quinta-feira, 13 de março de 2025

Tempos inquietantes

 



*Cesar Vanucci

                                   “Acho que vamos obtê-la ”(Trump, aludindo à Groenlândia)

 

Tempos confusos e inquietantes. As conversações entre Nações, habitualmente transcorridas de forma solene e regidas por protocolos diplomáticos, cedem lugar a enfezados bate-bocas, transmitidos ao vivo e a cores. Ou, então, são substituídas por recados curtos e grossos, cheios de azedume, postados em redes sociais.

O Presidente Donald Trump e seu vice J.D Vance armaram emboscada para Zelensky, Chefe do governo ucraniano. Atraíram-no ao famoso Salão Oval da Casa Branca com o fito de aplicar-lhe senhora descompostura. A humilhação foi vista com perplexidade por milhões de pessoas, em todos os continentes. O que se exigiu da Ucrânia foi rendição incondicional, com a entrega aos invasores russos das províncias ocupadas. Além disso, a título de compensação pela “ajuda” em armamentos utilizados na defesa do país, a sessão para exploração pelos Estados Unidos das jazidas minerais raras existentes em seu subsolo.

Quase que ao mesmo tempo, em discurso proferido no Legislativo estadunidense, o incorrigível Trump reafirmou sua disposição, de ocupar a Groenlândia, “de um jeito ou de outro”. Reiterou, igualmente, a intenção de tomar o Canal do Panamá. Paralelamente à primeira visita oficial que fez ao Congresso, onde foi recebido com aplausos dos partidários e apupos dos adversários, Trump ordenou aos delegados de Washington na ONU que votassem contrariamente – ora, veja, pois! - a uma moção, aprovada pela maioria da Assembleia, condenando a Rússia pela invasão da Ucrânia. O voto dos EUA foi acompanhado apenas pelas delegações da Coreia do Norte, Cuba, Venezuela, Iran e Nicarágua.

 Noutra vertente das estapafúrdias decisões que vem tomando, Trump tem deixado explicito, com “a guerra fiscal” deflagrada, o propósito de fomentar uma nova ordem econômica mundial, mesmo que isso implique numa recessão global.  Fora e dentro dos Estados Unidos avolumam-se reações e discordâncias quanto aos seus posicionamentos. Os países europeus, reafirmando apoio incondicional à Ucrânia invadida, anunciaram um projeto extraordinário de fortalecimento armamentista com custos equivalentes a 1/3 do PIB brasileiro, soma fabulosa em “tempos de paz”. A China, sobretaxando produtos estadunidenses em resposta á política tarifaria de Washington, declarou-se de forma rude, nada diplomática, “pronta” para “qualquer tipo de guerra”... No Canadá acumulam-se os protestos contra os atos e palavras do dirigente estadunidense. Trump costuma chamar o 1° Ministro do país irmão de “governador”, em alusão à descabida pretensão de anexar o Canadá. Pesquisa, nos EUA sobre os primeiros 50 dias do Governo apontou índice de desaprovação a Trump  superior ao de aprovação, o que não é de se espantar. Uma coisa é certa: a confusão não vai parar por aqui.

      Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

segunda-feira, 10 de março de 2025

“Ainda estou aqui” chegou lá.

 



O filme é a Eunice Paiva (Fernanda Torres)

 

O Brasil da amorosidade, da sensibilidade social e da vocação democrática apostou na premiação todas as fichas de sua inesgotável esperança. Deu certo. O “Ainda estou aqui” chegou lá. O cobiçado Oscar, como melhor filme estrangeiro, juntou-se a outros reluzentes troféus já conquistados pelo esplêndido filme de Walter Salles em outros famosos centros mundiais da consagração cinematográfica. Entre eles “O Globo de Ouro” de melhor atriz arrebatado pela magnífica Fernanda Torres.

Marco épico no plano artístico cultural, o filme tornou-se também referência histórica maiúscula na vida política e democrática brasileira. A mensagem poderosa que dele deflui é de clareza solar: “Ditadura nunca Mais!” Ganha sonoridade especial nos dias que correm, quando a Justiça se prepara, debaixo do olhar atento da Nação, para emitir  veredicto acerca  da participação da cúpula sediciosa na trama que colocou sob risco as sagradas instituições democráticas e republicanas.

