UM LINDO
BRINDE
NATALINO
Presenteio hoje os amigos deste Blog com um material literário de primeira qualidade, ao reproduzir a "edição de fim de ano" da "Gazeta da Academia", periódico eletrônico lançado pela Academia Mineira de Leonismo.
Façam bom proveito dos magníficos textos e belas ilustrações enfeixados na edição, que estampa poemas e crônicas natalinas extraídos de exemplar do ano de 1966 do famoso Suplemento Literário da Imprensa Oficial.
ACADEMIA MINEIRA DE LEONISMO
ANO III / DEZEMBRO 2014
EDIÇÃO ESPECIAL DE FIM DE ANO
NATAL, POESIA E PROSA
Em
2012,
na celebração
dos 120 anos da
Imprensa Oficial de
Minas Gerais, foi lançada uma edição comemorativa do
“Suplemento
Literário
das
“Minas
Gerais,” reunindo exemplares
correspondentes ao ano de 1966”.
“Natal, poesia e prosa”, o titulo da publicação de n°
17,
Ano I, de sábado, 24 de dezembro do referido ano. O exemplar era vendido ao preço
de Cr$ 150, como consta do
cabeçalho.
O material estampado no numero referido, organizado pela escritora
Laís Correa de
Araújo, como de resto em todos os
números do “Suplemento”
ao
longo de
sua trajetória, é de valor literário e histórico imensurável. Alguns dos
mais importantes intelectuais brasileiros
registram ali belíssimas
criações em prosa e verso. Os textos são ilustrados
com
reproduções
de
telas de pintores
famosos, algumas delas estampadas
abaixo.
A “Gazeta da Academia” tem o grato
prazer de reproduzir,
para deleite dos leitores, nesta
sua
edição de final de ano em 2014, alguns desses trabalhos, preservando a pontuação original.
Rogier Van Der Weyden – Adoração dos Reis ( Sec. XV)
SEGUNDA DOR
Alphonsus de GUIMARAENS
Eram pastôres rudes
e pastôras
Que o sol do Oriente em beijos
enrubesce,
E transforma em visões encantadoras
Na suavidade da alva que amanhece:
Eram bandos de velhos, e de louras
Crianças gentis, as
mãos
postas em prece
Frontes humildes,
Almas sonhadoras,
Por onde a bênção do Senhor
floresce:
Era a sublime adoração
do povo,
À luz
daquele celestial Presepe,
Diante do leito de menino
nôvo:
Diante
do leito
em que
Êle adormecia,
Hoje de flôres, amanhã de
crepe,
Berço de Deus, Santo- Sepulcro um dia...
A Virgem com o Menino – Hans Menling (Sec.
XV)
POEMETO
DE
NATAL
Emílio MOURA
Que diz a estrêla
ao menino? Que segrêdo,
rápido, baixa, sobre a fronte
que se ilumina e capta
o esquivo maravilhoso?
Que diz o vento
ao menino? Que desígnios
esconde? Que ária inventa,
entre flôres e frondes,
para que o infante durma?
Que múrmura mensagem
corta o espaço? Que elo,
rútilo, anula
a infinita distância
entre o menino e a estrêla?
Paulo Mendes CAMPOS
Mal-educado eu sou, mas ingrato não. O que me falta, por dentro e por fora, é organização para transformar em atos concretos a minha ressonância afetiva. Sou um fracassado no capítulo das obrigações, já não ligo as sociais, as de amizade; e nem cuido mais de consertar-me, isto é, a não ser no ano que vem. No ano que vem, sim, vou arrumar a minha vida e a minha mesa, vou responder às cartas tôdas, telegrafar, telefonar, presentear, agradecer, comparecer, abraçar, sorrir, perguntar, desfazer equívocos. Êste ano ainda não foi possível, perdoai-me.
Só me resta portanto o golpe bastante desonesto de registrar nesta página um agradecimento geral a todos os meus amigos e pessoas gentis. Obrigado para todos que me enviaram cartões de boas-festas, alguns de tão longe, e há tanto tempo sem contatos pessoais, que me encheram de confusão. Agradeço aos que mandaram presentes a quem não os merece, agradeço aos que me convidaram para festas, estendendo a gratidão a todos que foram amáveis comigo, presenteando-me obséquios, dando-me de comer e beber, chamando-me para cerimônias
familiares, enviando-me livros, aturando-me. Agradeço aos leitores que me enviaram cartas, de coração ou de crítica, e aos que delicadamente se calaram sobre os meus descaminhos de forma e pensamento. A todos os meus amigos e companheiros desejo um ano novo pelo menos sem grandes problemas – que tenho sempre um certo temor de pedir muito. Aos meus inimigos, se os tiver, desejo uma boa indigestão festiva, coisa ainda melhor que a mesa vazia.
