quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Eleições, primeiro turno.



*Cesar Vanucci

“A eficiência da Justiça Eleitoral permitiu que o brasileiro fosse dormir no domingo já sabedor dos nomes dos eleitos.” (Domingos J. Pinto, educador)

 


O Brasil viveu outro momento eleitoral memorável. Nas linhas gerais, a festa cívica de 6 de outubro reafirmou o inarredável compromisso da Nação com os sagrados postulados democráticos e republicanos. À Justiça Eleitoral tocou, uma vez mais, a impostergável missão de garantir a eficácia do processo de captação e apuração, em tempo recorde, dos votos depositados nas urnas por mais de 120 milhões de cidadãos. O eleitor pode expressar com plena liberdade sua vontade política. A manifestação refletiu salutarmente tendências ideológicas variadas, respeito a diversidades numa atmosfera de maior serenidade, sobretudo se tomarmos como referência as tensões criadas pelo desvario extremista em 2022.

Na disputa regional mais comentada, que atraiu todas as  atenções, ocorreram incidentes perturbadores. Os fatos registrados na corrida pela prefeitura de SP deixaram à mostra o despreparo e a mediocridade de um “carreirista político” que se apresentou como implacável “crítico” do sistema vigente. A ação inescrupulosa do “coach messiânico” Pablo Marçal, com o indisfarçável propósito de bagunçar o coreto na 25ª h. da campanha, representou o ponto fulminante de uma série impactante de sandices. Afortunadamente, as urnas afastaram o personagem do 2° turno. A expectativa agora é de que o grave ato delituoso seja devidamente enquadrado nos conformes legais de maneira a desencorajar novas tentativas que possam medrar dos domínios pantanosos do fanatismo e negativismo.  

Os resultados das eleições forneceram material abundante para especulações por parte dos analistas políticos. A quantidade de prefeituras conquistadas pelas diferentes legendas partidárias está no foco do interesse dos debates sobre quem mais vezes “subiu ao pódio” na competição. O PSD, liderado por Gilberto Kassab, obteve quase 900 prefeituras. Com o feito desbancou o MDB da primeira posição na classificação partidária ostentada desde a redemocratização. Firmou-se como agremiação de Centro de presença destacada no cenário político. O MDB, o PP, a União Brasil, o PR e o PL tiveram também participação expressiva na pugna eleitoral. A participação do PT, apesar de haver ampliado o numero de prefeituras, foi bastante discreta na disputa. O PSDB e o PDT não marcaram presença na contenda, ao contrário do que sucedia num passado não tão distante.

O 6 de outubro assinalou  a chegada ao cenário político nacional de novas lideranças que, bem provavelmente estarão frequentando o noticiário  como candidatos a cargos de relevância em eleições vindouras. Sejam citados, num contingente mais amplo de nomes, 3 deles: Eduardo Paes, RJ; João Campos, Recife; Bruno Reis, Salvador. Outra constatação, sem dúvida alvissareira: cresceu o numero de prefeitas. Interessante anotar que em 3 dos municípios mineiros de maior concentração de eleitores, ocorreu a recondução de mulheres ao cargo de gestora pública.  Uberaba, Juiz de Fora e Contagem.  

Jornalista (cantoius1@yahoo.com.br)

Vitalidade democrática

 

 

*Cesar Vanucci


“Democracia sai sempre revigorada de uma eleição” (Antonio Luiz da Costa, Educador)

 



O óbvio ululante: eleição livre é prova de vitalidade democrática. Cada pleito programado constitui uma clareira de esperança nos trepidantes caminhos dos avanços civilizatórios. Representa momento de efervescência criativa para a exposição do ideário político, em suas múltiplas tendências, uma “ensancha” “oportunosa” para debates e diálogos capazes de fornecerem subsídios para a decisão dos eleitores no isolamento da cabine indevassável de votação. Os democratas autênticos celebram a eleição como uma festa cívica memorável. Confiam fervorosamente no processo. Sabedores das imperfeições que nele se alojam, subproduto da falibilidade humana, veem no escrutínio eleitoral um sopro de esperança renovado de tempos em tempos.