A ovação popular que se seguiu, de norte a sul, de leste a oeste do país, à proclamação em Hollywood do premio atribuído, pela vez primeira a uma obra de arte fílmica, inspirada em historia real narrada num livro brasileiro, protagonizada e dirigida por brasileiros e falada em nosso idioma foi de deslumbramento indescritível. A maior festa das ruas em todo o mundo, ou seja, o carnaval brasileiro elevou ao zênite o entusiasmo das pessoas já envolvidas, solidariamente nos frenéticos folguedos. A vibração alcançou também os que solitariamente optaram pelo recolhimento durante o período momesco. Alguns poucos elementos da atividade política preferiram guardar silêncio envergonhado com relação ao grande feito cultural, fazendo prova com tal procedimento de indigência cívica e intelectual.

Aplaudido pela critica e pelo público em milhares de salas de projeção onde vem sendo exibido, em dezenas de países, o longa metragem ganhador da estatueta dourada é visto como uma saga dos tempos modernos, por onde se projeta o anseio generoso dos homens e mulheres de boa vontade, dos humanistas, dos democratas, em prol das liberdades e dos direitos fundamentais. O drama existencial vivido pela família Paiva, heroicamente conduzida por Eunice Paiva e contado no excelente livro escrito por Marcelo, filho do deputado “desaparecido”, ajuda a gente a entender o significado da celebre frase proferida pelo saudoso Ulysses Guimarães na promulgação da constituição que nos rege: “Eu tenho nojo da ditadura”.

Por derradeiro, aqui vai registro que soará, certeiramente, como novidade para grande maioria das pessoas. Há 80 anos, em 1945, nosso maior compositor musical, Ary Barroso, produziu “Brasil”, primeiro filme a concorrer ao Oscar.

 

 Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

O método Trump




 

                 “É loucura, mas há um método.” (Shakespeare).

 


Anos atrás, ainda no primeiro mandato, o órgão de classe dos psiquiatras, nos EUA emitiu parecer questionando a condição mental do Presidente. Seus ditos e feitos, monopolizando manchetes e produzindo tensões, contribuem em muito para que a opinião pública aceite como veraz o diagnóstico.

Atropelando leis, rasgando tratados, desfazendo regras instituídas ou estimuladas pelos próprios EUA, nas relações multilaterais Trump apresenta-se ao olhar mundial, de repente, como “providencial arauto” de “ideias novas”, todas resvalando o absurdo. Manifesta interesse em comprar a Groelândia, anexar o Canadá, tomar o Canal do Pananá, deportar 10 milhões de imigrantes, encarcerando parte deles em Guantanamo e em presídio de El Salvador. Não se dando por satisfeito, anuncia a retirada, na força bruta, se não puder ser “espontânea”, de 2 milhões de palestinos radicados nos escombros de Gaza, alojando-os na Jordânia e Egito, apesar, dos dois países se recusarem peremptoriamente, mesmo sob ameaças de represálias, a participar do medonho êxodo. Aponta duas alternativas como “solução” da questão do território palestino: a) transformar-se em Riviera do Oriente Médio; b) tornar-se uma sucursal do inferno. Diz isso sem atentar para as circunstâncias de que os palestinos já conhecem de sobra o que seja viver uma experiência infernal. Deixa expresso que o território pertencente aos palestinos não será comprado, mas sim tomado na marra.

As manifestações de desagrado pelo que está rolando avolumam-se. Além obviamente dos ruídos produzidos nos circuitos diplomáticos, vêm ocorrendo outras reações, até outro dia impensáveis, em ambientes que sempre mostraram receptividade simpática ao povo, cultura e costumes estadunidenses. Caso, por exemplo, dos canadenses, que pregam boicote aos produtos do vizinho país e substituem aplausos por vaias, em competições esportivas quando o hino dos Estados Unidos é executado.

E o que não dizer da onda de questionamentos levados à apreciação da justiça por cidadãos e organizações de seu próprio país?  

Desrespeitando acordos comerciais de longa data consolidados, desestabilizando a Organização Mundial do Comércio (OMC), os gravames fiscais impostos a fornecedores de produtos carreados ao mercado de consumo de seu país, as políticas de comércio exterior colocadas em prática pelo ocupante da Casa Branca afetam o Brasil, como de resto, praticamente todos os países que fazem parte do sistema de intercâmbio negocial.