Quanto a Papai Noel, dane-se. Não gosto dêsse gorducho antipático, que fala português com intolerável sotaque anglo- saxônico, mentiroso, muito ligado aos grupos financeiros mais tentaculares, protetor de comerciantes espertos, demagogo e vulgar. Há muito que um enfarte de um miocárdio poderia ter levado o velho para o país das neves eternas. Mas Papai Noel vem resistindo a tudo, intrigando, sorrindo, falando na rádio e na televisão, prometendo a todos e dando apenas a quem não precisa. É um chato, além de tudo barulhento, com um nariz vermelho ridículo, vestindo aqui no trópico um jubão e um capuz absurdos.
Refletido nos olhos das crianças, é verdade, consegue ludibriar- nos o sentimento, induzindo-nos a uma inútil ternura. E é só. Se a criança pisca os olhos ou vira o rosto, Papai Noel transforma- se de nôvo em um homem interesseiro e fingido, como o primeiro sujeito que teve a idéia de ganhar dez por cento sem fazer muita fôrça. Trata-se do arqui-public-relations, um cara que envelheceu na arte marota de canalizar o dinheiro de quem tem pouco, para o bôlso de quem tem muito. Não é à toa que as iniciais de seu nome (PN) significam publicidade e negócios. Enfim, não estou de muito bom humor: foi crooked year, mais um.
Albrecht Durer – Adorazione del Magi – sec. XVI |
Natal.
O sino longe toca fino,
Não tem neves, não tem gelos.
Natal.
Já nasceu o Deus
menino.
As
beatas foram
ver,
encontraram o coitadinho
(Natal)
mais o boi mais
o burrinho
e lá em cima
a estrelinha alumiando.
Natal.
As beatas ajoelharam
e adoraram
o deus nuzinho
mas as filhas das beatas
e os
namorados das filhas,
mas as filhas das beatas
foram
dançar black-bottom
nos clubes
sem presépio.
CANTO DE NATAL
Alphonsus de Guimaraens FILHO
A Criança que dorme
é tua e também
minha.
Junto dela a grande noite
se apaga, e se avizinha
a madrugada santa
com seus rumôres castos...
E a Criança repousa,
e a Criança se esquece,
enquanto que no espaço
e no tempo se tece
a coroa de espinhos,
como um luar de sangue
sôbre os altos caminhos.
FRAGMENTO DE
UM POEMA DE NATAL
Lúcio CARDOSO
Noites,
noites em que a insônia povoa o meu si-
[lêncio,
em
que o remorso acorda como uma grande chama
[triunfante,
Ó
estranho, longínquo pressentimento, fôrça borbulhando
nas profundezas da alma
como uma
[fonte
obscura ...
De
onde, meu Deus, de onde estas vozes,
esta
paisagem que me acompanha como um cas-
[tigo?
Ó
dias passados, dias da minha vida,
sois
o jardim adormecido sob a chuva triste de
[inverno,
sois
a cantilena permanente desta alma fascinada como a
mariposa que dansa na
primavera no-
[turna
...
Manhãs
de límpido terror, permaneceis como um
[arco
lançado
no vasto e tenebroso oceano que atra-
[vesso.
Ilhas
na minha angustia solitária
sois
a perpétua revelação. Mesmo que novos dias
[se
levantem
mesmo
que ante mim se desenrolem outras pai-
[sagens,
é
a face desolada desta infância que estará pre-
[sente,
Como
o remorso no pensamento dos agonizantes. E permita, ó
Deus, que ela permaneça,
mesmo
que no meu coração germinem as tem-
[pestades,
mesmo
que aos meus olhos atônitos, perdidos, oscilem como
agora as estrêlas fixas na eternidade
[azul
NATAL
Celina FERREIRA
Cada
dia nasce
um
nôvo menino
na
palha, na seda,
no
feno, no linho.
Cada
dia nasce
um nôvo destino
que sempre começa
no mesmo menino.
A
estrêla de cada
natal
é a medida
palavra
que escapa
em
face da vida.
Na
ficha, a palavra
festiva
traduz:
Antônio,
Isaías,
Ricardo
ou Jesus.
Cada
dia nasce
um
nôvo menino
na
palha, na seda,
no
feno, no linho.
Cada
dia nasce
um nôvo destino
que sempre começa
no mesmo menino.
A
estrêla de cada
natal
é a medida
palavra
que escapa
em
face da vida.
Na
ficha, a palavra
festiva
traduz:
Antônio,
Isaías,
Ricardo
ou Jesus.
JOGO ANIMADO ESPECIAL
Outro especial presente de “fim de
ano” aos leitores do “Blog do Vanucci”.
Aqui, ao lado, em “Jogo Animado”,
vocês poderão ver e, naturalmente, aplaudir performances artísticas do “Caffeine
Trio”, um grupo de excepcionais intérpretes líricas que vem arrebatando com os
shows realizados as plateias onde se apresenta, inclusive no exterior.
Aqui, nomes das notáveis cantoras:
Carô Rennó, Renata Vanucci, Sylvia Klein.
Nos números mostrados elas são
acompanhadas pelos instrumentistas Geovane Paiva (guitarra solo); Guilherme
Vincens (guitarra de base); William Brichetto (baixo acústico). O técnico de
som é Guilherme Castro. Os arranjos de “Tico Tico no Fubá” e “Meu sangue ferve
por você” são de Fábio Adour.