segunda-feira, 30 de março de 2015

A aventura humana

Cesar Vanucci *

Somos uma ilhota desgarrada num
oceano infinito repleto de inexplicabilidades.
(Aldous Huxley)

“Admirável mundo novo - Reflexões sobre a Aventura Humana, suas venturas e desventuras”: foi este o tema de uma exposição feita por este escriba num encontro do Lions, realizado em Belo Horizonte, que reuniu no dia 6 de março passado a cúpula do Movimento Leonistico brasileiro. No trabalho em questão, reproduzido na íntegra abaixo, defendo crenças e conceitos frequentemente trazidos às considerações expendidas há anos neste espaço de ideias e quimeras.

“Sou apenas um repórter.
O que sei são simplesmente muito poucas coisas.

Mundo fantástico
Este nosso mundo velho de guerra sem porteira é fantástico.
Não apenas tão fantástico quanto a gente, dando trela à imaginação, é capaz de supor.
Mas muito mais fantástico do que a cachola mais ousadamente criativa conseguirá jamais conceber.
Ocupamos no espaço sideral, ao lado de zilhões de corpos celestes, de formatos e tamanhos diversificados, minúscula porção territorial – três quartos de água – situada entre a vastidão cósmica e a imperscrutável eternidade.
Somos, como lembra Aldous Huxley, uma ilhota desgarrada num oceano infinito repleto de inexplicabilidades.


   Qual é o papel desempenhado pelo ser humano nessa história
O que, afinal de contas, fazemos aqui? Esses 9 bilhões de seres de nacionalidades, etnias, crenças políticas e religiosas distintas, habitantes deste convulsionado planeta azul?
De onde brotou a Natureza, esse colosso de coisas, estuante de vida, que compartilhamos, de forma perdulária e inconsequente, com milhões de espécies animais e vegetais?
É um nunca acabar de perguntas sobre o sentido da vida.

As respostas esbarram nos limites do conhecimento consolidado, difíceis pacas de serem transpostos.

O conhecimento consolidado é insuficiente
O conhecimento aceito – insuficiente para explicar as coisas – prega-nos peças à pamparra.
Temos, adiante, ligeiro e emblemático desfile de amostras, colhidas ao acaso, de posturas humanas impregnadas de intransigência dogmática e preconceitos rançosos, típicos de uma interpretação equivocada da fascinante aventura humana.
A intransigência e o preconceito são posturas que não sabem distinguir mudanças essenciais, de conteúdo remoçante, dos modismos desagregadores.

A sinalização da vida
Os radicais, avessos a transformações, consideram o mundo pronto e acabado. Quando, por injunções variadas, participam de um que outro processo de reforma, fazem de tudo para que não saia reforma nenhuma. Confinam-se nos restritos domínios dos conhecimentos tolerados. Não entendem bulhufas da vasta sinalização da vida.
Galileu passou pelo que passou, por causa da atrevida teoria de que a Terra se movia ao redor do Sol. Não o contrário, como a ciência de então asseverava.
Por afirmar que a vida inteligente não constituía privilégio deste planeta, Giordano Bruno purgou nas santas chamas a heresia.
O papa Silvestre II, no século 10, foi acusado por cardeais, aliados a matemáticos, de pacto com o maligno. “Motivo”: “o incentivo dado, no ensino da matemática, à substituição dos algarismos romanos pelos algarismos arábicos.

A recepção do fonógrafo na Academia de Ciência da França
Quando o fonógrafo, tetravô dos aparelhos de sons sofisticados de hoje, foi apresentado na Academia de Ciências da França, instituição tida como a mais alta instância da sabedoria naqueles tempos, o secretário, tomado de santa ira, acusou o operador de ser “ventríloquo”. Ao depois, à vista do exótico aparelho, sem a presença do suposto “ventríloquo”, insistir em emitir sons incríveis, partiu para veredicto fulminante: “coisa do demo!”
Quando a eletricidade brotou, como um clarão de tempos novos, pareceu a muitos cientistas conceituados que o mundo ia (mais uma vez) acabar. “Ruas iluminadas por outro processo, que não o do lampião a gás? Pura fantasia!” - asseguraram doutas criaturas, do alto do pedestal.

As surpresas provocadas pelo inesgotável talento humano
Curioso anotar, nessas negações ininterruptas e hilárias das novidades nascidas dos inesgotáveis engenho e talento humanos, a presença insuspeitada, até mesmo, de personagens que, em dado instante, estimularam técnicas que alteraram a face do mundo.
Vejam só!
O presidente da IBM - essa empresa que andou criando mecanismos avançados, a pedido de Hitler, objetivando a codificação de informações que facilitassem o encaminhamento de vítimas inocentes aos sinistros campos de extermínio -, profetizou no início da era do computador, que o mundo não comportaria tão cedo mais do que uma dúzia de aparelhos de processamento de dados.
Outro saboroso prognóstico foi o de Henry Ford, no lançamento dos primeiros carros. A perspectiva de comercialização de veículos em substituição a carruagens, assegurava ele, seria bem reduzida. E não haveria chance alguma para autos que não ostentassem cor padrão – ou seja, a cor preta.

Quebrar paradigma não é nada fácil
Preconceitos geram paradigmas.
Quebrar paradigma é mais difícil do que quebrar átomo, proclamou Einstein.
Sei que na benevolente plateia que acompanha estas ruminações existem pessoas canhotas. Juntarei por isso a esta série de exemplos de reações comportamentais despropositadas, que retardam a evolução civilizatória, cenas de tempos escolares recentes.
Anos 50. Situação trivial que hoje, provavelmente, dá margem a estupefação. Alunos canhotos eram submetidos nas salas de aula a “processos educativos” especiais, mode aprenderem a escrever direito. Ou seja, com a mão direita. Surpreendi, na adolescência, colegas “esquerdistas” matriculados em escola para portadores de necessidades especiais, por conta - vejam só! - desse “defeito de nascença”.
Um derradeiro exemplo: a alucinatória condenação às historinhas em quadrinhos. Os gibis eram vistos, em tempos de antanho, como um instrumento nocivo à formação, muito embora as aventuras de Flash Gordon, Buck Rogers e outros “heróis” permitissem a embevecidos leitores a chance de informações inéditas sobre assombrosas tecnologias.
Tecnologias que acabariam incorporadas ao cotidiano: energia nuclear, raio laser, naves espaciais, esquemas inacreditáveis de comunicação à distância. E por aí vai...