Mas, desafortunadamente para os nossos foros de cidadania, há um bocado de gente que, sub-reptícia ou escancaradamente, hostilize os postulados  democráticos. Não concordam com as regras constitucionais e jurídicas que freiam ambições de mando autoritário. Na campanha eleitoral de 2022 deparamo-nos, constrangidos e indignados, com demonstrações desse estado de espírito subversivo que domina grupelhos com medíocre compreensão da vida e da ciência política.  As sede dos 3 Poderes foram atacadas. Rodovias foram bloqueadas. Grupos de pessoas na frente de unidades militares pediam a instauração de ditadura. Inverdades clamorosas sobre a legitimidade do pleito foram impatrioticamente propagadas, até para uma plateia atônita de Embaixadores. Só por um triz não explodiu uma bomba no aeroporto de Brasília. A ação antidemocrática estendeu-se por muitos outros lances chocantes sabidos e notórios. A reação das forças vivas da Nação, envolvendo Governo, Judiciário, Congresso, lideranças civis e militares e de outros segmentos representativos da vida nacional, estabeleceu um magnífico “chega prá lá” nos semeadores do ódio e da discórdia, transmitindo alto e bom som o quanto a Democracia está enraizada no sentimento das ruas. O Brasil disse o que quer de uma eleição.

A corrida eleitoral de agora está sendo acompanhada com zelo e atenção pelos verdadeiros democratas, que se sentem, falar verdade, injuriados diante do clima de tensão propiciado em disputas que ocorrem em alguns ambientes turbulentos. O melhor (ou seja, pior) exemplo vem da mais importante cidade do país, maior metrópole da America Latina, com população superior a de vários países. Entre tapas, golpes abaixo da cintura, cadeiradas e uma pororoca de infâmias, os debates acontecidos se primaram pela total ausência de ideias e propostas. Deixando a opinião publica estarrecida. No meio da barafunda despontou um candidato, um vulgar “cover” - todo mundo sabe de quem – com pretensões a escalar postos mais elevados na cena política a qualquer custo. Que nossa Senhora  Aparecida ilumine os paulistanos na hora do voto.  

  Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

A fala do Presidente na ONU II





*Cesar vanucci

“o planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos”

 





Em sua momentosa fala na ONU, já aqui comentada em alguns aspectos significativos, o Presidente Lula sustentou, de maneira enfática que os Estados não podem se curvar “ante indivíduos, corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei.” Proclamando a urgência da regulamentação das redes sociais, salientou que “a liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras.” Acrescentou que a essência da soberania abrange o direito de legislar, julgar e fazer cumprir as regras dentro dos territórios nacionais, incluindo obviamente o ambiente digital.

 Criticou veementemente o que chamou de “oligopólio do saber”, configurado na consolidação das assimetrias na área de Inteligência Artificial. Justificou acertadamente a implementação de governança intergovernamental da inteligência artificial, explicando que o mundo observa, assustado que os poderes inerentes a IA estão se concentrando nas mãos de pequeno número de pessoas e empresas, em alguns poucos países. Aduziu sensatamente: “Interessa-nos uma Inteligência Artificial emancipadora, que também tenha a cara do Sul Global e que fortaleça a diversidade cultural. Que respeite os direitos humanos, proteja dados pessoais e promova a integridade da informação. E, sobretudo, que seja ferramenta para a paz, não para a guerra.”

 Noutra vertente da manifestação, Lula declarou estarmos condenados à interdependência da mudança climática. Registrou que o planeta já não espera para cobrar da próxima geração. Disse: “o planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos. Está cansado de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas e do auxílio financeiro aos países pobres que não chegam nunca.”

O Presidente ressaltou que a Democracia não aceita a fome, a desigualdade, o desemprego e a violência. Anotou, a propósito: “No Brasil, a defesa da democracia implica ação permanente ante investidas extremistas, messiânicas e totalitárias, que espalham o ódio, a intolerância e o ressentimento”.

. Em trecho do discurso voltado para a questão das clamorosas desigualdades sociais e as dificuldades enfrentadas na conquista de patamares de crescimento econômico satisfatórios, Lula criticou a exorbitância dos juros cobrados, por órgãos financiadores internacionais das nações em desenvolvimento. Assegurou: “Sem maior participação dos países em desenvolvimento na direção do FMI e do Banco Mundial não haverá mudança efetiva.”

