sexta-feira, 28 de maio de 2021

 

Quebra de patente, voto eletrônico

 

Cesar Vanucci

 

“Biden apoiar quebra de patentes de vacina é 'monumental'”.

(Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS)

 

Um disparo verbal impecável. O (em boa hora) sucessor do golpista Donald Trump na Casa Branca, Joe Biden, acertou em cheio na mosca. O anúncio de sua disposição em quebrar patentes das vacinas e, obviamente, de algum futuro medicamento que se revele eficaz contra o coronavírus, deixou visíveis a sensibilidade social e a sabedoria política de um estadista. Ou seja, um dirigente político de projeção mundial afinado com as linhas do pensamento mais evoluído do seu tempo.

 Sensibilidade e sabedoria representam atributos que andam um tanto quanto escassos na paisagem em que se movimentam as grandes lideranças mundiais contemporâneas, com suas reiteradas demonstrações de desatenção aos clamores das coletividades. A quebra de patentes de fórmulas de remédios que proporcionam benefícios aos seres humanos alvejados por enfermidades pertinazes não responde, certeiramente, às conveniências mercadológicas da poderosa indústria farmacêutica. Mas, com toda certeza, atende exemplarmente ao bem comum, ao bem-estar humano. Essa constatação remete-nos, uma vez mais, a precioso ditame, de cunho humanístico, crucial na caminhada civilizatória. A economia não é um fim em si mesma. É, sim, como outros instrumentos relevantes e necessários à causa do desenvolvimento – exemplificando: a educação e a tecnologia -, um meio eficiente para se atingir um fim, um fim sempre social. O ser humano é que importa. É para seu bem-estar que devem convergir todos os recursos advindos do labor e da inteligência. A quebra de patentes se afigura possível e desejável quando se está em jogo, como valor supremo inconteste, o interesse popular. Tem sido utilizada com parcimônia, no modo de ver de humanistas, de analistas e estudiosos da problemática social que se batem por estruturas de vida mais justas e consentâneas com os direitos essenciais dos cidadãos.

 Com relação ao momentoso assunto, cabe assinalar que mais de uma centena de governantes (com o Brasil, estranhavelmente, na contramão da proposta de Biden), já expressaram apoio à iniciativa. Seja frisado que a primeira manifestação favorável a se fazer ouvir foi a de Francisco, o Papa providencial colocado à frente dos destinos da Igreja. Seja também recordado que no governo Fernando Henrique Cardoso, o Ministério da Saúde, que tinha como titular o ex-governador de São Paulo José Serra, em ato que arrancou louvores mundiais, quebrou a patente de remédios apontados como indispensáveis no enfrentamento da Aids.

 A decisão do presidente dos Estados Unidos será, em breve, auspiciosa realidade. O bom-senso haverá de prevalecer.

 

 ● O sistema eletrônico de votação e apuração de votos do Brasil é considerado, universalmente modelar. Isso foi relembrado enfaticamente, na semana passada, diante da circunstância de estar transcorrendo um quarto de século de sua implantação. Reconhecidamente invulnerável a qualquer manobra ardilosa que possa macular resultados, ele traduz com exatidão a vontade popular manifestada nas cabines de votação. Em várias partes do mundo, a engenhosa experiência brasileira é hoje utilizada, com o mesmo exitoso resultado. Isto posto, é de molde a causar espanto, bastante espanto, algumas manifestações soltas na praça, ultimamente, no sentido de se substituir o sistema eleitoral eletrônico pelo sistema da votação com cédulas, utilizado com apreensões e ressalvas noutros tempos. Essa extemporânea e esdrúxula proposta é originária, ao que tudo indica, de minoritários grupos políticos de configuração fundamentalista, sabe-se lá com que soturnos intuitos. Não é improvável que, entre os partidários da ideia, haja até quem se disponha a defender a substituição da votação eletrônica pelo voto a bico de pena...

 

Tragédia sem fim à vista

 

Cesar Vanucci

 

“Por que tanto ódio, tanto conflito, justamente nos lugares mais sagrados?”

