As grandes potências
Cesar Vanucci *
“Toda grande potência troça dos demais.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)
As grandes potências são contra a bomba. Dos outros. Possuem estocados artefatos nucleares suficientes para destruir a galáxia inteira. Falam, de vez em quando, até em colocar em órbita permanente no espaço sideral, em caráter naturalmente “preventivo", satélites equipados com suas armas de devastação definitiva. Continuam a desbravar os assustadores domínios bélicos da energia atômica, patrocinando experiências nunca interrompidas, apesar dos propósitos de não beligerância proclamados em exasperante retórica. Viram bicho, vociferam ameaças de fazer estremecer céus e terras quando um país não pertencente ao seu fechadíssimo clube, dá mostras de querer "quebrar a paz e a harmonia mundiais", que elas, as grandes potências, tão bem têm sabido preservar, sabe lá Deus como. Entenda-se como tentativa de ruptura com a paz, tranquilidade e harmonia reinantes neste nosso planeta qualquer iniciativa que leve à construção de uma bomba como aquelas que reduziram a pó as cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki. As grandes potências fazem sempre questão, em seu alardeado apego à paz, de deixar consignada sua posição contrária à bomba. Dos outros.
As grandes potências manifestam-se contrárias também às armas bacteriológicas e quaisquer outras armas que provoquem a destruição em massa de vidas e patrimônios. Armas dos outros, bem entendido. No que lhes diz particularmente respeito, têm na conta de um direito de outorga divina o armazenamento, em silos subterrâneos, de milhões de frascos com toda sorte de vírus mortíferos. Tão mortíferos que podem, a umas poucas aplicações na atmosfera, em reservatórios de água, em locais de grande concentração, varrer da face da terra, em curtíssima fração de tempo, toda manifestação de vida humana.
As grandes potências, em passado não muito distante, demonstraram não ser favoráveis à derrubada de aviões clandestinos que eventualmente possam cruzar o espaço aéreo dos territórios nacionais. Dos outros. Fizeram saber, na ocasião, por intermédio de suas chancelarias, que lhes aborreceria imaginar nações emergentes, como (por exemplo) o Brasil, a aporem sua concordância num pacto internacional favorável ao abate de aeronaves que violassem sua soberania. Por conta dessa recomendação das grandes potências, o Brasil (por exemplo) colocou-se, anos a fio, até uma ruptura com o abuso tomada no governo FHC, na condição de impotente espectador diante do fato perturbador de aviões de diferentes procedências, transportando drogas, contrabando, produtos de pirataria ecológica, a singrarem de lado para outro os céus da Amazônia. Onde, aliás, sem permissão oficial, andou circulando, também, algum tempo atrás, todo desenvolto, com “direito” a aterrissagem e tudo mais, sem pedido oficial prévio de pouso, um avião de transporte militar francês conduzindo oficiais de alta patente para negociar resgate de reféns com guerrilheiros colombianos. Depois da intolerável façanha, diante de protesto formal do Itamarati, a chancelaria do “Champs Elysées” formulou pedido de esfarrapada desculpa.
As grandes potências declaram-se sempre, além do mais, contrárias a violentação do meio ambiente. Quando praticada pelos outros. É claro. Costumam recusar-se, na parte que se lhes toca, a botar em prática, mesmo quando as subscrevam, resoluções que forcem seu parque industrial a reduzir a carga de poluentes despejada na atmosfera, causa principal do constante adelgaçamento da camada de ozônio.
As grandes potências são contra ainda os subsídios agrícolas e outras formas de protecionismo mercadológico. Dos outros. No plano doméstico, deitam e rolam com relação aos mesmíssimos procedimentos que, farisaicamente, condenam em ações alheias. Não se enrubescem em adotar, no tocante às ações dos outros, ferozes represálias.
Conclusão a extrair dos fatos. As grandes potências estão contra. Os outros.
Um artista gigantesco
“Precisamos de afeição e doçura.”
(Charles Chaplin)
Charles Chaplin não foi apenas grande, ele foi gigantesco. É o que constata – fico sabendo pela “Wikipédia” – o escritor estadunidense Martins Sieff ao comentar livro que focaliza a vida do criador do imortal Carlitos.
Alçado à categoria dos cineastas do time titular desde o cinema mudo, onde usou e abusou com talento e originalidade dos recursos da mímica na chamada “comédia pastelão”, Chaplin encantou, enterneceu e arrebatou multidões. Alguns dos filmes que produziu e interpretou - caso, por exemplo, de “Luzes da Cidade” - conseguiu mesclar imagens e lirismo num grau de intensidade quase impossível de ser reproduzido em qualquer tipo de entretenimento, por mais criativo e refinado que possa ser.