Analistas da conjuntura mundial apontam como fatores influenciáveis das decisões criticadas, o chauvinismo medular presente na orientação politica do presidente e as circunstâncias da China haver atingido superávit recorde de quase 1 trilhão de dólares na balança comercial, enquanto os Estados Unidos amargaram déficit quase equivalente em suas transações comerciais.

Jornalista Cesar Vanucci

 

Estarrecimento e indignação

 

  “Vejo o inquérito da trama golpista como um dos mais graves da história da Corte”

(Ministro Gilmar Mendes.)  ]



 

O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro declarou-se “estarrecido” e “indignado” com as acusações feitas pela Procuradoria Geral da Republica apontando-o como chefão das articulações do grupo engajado na trama golpista. As expressões utilizadas são exatamente - por sinal as mais brandas - empregadas nas ruas e lares como tradução do sentimento nacional, diante da nefanda tentativa de ruptura democrática capitaneada pelo ex-chefe do governo.

O descomunal conjunto de provas coletadas pela Policia Federal e já apreciadas no âmbito da PGR configuram, sem a mais pálida sombra de dúvida, uma ação premeditada, calculada em todas assustadoras minudencias, com o inequívoco intuito de profanar a legitimidade de uma eleição democrática e mergulhar o país nas trevas do autoritarismo.

A delação do ajudante de ordens, os categóricos depoimentos dos comandantes do Exercito e Força Aérea, os vídeos, os áudios, as mensagens e diálogos resgatados dos celulares apreendidos, as reuniões gravadas, as minutas de atos executivos instaurando o caos  e por aí vai, tudo no processo deixa à mostra com clareza solar as digitais e as pegadas dos integrantes do clã Palaciano, na torpe arregimentação sediciosa.   

No arrazoado do Procurador Geral incriminando Bolsonaro e outras trinta e três pessoas, entre elas Braga Neto, Vice na chapa derrotada em 2022, são acusados pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e formação de quadrilha.  Outra acusação grave imputado ao ex-presidente e companheiros diz respeito ao monitoramento do Presidente Lula, Vice-Presidente Alckmin e Ministro Alexandre de Moraes, do STF, dentro de um plano diabólico, denominado “Punhal verde amarelo” que tinha sob mira o assassinato de todos eles.

A alentada peça acusatória revela como se processou, passo a passo, ao longo de vários meses, o encadeamento dos episódios relevantes que compuseram o enredo do complô contra as instituições republicanas. Os dramáticos eventos do “8 de janeiro”, juntamente com as manifestações nas imediações dos quartéis, arruaças e atentados em Brasília, obstrução de rodovias, agressões e intimidações via internet e outros meios constituíram  lances perturbadores orquestrados pelo ativo núcleo operacional comprometido com a derrubada do regime. O importante papel desempenhado pelo autocomando Militar na conjuntura política da época é ressaltado pela PGR e PF como fundamental no sentido da abortagem da sinistra conspiração que se achava em andamento.

 

Caberá agora ao STF avaliar e julgar os fatos. A Democracia sai fortalecida desta história. O sentimento Nacional repele toda e qualquer ameaça contra os direitos fundamentais.

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Mundo de pernas para o ar

  

. “Eu comprei este carro antes de Elon Musk enlouquecer” (Proprietários de veículos da Tesla na Alemanha)

 




O repertorio de “novidades impactantes” de Trump é mesmo inesgotável. Cá estão algumas das mais recentes.  

O Presidente conduziu negociação com o “Tzar” Vladmir Putin dizendo que iria por fim na guerra da Ucrânia. Desprezou velhos aliados da OTAN, bem como o dirigente ucraniano Zelensky, o que causou estupefação nos círculos diplomáticos e no seio da opinião pública internacional. O surpreendente gesto de aproximação com o Presidente russo foi acompanhado do levantamento de sanções impostas pelos EUA a Moscou em razão da tão criticada invasão. A incontinência verbal e arrogância imperial de Trump levaram-no a dizer – vejam só! - que Zelensky provocou o conflito e não passa de um político irrelevante, ditador refratário a eleições. A situação fica mais atordoante quando se toma ciência de que o “acordo”, à revelia dos ucranianos e dos europeus prevê a posse pela Rússia das terras ocupadas na marra. Isto corresponde a quase 25 por cento da área total do país invadido. Tem mais; Trump mandou dizer ao presidente da Ucrânia que aceite os termos ou se prepare para perder o país. Por incrível que pareça, foi ainda mais longe: exige do governo de Kiev, como compensação pelo “acordo de paz” proposto, nada mais, nada menos que a outorga do direito de exploração de suas jazidas minerais raras pelos EUA. Emprega outro “argumento poderoso” mirando as riquezas do subsolo ucraniano: a ajuda de quase 200 bilhões de dólares destinada durante o governo Biden ao esforço de guerra do governo da Ucrânia.

