segunda-feira, 11 de março de 2024

Uma mulher rodeada de palavras

 



                           *Cesar Vanucci

“Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida” (verso da canção “Maria, Maria”, de Milton Nascimento e Fernando Brant).

 

Festa de forte simbolismo, rico colorido humano e arrebatantes emoções. Inundada de lirismo valeu também como exaltação de valores que conferem dignidade a aventura humana.

O ingresso de Maria da Conceição Evaristo na Academia Mineira de Letras representou, naturalmente, triunfo pessoal, justo e merecido, de uma celebrada intelectual, causando regozijo em segmentos que encontram no humanismo a própria razão de viver. Estamos diante da primeira mulher negra a integrar, em mais de cem anos, os quadros da importante instituição. Ao saudá-la o presidente Jacyntho Lins Brandão externou o desejo de que Conceição seja “a primeira, mas não a única”. Disse, ainda, no pronunciamento que "A chegada de Conceição Evaristo à AML a par do reconhecimento de sua trajetória como professora, romancista e poeta, com justiça celebrada no Brasil e no exterior, tem também o sentido de impregnar esta casa com suas qualidades e história de vida".

Bastante concorrida, a posse foi realizada na data comemorativa do dia internacional da mulher, o que emprestou brilho mais acentuado ao evento. A mesa dirigente da cerimônia foi composta exclusivamente de mulheres, entre elas convidadas ilustres vindas de diversas partes do país. Na plateia observou-se participação intensa de pessoas vinculadas às lutas pela inclusão social e combate às discriminações. Antonieta Cunha, vice-presidente do sodalício, ao homenagear Conceição, afirmou que a empossada é dos nomes mais expressivos da literatura contemporânea na América Latina. Acrescentou que, em sua obra, vanguardeira, ela enfatiza temáticas sociais relevantes, sendo possuidora de requintado estilo criativo, seja em romance, conto, ensaio ou poesia. Disse: “Não por acaso, está traduzida em tantas línguas e tem recebido tantos prêmios e homenagens.”

A vibração reinante na sessão solene tomou feitio de prolongada ovação quando, na saudação, Conceição foi comparada por sua força, raça e gana à Maria cantada nos inspirados versos de Fernando Brant, na famosa música em parceria com Milton Nascimento. Espontaneamente, como se estivesse obedecendo a uma batuta invisível, um coral de vozes improvisado fez-se ouvir numa interpretação comovente da canção. Algo eletrizante!

Com palavras embebidas de emoção e ditos poéticos extraídos de sua alentada obra literária, a escritora agradeceu à Academia, amigos, convidados, familiares que superlotavam o recinto. Relembrou episódios marcantes de sua história de vida. Falou do itinerário percorrido desde os tempos em que, integrante de família humilde e numerosa, morava na antiga favela do Pendura Saia, região centro-sul de BH. Ressaltou a influência decisiva de sua mãe Joana Josefina Evaristo, mulher simples, empregada doméstica, dotada de sabedoria inata, em sua preparação para o jogo da vida.

Do pensamento vivo e pulsante de Conceição Evaristo, autora de livros acolhidos com entusiasmo pela critica e público, temos na sequência substanciosa amostra: “Eu não nasci rodeada de livros e, sim, rodeada de palavras.”/ “Minha escrita é contaminada pela condição de mulher negra”./ “Do negror de meus oceanos a dor submerge revisitada esfolando-me a pele que se alevanta em sóis e luas marcantes de um tempo que aqui está”./ “Tenho dito e gosto de afirmar que a minha história é uma história perigosa, como é a história de quem sai das classes populares, de uma subalternidade, e consegue galgar outros espaços”./ “Gosto de dizer ainda que a escrita é para mim o movimento de dança-canto que o meu corpo não executou, é a senha pela qual eu acesso o mundo”.

Encurtando a prosa: a posse de Maria da Conceição Evaristo na AML foi evento de raro esplendor.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)


terça-feira, 5 de março de 2024

A Rússia de Vladimir Putin

 



 

*Cesar Vanucci

 Vocês não podem desistir. Se eles decidirem me matar, é porque somos incrivelmente fortes" (Alexei Navalny, em documentário televisivo premiado).

 

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A ONU garante que estão em curso, neste preciso momento, em diferentes regiões deste nosso incorrigível e virulento mundo velho de guerra, 170 conflitos armados com todas as calamidades que as discordâncias por ódio, paixão, ambição pelo poder e intolerância religiosa são capazes de gerar. Junto com a de Gaza, a guerra da Ucrânia, que tem frequentando as manchetes com menor assiduidade ultimamente, atrai fortemente as atenções das lideranças globais, tendo em vista, sobretudo, as posições de confrontação indireta assumidas por superpotências nucleares.

