quinta-feira, 1 de junho de 2023

O antirracismo entra em campo

 



 

Sou negro.negro como a noite, negro como as profundezas d’África”, (Versos célebres do poeta Langston Hughes)

 

Antes, 3 anos atrás, da posição assumida por Vinícius Jr. contra o racismo no futebol, os atletas de uma peleja realizada em Paris reagiram de forma inédita a uma manifestação preconceituosa da arbitragem. Relembremos o episódio.

 Conforme manjado jargão da crônica futebolística, o antirracismo adentrou a cancha. Em grande estilo. Soberbo espetáculo de afirmação civilizatória aconteceu no majestoso estádio parisiense “Parque dos Príncipes”, com arquibancadas vazias como pedia a turbulência pandêmica, quando da disputa entre o PSG, francês, e o Istanbul Basaksehir, equipe turca, pela última rodada da fase de grupos da Liga Europeia dos Campeões. No comecinho do jogo, 13 minutos do primeiro tempo, um árbitro de linha, romeno, alvejou com expressão desairosa, de notório conteúdo preconceituoso, um atleta africano que, por sinal, não participava da partida. No quiproquó que se seguiu o cartão vermelho de expulsão foi sacado do bolso do árbitro principal, mas o prélio foi interrompido por conta de um episódio jamais registrado nos anais do esporte das multidões. Os jogadores dos dois times tomaram, conjuntamente, unanimemente, a incrível decisão de abandonarem, disciplinadamente, o gramado, em sinal de protesto contra o ato de discriminação praticado. A atitude sem precedentes assumida num palco esportivo colocou obviamente em xeque o regulamento do torneio, deixando a cartolagem aturdida e o público (que acompanhava a competição pela tevê) maravilhado. Menos de 24 horas transcorridas da inusitada ocorrência, com a composição da arbitragem alterada, normas e regimentos burocráticos chutados pra escanteio, a partida interrompida teve continuidade. A punição aplicada na véspera – cartão vermelho – passou a não valer. O placar avantajado, 5 a 1 em favor do time francês, foi considerado detalhe de somenos na flamejante história, diante da memorável goleada, de impactante simbolismo, aplicada contra o racismo numa das canchas da vida em que ele costuma mostrar a cara.

 A situação vivida no “Parque dos Príncipes” concitou-nos a percorrer as ladeiras da memória, recolhendo na caminhada exemplos frisantes, de duradoura repercussão, afrontosos à dignidade humana, cometidos em ambientes esportivos pomposos.

 Talvez o mais contundente desses registros haja sido o da Olimpíada de Berlim, realizada pouco antes da segunda guerra mundial. O protagonismo infame ficou a cargo do sinistro Adolf Hitler, ícone das falanges racistas em sua configuração mais horrenda. Num dado momento, espumando ódio, ele resolveu deixar, abrupta e acintosamente, a tribuna do estádio para não ter que entregar troféu a um magnífico atleta estadunidense – “negro como a noite, negro como as profundezas d’África”, segundo os versos célebres do poeta Langston Hughes -, que acabara de conquistar, galhardamente, a mais cobiçada láurea dos jogos. Mas, na ocasião, nada obstante a ressonância midiática alcançada pelo boçal gesto, a ninguém, a nenhuma delegação, acudiu a ideia de marcar indignação, inconformismo face ao abjeto posicionamento racista cometido pelo ditador nazista, com ato de desagravo coletivo instantâneo, tal como o este de Paris, ocorrido, como já dito, em 2020.

 Naquele e noutros momentos em que a brutalidade racista se fez sentir num cenário festivo repleto de esfuziantes emoções, como costumam ser os cenários compostos para grandes concentrações esportivas, nada se viu, como reação dos atletas e público, que ligeiramente pudesse se igualar ao que os jogadores turcos e franceses, promoveram na noitada  futebolística reportada. Uma noitada inesquecível, na qual futebol, com toda sua eletrizante carga emotiva, cedeu lugar, contentando-se a segundo plano na ribalta, a uma atração que não estava no programa, a uma manifestação histórica que engrandece a consciência humana.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com)

 


 


Craque enfrenta racismo

                                                                                                                *Cesar Vanucci


 


“O racismo é tão cruel, dói tanto, que tu te negas a falar dele.”

(Paulo Paim, ex-Senador)


 

  O mundo esportivo acolhe, jubilosamente, uma jovem liderança arrojada com disposição para enfrentar o vírus do racismo. O craque brasileiro Vinicius Jr., 22 anos, principal estrela do Real Madrid, apontado pela crônica esportiva como o melhor jogador de futebol da atualidade, está sendo enxergado com respeito e admiração como nova e impetuosa voz, de repercussão mundial, na luta árdua contra o odioso preconceito racial e xenofóbico vigente em gramados esportivos.

 

Alvejado com inclemência, de forma recorrente pela histeria de torcidas ditas (des) organizadas, diante da omissão cúmplice de setores incumbidos institucionalmente de zelar pela ordem e disciplina nos espaços das disputas futebolísticas, Vini Jr. resolveu desassombradamente tornar público seu inconformismo e indignação, erguendo mais alto do que de costume em circunstancias análogas a bandeira do antirracismo. Seu brado de revolta ecoou por todos os cantos, galvanizando atenções e provocando manifestações de solidariedade sem conta, nas esferas governamentais e em outros estamentos importantes da coletividade.

