Cesar Vanucci *
“As criaturas estão no caminho entre o Nada e o Tudo.
Encontram o que está acima de
todos (...) pela via da oração.”
(Alceu Amoroso Lima)
Ouvi
a oração, um bocado de tempo atrás, numa representação teatral. Anotei na
memória velha de guerra as ideias básicas contidas no sugestivo recitativo.
Resolvi aqui reproduzi-lo. Não tenho dúvida quanto à fidelidade aos conceitos.
Mas, não consigo garantir o mesmo quanto à qualidade da reprodução. Peço a
todos, por isso, que levem em conta a (boa) intenção.
Estou
falando de uma mensagem havaiana de cunho religioso. Lembra a arrebatante
Oração de Francisco de Assis, na parte em que exorta as pessoas ao exercício do
perdão. Perdão concebido, numa e noutra prece – claro está - dentro da
perspectiva da humildade, “base e fundamento de todas as virtudes”, sem a qual
“não há nenhuma virtude que o seja”, como atesta Cervantes.
Por
atravessarmos época pra lá de conturbada, carregada de tensões oriundas do
ódio, intolerância, injustiça social,
propicias por tudo isso a reflexões acerca do sentido da aventura
humana, considerei de oportunidade compartilhar essa oração com os amáveis
leitores.
O
texto que dei conta de rememorar diz (mais ou menos) o que vem alinhado na
sequência. Sinto muito, muito mesmo, por tudo aquilo que, partindo de mim, haja
provocado, em qualquer época e qualquer lugar, sofrimento, decepção,
frustração, ira, desalento, perturbação, contrariedade em pessoas de meu
ambiente familiar; em pessoas de meu círculo afetivo; em pessoas de minhas
ligações profissionais; em homens e mulheres, adultos e jovens, conhecidos ou
desconhecidos, que cruzaram meus caminhos no curso desta caminhada pela pátria
terrena. Sinto muito, sinceramente, por tudo aquilo que, em decorrência de atos
ou palavras de minha autoria, possa ter dado causa a reações de pessoas de
minha roda familiar, de minha esfera afetiva, nas minhas vinculações
profissionais e comunitárias, que despertassem em mim rancor, tristeza,
inconformismo, irritação, desejos de vingança. Rogo da Suprema Divindade que
transmute todas essas emoções negativas em energias positivas. Energias que
tenham o mérito de comunicar sensações de bem-estar e conforto a todos e que
possam contribuir para a construção de relacionamentos humanos harmoniosos,
fraternais e duradouros.
Eu
sinto muito por tudo isso. Peço, humildemente, perdão por todas as reações
desagradáveis que, consciente ou inconscientemente, ajudei a fomentar na
convivência com os semelhantes.
Escancaro
o coração à prática do amor, da fraternidade, da solidariedade e agradeço,
reverentemente, por esta chance de poder lamentar, pedir perdão e exprimir o
avassalador sentimento de mundo que me invade a alma.
Não
resisto, por último, à tentação de pedir a atenção dos leitores para algo que,
certamente, não lhes passa desapercebido todas as vezes em que tomam
conhecimento, como agora no caso desta oração do Havaí, de uma forma de diálogo
com o Absoluto nascida de concepção cultural da vida diferenciada da nossa. No
fundo, independentemente de tempo e lugar, o que dá pra perceber é que a
linguagem é sempre igual. Os cânticos de louvor ao Altíssimo alcançam sempre o
entendimento universal. Brotam dos mais generosos impulsos da alma humana.
Revelam que os homens, não importam a etnia, o idioma, o lugar em que vivem, os
hábitos, são na essência tremendamente parecidos.
* Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br)