(Domingos Justino Pinto, educador)

 

Gaza, com seu aterrorizante cenário fratricida e devastação, é um “filme” já visto inumeráveis vezes. E com propensão, fatalmente, para uma ou mais “reprises”, em outras ocasiões, mesmo que resultem positivas as mediações, ora em curso, para o “cessar fogo”.

 O que acontece, nessa permanente situação de beligerância reinante numa região onde se acham localizados os lugares mais sagrados na devoção universal, conduz a inenarráveis tragédias sem fim à vista. Fica gritantemente visível ali a prevalência absoluta dos escusos interesses de uma geopolítica perversa – difícil de ser confrontada - sobre as generosas aspirações de paz e convivência fraterna que, certeiramente, povoam os corações da gente do povo do lado israelita e do lado palestino. Exacerbadas paixões políticas, de cunho religioso sectário, concorrem pronunciadamente para desfazer acordos, compromissos e propósitos bem-intencionados no sentido de favorecer decisões consensualmente estabelecidas no âmbito da Organização das Nações Unidas.

 O que está claramente expresso, há dezenas de anos, desde o término da Segunda Guerra mundial, é que esse pedaço de chão, volta e meia sacudido por conflitos sangrentos, deveria ser compartilhado, em termos de convívio harmonioso, por israelitas e palestinos. Confabulações infindáveis, envolvendo em momentos variados, as lideranças internacionais mais influentes precisaram os rumos a ser percorridos pelas partes visando estabelecer os espaços de cada nação no mapa. Os pactos feitos, os acordos firmados, as resoluções anunciadas, os apertos de mãos em conversações dadas como exitosas, tudo isso, num bocado de ocasiões, esbarrou num empecilho intransponível qualquer nascido de intransigências e radicalismos. São a perder de conta, nas tratativas havidas, os avanços e os recuos, a volta abrupta à estaca zero, depois de arranjos pacientemente elaborados e até festivamente celebrados.

 As negociações tendem, mais cedo ou mais tarde, a ser reabertas. A pandemia do coronavírus cria, obviamente, condição desfavorável para que as partes voltem a discutir as questões cruciais que estão em jogo, a aparar suas divergências, a buscarem a paz, de modo a atender, naturalmente, os anseios legítimos de suas populações. Vale anotar, como dado promissor, nesse conturbado panorama, a recente mudança de governo nos Estados Unidos. A presença na Casa Branca de um presidente com maior sensibilidade política e diplomática, mais receptivo ao diálogo, traz um alento para as discussões que inevitavelmente se processarão logo a frente. É indiscutível o peso e importância do país na legitimação de entendimentos. No passado, esses entendimentos desafortunadamente goraram, todavia os contendores, influenciados pelos os EUA sentaram-se numa mesa para troca de ideias e apresentação de propostas, colocando-se próximos em alguns momentos das definições almejadas. A provável intermediação de Joe Biden contribuirá bastante, para refrear os impulsos belicistas, e, quem sabe até, restabelecer rodadas de negociações de modo a permitir seja reacesa a esperança em dias melhores de dois povos que se têm presentemente na condição de inimigos, mas que, na trajetória da vida, se acham irmanados pelo sofrimento e pelas perseguições que, em circunstâncias distintas lhes foram impostas.

 

· Mal sem remédio. Os medicamentos, como outros produtos essenciais, estão custando, como se diz, “os olhos da cara”. Sobem incessantemente, debaixo dos olhares complacentes dos órgãos de fiscalização. Tomei o trabalho de coletar os preços de um determinado remédio, por sinal utilizado para fortalecer a visão, junto a fornecedores varejistas. E vejam só o que constatei, com os olhos arregalados de espanto: o valor da mercadoria, uma caixa com 60 comprimidos, variou de um ponto de venda para outro, entre R$345,00, R$299,00, R$248,99, R$245,00, R$225,00, R$203,56, R$179,99, R$138,90. Dá pra ver tudo isso sem sentir indignação?