Um vasto “campo minado”
Está visto pois que existe vasto “campo minado” nos roteiros palmilhados nesta nossa trepidante jornada pela pátria dos homens, no rumo do bem-estar proporcionado pelas descobertas e invenções.
Mas mesmo confrontando dissabores de toda ordem, provocados por escancarada ignorância, a civilização efetuou, com ênfase redobrada a partir do século 20, conquistas impressionantes. Realizações riquíssimas em possibilidades.
O temor do fantástico, do inexplorado ainda prolifera, até mesmo em escalões detentores dos poderes de decisão.
Advêm daí as dificuldades históricas que se contrapõem às aspirações globais de incorporar logo ao conforto humano os frutos das inovações.

Encarando o semblante da realidade
Dá pra perceber, todavia, num mundão de lugares, a presença sempre crescente, de cidadãos dispostos a encararem sem receio o semblante fantástico da realidade. Dispostos a rebaterem preconceitos e acomodações.
Batalha renhida!
Antes de empregado como meio de transporte formidável, o avião virou mortífero instrumento de guerra.
A bomba nuclear devastadora veio antes das usinas de energia.
Os laboratórios que armazenam apavorantes armas bacteriológicas são em número superior aos das pesquisas pra curas de doenças.
O preço de um único porta-aviões super equipado é superior ao PIB de dezenas de países periféricos.

Os colossais gastos com armamentos
Parte ínfima dos gastos globais com armamentos, na casa dos quadrilhões, garantiria a solução do problema da fome que assola um bilhão de criaturas; a erradicação da aids, do ebola e de outras endemias e de outros males subjacentes que martirizam multidões e agridem contundentemente a consciência humana.

Perguntas que não querem calar
Perguntas desassossegantes: quem mesmo, na clandestinidade protegida, garante o suprimento permanente de armas aos contendores das guerras intermináveis, espalhadas por tudo quanto é canto?
De onde sai essa dinheirama para aquisições de armas?
Como as armas chegam às mãos dos ativistas do terror?
Como são feitas as operações financeiras referentes a esse tenebroso comércio?

As agressões ao meio ambiente
E o que temos, afinal de contas, a dizer acerca das agressões incontroladas ao meio ambiente?
A questão da água deixa o mundo inteiro em suspense.
Na embriagadora autossuficiência e arrogância de alguns setores vale tudo para defesa de interesses nebulosos.
Um estrategista aloprado chegou a propor, certa feita, que fossem feitos testes nucleares também no solo lunar, minha Nossa Senhora da Abadia da Água Suja!

Os poderosos aliados do preconceito e da ignorância
Aliados circunstanciais do preconceito e da ignorância, o radicalismo, o fundamentalismo político e religioso, o extremismo incendiário, a prepotência, a arrogância hegemônica, a ambição descomedida por ganhos materiais, a insensibilidade social, desencadeiam desfile interminável de situações indesejáveis. Vamos a elas.
As guerras do terror e o terror das guerras. As guerras abominadas pelas mães.
A pandemia da corrupção universal.
As discriminações odiosas por causa de raça, gênero e credo.
Os sofrimentos atrozes impostos pelo machismo e racismo a negros, índios e mulheres.
As alianças diplomáticas impregnadas de hipocrisia em torno de conveniências espúrias na seara internacional.

Como é que pode?
As desigualdades sociais gritantes.
Os oitenta caras mais ricos do mundo acumulam riqueza, segundo a ONU, equivalente aos bens somados de dois terços da humanidade. Como é que pode?
O dono da maior fortuna individual do planeta possui haveres que superam o PIB de vários países africanos.
Pode ser alegado que a fortuna foi adquirida de acordo com as regras vigentes, pontuando mérito pessoal. O raciocínio parece coerente, mas dá margem a uma indagação intrigante: se o que deve prevalecer, de verdade, no jogo da vida, é o mérito pessoal, que valores, no frigir dos ovos, deveriam alcançar, então, as fortunas deixadas por Tereza de Calcutá? Mahatma Gandhi? Chico Xavier?

A economia é meio e não fim
A economia não é um fim em si mesma. Tanto quanto a ciência e a tecnologia é um meio para se atingir a um fim, sempre social.
A medida correta das coisas é o ser humano.
Nossa noção de valores está despojada de sentido humanístico e espiritual.
Isso conta – e como! – na aventura humana acorde com os ditames das mensagens de inspiração transcendente que chegam do fundo e do alto dos tempos.

Conquistas capazes de transformar o mundo
Retomemos as considerações sobre as conquistas que, apesar de tantas vicissitudes, a Humanidade amealhou como patrimônio universal potencialmente capaz de operar transformações substanciais neste maltratado planeta.
As conquistas espaciais.
Os avanços da eletrônica.
Os cliques mágicos espantosos que fazem brotar na imaginação até a ideia da transposição futura, de um ponto para outro, de qualquer tipo de matéria.
A redução das distâncias pela velocidade cada vez mais vertiginosa. Dos quase cem quilômetros horários do galope mais rápido chegamos, pouco mais de um século, passando pelos recordes dos carros, trens-balas, aeronaves, dos 250 mil quilômetros horários das viagens cósmicas.
Proponho uma equação pra queimar a mufa de qualquer vivente. Imaginemos a eventualidade de num certo momento, utilizar tal  tecnologia na mobilidade urbana. Duzentos e cinquenta mil quilômetros horários!
Alguém, no auditório, resolve deslocar-se urgentemente até Pedro Leopoldo. Ida e volta em fração infinitesimal de tempo. Será que a volta se dará num tempo anterior ao tempo da partida? Hein?
Alguém, com conhecimentos de física quântica, talvez consiga explicar melhor aquilo que este modesto repórter, com suas percepções quiméricas da aventura da vida, introduz nestas despretensiosas reflexões.