 

Em passado recente, outros atletas - a exemplo do que aconteceu em 2020, numa partida realizada em Paris entre PSG e Istanbul, episódio que pretendo rememorar no artigo vindouro - assumiram posição impactante contra o racismo. Mas essas posições não tiveram os desdobramentos agora alcançados pela atitude do talentoso Vinicius Jr., que teve o Don de tirar do comodismo e da inércia as autoridades esportivas da Espanha. Como sabido demorou um pouco, após a toarda erguida pelo jogador, para que os paredros do futebol espanhol anunciassem medidas punitivas contra as agressões praticadas pelos torcedores racistas.

 

A praga racista suscita infindáveis reflexões. A raça humana é uma só. Cor de pele é mero detalhe. Se negra, branca, amarela, parda, rosada - em tons mais ou menos acentuados, consoante a diversidade biológica natural – tudo isso, repita-se, não passa de detalhe. Assim como a cor dos olhos, ou dos cabelos. Ou a estatura e o peso das pessoas.

 

A raça humana é uma só. Em nada influem, para que essa verdade verdadeira deixe de ser reconhecida, as circunstâncias de os indivíduos nascerem ou viverem, nessa ou naquela região específica deste planeta azul. Bem como as constatações de que eles pratiquem cultos, cultivem hábitos e costumes, falem línguas e enverguem trajes diferenciados, uns dos outros. A raça humana é única. A recusa na aceitação plena desse preceito de vida universal, na efervescente convivência social, gera uma aberração cruel e repulsiva chamada racismo. Um vírus que, contaminando mundão de viventes por aí, produz enfermidades e mortes, escancara instintos bestiais, alveja inclementemente a dignidade da vida. Faz, também, com que humanistas da maior envergadura intelectual levantem, por vezes, dúvidas quanto à assertiva, sagrada para contingentes apreciáveis do mundo civilizado, de que o homem é ser de luz moldado à imagem e semelhança de Deus.

 

O racismo, com todo seu cortejo de horrores e injustiças, é antigo e universal. Contribui significativamente para que se perpetue o dramático problema das desigualdades. De visibilidade permanente nos atos cotidianos, a questão é exposta com abundância de evidências em tudo quanto é pesquisa de comportamento, seja aqui, seja alhures.

 

No comentário vindouro iremos relembrar o episódio da repulsa antirracista tomada conjuntamente pelos jogadores, em 2020, em estádio parisiense.

 

Dia da Indústria, 1971.

 

                     

                              Cesar Vanucci *

 “Esta celebração (...)transmite mensagem de poderosa irradiação cívica, social e democrática.”                                                              (Fábio Motta, Ex-presidente FIEMG)

 

Escalando as ladeiras da memória, volto às celebrações do “Dia da Indústria”. Estas comemorações são promovidas em Minas desde 1960. Entre 61 e 64, a festividade deixou de ser realizada. De 1965 em diante, acontece no mês de maio, sempre com pompa e brilhantismo, atraindo público numeroso, convidados de expressão empresarial, política e social.

De 1965 a 1994, período em que estive Superintendente Geral da FIEMG, função exercida nas gestões de Fábio de Araújo Motta, Nansen Araujo e José Alencar Gomes da Silva, todos de saudosa memória, à frente de equipe valorosa participei da coordenação do evento. Em 1976, além da comenda do “Mérito Industrial”, atribuída tradicionalmente a cidadãos indicados pelos vários segmentos industriais, a entidade resolveu  instituir o título de “Industrial do Ano”. Hélio Pentagna Guimarães, dirigente da Magnesita, à época vice-Presidente da Fiemg, foi a primeira personalidade agraciada com a honraria, como mencionado no  comentário passado.

Dois ou três anos transcorridos, outra categoria de homenageados foi incluída nas festivas celebrações: “Construtores do Progresso”. Personagens exponenciais de outros setores da comunidade passaram a receber, da FIEMG, láureas de reconhecimento pela sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social.

Testemunha ocular, por largo período, do intenso trabalho de organização, das articulações de bastidores que, naturalmente, envolvem celebração dessa magnitude, acumulei na memória velha de guerra lembranças de fatos sugestivos, alguns mais, outros menos interessantes, vividos nesses movimentados momentos ficados pra traz.

