quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Assim funciona a democracia

Cesar Vanucci

“Tudo nessa história de disco voador resvala o fantástico.”
“Uma corrida de revezamento.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)


(Explicação didática de Barack Obama, sobre a disputa eleitoral numa democracia)

Extrair da democracia, para plena utilização, todo ímpeto criativo, todas as propostas construtivas que ela seja capaz de engendrar. Confiar na democracia assim como “a palmeira confia no vento e o vento confia no ar”, conforme a recomendação poética de Thiago de Mello, mesmo sabendo-a carregada de imperfeições por culpa de equivocadas posturas humanas. Expressar inabalável convicção de que a pior das democracias é preferível à melhor das ditaduras. Ter presente, a propósito, que a expressão “melhor das ditaduras” não passa de mero ardil de linguagem.

Todo regime despótico, não importando a lateralidade ideológica, se de esquerda ou de direita, revela-se inapto a assegurar aos cidadãos subjugados qualquer vantagem compensatória em relação à aterrorizante supressão da liberdade. Relembrar sempre, sobretudo quando diante de alguma frustração política, aquela irretocável definição sobre a democracia feita pelo estadista Winston Churchill na Câmara dos Comuns inglesa, em 11 de setembro de 1947. Aqui está ela: “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.”

É preciso manter a atenção fixada nas engrenagens operacionais do sistema democrático. Absorver bem a ideia de que o voto significa voz. E que o vozerio majoritário outra coisa não exprime senão uma vontade a ser acatada sem tergiversações. Barack Obama, presidente do qual seus compatriotas sentem imensa saudade nesta fase de sucessivos desatinos praticados pelo sucessor, certa feita recorreu a sugestivo exemplo mode quê explicar didaticamente o mecanismo que rege o jogo democrático. Comparou as periódicas disputas eletivas a uma eletrizante corrida de revezamento. A cada etapa da competição o bastão é trocado de mãos. Os contendores dão o melhor de si, no percurso extenuante que se lhes toca cobrir, para levarem a cabo satisfatoriamente sua missão. Cuidam zelosamente, fieis a saudáveis regras, da respeitosa entrega do bastão aos disputantes seguintes. Ficam no direito, se assim desejarem, caso se ofereçam condições propícias, a participar das futuras corridas de revezamento.

A corrida eleitoral brasileira chegou ao seu epílogo. Foi pontuada, em não poucos instantes, por indesejável fragor belicoso, alimentado por exacerbadas paixões. Dos brasileiros de boa-vontade espera-se, agora, procurem com serenidade e inteligência, espírito desarmado, participar ativamente das etapas de construção do progresso e desenvolvimento que venham a ser programadas pelo interesse nacional e pela democracia. Com ideias propositivas, mesmo em situações que inspirem compreensível avaliação crítica, chutando pra fora da cancha desavenças de teor desedificante, cada cidadão é convocado a ocupar lugar no inadiável e ingente esforço de mobilização das forças vivas da nacionalidade em favor de políticas econômicas e administrativas capazes de assegurar crescente prosperidade para todos.

As siglas partidárias e as correntes de opinião são elos importantíssimos no encadeamento democrático. Acima delas, entretanto, importa muito colocar o sagrado interesse da coletividade. Coletividade essa que abriga infinitas diversidades de pensamento e métodos de ação. A liderança legitimamente obtida nas urnas pelos governantes recém-eleitos deles reclama grandeza cívica, sob a forma de gestos e palavras que apaziguem ânimos, eliminem desagradáveis idiossincrasias e traduzam sincera disposição em aceitar contribuições alheias de boas ideias na execução das politicas públicas a serem deflagradas objetivando a expansão do bem-estar comunitário. De outra parte, de quem se alinhe nas fileiras da oposição, portadores de uma missão relevante no esquema democrático republicano, é de se  aguardar, pela mesma forma, demonstrações de isenção e capacidade para não se furtarem à cooperação nos projetos e iniciativas dos governantes que consultem realmente as aspirações da sociedade.

É assim que as coisas funcionam na democracia. Nalgumas horas, uma clareira carece ser aberta na penosa caminhada do país em busca de seu destino, para que todos, independentemente das tendências e simpatias políticas, conscientes de que um poder mais alto de alevanta, se entreguem a uma generosa troca de experiências e produtivo reforço de ideias e atos que permitam imprimir ritmo mais veloz na busca dos objetivos sociais e civilizatórios.