Chamou a atenção para um contraste assustador na esfera econômica. Enquanto 155 milhões de pessoas ao redor do mundo passam fome, as 150 maiores corporações obtiveram lucro de 1,8 trilhões de dólares e a fortuna dos 5 principais trilhonários mais que dobrou. Arrematou: “a fome não é resultado apenas de fatores externos. Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficientes para erradicá-la.” Uma fala, sem dúvida, lúcida e oportuna.

A fala do Presidente na ONU



 

*Cesar Vanucci

“Ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino” (Presidente Lula da Silva)

 

Pronunciamento condizente com a grandeza do ato e respeitabilidade da tribuna. Mesmo entre cidadãos que nutram fortes restrições à atuação do Presidente não deixarão de ser ouvidas, por certo, muitas vozes de concordâncias alusivas aos palpitantes temas por ele enfocados na fala proferida na abertura dos trabalhos da Assembleia Geral da ONU.

A defesa dos postulados democráticos, a relevância da questão climática, os lastimáveis conflitos bélicos da atualidade e a política armamentista, a tragédia das desigualdades sociais e a fome, os riscos da Inteligência Artificial e a reformulação estrutural da ONU ganharam especial realce no aplaudido discurso. Reportando-se ao “Pacto para Futuro”, acertado pouco antes da cerimônia, Lula sublinhou: “Sua difícil aprovação demonstra o enfraquecimento de nossa capacidade coletiva de negociação e diálogo”. Reconheceu que “o paradoxo do nosso tempo: é andarmos em círculos entre compromissos possíveis que levam a resultados insuficientes.” Explicou que “Nem mesmo com a tragédia da COVID-19, fomos capazes de nos unir em torno de um Tratado sobre Pandemias na OMS.” Conclamou: “Precisamos ir muito além e dotar a ONU dos meios necessários para enfrentar as mudanças vertiginosas do panorama internacional.” Defendeu a reformulação do processo operacional da ONU, postulando, como já feito em outras ocasiões, a presença de representantes da America Latina e da África, em caráter permanente, no Conselho de Segurança. Lamentou ainda o fato de que, tantos anos transcorridos desde os começos da instituição, jamais uma mulher teve o nome lembrado para ocupar o cargo de Secretário Geral.

Acerca das disputas geopolíticas, o Presidente afirmou: “2023 ostenta o triste recorde do maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial.” Aduziu: “Os gastos militares globais cresceram pelo nono ano consecutivo e atingiram 2,4 trilhões de dólares”. Expressou indignação diante da alarmante constatação de que 90 bilhões de dólares foram aplicados em arsenais nucleares. Tal importância – conforme asseverou - poderia ter sido utilizada para o combate a fome e enfrentamento das mudanças climáticas.

Lula pregou o diálogo como a única forma possível de resolver pendências entre Nações. Lembrando, o cenário de horror que se descortina em Gaza, criticou a circunstancia de que um conflito iniciado como “ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino”. Condenou as guerras da Ucrânia, Sudão, Iêmen e demais contendas que enchem a humanidade de sobressalto. Acentuou que em numerosos casos, o direito de defesa transformou-se no “direito” de vingança, que impede um o cessar-fogo almejado pela sociedade humana.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

Pandemia das queimadas.

 

 

                                                         *Cesar Vanucci

“Pegando vários biomas ao mesmo tempo, é a primeira vez que acontece” (Ane Alencar, diretora do IPAM)

 

Anos a fio, cientistas e ambientalistas advertiram o mundo para o que estava prestes a acontecer em matéria de mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global. Foram chamados pejorativamente de “profetas do apocalipse” por aguerrida e desinformada militância fundamentalista. Os negacionistas valeram-se de versões da “teoria da conspiração” para toscas argumentações sobre a questão.

 Entre os numerosos setores que deram ouvidos aos avisos houve, no entanto, quem de reta intenção, não soubesse precaver-se contra as enrascadas climáticas que se avizinhavam. Caso sem tirar nem por, do Brasil. Nosso país, pego desprevenido pela pandemia de incêndios florestais ilustra bem a situação.