Na data que marcou o terceiro ano da presença das tropas Russas no território vizinho, Zelensky declarou que estaria disposto a deixar o cargo, desde que fosse assegurada a entrada de seu país na OTAN. A Casa Branca discorda da proposta. Quer na realidade a rendição incondicional da nação agredida.

 Noutra frente da turbilhonante atuação do Governo Trump, seu vice J.D. Vance, em giro recente por países europeus, criticou causticamente os aliados do “Velho Mundo” pela atitude de isolarem o partido extremista alemão que tenta ressuscitar teorias nazistas. Foi rebatido veementemente pelas lideranças europeias. O gesto do vice coincidiu com duas outras manifestações chocantes, condenadas pelas mesmas lideranças e por democratas nos Estados Unidos e outras partes do mundo. Assessor de Donald Trump, num encontro de dirigentes ultraconservadores ergueu o braço duas vezes em inequívoca saudação hitlerista. Elon Musk, a seu turno, apoiou abertamente a campanha dos extremistas alemães, no pleito recém-findo. Por tal motivo, nas ruas das cidades alemãs carros da marca Tesla circulam com dísticos afixados nos para-brisas contendo os seguintes dizeres: “Eu comprei antes de Musk enlouquecer.” O mundo está mesmo de pernas pro ar. E vem mais coisa por aí...

Jornalista (cantonius1@yahho.com.br)

Pororoca de atos despropositados

 


“Conversando é que a gente se entende.” (Ditado popular).

Trump foi eleito presidente, não Imperador.

Podendo muito, não pode, todavia, tudo. Não pode se arvorar de poderes imperiais na condução dos negócios da grande nação, potência democrática, política e econômica universalmente admirada. A pororoca de decisões tomadas, abalando a convivência entre países, alterando abruptamente regras consolidadas nas relações diplomáticas, vem produzindo desassossego em demasia. A ordem institucional na cena mundial carece ser aprimorada, não debilitada. O momento recomenda diálogos, não monólogos. Conversando é que a gente se entende.

Do volumoso conjunto de ações causadoras de espanto, observadas nos domínios da Casa Branca destacamos aqui mais este fato. A “revista Time” estampou na capa Elon Musk sentado na mesa presidencial do salão oval, insinuando que o magnata compartilha o poder com Trump. Elon comentou, pateticamente, que “amo Donald tanto quanto um heterosexual consegue amar outro homem”.

Enquanto isso aviões despejam deportados em Guantanamo, temível ilha presídio localizada em Cuba, administrada pelos EUA.

Acredite, se quiser.

A sensação de muita gente é de que o mundo está de pernas pro ar. Coisas estranhas continuam pintando no pedaço, como se costuma dizer no tagarelar das ruas. Reunimos abaixo “quentes” amostras.

1 - Autoridades do setor de saúde investigam um hospital de São Paulo voltado para assistência filantrópica, devido à denúncia de que estão sendo utilizadas ali, em intervenções ortopédicas, “furadeiras domésticas”. A chocante revelação não esclarece se, além da “furadeira”, os profissionais de saúde do estabelecimento não estariam empregando também, nos procedimentos, martelos, pregos e serrotes...

2 – Dona de casa, no café matinal servido a familiares, encontrou na massa do pão de forma uma bala de fuzil. Narrando o sucedido para um grupo de conhecidos indagamos se eles saberiam apontar a cidade em que a insólita cena ocorreu. Todos, “sem titubeios,” responderam a uma só voz: - Rio de Janeiro!

3 - O grupo - tarefa coordenado pelo Ministério Publico e Corregedoria da Policia de São Paulo fez visita de surpresa ao presidio da Policia Civil do Estado, onde se acham recolhidos 100 elementos da chamada “Banda podre” da instituição. Na cela de dois agentes acusados de envolvimento na cilada que assassinou, no aeroporto de Guarulhos, o delator das tramas criminosas do PCC, deparou-se com duas dezenas de celulares, além de sofisticado aparato eletrônico para comunicações externas.