Já com 2 anos de duração, a guerra na Ucrânia produziu milhares de vítimas fatais e feridos, uma onda incalculável de refugiados, arrasou cidades inteiras, desmantelou instalações de serviços básicos e fontes de suprimentos. A Rússia imperialista do “tzar” Vladimir Putin, que já havia em 2010, abocanhado a Crimeia, resolveu anexar ao seu vasto território, o de maior extensão do planeta, outras províncias ucranianas. Os Estados Unidos e países europeus que compõem a OTAN decidiram, em meio á condenação quase unanime das ações russas no cenário mundial, cooperar com o esforço de guerra da Ucrânia, fornecendo-lhe ajuda para organizar linhas de resistência à ofensiva do poderoso e implacável invasor.

 Nas províncias conquistadas, tal qual se fez na segunda guerra mundial, nos lugares ocupados pelas tropas nazistas, os invasores de agora organizaram “plebiscitos” visando “saber” se a população concordava em abdicar da cidadania ucraniana trocando-a pela russa. Os “plebiscitos” segundo as agencias noticiosas do Kremlin, apontaram maciçamente “concordância” popular.

Na Rússia, está proibida a designação de “guerra” para o que anda rolando na Ucrânia. Putin se refere à invasão como um “exercício militar”. E ai de quem discorde!...

Onde essa guerra vai parar, ninguém consegue dizer. O governo de Moscou chegou a alegar no começo das hostilidades, que seu ataque à Ucrânia tinha caráter preventivo, já que não concordava com a possibilidade do país agredido, com sua imensa linha fronteiriça, vir a integrar a OTAN. Mas, a arremetida imperialista criou-lhe, além da inimizade irreparável dos ucranianos, outros antagonismos inesperados. Colocando as “barbas de molho”, tanto a Finlândia, quanto a Suécia (esta última rompendo uma neutralidade de 2 séculos) ambos países vizinhos, aderiram ao Tratado do  Atlântico Norte.

 A mais coisas a dizer. A Rússia de Vladimir Putin continua no inabalável e sombrio propósito de afastar na marra todo e qualquer adversário real ou imaginário que se contraponha à gana pela perpetuidade no poder de seu autoritário dirigente supremo. Como sabido, ao longo dos anos, processos variados de intimidação tem sido utilizados contra pessoas que se recusam a dizer “amém” às palavras de ordem vindas do andar de cima. Muita gente já foi morta a tiros ou ingerindo “inofensivas” chávenas de chá em ambientes descontraídos. O mais recente caso de eliminação de opositor ocorreu em uma colônia penal no ártico. Alexei Navalny , ferrenho crítico das posturas de Putin, achava-se preso desde 2021. Cumpria pena de 19 anos a partir de sua volta da Alemanha, onde se refugiara após atentado ao sorver goles de “chazinho”.  Sua morte aos 47 anos de idade deu-se em circunstâncias assaz misteriosas, o que provocou comoção mundial. A família do líder da oposição, um ativista bastante popular, defrontou-se com dificuldades enormes para trasladar seu corpo e até mesmo dar-lhe sepultura condigna.

Assim rolam as coisas nos cinzentos domínios do Tzar.

Enquanto isso a Ucrânia arde em chamas...



 







Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

UM CÂNTICO DE AMOR A PEDRINÓPOLIS

 

                                                                                      *Cesar Vanucci

 

“Um lar com meus pais na lida, muita criança e harmonia. E, toda manhã, a vida, com esperança renascia.” (Relva do Egypto Rezende da Silveira).

 

Relva do Egypto Rezende da Silveira é amiga querida de muitos anos. Nossa fraternal convivência foi cimentada na encantadora Uberaba, onde desfrutei da satisfação de tê-la como aluna na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santo Tomás de Aquino, instituída pelas infatigáveis irmãs Dominicanas. Relva fez parte da primeira turma do primeiro curso universitário de jornalismo estruturado em Minas Gerais. Tocava-me ali a responsabilidade de ministrar aulas nas cadeiras de “Técnica em redação” e “Publicidade”. Vi, a partir daquela época, Relva crescer em seus pendores literários e em suas potencialidades humanísticas. Fácil vaticinar que ela acabaria se tornando poetisa de reconhecidos méritos na vida intelectual mineira, bem como, cidadã provida de apreciáveis dons, mãe de família exemplar, guardiã serena em seu âmbito de atuação comunitária, de saberes, conhecimentos e lições de vida que conferem dignidade a aventura humana.

Em seu primoroso livro “Pedrinópolis – um canto no tempo”, recentemente lançado em Belo Horizonte e Pedrinópilis, em concorridas noites de autógrafos, a poeta, prosadora, historiadora, antropóloga e socióloga – tudo isso aflorado de uma única vez no caprichado texto – Relva do Egypto adota o sugestivo estilo romanceiro. O estilo revela entonação rara e impulso poético desbordante.  Não é comum, entre militantes do fascinante oficio das letras alcançar o grau de sensibilidade lírica detectado no trabalho. No livro, Relva nos propõe, com entusiasmo, imersão a lugares repletos de calor humano,  daquele acolhedor rincão de um canto de nossos espaços gerais.

