Natal
nas vozes dos trovadores
(Este artigo, publicado
no ano passado nos jornais com os quais colaboro, está sendo reproduzido no
“Blog do Vanucci”, não só pela temática abordada, como também em homenagem aos
autores dos versos estampados)
Cesar Vanucci
“Não tendo Cristo por centro, / torna-se festa
banal: /
Quem não renasce por dentro/não comemora o
Natal!
(Lacy
José Raymundi)
A
celebração natalina deste ano na Academia Municipalista de Letras de Minas
Gerais correu por conta dos poetas. Em concorrida assembleia, de envolvente
conteúdo humanístico, entremeada de belas interpretações musicais, os
acadêmicos se revezaram na tribuna narrando sugestivos casos, declamando poemas
e trovas, comentando candentes temas da atualidade tomando como mote a mensagem
de fraternidade que a data máxima da cristandade inspira.
A
programação cumprida, sob a competente coordenação das acadêmicas Maria Armanda
Capelão, Maria Inês Chaves de Andrade e Tânia Mara Costa Leite, contou com
participação ativa, entre outros, dos acadêmicos Elizabeth Rennó, Luiz Carlos
Abritta, Auxiliadora de Carvalho e Lago, João Quintino, Maria Inês Marreco,
Marilene Guzzela, José Alberto Barreto, Ângela Togeiro, Andrea Donadon Leal,
Benedito Donadon Leal, Francisco Vieira Chagas, Gabriel Bicalho, Lucilia
Cândida Sobrinho, Ismaília de Moura Nunes, Almira Guaracy Rebelo, Marzo Sette
Torres, Altair Pinho, Sidnéia Nunes Guimarães e Maria de Lourdes Rabelo
Villares. Exemplares de publicações contendo poemas e crônicas alusivos ao tema
da comemoração, de autoria de associados da Amulmig, foram oferecidos aos
presentes na conhecida por Casa de JK.
As
trovas natalinas vindas na sequência foram selecionadas por Luiz Carlos
Abritta, presidente emérito da instituição, para leitura durante os trabalhos.
Reproduzo-as aqui como um brinde aos leitores, ao desejar-lhes um Feliz Natal,
cheio de amor e de paz.
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Foi na tal estrebaria, / simples, mas cheia de luz, / que nossa doce Maria / teve
seu filho Jesus. (Luiz Carlos Abritta)
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Uma estrela, cintilando, / pára, junto à estrebaria. / Maria reza chorando, / enquanto
Jesus sorria. (Maria Natalina Jardim)
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No presépio natalino, / Mãe Maria e São José/contemplam Jesus Menino, / orando
plenos de fé. (Conceição Piló)
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Vista o manto que lhe cobre/neste Natal, meu Jesus, / em toda criança pobre/e
encha seu mundo de Luz! (Ivone Taglialegna Prado)
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De barro, um presépio lindo: / Maria de Nazaré / e um meigo Jesus dormindo/no
colo de São José. (Conceição Almeida)
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Foge de mim a esperança/da estrela que apaga a luz, / ao lembrar que uma
criança / tem, no destino, uma cruz! (Maria Dolores Paixão Lopes)
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Ao doce planger do sino, / na alegria triunfal, / recebamos Deus-Menino / nestas
festas de Natal. (Felisbino Cassimiro Ribeiro)
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Vendo o mundo se prender/nas teias da insegurança, / o Natal nos vem trazer/o
milagre da esperança! (Almira Guaracy Rebêlo)
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Com seu infinito amor, / o grande Deus me proteja. / E que o Natal do Senhor / faça,
de mim, Templo e Igreja. (Célia Maria Barbosa Rodrigues)
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Aproxima-se o Natal. / Tocam sinos. Quanta luz! / Em cada lar há sinal/da
presença de Jesus! (Edmilson Ferreira Macedo)
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A maior festa do mundo, / de âmbito universal, / tem um sentido profundo/nos
festejos de Natal. (Geraldo Tavares Simões)
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Meu Natal não tem presente, / ceia farta, cores, luz.. / Meu Natal é
diferente:/meu Natal só tem Jesus. (João Quintino da Silva)
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As coisas simples, modestas, / encerram saber profundo. / Nasceu sem plumas e
festas/o maior Homem do mundo. (Lucy Sother Rocha)
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Belo Natal se aproxima, / vem trazendo ao mundo a Luz. / Sigo, olhando para cima,
/ o Evangelho de Jesus. (Auxiliadora de Carvalho e Lago)
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Surge, ao longo dos meus dias, / Natal em cada segundo, / quando misturo
alegrias/na esperança do meu mundo. (Rosa de Souza Soares)
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Que esta data abençoada /- é um desejo verdadeiro -/fique em nossa alma gravada,
/ seja Natal o ano inteiro! (Thereza Costa Val)
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Se todo o povo, irmanado, / em Cristianismo real, / amasse o irmão
desprezado.../Seria sempre Natal! (Conceição Parreiras Abritta)
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Natal! Tantos já partiram, / deixando em silêncio a sala.../Quietos velhinhos suspiram,
/ só a saudade é quem fala. (Eva Reis)
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Estamos, Maria e eu, / comunicando a vocês:/nosso Menino nasceu. / Nós,
agora... somos três. (Lucy Sother Rocha)
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Papai Noel, vê se faz/do Natal um baluarte:/erga a “Bandeira da Paz”, / gravando
“AMOR” no estandarte! (Ivone Taglialegna Prado)
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Natal trouxe vida nova/aos homens... novo destino, / a esperança se renova/junto
ao berço de um Menino. (Zeni de Barros Lana)
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Diante o presépio, encantado, / vendo Jesus que dormia, / um menino, esfarrapado,
/ embevecido, sorria. (Conceição Parreiras Abritta)
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Um desejo verdadeiro/haja, entre nós, afinal:/ter no peito, o ano inteiro, / sentimento
de Natal! (Thereza Costa Val).