  A grande arregimentação de recursos humanos, técnicos e financeiros para o enfrentamento das galopantes queimadas em curso bem que poderia ter sido processada algum bom tempo atrás.

A formidanda encrenca climática é um desafio a ser enfrentado com vigor pelas forças vivas da Nação. Mais de 70% de nosso território continental está sendo afetado por forte estiagem que seca rios e chamas que destroem biomas riquíssimos, propriedades valiosas, empestam sagrados ambientes ecológicos, poluem cidades.  E o que não dizer dos danos severos que a fumaça toxica causa aos organismos vivos, molestando a saúde humana e fazendo crescer filas nas emergências médicas? Todo esse somatório de eventos perturbadores, ocasionados por mais de 6 mil focos de incêndio, traduz  brutal pressão sobre os gastos públicos e privados.

 Cuidemos de ouvir explicações, pertinentes às queimadas, trazidas ao por renomada especialista em fogo, diretora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Ane Alencar: “O fogo foi potencializado por uma confluência de fatores que vão desde fenômenos como o segundo ano de El Niño, seguido de La Niña, passando pelo aquecimento global e a ação humana. Já tivemos secas muito fortes na Amazônia, em parte do Cerrado, na região central, mas pegando vários biomas ao mesmo tempo, é a primeira vez. É quase uma tempestade perfeita, onde o clima é motor para propagar o fogo que ocorre a partir das queimadas. Para que haja fogo, tem que ter faísca, é essa primeira fonte de ignição, e ela é iniciada pelo ser humano.”

Não é só o Brasil que arde em chamas. Outras partes da aldeia global vivem drama assemelhado. Espera-se, no caso brasileiro, que as autoridades competentes divulguem logo os resultados dos inquéritos referentes a ações incendiárias de cunho doloso ou não. Por derradeiro, registro indispensável. O Poder Judiciário pediu urgência no enfrentamento do problema; o governo, com algum atraso anunciou plano emergência; o congresso, enquanto isso, debate questões bizantinas. É fogo!

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

A causa é a nossa casa

 



 

*Cesar Vanucci

“.O meio ambiente é a herança de nossos filhos, não uma propriedade de nossos pais.”

( Provérbio africano)

 

As mudanças climáticas extremas chegaram mais cedo do que se supunha. Fizeram-se amarga realidade. As tormentas e inundações no Rio Grande do Sul, somadas agora às secas causticantes e à pandemia de incêndios florestais irrompidas na paisagem brasileira devem ser vistas, com temores como advento daquilo que muitos denominam o “novo normal”. Noutras palavras: vêm vindo aí mais cataclismas. Todas as instituições precisam se aparelhar para enfrentá-los.

Todas as paragens deste nosso belo planeta azul, tão maltratado pelo desmazelo de seus povoadores, registram na hora presente diversificadas ocorrências climáticas que colocam em risco as pessoas e seus pertences, ou seja, ameaçam seriamente a vida humana e nossas conquistas.

Estiagens prolongadas, ondas de calor, queimadas intensas, umidade do ar abaixo de padrões toleráveis, inundações, violentas tempestades, têm causado situações de feroz dramaticidade. Vamos buscar na África, esquecida dos homens e, às vezes, até dos próprios deuses de sua devoção religiosa, um exemplo bastante cruel do que vem ocorrendo numa área territorial atingida em cheio pela inclemência das variações climáticas. A opinião pública mundial, tomou ciência, estarrecida, de que num país localizado no sudeste do continente, já açoitado por problemas sociais, políticos e econômicos, por conta das intempéries climáticas, a fome atingiu grau inimaginável de degradação. Faltando cereais nos armazéns, produtos vegetais nas feiras e mercados, as autoridades ordenaram fosse colocado em execução um esquema de abate indiscriminado de animais selvagens, elefantes, leões, tigres, crocodilos, girafas e assim por diante para distribuição de postas de carne à população faminta. Escusado registrar a contribuição significativa do fator desigualdade social, sempre imperante na distribuição das riquezas provenientes do laboro humano, para a deplorável circunstância relatada.