Afinal, “Minas são muitas”, disse aquele que é considerado um dos maiores escritores de todos os tempos, por ter sabido traduzir, como ninguém, a alma do mineiro, seu jeito de ser e viver e, claro, seu sertão e suas veredas: João Guimarães Rosa.  O médico, oficial da policia militar de Minas e diplomata, em suas andanças, por certo, bordejou as bandas de Pedrinópolis. Empenhado em descobertas territoriais e relatos de coisas que projetam de forma pujante o que chamamos de mineiridade, Rosa teria, de acordo com a febricitante investigação de Relva do Egypto, enaltecido aquele pedaço de chão das Gerais.

Retomando a narrativa de Relva, depois de percorrer todos os recantos por ela descritos e de ficar conhecendo personagens marcantes que fazem parte do enredo histórico de Pedrinópolis, entre eles seus ancestrais ilustres, uma bisavó índia de majestática presença, resta-me indicar, com ênfase e alumbramento a leitura de tão fascinante obra, narrada em versos e capitulada por temas. O caro leitor irá perceber tratar-se de viagem literária fluída, cadenciada, que retrata de forma envolvente uma cidade interiorana em seus aspectos políticos, religiosos, comerciais, mundanos, no culto de suas tradições e em seus anseios de progresso.

Relva convida-nos a conhecer Pedrinópolis. Passa-nos a certeza de que nos encantaremos com o que será visto.

Resumo da historia: de Canto a Canto, Relva do Egypto, com arte requintada, inspiração lírica acentuada, memória aguçada, compõem um Cântico enternecido de amor à sua querida Pedrinópolis. Tratar de ler o livro e dar uma chegadinha a Pedrinópolis, fica aí a sugestão.

 

 

 Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Itinerário difícil e árduo

 



 

*Cesar Vanucci

 

A solução da crise só será duradoura com a criação de um Estado palestino, reconhecido como membro pleno da ONU”.                                                                                                                                               (Presidente Lula)

 

A comparação do conflito em Gaza com o Holocausto, feita pelo Presidente Lula, ganhou compreensivelmente repercussão negativa. Mas, outra fala de Lula, ainda na Etiópia, pouco antes da malfadada e duramente criticada entrevista, produziu efeito diametralmente oposto.

Reportando-se à guerra que galvaniza as atenções, o Presidente fez correta avaliação de múltiplos aspectos do litígio, refletindo o modo de ver de parcelas majoritárias da opinião pública universal. O pronunciamento, numa conferência com chefes de Estado africanos, pode ser assim sintetizado: 1) Ser humanista, nestes tempos conturbados, é condenar com veemência o ato terrorista do Hamas em território Israelense, matando inocentes e sequestrando civis; 2) ser humanista, nestes tempos belicosos, é rechaçar igualmente a resposta desproporcional do Estado de Israel, que já vitimou 30 mil palestinos na maioria mulheres e crianças; 3) ser humanista, nos tempos de hoje, é clamar pela libertação dos reféns e pela trégua humanitária; 4) ser humanista, nestes tempos tumultuados, é admitir sem titubeios que a solução para a crise só será duradoura com a criação do Estado da Palestina.

 Estas considerações devem ser acrescidas, para melhor entendimento do assunto, de informações relevantes. Os conceitos expendidos pelo Presidente do Brasil no pronunciamento estão em sintonia com manifestações da quase totalidade dos países da ONU. Fazem parte de numerosas resoluções acolhidas por votação maciça em plenário, embora não conseguissem prosperar devido a vetos isolados.

É oportuno enfatizar, ainda, que a Assembleia da ONU definiu, já em 1948, a criação dos Estados de Israel e Palestina, nutrindo mais do que um desejo, uma inquebrantável esperança de que as duas pátrias pudessem conviver para sempre em harmonia. Israel tornou-se potência de primeira grandeza política e econômica. Mas, a Palestina, transcorridos mais de 70 anos, não ganhou o espaço prometido, tão almejado, no atlas geográfico, pelo menos até agora. O processo de implantação definitivo da Palestina com limites geográficos bem precisos, identidade própria e tudo mais que sirva para assegurar legitimidade a uma Nação no concerto mundial, esbarra em ferrenhos obstáculos. Decorre daí a lentidão, pode-se dizer mesmo, o andamento acovardado, com que são conduzidas, nas altas esferas decisórias mundiais, as articulações com vistas a tornar realidade o sonho ardente de milhões de palestinos. Uma gente espezinhada que perambula pelos descampados da vida, sem eira nem beira, recolhidos, boa parte deles, nos campos de refugiados de terras alheias.