O espírito humano só funciona aberto
O espírito humano é que nem o paraquedas! Só funciona aberto, sublinham Louis Pauwells e Jacques Bergie.
O mundo que conhecemos chega a uma encruzilhada crucial.
Limiar de uma nova história.
Acumulou, de um lado, saberes e experiências que podem perfeitamente catapultar-nos a saltos de qualidade inimagináveis. Estágios evolutivos fenomenais, com a disseminação de benefícios já definidos ou potencialmente descortinados ao alcance de todos.
Mas, de outro lado, acossado pelo radicalismo de variados matizes, pelo egoísmo despojado de humanismo e de espiritualidade, pelas crueldades inerentes a essa visão distorcida dos acontecimentos, pelas meias verdades despejadas na mídia, esse mundo do bom Deus, onde o diabo costuma implantar também armadilhas, pode, de supetão, desmoronar diante de nossa apavorada contemplação.

Dá para sonhar, sim
De um lado, dá pra sonhar, sim, com a perspectiva de mais descobertas fabulosas. Por exemplo, na área das energias sutis.
Dá pra pensar, sim, no surgimento de novas fontes matriciais de energia, extraídas da Natureza, do Cosmos.
Energias que dispensem, aventando outra benfazeja hipótese, cortes cirúrgicos na assistência medicinal.
Energias que prolonguem a vida física; que possam até abolir, como profetizou o genial Nicola Tesla, as gigantescas e onerosas engrenagens modernas de produção da eletricidade. Isso tudo sem mencionar, também, avanços terapêuticos prováveis em função da decifração do código genético.

Temores existem
Mas, de outra parte, dá para temer, outrossim, que um tresloucado qualquer, impulsionado por paixão incendiária, resolva de repente apertar o botão apocalíptico, desencadeando hecatombe nuclear capaz de reduzir a escombros tudo que aí está.
Os estoques bélicos nucleares, espalhados por numerosos países, são suficientes para estilhaçar várias vezes – como se uma só não bastasse – todo vestígio de vida. E se um artefato desses caísse nas mãos de um grupo radical terrorista?
Constituem também motivos de preocupação as situações imprevisíveis, originárias de tensões levadas a extremos.
E se aquele míssil de origem desconhecida que abateu na Ucrânia um avião comercial, dizimando inocentes vidas, tivesse atingido o aparelho que, instantes antes, singrando a mesma rota, transportava de volta de uma viagem ao Brasil o presidente russo que aqui veio para o encontro dos BRICS?
E se o inofensivo drone que burlou a rígida vigilância do serviço secreto estadunidense, acercando-se da residência do Presidente do país, portasse carga explosiva?
E se os ousados e inescrupulosos invasores dos espaços cibernéticos cismassem de promover o caos nas comunicações eletrônicas, imprescindíveis ao funcionamento de praticamente tudo na vida contemporânea?

A responsabilidade dos homens e mulheres de boa vontade
Vozes místicas embebidas de generosas intenções, acionadas por esse impulso heroico da alma chamado esperança, chamam a atenção para os riscos de datas-limite. Paradoxalmente, também, profetas do catastrofismo apostam pesado na corda esticada até o limite da ruptura.
As mulheres e homens de boa vontade - esmagadora maioria - carregam na hora atual a inarredável responsabilidade de segurar firme essa barra. Como agir?
Sugiro um receituário exequível ancorado no bom senso. Utilizando, constantemente, com serenidade à mostra, os recursos especiais ao nosso alcance no enfrentamento dos problemas existenciais.
O iluminismo espiritual, as práticas humanísticas, o solidarismo social, a aceitação plena do ecumenismo, a transparência na conduta mundana. Isso aí!
Somos, os seres pensantes desta pátria terrena, portadores de alma revestida de indumentária física, pontos luminosos de refulgente irradiação energética.

Vibrações positivas pessoais contam bastante
Nossas vibrações positivas pessoais contam bastante no processo de construção de uma consciência coletiva universal; na formação de um estado de espírito global propositivo, sintonizado com os sentimentos e emoções inerentes à dignidade da espécie.

O sentido da vida
O sentido da vida e o seu arcano, proclama o poeta, é a aspiração de ser divino no supremo prazer de ser humano.
Fazer prevalecer, nas tarefas do dia-a-dia, os valores humanísticos; trabalhar com denodo a causa da justiça social; respeitar as diversidades; rechaçar o fanatismo, os preconceitos e as intolerâncias; defender a liberdade plena de os cidadãos exporem, na convivência comunitária, suas ideias, crenças, valores, costumes, culturas; enfrentar, resolutos, dentro dos ordenamentos éticos, democráticos e jurídicos, toda mazela comportamental que alveje a dignidade da vida: eis aí alinhados alguns preceitos básicos indissociáveis da trajetória pessoal dos cidadãos empenhados em contribuir para transformações que o mundo reclama.

Reinventar o mundo
É nossa, só nossa, a missão de reinventar o mundo, para que ele se torne melhor, mais justo e mais fraterno.
Fica claro que, como Leões, não podemos jamais desconhecer que Leonismo faz rima nobre com Humanismo, com Espiritualismo, com Vanguardismo, com Solidarismo, com Ecumenismo.

Agentes de transformação
Somos, homens e mulheres de boa vontade, agentes de transformação.
As vibrações positivas que emanam de nossos atos, de nossas orações, meditações, propósitos, dos ideais que alimentamos, compõem poderosa e contagiante teia de energia incandescente em condições de abrasar mentes e corações em paragens onde a esperança não tenha ainda se esvaído.
Assim a empreitada!
Francisco pede-nos não deixemos de nos indignar diante do mal, da crueldade e também não nos esquecermos de apelar para o melhor de nossos sentimentos e devoções, de tal sorte que os bons fluidos deles projetados impactem positivamente as lideranças encarregadas de tomar decisões em nosso nome, em nome da Humanidade. E que esses fluidos copiosos cheguem a envolver, até mesmo, os inimigos, de maneira a neutralizá-los nas arremetidas destrutivas.  
É o caso de botar tento na fala deste Papa providencial, bem como nas falas de tantos quantos, ao longo da história, disseram coisas parecidas.