As anomalias climáticas observadas na geografia brasileira apontam aspectos merecedores de atenção especial. Um deles é o fato de as queimadas eclodirem ao mesmo tempo em todos os biomas. Isso aconteceu pela primeira vez. Por outro lado, revelam-se fortes as evidencias de que, em alguns lugares, os focos de incêndio surgiram em razão de ato criminoso deliberado, o que carece ser devidamente explicado à sociedade.

O desafio está posto. O enfrentamento é tarefa de todos. As chamas e as águas revoltas não fazem distinção política, ideológica, religiosa ou social.

As mudanças, induzidas pelo desvario humano, provocam impactos devastadores na saúde, na segurança alimentar, na segurança energética e no desenvolvimento econômico. A gravidade do problema, repita-se, convoca todos nós, independentemente de quaisquer conveniências, a unir  esforços, nossos talentos, nossa disposição de luta em prol de uma causa comum. Nossa casa.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

Anseio global: apagar as chamas



 

                                                                 *Cesar Vanucci

 

“Deixem o mato crescer em paz. Não quero fogo, quero água” (Tom Jobim, numa de suas belas canções)

 

 Deixem o mato crescer em paz. Seja silenciado o rangido azucrinante da motocerra clandestina responsável pelo pranto condoído da floresta. Seja enfrentada, com disposição resoluta, a baita enrascada climática que nos coloca em estado de sufoco. Seja contido o desmazelo no manejo da terra. Sejam refreadas as apropriações e descaracterizações criminosas de áreas pertencentes ao patrimônio coletivo. Sejam igualmente sofreados quaisquer outros insanos delitos flagrados na lida humana com o meio ambiente.

 A hora pede reflexão, meditação, união e pronta ação e, se não for pedir demais, muita oração mesmo. As amostras já trazidas nesta antecipação de agora dos efeitos extremos do aquecimento global são muitíssimo impactantes. Mas, é bom não nos esquecermos das previsões científicas, bastante confiáveis, segundo as quais poderemos nos ver compelidos a confrontar situações ainda mais dramáticas.

Alerta da ONU fala da ameaça próxima de uma elevação de meio metro das águas do mar. Em suma, uma tragédia de conotação diluviana para várias regiões de nosso maltratado planeta. Trechos praieiros habitados na rota das ondas bravias serão fatalmente atingidos. Reforçando o alerta  chegam  ao conhecimento dos especialistas relatos preocupantes dos degelos no Ártico e  na Antártida. Tudo isso advém do aquecimento global, das ondas de calor, do efeito estufa, ou que outra denominação comporte essa associação fatídica de fogo e água em demasia.

A questão climática visto está é de interesse global, todos os países do mundo precisam se conscientizar dos riscos cataclísmicos que nos espreitam.

 Reportando-nos às circunstâncias brasileiras neste enredo  desassossegante, cabe assinalar que, mesmo com certo atraso, passível de crítica, as autoridades competentes já anunciaram uma sequência de medidas para o enfrentamento dos desafios da hora. A criação de uma estrutura de serviços encabeçada por  “Autoridade Climática”, para acudir com presteza e eficiência as emergências ditadas pelo “ novo normal climático”, foi recebida com simpatia pela opinião pública. A proposta de enrijecimento da legislação que estipula penalidades pra crimes ambientais, a ser apreciada pelo Congresso, precisa tornar-se poderoso fator de dissuasão das solertes manobras perpetradas por indivíduos inescrupulosos para os quais pouco importa a integridade de nossos biomas florestais.

Outra coia a mais: ao fim e ao cabo das investigações pertinentes aos incêndios por ventura provocados com inequívoco propósito criminoso, a lista dos malfeitores (e de eventuais mandantes) deverá ser “afixada”, com máximo destaque, em veículos de comunicação de maneira a dizer, alto e bom som, que a tolerância da sociedade para ato desse gênero é zero.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Um autêntico humanista

 



*Cesar Vanucci

Colaborar é muito mais inteligente que competir.