Reporto-me, agora, a  outro registro, desconhecido até mesmo de muitos antigos dirigentes da Fiemg. Houve um ano, 1971, em que a festa do “ da Indústria” esteve, à última hora, sob ameaça. Conto como se deu. Na manhã do evento, um assessor de Fábio Motta, general Onésimo Becker, cidadão de invulgares qualidades humanas, foi contatado por elementos ligados ao Ministro da Justiça Alfredo Buzaid. Eles se faziam portadores de mensagem preocupante. Buzaid estava na iminência de tornar público o seu não comparecimento à sessão solene programada, na qual seria  homenageado. A alegação, prepotente e preconceituosa, era de que, entre os demais homenageados, de uma lista de vinte jornalistas apontados como “colaboradores da indústria”, faziam parte elementos, considerados desafetos do governo, segundo os critérios ditatoriais dominantes. Durante horas estressantes, cuidamos de formatar proposta “pessedista” capaz contornar a questão, sem repercussões que afetassem a festividade da noite. Emergiu dessas confabulações a ideia, acolhida pelos representantes do Ministro, de se dividir em dois atos distintos a programação anunciada. A manifestação de apreço aos homens e órgãos de comunicação ficaria para outro instante. Os “colaboradores da indústria” foram notificados, a toque de caixa, da alteração, com a “explicação” de que brotara, de repente, a necessidade de se alterar a programação, por indisponibilidade de tempo na agenda ministerial. No evento de horas depois, na Casa da Indústria, foram homenageados o Ministro e os industriais agraciados com o “Mérito”. O segundo ato, dedicado aos jornalistas, uma semana depois, consistiu em concorrido jantar no “Automóvel Clube”.

A informação acerca da belicosidade ministerial tem complemento: dois  empresários da relação do “Mérito Industrial” foram alcançados, também, pelas incríveis restrições, de forma um tanto mais branda. Por conta, igualmente, de supostos posicionamentos políticos pessoais em desacordo com o pensamento doutrinário governamental. Mas a impertinente ressalva não foi de molde a gerar questionamento radical quanto à presença de ambos na cerimônia do “Dia da Indústria”.

Dia da Indústria, 1976.

 


     

 “A democracia é, antes de tudo, um estado de espírito.” (Pierre Mendes-France, ex-primeiro ministro da França)

 

 

A celebração, 25 de maio, do “Dia da Indústria”, dentro da costumeira atmosfera de pompa e brilho que a Federação das Indústrias de MG empresta ao evento, recordou-me episódio de grande sabor histórico vivido numa dessas comemorações, há 47 anos. À falta de divulgação adequada, por culpa da rígida censura vigente na época, o caso acabou não ganhando a notoriedade a que fez jus, permanecendo na obscuridade de esquecimento quase total. Os registros disponíveis acerca do papel desempenhado pelas lideranças empresariais na redemocratização do país praticamente o ignoraram. Desconheceu-se da ocorrência o seu caráter precursor, o seu altivo e prenunciador apelo liberal.

Maio de 1976. Era a primeira vez, na história da festividade, que além do “Mérito Industrial”, atribuído a pioneiros, se iria conferir o título de “Industrial do Ano”. A escolha recaiu em Hélio Pentagna Guimarães, dirigente do poderoso grupo Magnesita, reconhecido como cidadão dotado de todos aqueles dons vocacionais que compõem o perfil do grande empresário: arrojo, dinamismo, força criativa, vigor, sensibilidade social. Dons acrescidos de sólida formação liberal, concepção profissional avançada, inteligência aguda e  rica experiência de mundo, identificando familiaridade na teoria e na prática com as modernas correntes do pensamento humanístico. Pentagna, de saudosa memória, foi um símbolo dos valores enaltecidos na manifestação.

Fábio Motta, saudoso dirigente da Fiemg, tinha Pentagna na conta de dileto companheiro. Mencionava sempre as posições firmes por ele assumidas na lida classista e empresarial, detendo-se, particularmente, na postura que teve nos idos de 60, quando se opôs com veemência à tentativa de um grupo interessado em intervir nos destinos da entidade.

Mas, eis que chegamos ao auditório do edifício “Louis Ensh”, antiga “Casa da Indústria”, para festejar o “dia da indústria” de 1976. Mundo oficial e empresarial condignamente representados. Uma multidão de convidados se acotovelando nos insuficientes espaços do auditório, saguão e jardins. A grande maioria acompanhando o desdobramento da cerimônia pelo sistema de som.

Chega a hora do agradecimento. O que se passa a ouvir vai entrar para a antologia política. Deixados pra traz os trechos introdutórios, o orador mergulha resoluto, consciente, na parte conceitual – uma baita de uma mensagem política, reveladora de que a democracia, antes de tudo, é um estado de espírito. A mensagem é recebida por um público eletrizado, dividido entre a ansiedade e a surpresa. No recinto baixa um silêncio de cemitério etrusco. Desfaz-se, como que por encanto, o burburinho característico dos atos de grande afluência, originário da impaciência de convidados que mal conseguem se aguentar de pé nos exíguos territórios em que alojam seu desconforto. De muitas pessoas percebe-se uma toada ofegante na respiração.

Enquanto isso, com o domínio da cena, a fala do homenageado se converte numa análise lúcida da realidade política, econômica e social, voltada para clara e inequívoca concitação: seja promovida logo a reabertura política sonhada por tanta gente. Pela vez primeira, em anos, em acontecimento público concorrido, empresário renomado defende ardorosamente a democracia, associando-a, como parceira indispensável, à luta pelo desenvolvimento. Discurso concluído, as palmas surgem, de início, tímidas, descompassadas, lembrando motor de carro ativado, mas não liberado ainda de todo para o arranque. Já depois, noutra cadência, impetuosas, desmancham-se em borbulhante aplauso. A festa da indústria registrou, naquela noite memorável, com toque épico, uma vigorosa proclamação de fé democrática e de crença nos destinos do Brasil.

