...)Temos uma capacidade
quase infinita de suportar a dor, desde que haja esperança. Diz-se que a
esperança é a última que morre. Mas o certo seria dizer: a penúltima. Há uma
morte que acontece antes da morte. Quando se conclui que não há mais razões
para viver. Quando morrem as razões para viver, entram em cena as razões para
morrer...(...)
(...) Amor é bibelô de
louça. Ciúme é a consciência de que o objeto amado não é posse: bibelôs quebram
fácil. Por isso, o amor dói, está cheio de incertezas. Discreto tocar de dedos,
suave encontro de olhares: coisa deliciosa, sem dúvida. E é por isso mesmo, por
ser tão discreto, por ser tão suave, que o amor se recusa a segurar. Amar é ter
um pássaro pousado no dedo...(...)
Poesia
A poesia não é uma
expressão do ser do poeta.
A poesia é uma expressão do
não ser do poeta.
O que escrevo não é o que
tenho; é o que me falta.
Escrevo para me completar.
Minha escritura é o pedaço
arrancado de mim.
Escrevo porque tenho sede e
não sou água.
Sou pote.
A poesia é água.
O pote é um pedaço de não
ser, cercado de argila por todos os lados, menos um.
O pote é útil, porque ele é
um vazio, que se pode carregar.
Nesse vazio, que não mata a
sede de ninguém, pode-se colher, na fonte, a água que mata a sede.
Poeta é pote. Poesia é
água. Pote não se parece com água. Poeta não se parece com poesia.
O pote contém a água. No
corpo do poeta estão as nascentes da poesia...
Hoje eu tenho
a honra de ocupar a cadeira de número 334 da Academia Municipalista de Letras
de Minas Gerais AMULMIG, peço as bênçãos de São Francisco de Assis para
colaborar com esta casa, fazendo o uso da simplicidade de gestos, clareza de
pensamento, ancorar-me na fé, e acreditar que através da literatura poderei
contribuir para meu crescimento próprio, e também para a construção de uma
sociedade mais justa.
Agradeço
imensamente aos acadêmicos, figuras literárias nas quais me espelho nesta casa,
pelo carinho de me ouvirem nesta linda manhã de outubro.”