 




No final do século XX, uma maior migração de pessoas, facilidade de disseminação do conhecimento (principalmente pela internet), ampliação do comércio mundial e de movimentos de capital somaram-se à reunificação alemã (com a queda do muro de Berlim iniciada em 1989) e à dissolução da União Soviética (1991). Esse conjunto assinalou o fracasso do comunismo, o fim da “guerra fria” e a adoção generalizada da “Globalização” da economia: o império do capitalismo, livre da alteridade que até então existira. Alguém poderia imaginar que a imagem acima _ com a qual, aos poucos, vamos nos habituando _ retrate alguma “falha” do capitalismo; mas, não é uma falha: as grandes desigualdades sociais acontecem exatamente quando o capitalismo está funcionando bem. O “Liberalismo” explica que a culpa da pobreza é do pobre, não da sociedade. Não importa se não há trabalho para mais de 20 milhões de brasileiros em idade produtiva. No entanto, precisamos pensar numa ética pluralista a ser incluída no capitalismo para diminuir as desigualdades. Afinal, foi o mestre Jesus que ensinou: “ama teu próximo como a ti mesmo” e “trata os outros como gostarias de ser tratado”. Se algo não mudar e crianças como essa sobreviverem, daqui a 10 ou 15 anos ter-se-ão tornado parte de um grupo de semianalfabetos, desempregados e, provavelmente, estarão envolvidas em crimes. Você se define como uma “pessoa de bem” (se “de direita” ou “de esquerda”, tanto faz!); mas, se você já não se emociona ao ver crianças dormindo no chão das ruas e acha que o Estado não precisa criar “oportunidades iguais” de acesso à educação, ao trabalho, à segurança, à saúde e a uma vida digna para essas crianças, então, desculpe. É possível que você não seja a “pessoa de bem” que afirma ser. É mais provável que esteja apenas se habituando a ser uma pessoa má. Muito má! As palavras de Thomas Morus, criticando o rei Henrique VIII, permanecem válidas no Brasil de hoje: "Abandonais milhões de crianças aos estragos de uma educação viciosa e imoral. A corrupção emurchece, à vossa vista, essas jovens plantas que poderiam florescer para a virtude, e vós as matais quando, tornadas homens, cometem os crimes que germinavam, desde o berço, em suas almas. E, no entanto, que é que fabricais? Ladrões, para ter o prazer de enforca-los." (Thomas Morus, 1478-1535, em “A Utopia”)

*coronel da reserva e presidente da Academia de Letras João Guimarães Rosa da Polícia Militar de Minas Gerais. 



quinta-feira, 20 de maio de 2021

 

Democracia, sempre

 

Cesar Vanucci


“A liberdade é algo fundamental”. 

(Juscelino Kubitschek de Oliveira)

  

Entre perplexa e indignada, a sociedade brasileira se dá conta de que, nalguns atos públicos promovidos por grupos minoritários de orientação fundamentalista, está acontecendo aberta conspiração contra a paz social e às instituições democráticas que regem a República. A liberdade de opinião, o imprescindível contraditório nos debates públicos, a condenação comunitária aos gestos e falas atentatórios aos direitos fundamentais desagradam certos setores representativos de ideologias extremadas, que não vacilam em propagar, de forma ruidosa, sua aversão a valores que dignificam a vida.

 Para desfazer o incômodo trazido pelas vociferações democráticas, estampadas em faixas e cartazes e escutadas em retórica de baixo nível, nada como evocar um que outro dos conceitos abaixo expendidos, entre inumeráveis situados na mesma linha de pensamento, produzidos pela sabedoria humana de todos os tempos. Tais conceitos, sim, exprimem com fidelidade o sentimento nacional.