Reflexões de um simples repórter
Vou parando por aqui.
Apraz-me imaginar haver passado aos Companheiros material razoável para reflexões sobre as venturas e desventuras de nosso admirável posto que tumultuado mundo.
Se a arenga produzida, ao contrário da expectativa, trouxe desaponto, queiram, fraternalmente, perdoar este desajeitado Companheiro.
Como alertei no comecinho da fala sou apenas, tão simplesmente, um repórter.
Não sei senão muito poucas coisas.  
Tenho dito!   Palavra de Leão!”


quinta-feira, 26 de março de 2015




Deu a louca no mundo

Cesar Vanucci

“Não permitirei jamais a constituição 
do Estado Palestino!”
(Benjamim Netanyahu, 
primeiro ministro de Israel)


Benjamin Netanyahu deixou cair a máscara. Num arroubo retórico extremo, inaugurando mais um outro conjunto residencial para colonos judeus em área do mapa palestino tomada na marra, proclamou arrogantemente com todos os erres, esses e ipsilones que jamais, em tempo algum,  permitirá a constituição do Estado Palestino. Desafiou abertamente – e esta não é, na verdade, a primeira vez que age assim – a ONU, as nações aliadas de Israel, a comunidade das nações.
Essa “gloriosa” proclamação do primeiro ministro israelita, despojando-se definitivamente da pele de cordeiro há tantos anos garbosa e hipocritamente envergada, arrancou aplausos entusiásticos dos radicais que o acompanham na campanha eleitoral em curso. Mas, por outro lado, levantou manifestações de repúdio em tudo que é canto do planeta. Criou um cenário em que se pode divisar nitidamente uma quebra de confiança definitiva na atuação de Tel-Aviv com relação às negociações de paz no conturbado Oriente Médio. O mundo inteiro passa, agora, com carradas de razão, a torcer por uma vitória dos adversários políticos de Bibi nas urnas israelenses no pleito que se avizinha, alimentando a esperança de que, ao contrário do fanático dirigente, eles se mostrem dispostos a encontrar uma saída honrosa, pacífica, justa, para a tremenda encrenca criada pelo comportamento permanentemente belicoso do “premier”.
Estas maldatilografas linhas já estavam lançadas quando do anúncio da vitória eleitoral apertada de Netanyahu no pleito israelita. Tá danado.


· Guerra climática
Conversa de causar arrepio gélido em esquimó encapotado com peles de urso e rena. Cientistas e ambientalistas já desenham no quadro dos problemas a serem futuramente enfrentados pela humanidade em sua relação com a Natureza, outra assustadora ameaça. A mudança climática como instrumento bélico virou objeto de estudos na área da chamada geoengenharia. Pesquisas atinentes ao tema vêm sendo estimuladas por estrategistas de estados maiores militares nalguns países, em conluio com cientistas. Como sempre desafortunadamente acontece, as prioridades não contemplam alterações que possam trazer benefícios para a sociedade. Como, por exemplo, a concentração de chuvas em regiões castigadas pela estiagem. As atenções estão focadas na busca de fórmulas capazes de desencadearem danos em territórios inimigos. É a “guerra climática”, valha-nos Deus, Nossa Senhora!

· Lá, como cá
Lá, como cá, más fadas há. Para a ganância humana não existem mesmo fronteiras. Reportagem do “The Observer”, assinada pelo jornalista Jill Treanor, com tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves, estampada na edição de 18 de março da “CartaCapital”, conta os pormenores de uma maracutaia recente vivida na austera Escócia. O Banco Real Escocês, que vem acumulando colossais prejuízos, equivalentes aos 45 bilhões de libras esterlinas entregues pelos contribuintes para evitar sua falência, continuou remunerando os principais executivos com vultosas gratificações. Procedeu como se tudo estivesse correndo num mar de rosas, apesar dos registros de estrondosos prejuízos por sete anos a fio.
Punida por crimes de manipulação nos mercados de câmbio, a instituição foi socorrida pelo Tesouro no auge da crise. E não é que, agora, a opinião pública toma conhecimento, estarrecida, que 128 de seus principais executivos vêm sendo regiamente recompensados por todo esse tempo? Receberam bonificações anuais da ordem média de 1 milhão de euros cada qual, pelos “bons serviços executados”. Três dos privilegiados abiscoitaram valores de 6 milhões de euros anuais. Outras gratificações “acima do padrão” foram registradas: 3 milhões e 300 mil para um; 6 milhões e 300 mil euros para outro; outros 3 milhões para mais um.
Está claro que os escoceses estão danados da vida com essa escabrosa história, que juntamente com o recente escândalo do HSBC coloca o sistema bancário do Reino Unido em incômoda projeção.


Umas e outras

Cesar Vanucci

“Até que enfim, uma noticia boa
sobre a Petrobras: outro recorde de produção!”
(Antônio Luiz da Costa, educador)


As ponderáveis parcelas da Nação brasileira que, compreensivelmente, se angustiam com os descaminhos trilhados pela Petrobras em função da máfia nela infiltrada, não podem perder de vista, em defesa da empresa - um pujante e intransferível patrimônio de nossa gente - alguns fatos relevantes que ocorrem em meio ao turbilhão das revelações escabrosas trazidas a público. Alguns desses fatos estão passando, de certa forma, desapercebidos. É bom tê-los presentes nas avaliações que se processam acerca dos novos rumos a serem fatalmente perseguidos na tentativa de recolocar a estatal nos trilhos de almejada recuperação.

A nova diretoria da empresa já alinhou uma série de medidas com vistas a alcançar o reequilíbrio administrativo e econômico. A venda de ativos no plano da atuação externa é parte de um planejamento financeiro apontado como producente no sentido de preservar o caixa e concentrar ações em investimentos prioritários. Como tal entendida a produção de óleo e gás no Brasil naquelas áreas de elevada produtividade e com alentadoras perspectivas de retorno.