Isso se deu meses antes do célebre protocolo firmado por um grupo de industriais paulistas, apontado ao equívoco das anotações coletadas pela história, como a primeira manifestação do empresariado em favor das liberdades públicas.

domingo, 21 de maio de 2023

A eternidade de Ary Barroso



                                        
*Cesar Vanucci

“Brasil, meu Brasil brasileiro, terra do samba e do pandeiro, vou cantar-te nos meus versos” (Ary Barroso, Aquarela do Brasil).

 





 Uma audição musical da melhor supimpitude. Cuidei, eu próprio, egoisticamente, de organiza-la para exclusivo enlevo pessoal. Selecionei 32 canções inesquecíveis do repertório, de mais de 300 composições, do genialíssimo Ary Barroso. Juntei mais 13 melodias da lavra do magnífico Antônio Carlos Jobim. Passei um fim de semana inteiro em estado de puro encantamento, como é fácil imaginar.

 Se os sons musicais conseguem habitualmente conduzir as pessoas a páramos de puro deleite, a música desses dois aí é capaz de provocar arrebatamento que roça o êxtase.

 As interpretações de Jobim foram feitas por uma cantora portuguesa excepcional: Carminho, quem não a conhece, não sabe o que está perdendo, com saboroso sotaque, Maria do Carmo Carvalho Rebelo Andrade (seu nome completo), fadista consagrada, descobriu jeito todo especial, personalíssimo com leves toques dramáticos de espalhar os  harmoniosos acordes Jobinianos.

 As de Barroso são de cantores e conjuntos musicais variados, de diferentes épocas. Entre eles os inigualáveis Silvio Caldas e Carmen Miranda.

 Mais do que tristeza, fica uma indignação ao constatar, sobretudo após a imersão melódica reportada que a fabulosa obra de Ary Barroso, autentico  gênio da raça, esteja hoje, de certo modo, clamorosamente, encoberta pelas névoas do esquecimento, nas programações das TVs e rádios, nos espetáculos musicais que agregam grandes públicos. A “Aquarela do Brasil”, uma espécie de segundo hino brasileiro, ainda é ouvida com alguma frequência, mas, o restante das maravilhosas canções lançadas por Ary, mineiro de Ubá, por qual motivo não são divulgadas com a intensidade que fazem por merecer?

 Não vacilo em proclamar que numa eventual lista das 50 mais belas músicas do cancioneiro popular brasileiro, pelo menos a metade sairia do acervo deste autor, que soube melhor do que ninguém cantar as belezas e os valores de seu país.

 Ary Barroso figura obrigatoriamente entre os maiores compositores universais de todos os tempos. Criou tanta coisa bonita que talvez não seja exagero imaginar que seu repertório possa ser cantado, solfejado, cantarolado, assobiado, o tempo todo sem interrupções e sem que finde, de um ponto ao outro, numa viagem que se passa entre Belo horizonte e Ubá.

1986: Revoada de óvnis

 



                                                                                             * Cesar Vanucci

 

“Estou convencido de que haverá um contato entre nossa Humanidade e alguma civilização extraterrestre”. (Brig. Moreira Lima, ex-comandante da FAB).  

 

 Trago hoje, como prometido, relato sobre a revoada dos óvnis nos céus brasileiros. Ocorreu entre Brasília, São Paulo, Minas, Rio e Goiás.

Pilotos das esquadrilhas de interceptação da Defesa Aérea, comandantes de aviões de carreira, um ministro de Estado especialista em aviação, aviadores civis a bordo de aeronaves de pequeno porte, técnicos do Sistema de Controle do Tráfego Aéreo figuram como testemunhas das desnorteantes aparições. Os fatos ganharam estrondosa divulgação e a FAB sentiu-se na obrigação de emitir comunicado com explicações detalhadas para outro momento. As explicações demoraram vir a público. Mas a declaração enfática dada tempos depois pelo brigadeiro Moreira Lima, à época Ministro da Aeronáutica, revigorou a certeza de que, “disco-voador é assunto que merece ser tratado com a máxima seriedade”. Entrevistado na extinta Rede Manchete, pela jornalista Rejane Schumann, na presença do ufólogo Marco Antônio Petit, Moreira Lima assinalou, ao lado de outras surpreendentes revelações, estar “convencido de que dentro das próximas décadas haverá um contato entre nossa Humanidade e alguma civilização extraterrestre.”

Reproduzo, na sequencia, trechos de reportagem da UOL, em maio de 2021, contendo palpitantes revelações acerca do extraordinário episódio.

·        - A noite de 19 de maio de 1986 representa um marco na ufologia brasileira. Há 35 anos, acontecia o que ficou conhecida como a "noite oficial dos óvnis", quando 21 objetos não identificados, alguns deles com até 100 metros de diâmetro, foram avistados em diversas rotas aéreas.

 Os registros feitos pela Aeronáutica revelam que esse fenômeno ocorreu em SP, Goiás, RJ, Paraná. (...)

 Uma das coisas mais espantosas era que sempre que um avião se aproximava, as luzes fugiam. Os objetos chegavam a atingir velocidades superiores à do som, e voavam em zigue-zague, algo praticamente impossível a altas velocidades. Além da sólida documentação e do grande número de testemunhos, houve registro nos radares, o que torna todo o mistério envolvendo essas luzes,  mais impressionante.