4 – Os integrantes do  Ministério Público de São Paulo acabam de ser contemplados com benefício especial que garante, a muitos deles, holerites complementares da ordem de Um milhão de reais. Essa grana toda, provém de “vantagens” auferidas com retroatividade à década passada. A imprensa estima que o generoso “prêmio por serviços prestados”, favorecendo quase 2 mil servidores, possa alcançar a altitude "everestiana” de um bilhão.

Dá “procês”?

  Jornalista Cesar Vanucci

 

Conveniências geopolíticas equivocadas


“Trump pretende fazer de Gaza uma nova Riviera.” (Dos jornais)

Deu a louca nos domínios geopolíticos. A temporada de absurdidades instaurada com o retorno de Donald Trump ao poder ganha impetuosidade crescente, enchendo o mundo de temores.

Em recentes comentários já alinhamos alguns lances estapafúrdios, incluídos no rol das decisões adotadas pela Casa Branca. Acrescentamos, agora, outras medidas tão ou mais perturbadoras até, estridentemente anunciadas que estão causando compreensível sobressalto no seio da opinião pública. Recepcionando o primeiro Ministro de Israel Benjamin Netanyahu, Trump declarou-se propenso a ocupar Gaza, desalojando as multidões de palestinos que ali sobrevivem. A “limpeza” abrangeria o deslocamento da população para outras áreas, em outros países. A “luminosa” ideia foi compartilhada com entusiasmo pelo dirigente israelense, mas foi repelida com veemência em todas as partes do planeta, a começar pelos países árabes. Egito e Jordânia deram categórico “não” à proposição. A Arábia afirmou que não manterá relações diplomáticas com Israel caso a proposta vingue. Aditou ainda o propósito de só se aproximar de Telavive depois da implantação de um Estado da Palestina soberano em Gaza e Cisjordânia. A França, a Inglaterra e demais países europeus também registraram seu desacordo, sustentando que a propalada reconfiguração de Gaza equivale a uma diáspora incompatível com as leis internacionais e a Declaração dos direitos fundamentais da ONU.

Agravando ainda mais a situação o governo de Israel deixou claramente explicito que o melhor a fazer na crise do Oriente Médio é afastar de vez a ideia da criação do Estado da Palestina. É de se ver que tal posicionamento colide em cheio com o sentimento universal. O Estado da Palestina é apontado por todos, em todas as esferas do pensamento evoluído, como a solução ideal para se por fim aos conflitos ininterruptos que tantos males causam a israelenses, palestinos, libaneses, gente de outras nações que povoam o território sagrado em que se localiza a fonte matricial das correntes religiosas do Deus único. 

Descabida e inoportuna, a ideia de se fazer de uma Gaza esvaziada de palestinos uma nova Riviera, em razão das belezas naturais de sua orla marítima, não ajuda em nada a causa da paz. Muito antes, pelo contrário. O assunto suscita, como visto, discordância global. De outra parte, brotam da conjuntura nascida da manifestação do presidente do país mais poderoso do mundo, receios de que os esforços pela sensação de hostilidade em Gaza possam ser afetados. O desafogo pela trégua arduamente conquistada, o alívio pela libertação dos reféns, a esperança ardente, a partir daí, de uma paz definitiva favorecendo a convivência fraterna de judeus e palestinos não podem ser alvejados por conveniências geopolíticas equivocadas.

Jornalista Cesar Vanucci

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Hora do espanto e incertezas.


“Todo cuidado é pouco. Viver é coisa de louco” (verso de canção da MPB)

 

 A confusão é geral. No xadrez geopolítico, infinidade de lances desconcertantes provoca sustos e incertezas. O espanto se banaliza. São tantas as “teses novidadeiras”, brotadas do bestunto dos “donos do poder”, que o jeito, visando reduzir tensões, é cada qual esforçar-se ao máximo para não mais se espantar com coisa alguma.