Há que se registrar, por outro lado, um lance auspicioso ocorrido recentemente na faixa da produção. Ficou obscurecido por óbvias circunstâncias. No último mês de janeiro, a estatal bateu novo e significativo recorde de produção de petróleo no pré-sal das bacias de Campos e Santos. Atingiu o volume de 670 mil barris diários. Isso corresponde a 28 por cento do total extraído das águas profundas. Um outro motivo a mais pra comemoração: no final do ano passado, a produção de gás natural chegou a 75,5 milhões de metros cúbicos/dia. A maior desde a abertura dessa modalidade de exploração.

· Jornalista ameaçado
Resguardando-se de ameaças decorrentes de denúncias contra policiais militares baianos responsáveis pelo assassinato de 15 jovens negros no início de fevereiro, o jornalista Enderson Araújo viu-se forçado a buscar refúgio fora de Salvador. A mídia não tem se ocupado do assunto – que configura uma clara violação aos direitos humanos e agressão à liberdade de imprensa – com o realce de que se faz naturalmente merecedor.


· População aplaude Programa
Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não divulgada com o devido realce pela grande mídia, revelou que 95% (noventa e cinco por cento) da população mostra-se satisfeita com o Programa “Mais Médicos”.
A certeza do sucesso alcançado pelo Programa está refletida na visível aceitação comunitária, que acabou silenciando (observaram?) as discordâncias iradas à sua implantação por parte de alguns setores políticos e de órgãos representativos da atividade médica. Os critérios utilizados pelo Ministério da Saúde, na convocação dos médicos para atuar na atenção básica em periferias de grandes cidades e municípios desassistidos em matéria de serviços de saúde do interior, são apontados como modelares. As vagas destinam-se prioritariamente a médicos brasileiros que se interessem em atuar nas regiões onde seja detectada ausência de profissionais. No caso do não preenchimento de todas as vagas, é aceito o concurso de médicos de outros países, com o objetivo de resolver o problema, que é emergencial.
O Brasil possui 1,8 médicos por mil habitantes. O índice é menor do que em outros países, como a Argentina (3.2), Uruguai (3.7), Portugal (3.9) e Espanha (4, por mil habitantes). Além da carência de profissionais, defrontamo-nos com a distribuição desigual de médicos por regiões. Em 22 Estados, o número está abaixo da média nacional, segundo o “Diagnóstico da Saúde do Brasil”.

· Os ossos de Hipócrates
Custa crer que algo tão estarrecedor haja ocorrido num consultório médico. Não dá definitivamente pra digerir essa história do médico que, depois de prestar assistência a uma ingênua garota envolvida em doloroso caso de aborto, resolveu chamar a polícia para enquadrá-la criminalmente. A sensação que sobra é de uma tremenda bofetada na ética profissional. Os ossos de Hipócrates devem ter tremido no túmulo com a postura desse seu extraviado discípulo contaminado de noções mórbidas a respeito da vida.




GALERIA DE ARTE



     AMILCAR DE CASTRO


    "mEU FAZER É INTUITIVO E 

     AVENTUREIRO" 


Amilcar de Castro

Artista plástico, nasceu em 1920, na cidade mineira de Paraisópolis. Faleceu em Belo Horizonte no dia 21 de novembro de 2002. Formou-se em Direito, mas não exerceu a profissão. Em 1944 inscreve-se na Escola de Arquitetura e Belas Artes em Belo Horizonte, frequentando o curso livre de desenho e pintura de Alberto da Veiga Guignard, e o de escultura figurativa com Franz Weissmann. Com Guignard, foi introduzido na técnica do lápis duro, com o qual sulcava as folhas de papel, primeiro índice dos cortes que faria nas chapas de ferro que o tornariam o mais importante escultor brasileiro em atividade, reconhecível pelas monumentais esculturas em chapas de ferro cortadas e dobradas.

Em 1952, mudou-se para o Rio. Em 1953, inicia a carreira de diagramador e trabalha nas revistas A Cigarra e Manchete, no mesmo ano em que realiza sua primeira escultura construtiva, influenciado pelo trabalho de Max Bill, cuja obra conhecera na II Bienal de São Paulo. Em 1956, participou da Exposição de Arte Concreta em São Paulo, e no ano seguinte assinou o projeto de reforma gráfica do Jornal do Brasil.Em 1959 assinaria com Ferreira Gullar, Franz Weissmann e Lygia Clark, entre outros, o Manifesto Neoconcreto. Ainda nessa ocasião realiza exposições no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e no Belvedere da Sé, em Salvador. 
Em 1960, ganha o primeiro prêmio da categoria escultura no XV Salão do Museu de Belas Artes de Belo Horizonte e participa da Exposição Internacional de Arte Concreta em Zurique, na Suíça. No ano seguinte apresenta seus trabalhos no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). 
Em 1964, realiza a cenografia do enredo da Escola de Samba da Mangueira, auxiliado por Hélio Oiticica, responsável pela pintura de uma alegoria. Em 1967, participa da mostra Artistas Brasileiros Contemporâneos, no Museu de Arte Moderna de Buenos Aires. Participou de cinco edições da Bienal de São Paulo. Ao longo dos anos 60, continuou a trabalhar com diagramação para jornais cariocas e mineiros.
Em 1968 e 1970 foi bolsista da Fundação Guggenhein, permanecendo nos Estados Unidos da América por três anos. Retornou ao Brasil em 1971, fixando-se definitivamente em Belo Horizonte. Em 1973, torna-se professor de composição e escultura da Escola Guignard, da qual se seria mais tarde diretor. Nos anos 1970 e 1980, leciona na Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aposentando-se em 1990. A partir daí, dedica-se exclusivamente à atividade artística. Em 1989, o Paço Imperial, no Rio de Janeiro, realiza uma retrospectiva de sua obra.Nos anos 1990 teve algumas de suas esculturas colocadas em espaços públicos. 
Em 1998 construiu uma obra para o projeto de renovação do bairro Hellersdorf, na antiga Berlim Oriental, ali instalando uma monumental escultura de 24 toneladas. No ano seguinte suas obras foram exibidas em mostras em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. 
Em 2000, uma exposição de 14 obras e 10 desenhos inéditos do artista foi montada em São Paulo e Rio de Janeiro para homenagear seu 80º aniversário. Em 2001 inaugurou ateliê em Nova Lima.