Por mais estranho que seja, entre os que se opõe tenazmente à existência  da Palestina aparecem com destaque os próprios contendores deste conflito feroz que ensanguenta o Oriente Médio. Hamas, Hezbollah e outros grupos terroristas engajadas no conflito não aceitam o Estado da Palestina. Sua iracunda obsessão é a completa destruição do Estado de Israel. Por sua vez os governantes de Israel já deixaram manifesta em várias ocasiões radical oposição à ideia da estruturação, nos termos previstos pela ONU, do Estado da Palestina. Os contínuos assentamentos de colonos na Cisjordânia, em desafio aberto à ONU e comunidade das Nações, representão prova contundente desta censurável postura.

Pelo que se vê o itinerário a ser percorrido na busca de solução ideal para se interromper o interminável ciclo de contendas naquele cenário - o mais Sagrado da historia da civilização -, compreende, infalivelmente as etapas seguintes: cessação das hostilidades, devolução aos Palestinos das áreas indevidamente entregues a colonos israelitas, negociações com muito diálogo e participação das lideranças globais, aceitação e reconhecimento amplo, geral e irrestrito da Palestina como Estado.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

A Fala do Presidente

             O Presidente Lula saiu do                                                                                                                                         ponto.”

                                             (Senador Jacques Wagner, líder governamental no Senado)

  

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou o que não devia e escutou o que não precisava ouvir.  Extrapolou, como se diz no jargão diplomático, a linha vermelha. A comparação da virulenta contraofensiva israelense em Gaza com a horrenda história do Holocausto foi infeliz em demasia.  As atrocidades nazistas alvejando prioritariamente a comunidade judia e envolvendo outros grupos não encontram paralelo na história dos crimes cometidos contra pessoas e patrimônios em nenhum outro momento da idade moderna, que é pontilhada, como sabido, por atentados frequentes à dignidade humana.

Ato incontinente à retórica desastrada, a reação oficial do Governo de Netanyahu foi bastante veemente, enveredando, todavia, por tom descomedido dentro dos padrões diplomáticos que regem as relações entre países que preservam histórica convivência fraternal. O Ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant, depois de considerar Lula “persona non grata”, exigindo que se retratasse, mandou chamar o Embaixador brasileiro em  Telavive para reunião no “Museu do Holocausto”, com o fito de aplicar-lhe uma repreensão pública sob os holofotes midiáticos. O “pito” foi dado em hebraico, com voz alterada e sem tradutor por perto, algo pra lá de surreal. Ao Itamaraty não restou alternativa que não a de trazer de volta o Embaixador brasileiro Frederico Meyer , e convocar o Embaixador de Israel em brasília, Daniel Zonshine para encontro reservado, sem presença de jornalistas, com  o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afim de registrar o desconforto causado com o tratamento dispensado ao nosso país na momentosa questão. Não satisfeito com as atitudes já tomadas, o Chanceler Yoav,  resolveu escalar uma oitava a mais no protesto, abrindo nova frente de críticas ao Presidente do Brasil pelas redes sociais, o que está sendo considerado por observadores qualificados em política internacional comportamento inteiramente fora do compasso diplomático e que só se apresta a acirrar ânimos e ampliar discórdias.

A impressão, aventada por jornalistas, de que o Governo Netanyahu esteja empenhado em utilizar a imprópria fala de Lula, proferida na Etiópia, como instrumento de propaganda política, na tentativa de melhorar sua desgastada imagem nos planos interno e externo, parece de algum modo, corroborada por episódios bastante emblemáticos. O Presidente da Turquia, Erdogan Turkey fez pronunciamentos em dezembro e janeiro extremamente hostis à conduta das Forças Armadas de Israel em Gaza, falando em “Holocausto” e “genocídio” e comparando o Primeiro Ministro de Israel com “Fuehrer”, e “Hitler”. Telavive protestou, mas não desfechou contra o governante de Ancara e seu país a artilharia pesada verbal agora observada. De outra parte, a expressão “genocídio”, alusiva à tragédia de Gaza, foi também empregada pelo Governo da África do Sul ao propor a condenação de Israel e seus dirigentes por “crimes de guerra” na Corte Internacional de Justiça de Hia. Pela mesma forma, a reação de Israel ficou adstrita aos protocolos tradicionais da política diplomática.

A opinião pública brasileira acompanha com notório desagrado o desdobramento do caso em tela.  Ancorada nas boas relações que o Brasil mantém com o Israel desde sua criação, em 1948, quando a presidência da ONU era ocupada por Oswaldo Aranha, aguarda confiante, que as escaramuças antidiplomáticas cessem o quanto antes.  Sejam substituídas pelo tom respeitoso e fraternal que a competente diplomacia brasileira consegue imprimir, como reconhecido universalmente, a todas as ações em que se vê envolvida.

Enquanto isso em Gaza...

                                                 Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

A Fuga de Mossoró

                                 "(...)bela viola,..."


Cesar Vanucci

“Não afeta, em hipótese nenhuma a segurança das cinco unidades prisionais Federais. É um problema localizado a ser superado.” (Ministro Ricardo Lewandowski .)