Perenidade
da mensagem
Cesar Vannuci
“A tua religião, oh Rabi,
cura as minhas feridas?”
(Verso de um poema de Lauro Fontoura,
onde
criança enferma dirige uma pergunta ao
Mestre)
“Galileia.
/ O luar põe alegorias brancas nos cabelos do mestre. / A noite desce como uma
benção. / Para os lados de Hebron, / sob o céu límpido, / a distância se afuma
num fundo bíblico de searas. / Cristo apanha a seus pés uma criança leprosa,
/ergue-a à altura da sua fronte / e beija-lhe a boca. / O pequeno, levantando
as pálpebras ingênuas / e pousando o olhar triste / na doçura doirada dos olhos
divinos / perguntou: - ‘A tua religião, oh Rabi, cura as minhas feridas?’”
Estes
primorosos versos, trecho introdutório do poema “Hóstias de Luz”, são de Lauro
Savastana Fontoura. Um humanista da melhor linhagem. Causídico renomado,
primeiro diretor da Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro, advogado geral
do Estado, desembargador do Tribunal de Justiça MG, personagem político com
ativa participação nas lidas públicas, deixou vestígios marcantes de sua
passagem pela pátria dos homens.
A
narrativa poética com que nos brinda fala de temas que abastecem de sublime
encantamento a aventura humana. Fala de misericórdia, compaixão, solidariedade,
esperança e amor. Expressões que compõem o pujante e terno vocabulário natalino
em todas as latitudes, idiomas e hábitos culturais. Mas, bem mais do que isso,
sinalizam roteiro ideal, a ser obstinadamente trilhado por mulheres e homens de
boa vontade, na caminhada civilizatória que dá sentido à vida.
“Sentido
da vida”: A expressão reclama a entrada em cena de um outro poeta. Raul de
Leoni. Pertencem a Raul de Leoni, em “Luz Mediterrânea”, esses outros
magistrais e líricos conceitos: “O sentido da vida / e o seu arcano / é a
aspiração de ser divino, / no prazer de ser humano.”
Tudo
quanto posto concede-nos a esplêndida chance de projetar-nos a patamares
superiores no entendimento e verdadeira compreensão de algo
transcendental. Trata-se da mensagem
vinda do fundo e do alto dos tempos, sempre com ênfase ampliada na festa maior
do calendário universal. Ao recomendar a prática permanente da misericórdia, da
compaixão, da solidariedade, da esperança, do amor, esta mensagem, de serena e
inteiriça beleza, lembra a impostergável necessidade, de premente urgência –
não fica nada demais a pleonástica enfatização -, de nos colocarmos, todos os
seres humanos, de modo intenso, a serviço de um projeto social, de cunho
humanístico e espiritual, que seja capaz de reconectar o mundo com sua
humanidade. Noutras palavras: fazer com que o labor humano concentre ações
prioritárias em prol da erradicação das clamorosas desigualdades sociais. Em prol
da abolição das guerras “abominadas pelas mães”, como anota Horácio. Em prol da
extirpação da pobreza aviltante, dos preconceitos odiosos, em suas múltiplas e
atordoantes modalidades. Em prol da eliminação de tudo aquilo que possa alvejar
a paz e o bem-estar social, conceitos de vida que fazem parte dos ardentes
anseios dos corações fervorosos.
A
sociedade humana dispõe – visto está - de talento, engenhosidade, criatividade,
recursos naturais prodigiosos, tecnologias fabulosas, tudo em superabundância,
dependendo de vontade política, sensibilidade social, espírito de justiça, para
direcionar tudo isso em favor de empreendimentos que contribuam para
estruturação de uma história humana ancorada no bem-estar coletivo e na justiça
social, numa civilização fraterna, onde prevaleçam em plenitude condições
propicias para cura de todas as feridas abertas que hoje laceram, mundo afora,
o tecido social.
A
mensagem transmitida, há 2020 anos, na Galileia, pelo Ser inigualável, de
luminosidade suprema, da devoção universal, descrito nas narrativas sagradas
não perdeu nem tampouco perderá jamais sua absoluta perenidade como completo,
perfeito e definitivo instrumento de cura para todos os males. Para todas as
feridas.
Aos
caríssimos leitores, os votos de um Feliz Natal!