Sua contribuição ao desenvolvimento do cinema, como produtor, diretor, autor, ator, empresário (ele bancava seus filmes) valeu-lhe prêmios e condecorações que, bem provavelmente, ninguém do ramo, depois dele, jamais conseguiu alcançar. Falecido aos 88 anos, em 1977, tornou-se personagem lendário na história cultural do planeta.
Menos conhecidas de que suas obras cinematográficas, suas citações e registros literários ajudam a compor-lhe o perfil de homem sábio, genial, sensível aos dramas humanos.
Aqui estão algumas amostras de sua interpretação das coisas da vida.
Sobre a humildade: “Pensamos demasiadamente / Sentimos muito pouco / Necessitamos mais de humildade / Que de máquinas. / Mais de bondade e ternura / Que de inteligência. / Sem isso, / A vida se tornará violenta e / Tudo se perderá.”
Sobre o homem: “Conhecer o homem – esta é a base de todo o sucesso.”
Assunto importante: “O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é – ou deveria ser – a mais elevada forma de arte.”
Sobre a vida: “A única coisa tão inevitável quanto a morte é a vida.”
Sobre a felicidade: “Não preciso me drogar para ser um gênio. Não preciso ser um gênio para ser humano. Mas preciso do seu sorriso para ser feliz.”
Uma proposta de reformulação do ciclo da vida (recentemente um outro cineasta lançou curioso filme em que o personagem, a exemplo do que é colocado linhas abaixo por Chaplin, nasce idoso e vai se tornando mais jovem à medida que o tempo rola): “A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?”
Sobre o relacionamento humano: “Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso.”
Nada é permanente: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. Nada é permanente nesse mundo cruel. Nem mesmo os nossos problemas. A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe.”
Pecado e virtude: “Creio que o pecado é realmente um mistério tão grande como a virtude.”
Sobre a beleza: “A beleza existe em tudo – tanto no bem como no mal. Mas somente os artistas e poetas sabem encontrá-la.”
Homens e máquinas: “”Não sois máquinas! Homens é o que sois!”
Humanidade: “Mais do que máquinas precisamos de humanidade. Mais do que inteligência precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido.”
O melhor autor: “O tempo é o melhor autor. Sempre encontra um final perfeito. Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre.”
A busca do céu: “Se não consegues entender que o céu deve estar dentro de ti, é inútil buscá-lo acima das nuvens e ao lado das estrelas. Por mais que tenhas errado e erres, para ti haverá sempre esperança, enquanto te envergonhares de teus erros.”
(cantonius1@yahoo.com.br)
Cesar Vanucci *
“Toda grande potência troça dos demais.”
(Antônio Luiz da Costa, professor)
As grandes potências são contra a bomba. Dos outros. Possuem estocados artefatos nucleares suficientes para destruir a galáxia inteira. Falam, de vez em quando, até em colocar em órbita permanente no espaço sideral, em caráter naturalmente “preventivo", satélites equipados com suas armas de devastação definitiva. Continuam a desbravar os assustadores domínios bélicos da energia atômica, patrocinando experiências nunca interrompidas, apesar dos propósitos de não beligerância proclamados em exasperante retórica. Viram bicho, vociferam ameaças de fazer estremecer céus e terras quando um país não pertencente ao seu fechadíssimo clube, dá mostras de querer "quebrar a paz e a harmonia mundiais", que elas, as grandes potências, tão bem têm sabido preservar, sabe lá Deus como. Entenda-se como tentativa de ruptura com a paz, tranquilidade e harmonia reinantes neste nosso planeta qualquer iniciativa que leve à construção de uma bomba como aquelas que reduziram a pó as cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki. As grandes potências fazem sempre questão, em seu alardeado apego à paz, de deixar consignada sua posição contrária à bomba. Dos outros.
As grandes potências manifestam-se contrárias também às armas bacteriológicas e quaisquer outras armas que provoquem a destruição em massa de vidas e patrimônios. Armas dos outros, bem entendido. No que lhes diz particularmente respeito, têm na conta de um direito de outorga divina o armazenamento, em silos subterrâneos, de milhões de frascos com toda sorte de vírus mortíferos. Tão mortíferos que podem, a umas poucas aplicações na atmosfera, em reservatórios de água, em locais de grande concentração, varrer da face da terra, em curtíssima fração de tempo, toda manifestação de vida humana.
As grandes potências, em passado não muito distante, demonstraram não ser favoráveis à derrubada de aviões clandestinos que eventualmente possam cruzar o espaço aéreo dos territórios nacionais. Dos outros. Fizeram saber, na ocasião, por intermédio de suas chancelarias, que lhes aborreceria imaginar nações emergentes, como (por exemplo) o Brasil, a aporem sua concordância num pacto internacional favorável ao abate de aeronaves que violassem sua soberania. Por conta dessa recomendação das grandes potências, o Brasil (por exemplo) colocou-se, anos a fio, até uma ruptura com o abuso tomada no governo FHC, na condição de impotente espectador diante do fato perturbador de aviões de diferentes procedências, transportando drogas, contrabando, produtos de pirataria ecológica, a singrarem de lado para outro os céus da Amazônia. Onde, aliás, sem permissão oficial, andou circulando, também, algum tempo atrás, todo desenvolto, com “direito” a aterrissagem e tudo mais, sem pedido oficial prévio de pouso, um avião de transporte militar francês conduzindo oficiais de alta patente para negociar resgate de reféns com guerrilheiros colombianos. Depois da intolerável façanha, diante de protesto formal do Itamarati, a chancelaria do “Champs Elysées” formulou pedido de esfarrapada desculpa.