  “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma e governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos” (Winston Churchill); “Sou visceralmente democrata. Para mim, a liberdade é algo fundamental” (Juscelino Kubitschek); “A pior das democracias ainda é preferível à melhor das ditaduras” (Rui Barbosa); “Meu ideal político é a democracia, para que todo homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado” (Albert Einstein); “Uma democracia sólida deve ser progressiva, ou logo deixará de ser sólida” (Theodor Roosevelt); “A democracia não pode ser estática: tudo que é estático está morto” (Eleanor Roosevelt); “Na democracia a liberdade está implícita, pois nenhum homem é livre em qualquer outra forma de governo” (Aristóteles); “A democracia é um regime de convivência e não de exclusão. Baseia-se na liberdade, como meio de chegar à ordem” (Alceu Amoroso Lima); “A democracia é, antes de tudo, um estado de espírito” (Pierre Mendes-France); “O único título em nossa democracia que é superior ao de Presidente é o de Cidadão” (Louis Dembitz Brandeis); “Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um” (Fernando Sabino); “A democracia é uma constituição agradável, anárquica e variada, distribuidora de igualdade indiferentemente a iguais e a desiguais” (Platão); “A democracia não corre, mas chega segura ao objetivo” (Johann Goethe); “A democracia tem necessidade de justiça, enquanto a aristocracia e a monarquia podem passar bem sem ela” (Edgar Quinet); “A democracia não pretende criar santos, mas fazer justiça” (Paulo Freire); “A democracia pressupõe a igualdade econômica aproximada e um sistema educativo que tenda a promover a tolerância e a firmeza de espírito” (George Orwell); “Imagino o Brasil como a mais avançada democracia racial do mundo” (Gilberto Freyre); “A grande força da democracia é confessar-se falível de imperfeição e impureza, o que não acontece com os sistemas totalitários, que se autopromovem em perfeitos e oniscientes para que sejam irresponsáveis e onipotentes“ (Ulysses Guimarães); “Democracia com fome, sem educação e saúde para a maioria, é uma concha vazia“ (Nelson Mandela); “A democracia é o destino da humanidade; a liberdade o seu braço indestrutível” (Benito Juárez).  “Fica pois dito que democracia quer dizer governo do povo por si mesmo mediante eleições livres e honestas, e o ideal de todo povo que merece esse nome” (Rachel de Queiroz); “O teste da democracia é a liberdade de crítica” (Bem Gurion); “A democracia é boa principalmente porque os outros sistemas são piores” (Nehru).

 

Negacionista-padrão

 

Cesar Vanucci


“O negacionismo obsedante é refúgio do despreparo intelectual somado à fanatice”.

(Antônio Luiz da Costa, educador)

 

Rozendo Pelópidas do Abaeté, negacionista juramentado, diria o prefeito Odorico Paraguassu. Abastado homem de negócios, chefe político influente e temido na região de Riacho das Roseiras. Gaba-se de ser proprietário de fazenda com mais léguas de comprimento do que o Principado de Andorra. Adepto ardoroso das teses do talebanismo tupiniquim, acompanha freneticamente, nas redes sociais, as postagens divulgadas por robôs, mecânicos ou humanos. Aceita a teoria da “Terra plana”. Acrescenta, convicto, que a “terra plana é quadrada e fixa”, possuindo nas extremidades, “mode que impedir as pessoas caírem num vazio sem fim”, uma cerca invisível formada de “ondas magnéticas provindas do sol, lua e estrelas em seu contínuo giro ao redor de nosso planeta”. Em sua opinião, “essas histórias de racismo e efeito estufa são coisas de ONGs infestadas de subversivos e maricas”.

Acha que a Covid-19 é “uma guerra bacteriológica contra os valores da civilização”. Tem plena certeza de que as estatísticas do consórcio dos meios de comunicação “são falsas e atendem a interesses escusos”. Considera Trump “o maior estadista do mundo”. “Ele foi garfado na eleição”, afirma, esbravejante. Sustenta que “a mídia mundial está a serviço da subversão”. Confessa-se católico praticante, mas se opõe aos “atos e falas desse Papa argentino”. “Ele carece de ler o catecismo”, anota, um tanto irado. “Para o bem geral da Nação, o Congresso e o STF deveriam ser fechados”. “Para fazer isso basta um cabo e um soldado, como já declarou um ilustrado parlamentar” exclama, em tom entre exultante e raivoso. Aplaude “a salutar e oportuna campanha pelo voto impresso”, observando, todavia, que “muito melhor mesmo seria a adoção do voto a bico de pena”. É contrário à reclusão social e à vacinação, lembrando que “existem preparados medicamentosos altamente eficazes pra extirpar a praga”. Entrou em atrito com filho, farmacêutico, e a nora, médica, pelo fato de haverem, sem seu consentimento, tomado vacina. Mandou dizer a ambos que só voltem a pôr os pés em sua residência depois de realizarem “todos os exames de tomografia e raio X que permitam a localização e a retirada dos chips que alteram o comportamento e até fazem brotar nos braços e pernas fibras escamosas”. Rozendo Pelópidas do Abaeté, negacionista juramentado.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