(Maurício Roscoe, no livro “A Evolução Humana”)

 

As fileiras dos homens de bem, imprescindíveis no processo da construção humana, viram-se desfalcadas com a saída de cena de Maurício Roscoe. Ele partiu primeiro, como no dito lírico de Camões, em meio a imenso pesar dos parentes e da legião de amigos que em seus gestos cativantes e posicionamentos de vida sempre o identificaram como personagem de incomum sabedoria e sensibilidade social.

Chefe de família exemplar, engenheiro respeitado, empresário vitorioso, líder classista de ideias arejadas, deixou bem visíveis, em todas as áreas de sua febricitante atuação, marcas vigorosas de conduta ética e profissional irrepreensível. A empresa que criou e conduziu por muitos anos,

M. ROSCOE, dedicada ao setor da construção civil, tornou-se símbolo de empreendimentos relevantes na paisagem industrial e arquitetônica.

Maurício foi vice-presidente da Federação das Indústrias MG, presidiu o Sindicato da Construção Civil, Câmara Brasileira da Indústria da Construção e União Brasileira da Qualidade. Fez parte dos conselhos da Fundação Cristiano Otoni - Escola de Engenharia UFMG, Sociedade Mineira de Engenheiros, SENAI, PUC-MG e Fundação Dom Cabral, mostrando-se criativo e operoso em todas as funções ocupadas.

Puxando pela memória, lembramo-nos de um momento especial em nossa fraternal convivência. Foi quando, na gestão do saudoso José Alencar Gomes da Silva na FIEMG, o SESI Minas concebeu e lançou a famosa “Ação Global”, que contou com a preciosa parceria da Rede Globo, levada a todos os Estados da Federação. Maurício Roscoe fez questão de procurar a coordenação da “Ação Global” para falar de seu entusiasmo e oferecer seus préstimos.

Tivéssemos que resumir numa única frase a personalidade do homem de bem que nos deixou, diríamos assim: Um autêntico humanista! É o que está exuberantemente demonstrado nos livros que escreveu onde semeou fecundas ideias. Cuidemos de ouvi-lo: “ Colaborar é muito mais inteligente que competir. / O uso descontrolado de recursos naturais, a obsessão pelo crescimento a qualquer custo, a inquietude, a fome, a falta de acesso à saúde e à educação, não podem mais ser considerados normais./ Se buscarmos a causa raiz de todos esses problemas, veremos que tudo se resume à perspectiva fragmentada que as pessoas têm do mundo que nos rodeia./ Vivemos em uma sociedade em que cada pessoa e cada grupo procura atingir os seus objetivos e interesses, sem uma visão do todo ou uma estratégia de longo prazo sustentável./Em uma sociedade não evoluída, cada cego defenderia a sua opinião veementemente e eles, provavelmente, nunca chegariam a um consenso”

A respeito do grande líder empresarial, merece ser ainda anotada, a manifestação da FIEMG ao proclamar que Maurício, fonte perene de inspiração, “Foi um verdadeiro pilar da nossa sociedade.”

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

É preciso cantar e alegrar

 



 

*Cesar Vanucci

A música é barulho que pensa” (Victor Hugo)

 

Contando, em confiança, com a aquiescência do distinto e culto leitorado,  ocupo hoje este impoluto espaço, habitualmente utilizado para elucubrações sobre lances sociais, econômicos e políticos da tumultuada aventura da vida, com  registro de deleite exclusivamente musical. Trata-se de pausa convidativa que possa distanciar-nos, por breves instantes, das agruras trazidas pelo noticiário nosso de cada dia.

Sempre solícita e imperturbável diante do alvoroço do ambiente caseiro, a infatigável Alexa botou, a pedido, a vitrola da Amazon  pra tocar músicas do alentado repertorio de Sarah Vaughan. “Santo Deus, mas o que é isso!?” A exclamação, de incontido entusiasmo, saltou espontaneamente da garganta aos primeiros sons emitidos pela genial interprete. Seja ressaltado que, anos atrás, experimentei sensação assemelhada ao ouvir, pela vez primeira, uma gravação de Yma Sumac, prodigiosa cantora peruana por muitos apontada como suprema medalhista de ouro no pódio da música lírica.