 

Estupefação geral. Tudo muito surreal. Dois detentos de alta periculosidade escapuliram da penitenciaria de “segurança máxima” de Mossoró, Rio Grande do Norte, praticamente pela “porta da frente”. Por mais incrível que possa parecer, conseguiram abrir buraco entre parede e teto das celas em que se achavam recolhidos no setor mais restritivo da unidade. Munidos de um alicate (?!), fizeram um furo na cerca de alambrado do prédio, depois de circularem livremente pelos corredores e pátios, ganhando assim a liberdade. A ousada proeza se desenrolou diante de câmeras, guaritas de vigilância, mas o alarme de fuga só veio a ser acionado muito tempo depois da evasão.

 Até aqui as penitenciárias ditas de “segurança máxima” eram apontadas como fortificações inalcançáveis pelo “crime organizado” de dentro pra fora ou de fora pra dentro. Não são mais. As facções ganharam mais um round de uma série de rounds a serem ainda disputados nos combates travados com a Segurança Pública. A sensação de desconforto experimentada pela comunidade, em face de mais essa inverossímel ocorrência, clama por avaliação mais aprofundada da conjuntura carcerária. As pessoas se perguntam, boquiabertas, como é possível num presídio de “segurança máxima”, presos isolados na ala destinada a abrigar indivíduos mais violentos possam fugir sem quaisquer atropelos, interceptações, de forma tão desembaraçada.

 A gente se pergunta, também, como é possível aprovar-se projeto arquitetônico de penitenciária com o teto devassável. Outra estranheza a anotar: a ação dos delinquentes, em seu esforço de se sobreporem a eventuais obstáculos, deveria produzir ruídos que logicamente não passariam despercebidos a uma vigilância atenta. Fica muito difícil aceitar a tese de que a fuga não tenha sido fruto de conluio envolvendo outros participantes.

Dolorosa constatação: não há mais limites para atuação das organizações criminosas. As cadeias pertencentes a outros sistemas, que não o complexo federal, já haviam sido, de algum modo, atingidas pelo poder corrosivo e nefasto dessas ativas e perigosas quadrilhas. O noticiário nosso de cada dia proporciona relatos frequentes acerca dessa ação sorrateira sumamente danosa. Os registros falam de rebeliões, recrutamento de apenados para integrarem as facções, articulações referentes ao Tráfico externo de Drogas, “rede clandestina de celulares” operando a pleno vapor com o fito de ditar comandos para comparsas e aplicar golpes contra cidadãos incautos no sossego dos lares. Ainda agora mesmo, tomamos ciência da fuga, numa cadeia regional superlotada do Piauí, perto de Mossoró, de 17 presos de uma só vez.

A fuga de Mossoró forçou o Governo a montar uma mega operação, sem precedentes na crônica policial brasileira, com vistas à captura dos fugitivos. É provável que os resultados desejados já hajam sido alcançados à hora em que este comentário estiver sendo lido. O Ministério da Justiça tornou conhecidas inúmeras medidas tomadas com propósito de rever protocolos vigentes no sistema prisional. Anunciou, ao mesmo tempo, obras de reforço na segurança das edificações.  

 Tudo quanto exposto leva-nos a concluir que se faz urgente e inadiável  uma reflexão amadurecida e a tomada de decisões vigorosas nesse perturbador capitulo da Segurança Pública em nosso país. Governo, Justiça, Congresso e setores responsáveis pelas políticas de segurança precisam dialogar mais intensamente sobre as estratégias a serem implementadas no enfrentamento, de modo eficaz, das ofensivas do crime organizado, no centro hoje, das preocupações mais angustiantes da sociedade brasileira.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Hora da verdade.

 



*Cesar Vanucci

“As investigações abordam especificamente  fatos relacionados a tentativa de Golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito”.(Alexandre de Moraes, Presidente do TSE)

 




Liberou geral, como se diz na pinturesca linguagem das ruas. A hora da verdade soou como proclamado nas investigações que acabam de ser trazidas a público. As apurações da Policia Federal que vinham sendo conduzidas dentro de cadencia moderada, posto que firme e consistente, assumiram configuração mais ampla e decisiva. As arrasadoras provas levantadas deram claridade solar ao tenebroso enredo golpista, apontando praticamente todo o elenco da trama, de autores a atores e coadjuvantes.

Junção da elucidativa e explosiva “delação premiada” do ajudante de ordens do ex-presidente Bolsonaro com os elementos contidos nos atos baderneiros, atentado a bomba, depredações de patrimônios públicos e símbolos cívicos, obstruções em rodovias, invasões de repartições, agrupamentos com palavras de ordem subversivas, ameaças violentas a pessoas, de viva voz e pela internet, reuniões clandestinas e manifestações insultuosas à dignidade nacional tornou possível se compusesse retrato de corpo inteiro da manobra antidemocrática arquitetada nos gabinetes do governo desalojado do poder em eleições livres e de lisura incontestável.