 

Paul Louis e as energias sutis

 

Cesar Vanucci

 

“Cientista, inventor, parapsicólogo,

um homem notável, esse Paul Louis.”

(Antônio Luiz da Costa, educador)

 

O mineiro de Belo Horizonte Paul Louis Laussac (falecido em 2014) foi um personagem marcante na galeria dos estudiosos e investigadores de ocorrências inusitadas que extrapolam os limites da compreensão. Engenheiro eletrônico, com formação e vivência científica, inclusive no exterior, parapsicólogo, conferencista erudito, era provido de indiscutíveis dons paranormais, conforme pude pessoalmente testemunhar e, como eu, muitas outras pessoas interessadas na intrigante temática dos chamados fenômenos transcendentes.

Inventou e produziu um sem número de instrumentos na linha da terapia psicotrônica, empregados em clínicas especializadas no país e no exterior. Nas pesquisas procedidas como parapsicólogo, trouxe ao conhecimento público narrativas impressionantes, identificando muitas figuras dotadas de percepção extrasensorial que atuavam de forma discreta, quase mesmo, pode-se dizer, no anonimato. Ufólogo renomado, acreditava em mundos habitados por civilizações em diversos graus de evolução, admitindo que as de características mais avançadas dispunham de condições tecnológicas para voos espaciais de alcance ilimitado. Garantia aos amigos manter contatos com seres alienígenas. Dono de forte carisma, confiava em suas intuições e previsões. Brindava continuamente plateias receptivas às suas ideias com narrativas de instigante sabor. 

Numa convivência fraternal de um bocado de anos entrevistei Paul Louis numerosas ocasiões. Se ainda existentes os arquivos do antigo CBH – uma proposta de tevê alternativa que deixou saudades, bolada pelo criativo Sérgio Adaide – devem conter material esplêndido, da melhor supimpitude, como era de costume dizer-se em tempos de antigamente. Tal material compôs alguns programas da série “Realismo Fantástico”, que, por quase dez anos, semanalmente, por mim produzido e apresentado, foi levado ao ar pelo canal. Revelações e imagens incríveis, desconcertantes, extraordinárias. Fixo-me nalgumas delas, acionando o vídeo cassete da memória velha de guerra. Uma coleção extensa, desnorteante, de fotografias colhidas em ambientes diversificados, domiciliares, esportivos, políticos e outros. A câmera de Paul Louis enquadrava um grupo de pessoas, por exemplo, numa celebração festiva familiar. Na hora em que o filme era revelado para emocionante estupefação de todos, surgiam também próximos aos retratados, rostos de entes queridos que já haviam, conforme a expressão do poeta Fernando Pessoa, deixado de ser vistos. Ninguém sabia explicar como esse inimaginável registro fotográfico se processava, não sempre, mas com muita frequência nos lugares em que Paul Louis estava presente munido de máquina fotográfica. Da coleção aludida mostrada na televisão faziam parte ainda muitas fotos em que ele, Paul Louis, era fotografado, mas no lugar de seu rosto, costumava surgir um rosto de feição diferente circundado, digamos assim, por um halo. Por que e como situações como essa aconteciam? Tive em mãos, várias vezes, para verificação esse conjunto intrigante de fotos. Fiquei sabendo que muita gente com competência técnica na arte fotográfica as examinou, sem lograr, como fruto de meticuloso estudo qualquer esclarecimento plausível sobre o sentido do que viram projetado à luz do conhecimento consolidado. Não nutro qualquer dúvida quanto à condição de que Paul Louis Loussac ostentava de portador de excepcionais dons no domínio das denominadas energias sutis. 