Aqui estão fotos de obras 
do grande escultor:


sexta-feira, 20 de março de 2015

O recado das ruas

Cesar Vanucci *

“Sem partido, sem partido!”
(Coro de vozes impedindo que na passeata de São Paulo, que reuniu, segundo a “Folha”, 210 mil manifestantes, políticos fizessem uso da palavra)

O tamanho da manifestação pegou todo mundo de surpresa. Tendo como foco central a atuação da Presidenta Dilma Rousseff e de seu partido, o PT, deixou os arraiais políticos em polvorosa. Ninguém calculava que a convocação pelas redes sociais fosse capaz de atrair tanta gente. Sobretudo se levada em conta a origem difusa e a diversidade de propósitos das mensagens espalhadas aos internautas. O recado das ruas, transmitido de maneira pacífica, de acordo com o figurino democrático, tudo isso considerado, foi de iniludível clareza.

Largadas obviamente de lado as impertinências de grupos radicais minoritários infiltrados nas passeatas – gente avessa ao sentimento nacional, inimiga raiventa do regime democrático -, o que fica como sumo do pensamento comunitário expresso no ar é uma demonstração insofismável de que as mudanças políticas e sociais, amiúde acenadas à Nação pela classe política, não podem mais, jeito maneira, continuar sendo empurradas com a barriga. Urge promovê-las.

Os setores mais lúcidos da sociedade sabem o que carece ser feito. Os políticos têm, sim senhor, noção bastante precisa do que a sociedade realmente almeja. Mesmo que muitas das postulações vindas a furo pequem pela inconsistência, algumas delas chegando até mesmo a molestar lastimavelmente fundamentos basilares de nossa estrutura institucional democrática, existe consolidada na consciência cívica da Nação uma agenda ideal de demandas propositivas clamando por soluções urgentes. O combate sem tréguas à corrupção, com a identificação de corpo inteiro de corruptores e corrompidos, como vem agora acontecendo auspiciosamente na “Lava Jato”, é uma dessas reivindicações inalienáveis da vontade popular.

A reforma política ampla, como fruto de um debate bem articulado, com prazo definido para execução, é outro item de suprema relevância no processo. É indisfarçável o mal estar produzido no espirito popular pelas urdiduras de tantos agentes políticos oportunistas e fisiológicos abrigados em todas as legendas. Trata-se de pessoal agarrado com frenético apego ao poder. Contempla-o como um fim para enriquecimento indevido. Não como um meio valioso para se atingir o respeitável interesse público, fim magno da ação diuturna de construção humana. Há que se cuidar, na elaboração do trabalho, da eliminação de fatores que encorajem a participação no enredo político de atores desqualificados, hoje para nosso infortúnio tão numerosos.

A opinião pública confessa-se de acordo com ajustes econômicos para o enfrentamento dos problemas difíceis e complexos que nos afligem. Apoia as medidas. Mas considera indispensável a convocação também do pessoal do chamado “andar de cima” para o compartilhamento harmonioso e justo do custo da crise. Falar apenas em cortes de implicações sociais, alimentando-se temores de que possa haver retrocesso nas alentadoras conquistas dos últimos anos, não é procedimento correto. É preciso encarar a possibilidade de os déficits das contas públicas implicarem também em  gravames das fortunas e dos lucros exorbitantes. O combate eficaz às evasões fiscais faz parte do conjunto de medidas a serem adotadas nesse capítulo.  O mesmo cabe dizer com relação a um levantamento eficiente, para as cobranças inevitáveis, dos colossais valores ilicitamente estocados em operações financeiras clandestinas. Sabido é, até dos aborígenes das últimas tribos remanescentes a serem ainda contatadas nas selvas amazônicas pelos sertanistas da Funai, que são em número bastante significativo os cidadãos “acima de qualquer suspeita”, associados remidos do CPP (Clube dos Privilégios Perversos), detentores de contas fabulosas nos chamados “paraísos fiscais”. Ou sejam esses redutos de pirataria e gatunagem hipocritamente tolerados pela sociedade das nações. Só numa única agência do HSBC flagrada recentemente pela proeza de haver conseguido extrapolar os limites permitidos na bandalheira relativa a operações fraudulentas, das 130 mil contas oficialmente lastreadas, perto de 9 mil são de ilustres patrícios. Apontar tais elementos, na forma da lei, além do caráter saneador intrínseco da medida, proporcionará ensancha oportunosa para o resgate legal de aportes financeiros de grande peso mode que reduzir o déficit público.

Quanto ao mais, não percam as lideranças políticas, os representantes dos Poderes legitimamente constituídos, as lideranças de todos os demais segmentos representativos da sociedade brasileira, a formidável chance de estabelecer um diálogo proveitoso com a Nação. A chance de firmar conexão e sintonia com as aspirações populares legítimas. Façam de tudo para que dê certo. Promovam confabulações, ajustes, pactos, diálogos, entendimentos dentro da reta intenção de ouvir e procurar atender aos clamores justos nascidos da alma das ruas. A hora recomenda conjugação poderosa de vontades de modo a que a Nação trilhe o caminho indesviável de sua vocação de grandeza.


A tragédia nigeriana

Cesar Vanucci

“Só em 2014, o “Boko Haram” massacrou mais
de 10 mil civis, a grande maioria muçulmanos.”
(Jornalista Giampaolo Petrucci)

Em comentário recente, focalizando a tragédia provocada pelo fundamentalismo terrorista muçulmano no território francês, chamei a atenção dos leitores para um outro ato virulento contra os direitos humanos, praticado na mesma ocasião por fanáticos religiosos no maltratado continente africano. Expressei a opinião de que o mundo inteiro, a partir das lideranças das grandes potências, deveria organizar manifestações semelhantes àquelas que, compreensivelmente, ocorreram em Paris, em sinal de justa solidariedade na dor e no sofrimento ao povo nigeriano.