Os documentos, os diálogos, as mensagens de celular e de e-mails, os vídeos (gravados pelos próprios envolvidos, em momentos de embriagante autoconfiança), além de longa série de depoimentos contundentes que integram a robusta peça acusatória elaborada pela PF são simplesmente estarrecedores. Não comportam dúvidas quanto à participação dos personagens indiciados na conspiração que pretendeu mergulhar nosso país nas trevas da ditadura.

As alegações que colocam em dúvida a legitimidade das ações promovidas pelas autoridades competentes não resistem a qualquer tipo de análise crítica.  Dizer, por exemplo, que se trata de “perseguição política” é demonstrar primitivismo intelectual desconcertante que só se explica por paixão cega.

Chamou muito a atenção nas revelações transmitidas pelos Federais o tratamento altamente desrespeitoso, insultuoso, descambando mesmo para o mais baixo calão, que alguns investigados dispensaram, nos bate-papos conspiratórios, a ilustres personagens da esfera Militar que se recusaram a aderir à felizmente malograda intentona. Num dos registros gravados, aparece um dos envolvidos na trama recomendando atitudes que  “infernizem” a vida de um chefe Militar e de seus familiares, algo sem dúvida, assustador...

Fica claro, a essa altura dos acontecimentos, que muitas coisas graves ainda existem para ser contadas.  O que já veio á tona é apenas parte da Operação “Tempus Veritatis”, segundo admitem fontes ligadas às diligencias em curso.

A opinião publica, a um só tempo que abomina toda a situação investigada regozija-se com o exemplar comportamento das Instituições diante dos fatos narrados, um reflexo admirável do sentimento Democrático Nacional.

 

 Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

“Jabuti”, Percepção, Regulação

 

                                                                                                              *Cesar Vanucci

 "Jabuti não sobe em árvore...” 

                                     (Ulysses Guimarães)

 

1) “Jabuti”- a expressão “jabuti” é empregada, com frequência, no noticiário nosso de cada dia, para designar inclusões indevidas com fitos eleitoreiros em projetos, decretos, atos normativos apreciados nas esferas governamentais e parlamentares. Trata-se de enxerto nascido de manha política. “Contrabando” que inclui pautas sem nenhum vínculo lógico com a proposta inicial levando assuntos geralmente controversos, de forma escamoteada, à aprovação. Poucas pessoas conhecem da origem do termo. Pelo que se sabe, Ulysses Guimarães, o lendário personagem das “diretas já”, foi quem trouxe o “jabuti” como jargão para o vocabulário político. Ele dizia assim: “Jabuti não sobe em árvore, a não ser por enchente, ou por mão de gente".

2) Percepção - Na percepção da opinião pública, os votos monocráticos do Ministro Dias Toffoli, do Supremo, suspendendo o pagamento de multas referentes a duas grandes corporações empresariais que firmaram acordos de leniência com a Justiça, carecem de fundamentação mais consistente. Na verdade os valores devidos ao Erário pelas empresas em questão são muito vultosos para serem excluídos assim, sem mais nem menos, da receita pública, com uma simples canetada de um magistrado. O entendimento de influentes setores jurídicos e políticos são de que uma decisão desse peso, gerando uma cadeia de consequências na vida pública e empresarial, não poderá jamais ser tomada sem a manifestação do plenário da Alta Corte. Informação vinda a lume afiança que a liberação dos recursos sublinhada poderá causar efeitos negativos até mesmo no sistema da previdência privada. As preocupações nascidas do ato monocrático levaram a Procuradoria Geral da República a interpor recurso a ser analisado pelo colegiado do STF. Espera-se que numa avaliação mais aprofundada do momentoso assunto surjam esclarecimentos e definições que respondam melhor às dúvidas, questionamentos e incertezas provocados pelo episódio em foco.

3) Regulação - Números promissores: 35 países já regulamentaram, até aqui, o emprego no cotidiano da sociedade humana das chamadas plataformas digitais e, por extensão da Inteligência Artificial. As resistências negacionista à providencial regulação foram pulverizadas pelo sentimento comunitário, pela vontade firme e resoluta das lideranças lúcidas e gente do povo. De nada valeram os argumentos falaciosos levantados, entre eles a ridícula tese de que a medida conspira contra a liberdade de expressão. A circunstância de que alguns poucos países da relação sejam regidos pelo autoritarismo em nada invalida o significado humanístico, cívico, jurídico e democrático que a regulação carrega em seu bojo. A comunicação humana é pautada, na vivência democrática plena, pela liberdade da palavra escrita e falada. Isso assegura ao cidadão o direito de expor livremente suas ideias, seus conceitos de vida, suas crenças, seus costumes, sua cultura. Nenhum desses valores pode servir de pretexto para reações agressivas de quem partilhe de visões de mundo diferenciadas. Mas, fica claro que o processo saudável de disseminação desse conjunto de valores não pode ser de molde a agredir, a violentar, a molestar pessoas e grupos com direitos idênticos aos nossos que rezem por cartilha ideológica diversa. A democracia tem regras, fixa limites para poder garantir de forma ampla, geral e irrestrita a liberdade e o respeito à dignidade humana. Não é “terra de ninguém”, onde fanáticos extremistas, talebanistas de toda a espécie, analfabetos políticos possam praticar, a seu bel prazer, toda sorte de felonias e maledicências. O exemplo dado por dezenas de países do bloco democrático, estabelecendo a regulamentação da internet, é pra ser seguido já pelo nosso país.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Núcleo de espionagem