O líder empresarial Helio Pentagna Guimarães, de saudosa memória, cidadão de grande cultura, poliglota, tinha muito apreço e admiração pelo trabalho de Paul Louis no terreno das pesquisas parapsicológicas. Dele próprio ouvi, mais de uma vez, casos de situações incomuns, rodeadas de misterioso fascínio envolvendo o cientista.

 

Célia eletrizou a plateia

 

Cesar Vanucci

 

“Morrer é só não ser visto”.

(Fernando Pessoa)

 

Acabei a releitura, de uma sentada só, de livro muito interessante em que são relatadas as incríveis experiências do paranormal estadunidense James van Praagh. Este cidadão tem o dom de estabelecer, com pessoas da plateia, em programas de televisão, de grande aceitação popular, insólitos diálogos. Os atendimentos individuais em seu consultório são também marcados pela singularidade. Ele costuma liberar informações desconcertantes, atribuídas a entes queridos não mais pertencentes ao mundo dos vivos. As revelações, na maior parte das vezes, provocam forte impacto. A ideia de um contato desse gênero, que possa envolver forças ou energias do além, marca de modo bastante vigoroso os telespectadores.

Tive ensejo, antes mesmo de ler o livro, de presenciar programas de van Praagh em que – chamemo-las assim -, suas percepções extrasensoriais afloram de forma impetuosa e convincente.  Dá pra compreender perfeitamente a razão pela qual o seu trabalho desfruta de credibilidade entre estudiosos de parapsicologia.

O que James van Praagh realiza na televisão causa forte impressão, já registrei. Mas não se iguala em impacto às cenas que presenciei, há mais de duas décadas, no Teatro Vanucci, Shopping da Gávea, Rio de Janeiro. Uma sensitiva de nome Célia promoveu no recinto – sabe-se lá como – algo fantástico, extraordinário, inimaginável, nessa linha de supostos contatos com o outro mundo, reconhecidos por não poucas correntes filosóficas. Casa superlotada, umas setecentas pessoas, dos mais diferentes bairros da antiga capital da República, de cidades das redondezas e de outros Estados, presenciaram tudo.

Depois de uma exposição atraente, rica em pormenores, acerca das variáveis infinitas de aplicação das chamadas energias sutis, de que é composto nosso enigmático e fascinante universo, a sensitiva dispôs-se a operar, inteiramente lúcida e com plena articulação das palavras e controle dos movimentos, andando de um lado para outro do palco, como “canal” numa comunicação, segundo garantiu, com criaturas que já haviam deixado este nosso “vale banhado de lágrimas”. E que, em vida, integraram o universo afetivo das pessoas presentes. Ninguém, no público, fez qualquer intervenção oral, qualquer pedido por escrito. Debaixo de silêncio absoluto, respeitoso, só dona Célia falou. Em dezenas de intervenções, chamou pessoas pelos nomes, indicando os números das poltronas em que se achavam sentadas. E, na sequência, uma a uma, passou-lhes mensagens, “recebidas na hora”, dos parentes e amigos já “encantados”. As palavras foram obviamente recebidas com emoção, arrancando confirmações surpreendentes quanto aos dados apontados.

Num determinado instante teve-se a impressão de que a sensitiva havia cometido uma derrapagem. Ledo engano. Ela pediu a um cidadão, numa poltrona próxima à minha, que anotasse o recado de alguém cujo nome citou. O cidadão em referência assinalou não conhecer a pessoa mencionada. Célia admitiu: sim, ele estava com inteira razão. O “contatado” era, na verdade, filho de um amigo e vizinho seu, morador do apartamento de número tal, edifício tal, bairro tal. O espectador convocado a levar o recado emocionou-se às lágrimas. Os dados anunciados estavam rigorosamente corretos.

Essa paranormal, tanto quanto sei, nunca foi levada a um estúdio de televisão para por à prova seus extraordinários dons, sua capacidade de utilizar, de forma tão arrebatadora, o poder inimaginável das chamadas energias sutis. Que muita gente, em reta intenção, enclausurada em dogmatismos religiosos rançosos, encontra dificuldades intransponíveis em aceitar. Não sei o que foi feito de dona Célia. O que sei é que, naquela noite, ela deixou a plateia eletrizada.

sexta-feira, 7 de maio de 2021

 

Falando de energias sutis


Cesar Vanucci


“O espírito humano é que nem o paraquedas.