 O Pesquisador Jackson Luiz Camargo se dedicou ao tema nos últimos anos, e realizou um levantamento com informações além das que já constam nos relatórios oficiais.  O Autor do livro "A Noite Oficial dos UFOs no Brasil", trouxe novas revelações sobre aquela noite .São sete horas de gravação entre os pilotos da Aeronáutica e os centros e torres de controle. Com as informações contidas nos diálogos, Camargo fez um mapa do posicionamento dos objetos, apontando velocidade e deslocamento dos óvnis.  Houve mais desses objetos e em mais regiões além daquelas já registradas. Em Minas Gerais, há registros de avistamentos dessas luzes por moradores de Araxá e Uberlândia, por exemplo. Piloto que sobrevoava a região relatou que um dos óvnis voou na direção de seu avião, o que lhe causou grande susto. Camargo também apurou que, no mesmo período, caças do Uruguai perseguiram objetos luminosos pelos céus do país.   

 Sobre o tamanho dos objetos, eles chegariam a cem metros de diâmetro.  A informação foi constituída a partir dos dados de radar fornecidos pelos pilotos de caças da FAB. Esse tamanho é maior que o dos aviões Boeing 747 e Airbus A380, alguns dos maiores aviões de passageiros do mundo. "Ainda hoje não tem nenhuma aeronave que consiga reproduzir as manobras que foram documentadas naquela noite. O que a gente pode dizer é que esses objetos não são tecnologia terrestre, de nações da terra", diz Camargo.

 


Temos ai mais um indicio eloquente de que não estamos, a humanidade deste conturbado planeta azul, uma ilhota perdida num infinito oceano, sós no Universo.

                        Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

A oitava maravilha do mundo

          

                                                      

*Cesar Vanucci

                           “Um grande mistério petrificado.”

                                                                                                              (Jacques de Lacretelli)

 

 

De volta ao Peru. É lá mesmo que os investigadores dos chamados fenômenos insólitos tropeçam, a cada momento, com alguns dos enigmas mais perturbadores deste nosso planeta azul. O foco de nossas atenções irá se concentrar agora em Machu Picchu, considerada a “oitava maravilha do mundo”.

 

Estamos falando de um prodigioso complexo arquitetônico, erguido (em priscas eras) por toda a extensão, das fraldas à cumeeira, de um imponente maciço montanhoso da deslumbrante Cordilheira dos Andes.  Ninguém consegue explicar com precisão quais foram os recursos técnicos utilizados nas ciclópicas edificações. Para chegar até Machu Picchu a grande maioria dos turistas vale-se do transporte ferroviário. Mas não deixa de ser expressivo o contingente de pessoas, naturalmente dotadas de espírito aventureiro e bom preparo físico, que se embrenha, todos os dias, pelas chamadas trilhas sagradas na direção da “cidade perdida dos Incas”.

 

O trem que a gente pega em Cuzco serpenteia por paisagens de lindeza estonteante. A viagem dura mais ou menos seis horas. Os caminhantes, com seus pendores para o montanhismo, demoram de quatro a seis dias para cobrir a jornada, extenuante, mas repleta de fascínios. Uns e outros, carregando prazerosas emoções, que se vão acumulando na incessante contemplação de cenários de mágica beleza, se defrontam, no final do trajeto, com um espetáculo difícil de descrever em palavras. Machu Picchu esmaga. Extasia. Costuma arrancar lágrimas, quando não soluços. Não há como resistir ao seu encantamento.

 

Alcançamos o topo da montanha, após haver percorrido as diversas plataformas que abrigam incríveis muralhas e áreas presumivelmente dedicadas, em tempos imemoriais, a cultivo agrícola. De onde nos encontramos dá pra avistar um conjunto soberbo de montanhas, várias recobertas de neve. O olhar alcança, também, lá embaixo, quase ao nível da gare ferroviária do sopé da montanha, um fio prateado que avança por interminável desfiladeiro. É o célebre rio Urubamba, que nasce no alto dos Andes, atravessa o Vale dos Reis, onde engenheiros de tempos antiquíssimos represaram-no de forma impecável, de molde a causar espanto e deixar maravilhados seus colegas de profissão dos tempos de agora, indo despejar suas águas, centenas de quilômetros adiante, no Amazonas.

 

Do que está sendo retratado parece emanar um convite indeclinável à genuflexão. O impacto é muito forte. A mente é tomada por fervilhantes reflexões. As interrogações jorram. O que vem a ser, afinal de contas, tudo isso? Quem foram os construtores desse portento de engenharia dir-se-á sobre-humana? Quem habitou Machu Picchu? Quando? Quais – voltamos a perguntar - os recursos tecnológicos empregados na ciclópica empreitada?

 

Admitamos, para argumentar apenas, sejam procedentes as informações de alguns historiadores, que insistem em apresentar os incas dos tempos da colonização como os construtores da cidade. Como entender, a partir daí, que esses mesmos nativos, que somavam, de acordo com historiadores, milhões de criaturas à época da invasão espanhola, executada por uma legião numericamente insignificante de militares-aventureiros, se revelassem tão despreparados militarmente para enfrentar os vorazes e implacáveis conquistadores de suas cidades, terras e riquezas?