                                                                                            *Cesar Vanucci

“Organização criminosa infiltrada na ABIN.”(Alexandre de Moraes, Presidente do STE)

 

 Mais essa agora! Uma ABIN paralela, Santo Deus! Um serviço de informações clandestino enxertado dentro de um órgão oficial incumbido de prestar assessoria à Presidência da Republica com o objetivo de orientar estratégias do Estado em magnas questões no plano interno e no cenário internacional. Foi montado, no governo passado para fazer espionagem a granel atingindo milhares de cidadãos considerados, na maniqueísta avaliação dos detentores então do poder, “hostis” aos interesses palacianos. O inacreditável e sórdido monitoramento alvejou, segundo a diligente Policia Federal, elementos da cúpula política, ministros, governadores, magistrados, congressistas, jornalistas e também representantes do Ministério Público engajados em investigações contra milicianos cariocas, com realce para o intrincado “caso Marielle”. A paranoica empreitada não poupou nem mesmo aliados...

À medida que avançam as apurações, a perplexidade da opinião pública se agiganta, com as pessoas comuns indagando até onde essa história maluca irá chegar. O inimaginável está acontecendo. A PF levantou indícios de que o sistema paralelo de coleta ilícita de informações continuou mesmo depois das eleições e da posse. Os articuladores do mafioso esquema não  haviam interrompido até recentemente as operações. Utilizando aparelhos de alta sofisticação tecnológica, pertencentes ao acervo da ABIN, aparelhos esses deslocados sorrateiramente para residências e escritórios, valendo-se ainda, provavelmente de informações passadas sub-repticiamente por algum funcionário inidôneo, deram sequência aos rastreamentos das pessoas sob mira.

O levantamento de dados concernentes à história da chamada “ABIN Paralela” conduziu os investigadores a uma revelação valiosa. Em entrevista dada a um canal de televisão, em programa de grande audiência, o ex-ministro Gustavo Bebianno, já falecido, que pertenceu ao grupo mais próximo a Jair Bolsonaro, do qual acabou se afastando depois de forte desentendimento, contou que o ex-presidente falou-lhe, em dada ocasião, no começo do governo, de sua intenção de estruturar a tal “ABIN Paralela”, ele, Bebianno, e o General Santa Cruz, que também veio a deixar o governo por incompatibilidade, manifestaram sua discordância e apreensão à hipótese trazida por Bolsonaro.

Pelo que se está vendo, a crônica política brasileira tende a reservar capítulo bem alentado para descrever a penca de malfeitos produzidos no ciclo de governamental findo em 31 de dezembro de 2023.

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Radicalismo versus radicalismo

                          


                               
          *Cesar Vanucci

“O consenso sobre a guerra está se desgastando rapidamente.”

(Reuven Hazan, cientista político da Universidade Hebraica, de Jerusalém)

 



O radicalismo extremado de Benjamin Netanyahu, Primeiro Ministro do Estado de Israel, conseguiu a impensável façanha de provocar manifestação crítica uníssona de incondicionais aliados à sua maneira arrogante de conduzir a crise política e militar no Oriente Médio.

 Antes, ele já se recusava, obstinadamente, a acolher os apelos, provindos de todas as partes, por um cessar fogo humanitário. Fez questão fechada de ignorar os clamores de organismos internacionais como ONU, OMS, Cruz Vermelha, Médicos sem Fronteiras, sobre os rumos apavorantes que o conflito estava assumindo. Conflito esse desencadeado por atentado no território israelita cometido pela organização terrorista Hamas, objeto de condenação generalizada pela comunidade das nações. A justificável contraofensiva foi fulminante, sem toda via, alcançar até aqui os resultados almejados entre os quais avulta prioritariamente a libertação na totalidade dos indefesos reféns. Acontece que as ações bélicas alvejaram impiedosamente os habitantes do densamente povoado território de Gaza. Uma gente bastante maltratada por dramáticas contingências de vida, e que na  maioria nenhuma participação teve na nefanda sortida terrorista.

Dificuldades intransponíveis vêm se antepondo ao desejo alargado da ONU e centenas de países em se estabelecer uma trégua nessa guerra cruel, de modo a que o sofrimento das pessoas não diretamente envolvidas na, sanguinolenta refrega, seja atenuado. As vítimas fatais, crianças na maioria, já ultrapassaram a casa dos 20 mil, o numero de feridos alcança cifras alarmantes. Milhões de pessoas sem teto, sem lugar seguro pra ficar, carecem desesperadamente de assistência médica e de meios mínimos de subsistência, as pressões internacionais, reforçadas agora por parcelas significativas da própria comunidade israelita, esbarram na inflexibilidade do Primeiro Ministro, que insiste na tese de não deter a marcha bélica até que todos os terroristas sejam eliminados. É o radicalismo enfrentando o radicalismo.