Só funciona aberto.”

(Jacques Bergier e Louis Pawells)

 

Num encontro virtual de velhos conhecidos, a hipnose, o magnetismo, a manipulação de energias sutis foram objeto de animada troca de ideias. Palpitei a respeito, prometendo, pra depois o relato de episódios intrigantes relacionados com a temática. Cumpro na sequência a promessa.

Alexandre Gonçalves Amaral, personagem retratado em meu livro “Um certo Dom”, foi um hipnólogo fantástico. Fazia qualquer pessoa receptiva dormir num átimo. Presenciei demonstrações impressionantes. Bem superiores, em efeitos inusitados, a tudo o que, no gênero, a televisão costuma de vez em quando mostrar. Vi pessoas, sob a ação da hipnose por ele aplicada, ficarem suspensas entre duas cadeiras, a cabeça de um lado, os pés do outro, o corpo enrijecido solto no vácuo. Mesmo franzinas, elas suportavam uma carga de peso inacreditável. Testemunhei o caso de uma freira dominicana, com inchação descomunal na face, às voltas com dolorosa infecção dentária que lhe arrancava gemidos ao mais leve sopro de vento. Alexandre acompanhou-a, para um atendimento especial, ao consultório odontológico do doutor Adão Champs, na rua do Comércio, Uberaba. Hipnotizada, em curtíssima fração de tempo, a freirinha foi submetida, na mesma hora, a um tratamento complexo que se arrastou por um bocado de tempo e que, à primeira vista, parecia destituído de qualquer viabilidade. A paciente não esboçou o menor sinal de sofrimento no curso do extenuante processo terapêutico. E o melhor de tudo: deixou a cadeira do dentista liberta do mal que a afligia.

Outra modalidade instigante contemplada nessa lida sua com as energias sutis consistia na imposição de mãos para provocar a insensibilidade de partes corporais. Com um simples toque, conseguia anestesiar de verdade uma região determinada do corpo da pessoa envolvida na experiência, a ponto de se poder até mergulhar ali uma agulha pontiaguda. Mantida consciente, a pessoa não denotava desconforto, temor ou incômodo. Valendo-se desses preciosos dons, ou, como talvez preferisse dizer, aplicando essas técnicas, o Bispo “tratou” com êxito pacientes tabagistas, alcoólicos e vítimas de outros problemas. Concorreu para que fossem melhoradas as condições físicas, psicológicas e mentais de numerosos viventes.

Sabendo-me interessado em fenômenos extra-sensoriais e estudos de ufologia, Alexandre convocou-me, em inúmeras ocasiões, para uma troca de ideias sobre esses assuntos. Batemos animados papos a respeito de discos-voadores, da possibilidade de vida inteligente fora do planeta e de outras ocorrências inexplicáveis que eu, pessoalmente, costumo enquadrar como itens integrantes do assim chamado Realismo Fantástico, tomando emprestada a definição cunhada por Jacques Bergier e Louis Pauwell.

Em duas vezes, uma delas na Academia de Letras do Triângulo Mineiro, ele patrocinou exposições minhas para falar de discos voadores. Aproveitei a chance para contar tudo que reuni sobre o intrigante tema e que andei colocando na televisão, em programas semanais, durante oito anos. As informações e opiniões recolhidas sobre a extensa casuística do fenômeno, as teses debatidas pelos pesquisadores quanto às origens e significado das estranhas aparições frequentavam com constância nossos amistosos colóquios. Mantive-me sempre atento, à espera de argumentos seus que se contrapusessem às opiniões que expendia. Isso sucedeu em número de vezes muito menor do que podia a princípio supor. Nesses instantes, projetou-se claro, aos meus olhos e entendimento, o paternal empenho de Alexandre em corrigir uma que outra interpretação dada por mim aos fatos e que em seu modo de ver, não pareciam apropriadas.