 

Foi em julho de 1911 que Hiram Bingham, apontado nos compêndios como “descobridor” dessa maravilha arquitetônica, seguindo roteiro traçado por peruanos conhecedores do complexo incrustado na montanha conhecida por Machu Picchu, divulgou para o mundo, além das fronteiras daquele país andino, a existência das colossais edificações. Nascia ali uma prodigiosa saga, vastamente explorada pelos estudiosos de civilizações desaparecidas, que crivaram o fabuloso achado arqueológico de interpretações as mais variadas e imaginosas, numa disputa que se arrasta até os dias de hoje. Jacques de Lacretelli resume a lendária história de Machu Pucchu numa frase: “Um grande mistério petrificado.”

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Mensagem do passado

 

  “Os vestígios estão aí. (...) Um desses incríveis e  misteriosos vestígios surgiu em um               deserto peruano (...) nos arredores de Ica.”  

 (J.J.Benitez, jornalista e   escritor espanhol)

 

Quem já andou por aquelas plagas, sabe do que estou falando. O Peru é um espanto. E Ica, lugar rodeado pelas areias brancas e pedregosas do deserto de Ocucaje, merece ser apontada como um espanto dentro do espanto maior. A região adquiriu notoriedade mundial com descobertas assombrosas que ficaram conhecidas como “as pedras gravadas de Ica”. Uma espécie de “biblioteca na pedra”, pode-se dizer.

 

A capacidade investigativa e a perseverança à toda prova de um professor chamado Javier Cabrera Darques, peruano de inquebrantável vontade, colocaram a humanidade inteirada de achado fantástico. Um achado que desafia a argúcia de pesquisadores experimentados e coloca em xeque teorias e teses científicas pacificamente assimiladas no conhecimento consolidado dos homens. Está claro que sobrou para o desassombrado professor uma carga bastante pesada de incompreensões e doestos, como decorrência dos arrojados conceitos que ousou estabelecer à volta das descobertas.

 

A explicação trazida para os milhares de seixos gravados, de tamanhos diferenciados, que Cabrera conseguiu resgatar, de datação antiquíssima, consideravelmente distante dos tempos conhecidos (há quem fale até em milhões de anos), é desnorteante. Tudo aquilo nada mais significaria senão uma espécie de documentação deixada por civilização tecnologicamente avançada, que pretendeu passar para os pósteros a essência de suas experiências de vida.

 

E aí, como é que ficam as coisas? As pedras estampam cenas inacreditáveis do ponto de vista científico. Registram realizações inteligentes produzidas por alguém que dominava saberes incomuns nas áreas da astronomia, da astronáutica, da medicina. Falam das relações desse “alguém” com o meio ambiente, com a terra que povoava, com sua fauna e flora. Divididas em séries, ou capítulos, as pedras gravadas de Ica, no Peru, estão recolhidas em dois museus. Um deles pertencente ao Estado. Outro, mais bem provido de peças, organizado pelo próprio professor Cabrera.

 

Ao contemplarem os enigmáticos registros, as pessoas experimentam emoções fortes, que vão do deslumbramento à perplexidade. As revelações mexem com a cabeça. Revolvem conceitos solidamente enraizados na mente coletiva. Deixam os observadores comovidos. Por mais espantoso que possa parecer, entre as informações assombrosas transmitidas nos seixos existem descrições pormenorizadas acerca de transplantes de órgãos; sobre o código genético; sobre espaçonaves utilizadas em deslocamentos pelo campo azul infinito do céu.

 

Como é que haveremos de nos comportar diante desse recado fabuloso, provavelmente deixado por uma civilização que tomou rumo ignorado, após passagem por este nosso planeta azul? Um dos “capítulos” do documentário das pedras gravadas de Ica alude a uma viagem cósmica de colossais proporções. Seres desconhecidos, à maneira de um êxodo, provocado talvez pela proximidade de grande cataclisma, “anunciam” sua partida com o destino de um ponto qualquer na constelação das Plêiades.

 

O professor Javier Cabrera Darquea, num livro precioso, intitulado “As mensagens gravadas de Ica”, considera que os seixos “explicam, racionalmente, muito mais do que, até o momento, a humanidade atual tem considerado enigmas e fantasias em torno da existência passada do homem.” Vale a pena ler o livro. Vale a pena visitar Ica.



 

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Titicaca e salto do jaguar

 

                                                                       *Cesar Vanucci

 

                                                                        “A quantidade de coisas que chama  a atenção  ajuda o bom senso na pista da explicação.”                                                          (Gotthold Ephraim Lessing, 1729-1781)

 

Vamos dar continuação à nossa incursão por sítios geográficos que representam, com seus marcos indecifráveis, o testemunho vivo do passado misterioso deste planeta azul.

 O lago Titicaca não é bem um lago. É mais uma porção de mar, de grandes proporções, que um colossal deslocamento dos elementos naturais em tempos imemoriais inseriu na acidentada geografia andina. A flora e fauna são típicas de água salgada. Pontilhado de ilhotas, o Titicaca abriga vestígios de civilizações desaparecidas. As famosas fortificações atribuídas aos incas aparecem em diversos pontos. O estilo arquitetônico é o mesmo observado em centenas de sítios arqueológicos dos altiplanos bolivianos e peruanos. Navios turísticos percorrem o trajeto entre um porto boliviano, próximo a La Paz, e o porto peruano de Copacabana, num período de oito horas. Tempo razoável para que se possa admirar o cenário soberbo de um recanto cravejado de lendas e enigmas.