Ao lançar no papel tais considerações não tinha conhecimento ainda de um texto bastante elucidativo que me foi encaminhado por uma amiga querida, engajada em fecunda atividade pastoral cristã, a respeito dos acontecimentos em terras d’África. Tendo por cenário a Nigéria, os acontecimentos em questão são descritos como “um dos mais brutais massacres dos últimos anos da história do continente”. A Nigéria possui 175 milhões de habitantes (o mais populoso do continente, 7º do mundo) sendo detentor do 38º PIB nacional. Povoado por 500 grupos étnicos, conta com avolumada presença de cristãos no meio de uma população de predominância islâmica. O texto aludido, de autoria do jornalista Giampaolo Petrucci, foi publicado na revista “Adista Notizie”, de 24 de janeiro passado. A tradução é de Moises Sbardelotto. Entendo de suma oportunidade reproduzi-lo nesse “minifúndio de papel” (lembrando o jornalista e escritor Roberto Drummond). Seguem titulo e análise publicados. “A fé, os interesses e os silêncios, chave de leitura do “Boko Haram”: “De acordo com informações não oficiais, mas bem credenciadas, como a Anistia Internacional e a BBC, teriam sido mais de duas mil as vítimas da ofensiva lançada a partir do dia 3 de janeiro passado pelo Boko Haram na região de Baga, onde o grupo fundamentalista ocupou uma importante base militar, posto avançado de uma força tarefa multinacional africana na região.
O recrudescimento da atividade terrorista chega a um mês das eleições presidenciais do dia 14 de fevereiro, nas quais o atual presidente cristão Goodluck Jonathan, no poder desde 2010, vai se recandidatar, mesmo sendo considerado politicamente incapaz de adotar estratégias críveis de combate ao terrorismo – também por causa de um Exército desorganizado, mal pago, corrupto e mal equipado – e de controlar o território para evitar os conclamados conluios entre governos locais e terroristas.
O “Boko Haram” – locução hausa que significa "a educação ocidental é pecado" – começou os ataques no Estado de Borno (nordeste da Nigéria) em 2009, mas, com as recentes intensificações do conflito, ele aspira, confiando também na filiação ao Estado Islâmico, à desestabilização de um dos países mais ricos de petróleo do mundo, além da constituição de um grande califado para além das fronteiras com os CamarõesChade e Níger, capaz de se expandir para toda a África ocidental muçulmana, já amplamente abalada pelo avanço dos movimentos jihadistas na região do Sahel.
Só em 2014, o “Boko Haram” massacrou mais de 10 mil civis, a grande maioria muçulmanos, e provocou a fuga de mais de 1,7 milhão de pessoas. Depois das medidas de segurança adotadas pelas forças de segurança nigerianas nos mercados e nas praças do norte, os fundamentalistas mudaram a estratégia de ataque, forçando meninas e moças pouco mais do que adolescentes a se fazerem explodir em lugares particularmente lotados de civis.
Precisamente o indizível horror provocado pelos últimos atentados realizados em Maiduguri e em Potiskum com esse modus operandi finalmente chamou a atenção da sonolenta indignação da mídia e das instituições internacionais sobre o drama nigeriano.”



Vítimas de segunda categoria


Cesar Vanucci *

“Todos devíamos vir para a África!”
(Arcebispo Francisco Montenegro, da Nigéria)

Dou sequência aqui ao trabalho jornalístico sobre os apavorantes acontecimentos da Nigéria provocados pelos fanáticos do “Boko Haram”. Como já explicado, o autor do texto é o jornalista italiano Giampaolo Petrucci.

"Penso na grande manifestação de Paris e desejo também aqui uma grande marcha de unidade nacional que supere as divisões políticas, étnicas e religiosas. Devemos dizer 'não' à violência e encontrar uma solução para os problemas que afligem a Nigéria", disse à agência “Fides” Dom Ignatius Ayau Kaigama (arcebispo nigeriano de Jos), que em várias ocasiões criticou a comunidade internacional pela falta de atenção dada à questão nigeriana, definindo, de fato, como "vítimas de primeira categoria – as europeias – e vítimas de segunda categoria" as africanas.
Esta também a opinião do arcebispo de Agrigento – que se tornará cardeal no próximo consistório de fevereiro –, Francesco Montenegro, que falou no Dia Internacional dos Migrantes, 18 de janeiro. "Todo morto deveria fazer-nos pensar", declarou. "É estranho que só Paris se tornou o centro do mundo. No dia seguinte, ao contrário, todos devíamos ir para a África, porque duas mil pessoas sofreram a mesma violência de Paris, mas, mais uma vez, dividimos o mundo no sofrimento: nós, os da primeira categoria, postos todos juntos a dizer que não é justo, enquanto não vimos os dois mil mortos da Nigéria, mortos de segunda categoria".
Por outro lado, numa "Declaração sobre os ataques na Nigéria", em 12 de janeiro, o Conselho Ecumênico das Igrejas (WCC) apontou o absurdo de uma cobertura religiosa de certas atrocidades: "Uma mentalidade que concebe as crianças como bombas e que massacra indiscriminadamente mulheres, crianças e idosos está além da indignação e se desqualifica para qualquer possível pretensão de justificação religiosa".
O WCC também expressou "profunda decepção com a discriminatória falta de cobertura midiática internacional" que a crise nigeriana exige e pediu, por um lado, a intervenção decisiva do governo e, por outro, uma adequada solidariedade por parte da comunidade internacional.
A Rede Nowar sublinhou no dia 12 de janeiro, ao ensejo da visita da vice embaixadora nigeriana à Itália, Martina Gereng-Sen, que o terrorismo "não tem nada a ver com o Islã", como demonstra o fato de que a grande maioria das vítimas do terror "pertence aos povos não ocidentais" e são principalmente muçulmanos.
"Nos mesmos dias do massacre em Paris, foram cometidos massacres por parte de milícias terroristas na Nigéria, Líbia, Iraque, Iêmen, Síria”. No comunicado da Rede Nowar pede-se que "a mídia e a opinião pública reservem a eles a mesma dor e respeito que demonstramos no caso das vítimas de Paris". Existe, ainda, a denúncia de que vários "países da Otan (incluindo a Itália) e monarquias do Golfo, mesmo nos últimos anos, equiparam, formaram, financiaram o crescimento de diversos grupos terroristas".
O fato de que o “Boko Haram” busca cobertura religiosa de finalidade não manifesta também é assinalado pelo diretor da revista dos combonianos, “Nigrizia”, padre Efrem Tresoldi, em entrevista à Rádio Vaticano no dia 12 de janeiro. "Esse terrorismo chamado islâmico está colocando na mira não só os cristãos, mas ainda mais as próprias comunidades muçulmanas do norte do país. É uma campanha que vai contra, eu diria, os próprios princípios da humanidade e, portanto, não tem nada a ver com a religião: são criminosos, mas que têm apoio, como se sabe, também dentro do Estado" e "financiamentos também do exterior".
Em análise publicada no dia 9 de janeiro pela agência Sir, o padre Giulio Albanese (comboniano, fundador da agência missionária “Misnae”, colaborador de várias publicações) denunciou o silêncio ocidental, definindo as vítimas de Baga como "filhas de um deus menor".
Falando do “Boko Haram” disse tratar-se de um movimento que "instrumentaliza" a religião para fins políticos. A situação, salienta, degenerou depois da vitória eleitoral de Goodluck Jonathan, em 2010, "nada apreciada pelas oligarquias do norte do país, de fé islâmica, que viram redimensionado, por assim dizer, o seu peso político. Jonathan, de fato, pertence à etnia Ijaw, minoria de nível nacional e de tradição cristã, mas que representa a maioria da população na região do Delta do Níger, riquíssima em petróleo e sob o controle das multinacionais estrangeiras. Nesse contexto, o fator religioso se sobrepõe a uma competição pelo poder que, a esse ritmo, corre o risco de dividir a Nigéria em duas".
"As razões do aumento da atividade terrorista – acentua Albanese – devem ser buscadas, pelo menos em parte, nas relações que o “Boko Haram” manteve, ao longo dos últimos anos, com políticos locais e membros das forças de segurança originárias do norte, interessadas na radicalização do conflito, a fim de tornar a Nigéria ingovernável".