Incidente ufológico em Brasília

Leitor que se confessa “fissurado” no chamado fenômeno ÓVNI cobra-me relato sobre um extraordinário episódio narrado em palestra que fiz no Congresso Brasileiro de Ufologia, ano passado, em Belo Horizonte. O “incidente” envolveu, logo nos começos de Brasília, dois homens públicos de projeção nacional. Ambos parlamentares. Ambos escritores. Ambos já falecidos.

Inicio a narrativa citando-lhes os nomes: Paulo Pinheiro Chagas e Plínio Salgado. Este último, presidente do PRP (Partido de Representação Popular), desfrutava de notoriedade como chefe da ação integralista, uma versão tupiniquim do movimento fascista italiano de Benito Mussolini. Sua obra mais apreciada como escritor focaliza a vida de Jesus Cristo. Pinheiro Chagas foi, provavelmente, o mais culto e talentoso tribuno parlamentar de sua época. De sua vasta produção literária faz parte o livro “Teófilo Otoni, o Ministro do Povo”, por muitos apontado como a melhor biografia já produzida de um personagem de nossa história. Estive ligado a Paulo, até os derradeiros momentos de sua peregrinação pela pátria terrena, por poderosos laços de amizade. Ele e senhora, a também saudosa Zembla, tia de minha esposa Addi, foram meus padrinhos de casamento. Foi dele, Paulo Pinheiro Chagas, que ouvi, por mais de uma vez, com requintados detalhes, o relato de uma incrível experiência ufológica.

Brasília vivia, em 1960, a efervescência de seus primeiros encantadores instantes de vida como centro das decisões políticas nacionais. O presidente da República era o inolvidável Juscelino Kubitschek de Oliveira. Paulo Pinheiro Chagas desempenhava as funções de líder do governo na Câmara dos Deputados. Num final de tarde, acompanhado do amigo deputado Crispim Jacques Bias Fortes, Pinheiro Chagas deixou a sede do Legislativo com o destino do Palácio do Planalto. O carro conduzia os parlamentares e o motorista. Eis que, de repente, a uma distância que possibilitou aos ocupantes do veículo em movimento visão bastante nítida da cena, surgiu um objeto aéreo fazendo desnorteantes evoluções. O artefato possuía o formato celebrizado na maioria dos avistamentos notificados nos anos 50: um pires com uma redoma. A imagem captada, como sempre ocorre em circunstâncias do gênero, deixou forte impacto nas testemunhas. Ali mesmo no carro, Paulo e companheiros tomaram uma deliberação: manter a ocorrência sob reserva, de modo a evitar repercussões de cunho político. A ferrenha oposição a JK não perdia chance para alvejar as decisões, atos e projetos governamentais. Provavelmente, partiria para uma tentativa de ridicularizar políticos tão próximos ao grande presidente, caso a história do contato de terceiro grau vazasse. As cautelas adotadas no sentido de se evitar a divulgação não impediram, todavia, que o fato merecesse pequeno registro, sem maiores detalhes, numa coluna de jornal brasiliense.

As coisas estavam colocadas nesse pé, quando Paulo Pinheiro Chagas recebeu uma ligação telefônica de Plínio Salgado. O líder da bancada integralista, vinculada a oposição, pediu-lhe uma conversa em caráter confidencial. Como o momento político se revelasse um tanto quanto conturbado, Paulo deu ciência a Juscelino do encontro proposto, na expectativa de que a conversa sigilosa com Plínio pudesse girar em torno de alguma questão política momentosa. Mas o papo, para espanto do líder do governo, tomou rumo totalmente diferente.

Plínio Salgado tivera ciência, pelo jornal, do caso do óvni. E não podia deixar de passar para seu companheiro de parlamento, como ele escritor, uma revelação espantosa. Contou, então, com visível emoção, os surpreendentes desdobramentos do incidente ufológico em causa. Naquela tarde, um “disco-voador” com configuração idêntica ao do avistamento de Pinheiro Chagas e Bias Fortes apareceu, inesperadamente, a curta distância do local onde Plínio Salgado se encontrava, no jardim da residência. O deputado sentiu-se imobilizado, depois de atingido por um feixe de luz desfechado do aparelho. Só algum tempo passado, com o objeto já fora do alcance visual, é que conseguiu recuperar os movimentos. O relato, como os investigadores do fenômeno óvni podem atestar, guarda semelhança com outras ocorrências ufológicas e favorece a dedução de que Plínio Salgado, naquele momento, talvez houvesse sido alvo de uma abdução.

Pra encerrar a conversa: em Belo Horizonte, no bairro da Serra, anos mais tarde, Paulo Pinheiro Chagas testemunhou um outro avistamento de óvni.

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