As grandes potências declaram-se sempre, além do mais, contrárias a violentação do meio ambiente. Quando praticada pelos outros. É claro. Costumam recusar-se, na parte que se lhes toca, a botar em prática, mesmo quando as subscrevam, resoluções que forcem seu parque industrial a reduzir a carga de poluentes despejada na atmosfera, causa principal do constante adelgaçamento da camada de ozônio.
As grandes potências são contra ainda os subsídios agrícolas e outras formas de protecionismo mercadológico. Dos outros. No plano doméstico, deitam e rolam com relação aos mesmíssimos procedimentos que, farisaicamente, condenam em ações alheias. Não se enrubescem em adotar, no tocante às ações dos outros, ferozes represálias.
Conclusão a extrair dos fatos. As grandes potências estão contra. Os outros.
Um artista gigantesco
“Precisamos de afeição e doçura.”
(Charles Chaplin)
Charles Chaplin não foi apenas grande, ele foi gigantesco. É o que constata – fico sabendo pela “Wikipédia” – o escritor estadunidense Martins Sieff ao comentar livro que focaliza a vida do criador do imortal Carlitos.
Alçado à categoria dos cineastas do time titular desde o cinema mudo, onde usou e abusou com talento e originalidade dos recursos da mímica na chamada “comédia pastelão”, Chaplin encantou, enterneceu e arrebatou multidões. Alguns dos filmes que produziu e interpretou - caso, por exemplo, de “Luzes da Cidade” - conseguiu mesclar imagens e lirismo num grau de intensidade quase impossível de ser reproduzido em qualquer tipo de entretenimento, por mais criativo e refinado que possa ser.
Sua contribuição ao desenvolvimento do cinema, como produtor, diretor, autor, ator, empresário (ele bancava seus filmes) valeu-lhe prêmios e condecorações que, bem provavelmente, ninguém do ramo, depois dele, jamais conseguiu alcançar. Falecido aos 88 anos, em 1977, tornou-se personagem lendário na história cultural do planeta.
Menos conhecidas de que suas obras cinematográficas, suas citações e registros literários ajudam a compor-lhe o perfil de homem sábio, genial, sensível aos dramas humanos.
Aqui estão algumas amostras de sua interpretação das coisas da vida.
Sobre a humildade: “Pensamos demasiadamente / Sentimos muito pouco / Necessitamos mais de humildade / Que de máquinas. / Mais de bondade e ternura / Que de inteligência. / Sem isso, / A vida se tornará violenta e / Tudo se perderá.”
Sobre o homem: “Conhecer o homem – esta é a base de todo o sucesso.”
Assunto importante: “O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é – ou deveria ser – a mais elevada forma de arte.”
Sobre a vida: “A única coisa tão inevitável quanto a morte é a vida.”
Sobre a felicidade: “Não preciso me drogar para ser um gênio. Não preciso ser um gênio para ser humano. Mas preciso do seu sorriso para ser feliz.”
Uma proposta de reformulação do ciclo da vida (recentemente um outro cineasta lançou curioso filme em que o personagem, a exemplo do que é colocado linhas abaixo por Chaplin, nasce idoso e vai se tornando mais jovem à medida que o tempo rola): “A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?”
Sobre o relacionamento humano: “Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso.”
Nada é permanente: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. Nada é permanente nesse mundo cruel. Nem mesmo os nossos problemas. A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe.”
Pecado e virtude: “Creio que o pecado é realmente um mistério tão grande como a virtude.”
Sobre a beleza: “A beleza existe em tudo – tanto no bem como no mal. Mas somente os artistas e poetas sabem encontrá-la.”
Homens e máquinas: “”Não sois máquinas! Homens é o que sois!”
Humanidade: “Mais do que máquinas precisamos de humanidade. Mais do que inteligência precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e tudo estará perdido.”
O melhor autor: “O tempo é o melhor autor. Sempre encontra um final perfeito. Cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre.”
A busca do céu: “Se não consegues entender que o céu deve estar dentro de ti, é inútil buscá-lo acima das nuvens e ao lado das estrelas. Por mais que tenhas errado e erres, para ti haverá sempre esperança, enquanto te envergonhares de teus erros.”
(cantonius1@yahoo.com.br)