Voltando a Sarah. Toda  manhã de um domingo foi tomada por terna e extasiante ligação - dir-se-á mágico - do ouvinte com a sequência melodiosa saída da engenhoca eletrônica que reproduzia a voz da maravilhosa cantora. Falemos dela. Nascida em 1924, “partindo primeiro” em 1990, Sarah Vaughan foi um dos fenômenos vocais mais extraordinários da historia da arte. Sua voz caracterizava-se pela tonalidade grave, por enorme versatilidade e seu controle das ondulações entre o grave e o agudo. Conquistou os principais troféus e honrarias reservados à elite da vida musical. Segundo os especialistas, possuía ouvido excepcional para a estrutura harmônica das canções, o que lhe permitia mudar ou modular a melodia como se fosse um instrumento executado com mestria.

Falemos agora do repertorio da fabulosa interprete. Na “audição dominical” a que faço referencia acima, desfrutei do privilegio de ouvir Sarah interpretando alguns dos mais belos melódicos americanos, vários deles transpostos para trilhas sonoras de filmes inesquecíveis produzidos por Hollywood em seus anos dourados. Mas a parte mais arrebatante do “recital eletrônico” consistiu nas faixas referentes à nossa MPB.  

Sarah foi, certamente, a cantora estrangeira mais apaixonada por música brasileira. O seu fascínio pelas composições nascidas da arte e engenho de autores nacionais, levou-a a gravar três álbuns inteiramente dedicados aos nossos ritmos. Fazem parte dessa magistral coletânea autores que frequentam a predileção das plateias, como Tom Jobim, Cayme, Vinicius, Chico Buarque, Milton Nascimento, Marcos Valle, Ivan Lins, entre outros. O resultado dessa fusão de talentos, que incorporou ainda a participação, no apoio vocal de interpretes brasileiros consagrados, foi um trabalho artístico impecavelmente elaborado, que consegue mostrar em inglês a sutiliza e encanto da música popular brasileira.

Bem, no mais, é como diz a canção de Carlos Lyra: “No entanto, é preciso cantar e alegrar...”.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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Na França deu xadrez

 


                                             *Cesar Vanucci

O mundo não é obrigado a aguentar o vale tudo de Elon Musk”. (Presidente Lula)

 

Pavel Durov, dirigente do Telegram, êmulo de Elon Musk nos domínios da comunicação digital, entendeu de desafiar as leis da França, tal qual vem fazendo com relação ao Brasil o dirigente do X. A consequência do inadmissível procedimento foi uma ordem judicial de prisão. Para evitar o desconforto de uma cela em xadrez de Paris, o dito cujo se viu forçado a desembolsar (em euros) a bagatela de 150 milhões de reais de modo a que a punição pudesse ser convertida em reclusão domiciliar, com a obrigação expressa de se apresentar duas vezes por semana ao juizado que acompanha o caso. Entre as vozes que se ergueram protestando contra a decisão do judiciário francês, alegando que a liberdade de expressão estava sendo violentada, duas delas chamaram de modo especial as atenções da mídia e observadores políticos. Adivinhem quem? Vladimir Putin, presidente da Rússia e Elon Musk.

O Telegram muito popular na Rússia, já teve sua ação suspensa no Brasil por descumprimento de dispositivos da nossa legislação. Foi flagrado, a exemplo do antigo Twitter, veiculando propaganda hostil aos valores democráticos, de conteúdos nazistas, racistas e fake news. A propósito, teve sua atuação suspensa noutros países, inclusive na Rússia onde já voltou a operar normalmente.

Os fatos reportados conferem à momentosa questão dos abusos praticados por plataformas digitais, notadamente o X na atualidade brasileira, uma dimensão que extrapola a visão acanhada da minoria de políticos fundamentalistas engajados no esforço de propagar a errônea ideia de que o STF porta-se como algoz do santo e benemérito magnata Elon Musk...

Os países democráticos, desafiados pelas Big Techs vêm estabelecendo normas de regulamentação em suas operações.