Coletamos, na sequência, luzidia amostra dos insólitos acontecimentos que vêm rendendo manchetes à mancheia. Nos céus de Washington, avião de passageiros e helicóptero militar colidem, numa tragédia que ceifa dezenas de vidas preciosas. Em comentário a respeito do acidente, Donald Trump insinua que a pavorosa ocorrência foi causada pela política de diversidade de inclusão social do antigo governo... O magnata Elon Musk, na condição de assessor destacado da Casa Branca, anuncia a extinção do órgão encarregado de programas de ajuda humanitária no mundo todo. Acusou a agência, que agrupa milhares de servidores, de promover atos criminosos. Determinou ainda que a cede do órgão fosse interditada, com cordões de isolamento com vistas a impedir o ingresso dos funcionários. No capítulo das deportações indiscriminadas de imigrantes, famílias inteiras foram detidas pela polícia aduaneira, devido a circunstancia de se comunicarem em espanhol. No local da detenção descobriu-se que todos os cidadãos eram americanos de origem porto-riquenha. Crescem as ameaças e decisões do governo americano configurando guerra fiscal envolvendo parceiros comerciais próximos e distantes.  As medidas têm dado margem a reações vigorosas e confabulações diplomáticas de emergência, trazendo óbvias inquietações. O titular da pasta de saúde da administração Trump, filho de Robert Kennedy e sobrinho do Presidente John Kennedy, tornou-se conhecido pelas posturas negacionistas científicas. A impressa lembra sempre que ele se posiciona contra as vacinações, sustentando que o processo de imunização é fatal para o ser humano. Outro gesto de Trump de repercussão negativa mundial diz respeito ao corte de verbas para todas as agências governamentais envolvidas em políticas de integração social favorecendo minorias comunitárias. Releva anotar também a perseguição ostensiva aplicada a numerosos servidores do antigo governo, em razão de terem participado de processos movidos pela Justiça contra Trump, entre eles o da tentativa de golpe.

 A onda avassaladora de decisões estapafúrdias produziu contaminação na Casa Rosada em Buenos Aires. O notório Javier Milei comunicou à praça, todo solene, a construção de um muro de 200 metros na fronteira (com extensão de milhares de km) com a Bolívia, mode que impedir a entrada de imigrantes.

Ora, veja, pois!

                     Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

 

Os sinais da natureza não podem ser ignorados

 


*Cesar Vanucci

 A transição para energia limpa será mais difícil sem os EUA” (André Corrêa do Lago, presidente da COP30)

 

Na vida real Los Angeles transforma-se, de repente, num filme apocalíptico. A cidade dos estúdios, astros e estrelas, que se fez mundialmente conhecida como Meca do cinema, arde em chamas por causa de incêndios florestais incontroláveis.  Em Washington, por outro lado, o negacionismo oficial, reinstalado no poder, inflige contundentes revezes à Ciência e ao meio ambiente. O planeta enfrenta, atônito, os efeitos da era das mudanças climáticas extremas, ocasionadas pelo efeito estufa.

Noutras paragens deste mundo de Deus, onde o tinhoso costuma plantar perturbadores enclaves, a natureza continua a emitir sinais inquietantes, não poucas vezes desdenhosamente ignorados, por lideranças influentes que se deixaram dominar por cega e embriagadora autossuficiência. O negativismo derivado desses posicionamentos equivocados, altamente contagioso, retarda soluções e agrava os problemas que surgem de forma inesperada e intensa.

O verão brasileiro vem trazendo anomalias atmosféricas de toda ordem. Temporais devastadores, sucessivas ondas de calor, aponto de instaurar estado de emergência em centenas de municípios, com casos numerosos de morte e volume incomum de danos patrimoniais.  Grandes áreas urbanas, como sabido, têm sido castigadas pelas intempéries. Enquanto isso, seca inclemente atinge outras regiões de nosso território, provocando igualmente desastrosos resultados.

A conjuntura climática não é diferente em parte alguma da morada humana, seja nos 3\4 das águas oceânicas, seja no restante continental.tudo está em frenética ebulição, representando – como não se cansam de proclamar os cientistas – uma séria ameaça à sobrevivência dos seres vivos.  Dias atrás, por exemplo, desprendeu-se da calota polar antártica, colossal iceberg, de tamanho superior à superfície da cidade de São Paulo. Vagando sem rumo, despejando pelo caminho parte de seu conteúdo e elevando com isso o nível do mar, ele poderá vir a colidir com uma ilha na Geórgia do Sul, território britânico, refúgio de vida selvagem.  Algo parecido ocorreu, algum tempo atrás, com outra estrutura glacial nas mesmas circunstancias.

Todos esses registros carecem ser vistos sem intenção de trocadilho, como a ponta do iceberg de uma problemática angustiante em condições de influir nos rumos da nossa civilização.