Um dos enigmas, provavelmente o mais atordoante, relaciona-se com a denominação dada a esse mar suspenso. No idioma aymara, falado pelos nativos da região, “titicaca” significa “o salto do jaguar”. Anotou aí? Vamos em frente. Nos anos 60, satélites estadunidenses colheram, a grandes altitudes, imagens do misterioso lago. As fotos deixaram cientistas embasbacados. A configuração do Titicaca é inacreditavelmente, precisamente, a de um jaguar saltando. A indagação irrompe inevitável: explique quem puder, como é que o povo aymara teve acesso a revelação tão estonteante? De quais recursos tecnológicos se teriam valido os ancestrais de Evo Morales, aymara com muito orgulho conforme confessa, para estabelecer essa inconcebível conexão entre o desenho geográfico, captado do alto, e a realidade prosaica de uma cena retirada de seu cotidiano como caçadores?

 Perto do Titicaca existe um “museu antropológico” de priscas eras. Tiahaunaco, a uns 30 quilômetros de La Paz, é uma verdadeira maravilha arqueológica. Menos procurado do que outros sítios famosos dos Andes, como Machu Picchu e todo o conjunto fabuloso de fortificações das imediações de Cuzco (Peru), como Sacsuyaman, Pizac, Ollantaitambo, oferece grandiosidade equivalente a todos eles. No entender de reputados pesquisadores, a construção de Tiahaunaco se situa numa época que antecede em muito aos outros monumentos megalíticos bolivianos e peruanos. Acham até que as grandiosas edificações teriam surgido antes das pirâmides do Egito e do México.

 A fabulosa “porta do Sol”, com incríveis frisos e imagens, focalizada em numerosas obras dedicadas à arqueologia e ao estudo de fenômenos transcendentes, é uma das manifestações arquitetônicas impactantes do lugar. Das escavações emergiu também uma cidadela impressionante, menos conhecida. Com a dimensão de quarteirão urbano amplo, é constituída de pátios espaçosos e rodeada de colunatas. Na parte externa, esculpidas na rocha, aparecem incontáveis efígies com características anatômicas humanas. Entre uma efígie e outra há sempre uma diferenciação morfológica. Um rosto achatado ali, um nariz pontiagudo aqui, uma orelha abanada adiante, um terceiro olho na testa noutro desenho, tudo trabalhado com requinte artístico. Na interpretação de alguns arqueólogos, o que vem projetado é um culto de povos primitivos aos seus deuses... Já as lendas aymaras falam de coisa bem diferente. A cidadela seria uma espécie de museu antropológico. As imagens retratariam seres representativos de civilizações que, em tempos recuados da história, povoaram aquelas bandas misteriosas de nosso planeta.

 Tem mais: os monumentos de Tiahuanaco pertenceriam, por suas características, a um instante da arquitetura diverso de outros monumentos, nos Andes, atribuídos ao engenho e arte da decantada civilização inca.

 

                     Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Enigmas de um planeta azul

 



 

                     ·        Cesar Vanucci

 

“Creio que fazemos parte de alguma coisa.” (Charles Fort, autor do “Livro dos Danados”)

 

Os enigmas são muitos. Estão em todos os cantos. Fora e dentro deste planeta azul. Acompanham a trajetória humana desde o começo dos tempos. Sugerem que a história deva ser dividida em dois tempos distintos. Os tempos conhecidos e os tempos desconhecidos. Falam, sim, de civilizações anteriores à nossa. Atiçam a imaginação das pessoas, estimulando-as a refletirem um pouco mais sobre a origem, o destino, a vocação da espécie. Egito, México, China, Índia, Camboja, Peru, Guatemala, Bolívia, Tibete exibem, para embevecimento e perplexidade geral, vestígios extraordinários, indecifráveis, insólitos, inexplicáveis de realidades de vida que teriam sido deixadas pra traz, não se sabe bem por quem, nem quando.

 Vou falar, aqui, por etapas, de alguns desses enigmas. Algumas poucas informações colhidas na condição de repórter interessado em temas ligados ao chamado Realismo Fantástico. Fruto de leituras e de visitas a lugares marcados por lendas e mistérios, onde a gente costuma se deparar sempre com mais perguntas a fazer do que com respostas a dar. Isso, por sinal, conduz ao Milan Kundera, autor da “Insustentável leveza do ser”, um belo livro que teve o mérito de inspirar, há tempos, um belo filme. As perguntas sem resposta, lembra-nos o autor, fixam o limite preciso da capacidade humana para conseguir entender o que rola ao redor.