Cabe, agora, trazer ao conhecimento de quem ainda não sabe outras “proezas” dignas de nota perpetradas pelo cidadão mencionado. Nos Estados Unidos, onde vive, Musk aliou-se politicamente, no passado, com os democratas. No governo Barack Obama ganhou polpudos incentivos financeiros para expandir seus negócios. Trabalhou ativamente pela eleição de Joe Biden, contrapondo-se a Donald Tramp, a quem acusou de fascista. Sua militância como politiqueiro barato levou-o, mais recentemente a “virar a casaca”. Tornou-se aliado de Tramp na corrida presidencial, abrindo fogo cerrado, em sua plataforma digital contra Kamala Harris e seu vice, Tim Walz, aos quais acusa de estarem a serviço do comunismo. Ainda outro dia, num arrobo retórico que suscitou, no meio jornalístico, questionamentos sobre sua saúde mental, andou dizendo que a candidata democrata a Casa Branca vem insuflando o STF e o Ministro Alexandre de Moraes no imbróglio presentemente relatado nas manchetes.  

 É de irritante visibilidade o empenho do insolente magnata de interferir no processo político brasileiro.

 

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

 

A insolência do magnata

 


 

 

                       *Cesar Vanucci

A liberdade de expressão não pode ser utilizada como escudo para atividades ilícitas”. (Ministro, Alexandre de Moraes)

 

Acontece que: 1. O Brasil é uma democracia pujante com instituições republicanas consolidadas; 2. Os brasileiros ufanam-se desta invejável condição, abominando toda manifestação que encerre propósito de alvejar os valores pátrios; 3. Nenhum magnata dono de plataforma digital é ungido, pelos deuses do Olimpo, como ente supranacional com poderes de ditar regras a Estados soberanos, recusando-se a cumprir suas leis; 4. O território sagrado de uma Nação não é “casa de |Mãe Joana”; 5. Instrumento criado com o nobilitante objetivo de promover o bem estar social, a internet não pode tornar-se uma “terra de ninguém”.

 Em assim sendo, não há como justificar o comportamento acintoso, com laivos terroristas, do politiqueiro Elon Musk, proprietário de conglomerado multinacional que inclui a rede social X. Chamado pertinentemente às falas pelo Supremo, o birrento e insolente empresário resolveu desafiar a Corte e, via de consequência, os Poderes constituídos da Nação. Negou-se, com  desfaçatez, lançando no ar impropérios contra figuras representativas de nossa vida pública, a banir de sua plataforma ataques raivosos ao regime democrático. A ação corrosiva condenada pela lei e repelida pela consciência popular, diz respeito a propaganda de ódio, de feição racista, misógina, nazista, pedófila e assim vai. O argumento farisaico usado é de que sua atitude se inspira – vejam só a audácia – na “liberdade de expressão”.

Agravando – e muito – a inaceitável postura, ordenou o fechamento do escritório de representação do X em nosso território. Como todo mundo está calvo de saber, em nenhuma parte de nossa aldeia global uma empresa pode executar suas operações sem representação legal com endereço e CNPJ. Esgotadas as tentativas de dissuadi-lo da maluquice trombeteada, o judiciário, como é de seu indeclinável dever, determinou a suspensão das atividades do antigo Twitter, até que a designação de representante oficial da empresa seja efetivada. Nesse meio tempo, ganhando ressonância mundial, a questão passou a envolver também outra empresa do grupo comandada pelo magnata. A primeira reação dessa outra empresa foi de embarcar na palhaçada da desobediência, mas acabou por reconhecer que o recuo era o melhor a ser feito, com o deslocamento das divergências legais para um ambiente próprio, ou seja, a Corte, onde são tomadas decisões judiciais.

As encrencas protagonizadas por Elon não se cingem ao Brasil. No Reino Unido, Austrália, França, Índia e Turquia ele andou comprando briga, mas acabou voltando atrás. Na Arábia Saudita e na China o X é impedido de operar, mas ele não dá um pio, finge-se de morto, para não “atrapalhar” outros rendosos negócios.

A flamejante contenda comporta, obviamente, desdobramentos, ficando claro, todavia, que a posição adotada pelo Poder Judiciário acha-se ancorada em princípios legais legítimos.

                               Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

A SAGA LANDELL MOURA

Eleições, primeiro turno.

*Cesar Vanucci “A eficiência da Justiça Eleitoral permitiu que o brasileiro fosse dormir no domingo já sabedor dos nomes dos eleitos.” (...