O espírito de Alexandre permanecia sempre aberto. Como os autores já citados, ele sabia muito bem que o espírito humano é que nem o paraquedas. Só funciona aberto.

Energias sutis, mais uma vez 

 Cesar Vanucci 

 “Nunca mais a bursite incomodou. Quem explica?” 
(Jornalista e escritor Mário Salvador dando testemunho de um caso de cura de enfermidade por meio de método não convencional) 

 Retomo o tema das energias sutis, focalizado no comentário anterior, narrando episódios que também envolve o saudoso Alexandre Gonçalves Amaral, primeiro titular da Arquidiocese de Uberaba, detentor de dons singulares, no tocante a utilização das chamadas energias sutis. 

 Como já explicado, a vida e obra desse ilustre personagem são retratadas no livro “Um Certo Dom”, de minha autoria. Sua fecunda trajetória existencial pode ser sintetizada com as palavras vindas na sequência. Sabedoria incomum, cultura fulgurante. Hábitos franciscanos, em vivência encharcada de apostolicidade. Fala eletrizante, adequada ao momento, à plateia, à faixa etária, ao ambiente cultural. Fala didática e bem-humorada. Fustigante, se preciso. No tom, tamanho e hora certos. Apego apaixonante a princípios. O Bispo mais moço do mundo à época da sagração. O Bispo com maior tempo de presença eclesial no mundo na fase outonal da existência.

 Agora, as histórias. O escritor e jornalista Mário Salvador, com notável passagem pela presidência da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, sediada em Uberaba, registrou curiosas intervenções processadas por Alexandre no círculo de familiares seus. A esposa de Salvador estava atacada de bursite. "Injeções, aplicações e mil coisas não vinham dando resultado". Alexandre ofereceu-se para resolver o caso. "Marcamos o dia e lá fomos para a primeira sessão. Com todo cuidado e atenção, Dom Alexandre colocou a mão direita sobre o ombro da paciente, fazendo um alerta: - A senhora vai observar o ombro esquentar. Avise-me quando isso ocorrer". Bastaram três aplicações. Coisa de poucos minutos, cada vez. Os anos rolaram. "Nunca mais – conclui Salvador – a bursite amolou a patroa. Quem explica?" 

 O mesmo Salvador narra o ocorrido com a filha Ana, submetida a transe hipnótico. A garota tinha verdadeiro pavor de barata. "Posso fazer com que ela perca o medo", asseverou-lhe Alexandre. Três rápidas aplicações de hipnose foram o suficiente. Mário resolveu partir para um teste em casa, assim que a filha foi declarada recuperada do "trauma da barata". Colocou uma lata de goiabada vazia em cima de uma barata e pediu à filha, que ignorava o procedimento, para remover a lata. Quando a recomendação foi atendida, a barata se movimentou de um lado para outro. "Em outros tempos, Ana teria voado para outro lado. Dessa vez, ficou apenas olhando a barata correr. Estava mesmo curada." 

 Outros relatos concernentes ao tema “Energias sutis” virão na sequência. Aproveito a ensancha oportunosa para fazer um convite aos leitores que se interessem por assuntos desse gênero para que acessem no youtube “Percepção – um programa Cesar Vanucci”. Em dezenas de capítulos histórias inseridas na linha da chamada “temática transcendente” são abordadas, em entrevistas e depoimentos. Permito-me acrescentar que no livro “Realismo Fantástico”, (editora Impressões de Minas), de que sou também autor, são feitas numerosas narrativas relacionadas com fatos e experiências singulares. 

 Um outro registro: A convite do presidente da Academia Mineira de Letras, brilhante escritor e jornalista Rogério Faria Tavares, estarei contando histórias sobre a vida e obra do escritor Mário Palmério, autor do clássico “Vila dos confins”, no “youtube da AML”, no dia 6 (seis) de maio, às 11 horas. Convido o leitor para assistir a palestra.

A SAGA LANDELL MOURA

Uma mulher rodeada de palavras

                             *Cesar Vanucci “Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida” (verso da canção “M...