Em seu posicionamento, que preocupa visivelmente as nações amigas, Netanyahu já chegou ao extremo exagero de afirmar que seu país não aceita, definitivamente, a criação do Estado da Palestina, previsto em resolução da ONU aprovado no distante ano de 1948. Seja mencionada, como outra demonstração radical, uma declaração enfática atribuída a um integrante do Ministério israelita, de que não existem inocentes em Gaza e que a melhor maneira de se resolver a questão é lançar uma bomba atômica no território. Para alguns observadores, a declaração foi interpretada como revelação de que Israel, como se suspeita, possua armamento nuclear em seu arsenal.

Muito dolorosa essa conjuntura vivida numa região tão rica em simbologia humana e espiritual. Uma região reconhecida como sendo o espaço territorial mais sagrado do planeta por três influentes correntes ideológicas que representam parte colossal do sentimento religioso da humanidade.

 Prestes a completar 4 meses, esta guerra sem quartel ensanguenta e tenciona o Oriente  Médio e  enche de comoção o planeta inteiro. Não há como vislumbrar no horizonte, em tempo próximo, - desairosamente para a nossa evolução civilizatória - perspectiva de uma paz, se quer temporária, que permita conversações e procedimentos humanitários e que assegure socorro mínimo às multidões desamparadas de Gaza, incluídos aí os cidadãos capturados pelos comandos terroristas.

Que Deus ilumine as mentes e corações das lideranças mundiais e dos “senhores da guerra” no sentido de que se desvencilhem das trevas do ódio sectário e mergulhem resolutos, em claridade que favoreça a construção do diálogo e, adiante, de uma paz duradoura.

                              

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Flagrantes do momento político

 



                                                                                   *Cesar Vanucci

 

“O equilíbrio das contas públicas ajuda a impulsionar o desenvolvimento econômico e social.” (Domingos Justino Pinto, educador).

  

1)Regulação já - O Presidente do TSE, Alexandre de Moraes, deu voz à preocupação que anda fustigando mentes e corações fervorosos sintonizados com o ideal democrático. Dele as palavras na sequência: “As recentes inovações em tecnologia da informação e acesso universal às redes sociais, com o agigantamento das plataformas, amplificado em especial com o uso de Inteligência Artificial, potencializaram a desinformação premeditada e fraudulenta com a amplificação dos discursos de ódio e antidemocrático”. Corretíssimo o conceito. Dá até calafrio na espinha imaginar do que não serão capazes os milicianos digitais, de todos os matizes, que colocam a serviço do ódio e intolerância o arsenal tecnológico da internet mesclado com a IA.  A regulamentação urgente dessas fabulosas invenções não comporta discordâncias sibilinas, tergiversações e manobras protelatórias. Assim recomenda o empenho continuo das pessoas de boa vontade em prol do fortalecimento democrático.

2) “Casamento de interesse” – a sabedoria antiga prescreve que “casamento de interesse” nunca dá certo. A ambição do cônjuge é sempre desmedida. Extrapola os limites toleráveis. A convivência torna-se insustentável. De desavença em desavença, de ressentimento em ressentimento, a relação acaba dando em separação, às vezes litigiosa. A situação descrita aplica-se aos “enlaces” na política. É só por tento no que anda rolando na união do Planalto com o “centrão”. Por maiores que sejam as concessões aos eternos “governistas” da militância política mencionada, por mais ministérios que sejam confiados aos adesistas da 25° hora, por mais que se esfalfem os Ministros da Fazenda e do Planejamento no sentido de descobrir fórmulas capazes de satisfazer o apetite voraz do “cônjuge”, a sensação que prevalece nos contatos entre as partes é de que há sempre um saldo devedor a ser quitado. Até quando essa aliança amarrada por barbante resistirá aos trancos e solavancos na caminhada em curso?  

3) Emendas parlamentares – fundo eleitoral quintuplicado (5 bilhões). Emendas parlamentares impositivas, de valores avultados, que podem ser aplicações à margem dos programas de obras elaborados pela administração pública e que, além de tudo, desequilibram orçamento.  Congresso e Governo precisam acertar os ponteiros, encontrando por meio do dialogo uma forma de entendimento sobre execução orçamentária, atentos ao compromisso de déficit zero. A circunstância de ser este mais ano eleitoral, com as disputas por Prefeituras e Câmaras Municipais, não pode constituir motivo para se bagunçar o coreto orçamentário. O equilíbrio das contas públicas é parte indissociável da arrancada desenvolvimentista. O Brasil precisa dela.


                                    Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

A SAGA LANDELL MOURA

Uma mulher rodeada de palavras

                             *Cesar Vanucci “Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida” (verso da canção “M...