Conto, em seguida, uma historieta que poderia intitular de “O “Brazil” dos fenícios”. Convido todos para uma chegadinha até o fabuloso museu do Vaticano. Este museu é depositário de uma sabedoria que remonta ao fundo dos tempos. Pesquisadores de alta reputação sustentam, com fervorosa convicção, que a liberação, para estudos, da volumosa documentação ali reunida poderia levar estudiosos nos diversos campos da ciência a revelações estonteantes sobre a fascinante aventura humana. Revelações que, provavelmente, concorreriam para alterar, de modo visceral, muitos conceitos consolidados da história.

Na mapoteca do museu, o visitante dá de cara, em dado momento, com uma amostra expressiva – que nos toca mais de perto, aos brasileiros – das tais revelações instigantes que se imagina existirem em profusão nos preciosos guardados milenares da instituição. Trata-se de um mapa de, aproximadamente, dois metros de comprimento por metro e meio de largura. O mapa estampa, com absoluta nitidez, os contornos litorâneos brasileiros. Tudo muito preciso, a começar do desenho correspondente a essa maravilha ecológica conhecida em nossos tempos pela denominação de arquipélago de Fernando de Noronha. Só que tem uma coisa pra lá de desnorteante. O mapa é datado de 1506. Isso mesmo! Peraí, teria sido elaborado por ignotos e diligentes cartógrafos seis anos após a chegada das naus de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro? Mais um dado perturbador. O nome “Brazil” (com “z” mesmo) está registrado na peça. Mas como? Na época – não é o que se conta nos livros de história? - ninguém, entre os descobridores, cogitou de dar à imensa e dadivosa terra incorporada aos domínios portugueses tal denominação! Ao enigma junta-se outra inesperada informação. É extraída de um livro que relata coisas que teriam acontecido em tempos sem registros na história dos homens. Os fenícios percorreram com assiduidade, há milênios, estas nossas vastidões territoriais descobertas em 1500. Batizaram então as terras visitadas com o nome de “Brazil”. A expressão, em seu idioma, quer dizer “terra do minério de ferro”.


Mentiras Cartográficas

 



                                                                                           *Cesar Vanucci

 

                                                                                                           "O mapa mente!"

                                                                                                 (Eduardo Galeano, escritor uruguaio)

  Confesso, honestamente, que nunca, jamais, em tempo algum, passou-me de leve pelo bestunto a estapafúrdia ideia de que o mapa-múndi utilizado em consultas, desde os começos escolares, seja inexato, incorreto nas proporções, oferecendo uma noção falsa, superavaliada, da grandeza geográfica dos países do chamado primeiro mundo. Provocado pelo que conta a respeito Eduardo Galeano no livro "De pernas pro ar – a Escola do mundo ao avesso", resolvi conferir e acabei me certificando, arregalado de espanto, que a revelação, denúncia, ou o que quer que seja a informação transmitida pelo escritor uruguaio, está absolutamente certa. A linha do equador não atravessa, realmente, a metade do mapa-múndi, como aprendemos na escola. O rei da geografia, como diz Galeano, está nu. E não é que isso já havia sido constatado, na moita, debaixo de silêncio sepulcral, há mais de meio século, por um cientista alemão de nome Arno Peters?

 

Mas o mais adequado nas circunstâncias é deixar a palavra escorrer pela boca do próprio escritor: "O mapa-múndi que nos ensinaram dá dois terços para o norte e um terço para o sul. (...) A Europa é mais extensa do que a América Latina, embora, na verdade, a América Latina tenha o dobro da superfície da Europa. A Índia parece menor do que a Escandinávia, embora seja três vezes maior.

 

Os Estados Unidos e o Canadá, no mapa, ocupam mais espaço do que a África, embora correspondam apenas a duas terças partes do território africano.”

 

Adotando-se a mesma perspectiva da análise de Galeano, dá pra ver que a configuração do Brasil, detentor da quarta ou quinta maior extensão territorial entre os demais países, está igualmente desproporcional no atlas.

 

Isso posto, qual a razão dessa desconcertante distorção da geografia e da história, há tantos anos ignorada ou tolerada? Galeano não deixa por menos: "O mapa mente! A geografia tradicional rouba o espaço, assim como a economia imperial rouba a riqueza, a história oficial rouba a memória e a cultura formal rouba a palavra.". Ele está a falar de um processo espoliativo incessante que tem como alvo os países do hemisfério sul. Um processo, como sabido e notório, inclemente do ponto de vista econômico e social com relação ao chamado mundo subdesenvolvido, vez por outra apelidado de terceiro mundo, onde se costuma aplicar também a classificação de "emergentes", a critério dos "donos do planeta", a um que outro país provido de potencialidades impossíveis de passarem, o tempo todo, despercebidas aos olhares mundiais.

Essa cabulosa história do atlas mundial mutilado deixa-nos com aquela mesma sensação de insuportável desconforto trazida, tempos atrás, pela revelação de que alguns livros didáticos em escolas de ensino fundamental nos Estados Unidos mostram a Amazônia brasileira como região sob controle internacional. Uma coisa parece ter tudo a ver com a outra coisa. O inacreditável, imoral e ilegal redimensionamento cartográfico há que ser visto como um instrumento a mais de irradiação de mensagens subliminares insistentes com propósitos que deixam sob ameaça, em seus direitos, sua cultura, soberania e integridade, os países da banda de cá do equador. Essa a leitura a extrair dos fatos. Melhor dizendo, dos mapas.

 

jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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