GALERIA DE ARTE


     INIMÁ DE PAULA, 


o artesão das cores

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“A paisagem é sempre maior e mais forte que o homem nas minhas telas.”(Inimá de Paula)

Inimá José de Paula foi um pintor, desenhista e professor brasileiro. Artista autodidata, Inimá de Paula criou uma linguagem própria inconfundível. Seus trabalhos possuem características definidas e pessoais, com pinceladas ricas em tonalidades e sensibilidade.
Inimá foi um artesão das cores, e é considerado por muitos o maior fauvista brasileiro, o maior de todos os artistas contemporâneos mineiros, sendo reverenciado em sua terra natal.
Sua pintura tem características pessoais e bem definidas, e é altamente bem elaborada e estruturada; suas pinceladas são fartas e generosas.
As obras de Inimá podem ser encontradas nos mais importantes museus brasileiros, em acervos de fundações públicas e privadas e em coleções particulares de renomados colecionadores. Seu nome é citado em diversos dicionários de artes plásticas e livros de arte. Recebeu ainda, inúmeras homenagens, títulos e medalhas.

Inimá de Paula nasceu no dia 7 de Dezembro de 1918 em Itanhomi. Desde criança, Inimá gostava de desenhar e quando foi prestar serviço militar em Juiz de Fora/MG, em 1937, encontrou, no Núcleo Antônio Parreiras, a oportunidade de realizar suas primeiras pinturas e estudos.
Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1940 e já alimentava o sonho de ser pintor enquanto trabalhava como retocador de fotografias. Matricula-se nas aulas de Argemiro Cunha no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, as quais abandona em pouco tempo. Passa a pintar com alguns dos ex-integrantes do Núcleo Bernardelli.
Uma oportunidade de trabalho o levou a Fortaleza em 1944. Lá, uniu-se aos jovens artistas e participou ativamente do movimento modernista local. Juntamente com Antônio Bandeira, Aldemir Martins e Jean-Pierre Chabloz fundou a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), que foi responsável pelo desenvolvimento da arte moderna no Ceará.
De volta ao Rio, no ano seguinte, passou a concorrer regularmente no Salão Nacional de Belas Artes, o mais disputado e importante salão de arte da época, e em breves sete anos conquistou todas as premiações. Ainda em 1945 expõe com Aldemir Martins, Antônio Bandeira e Jean-Pierre Chabloz, na galeria Askanasy.
Em 1948, graças ao apoio de Cândido Portinari, faz sua primeira mostra individual no Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/RJ).
Em 1950, ganha o prêmio de viagem ao país do Salão Nacional de Belas Artes (SNBA) e, no ano seguinte, viaja e expõe na Bahia.
Em 1952, venceu o disputado Prêmio de Viagem ao Estrangeiro. Em Paris, entre 1954 e 1956, assiste a cursos na Académie de la Grande Chaumière e na École Normale Supérieure des Beaux-Arts. Em seguida, acompanha as aulas de André Lhote e de Gino Severini.
Quando volta, passa a fazer pinturas abstratas, algumas das quais mostra na 5ª Bienal de São Paulo. Na primeira metade dos anos 1960, muda-se para Belo Horizonte e retoma a pintura figurativa.
Em 1998 é criada a Fundação Inimá de Paula em Belo Horizonte, para cuidar de todos os assuntos concernentes à sua obra e à catalogação integral da mesma, sendo iniciativa pioneira no país, rivalizando apenas com a também impressionante iniciativa que é o Instituto Manabu Mabe. O próprio Inimá autenticou pessoalmente muitas e muitas obras. A Fundação Inimá de Paula, em parceria com o Governo do Estado de Minas Gerais, inaugurou em abril de 2008 o Museu Inimá de Paula, em antigo prédio da capital mineira. O Museu está aberto ao público e, além do seu acervo, os amantes da arte podem ver as várias exposições de artistas brasileiros que ali mostram suas obras.
Inimá pintou até o seu último ano de vida, falecendo no dia 13 de agosto de 1999 em Belo Horizonte. Fonte: Mercado Arte




Amostras da criativa obra de Inimá


A SAGA LANDELL MOURA

Eleições, primeiro turno.

*Cesar Vanucci “A eficiência da Justiça Eleitoral permitiu que o brasileiro fosse dormir no domingo já sabedor dos nomes dos eleitos.” (...