A retirada do governo dos Estados Unidos do “Acordo de Paris” afetou, de certo modo a COP30, programada para novembro no Brasil. As decisões do conclave em Belém do Pará serão cruciais no tocante às salvaguardas que o mundo precisa adotar de maneira a responder adequadamente aos  dramáticos desafios impostos pela convulsão climática. É preciso usar criatividade para suprir o vazio da ausência estadunidense.

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Deportação em massa causa clamor.

 


 

*Cesar Vanucci

“A deportação indiscriminada atrita com direitos fundamentais.” (Domingos Justino)

 

A política de deportação em massa levada a cabo pelo governo dos EUA  está sendo enxergada, por muita gente dentro e fora do país, como ato de feição terrorista. Não padecem dúvidas quanto ao direito legítimo que todo país possui de banir, do seu território, estrangeiros que nele ingressem de forma ilegal. Mas, porém, contudo, todavia, o que está acontecendo, em escala descomedida, é coisa diferente. Extrapola limites do bom senso e dos ditames humanitários. Por tal motivo, o inconformismo diante das arbitrariedades praticadas eclode tanto no seio da sociedade estadunidense, quanto junto á opinião pública mundial.  Lideres e personagens engajadas, mundo afora, na defesa dos direitos fundamentais do ser humano compõem coral de vozes com criticas acerbas aos métodos utilizados na expatriação em marcha.

Imaginava-se, no começo de tudo, que o “bota fora” iria ser aplicado apenas aos que haviam entrado no país de forma furtiva e entre esses os que tivessem contas a prestar à justiça. Ocorre, entre tanto, que nas levas dos “excluídos” tem sido também “contemplada” verdadeira multidão já radicada na comunidade. Ou seja: chefes de família, com residência fixa, participação no mundo do trabalho e na vida social, na expectativa ainda da almejada regularização migratória.

Gente acorrentada, retirada na marra dos locais de tralho levada, só com  roupa do corpo, em voos fretados para à pátria de origem; filhos desapartados dos pais abrigados em casas de amigos; lares defeitos e bens deixados para traz; centros de assistência a imigrantes invadidos pela polícia aduaneira; deprimentes casos de delação e discriminação. O drama vivido por homens, mulheres e até crianças de diferentes nacionalidades, alvejados pelo expurgo implacável, ganha clamor universal. O espanto crescente com que as pessoas, em todas as partes do mundo, tomam conhecimento do que anda pintando no pedaço, em Washington, adquire outra amplitude quando se tem a informação de que o Presidente Donald Trump é filho de imigrante, neto de imigrantes e casou-se com uma imigrante. Sem falar que a grandeza dos Estados Unidos, maior potência mundial, foi construída com participação decisiva de imigrantes.  Homessa! Por que, então, essa empolgação infrene, roçando as franjas da paranoia, de promover o desterro de tantas criaturas ao mesmo tempo? De juntar, nesse gigantesco despejo, como se fossem farinha do mesmo saco, ilegais infratores com cidadãos de vida já consolidada no país, inseridos no esforço construtivo da sociedade?

Sabedor também de que a migração tem impacto positivo na economia do país, o mundo deplora essa “caça as bruxas” que tanto mancha a imagem da pujante democracia estadunidense.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Muita encrenca à vista

 


 

*Cesar Vanucci

“Uma das qualidades de um grande líder é ter misericórdia.”

(Bispa Mariann Edgar Budde)

 

Manifestações de desagrado, apelos ao bom senso, pronunciamentos críticos de cunho humanístico estrugiram, mundo afora, em consequência dos posicionamentos estremados e de gesto acintoso, registrados durante os históricos eventos que assinalaram a posse de Donald Trump como 46° presidente dos Estados Unidos. Líderes de projeção global, figuras eminentes da ciência e religião, pessoas de todas as camadas da sociedade humana não escondem sua apreensão, mais do que isso, seus temores, com relação aos efeitos que poderão advir dos atos e fatos anunciados.  

Amostra eloquente das reações eclodiu durante a tradicional cerimônia litúrgica ecumênica realizada no dia posterior à posse. Ganhou ressonância incomum, alcançando todos os quadrantes do planeta, o sermão da mais alta dignitária da Igreja Episcopal dos EUA, Bispa Mariann Edgar Budde, no comando da comunidade religiosa há 14 anos. Dirigindo-se a Trump, de forma serena e empregando termos vigorosos, ela expendeu considerações sobre o conceito evangélico da Misericórdia, pedindo para que as ações governamentais observem os valores humanísticos e espirituais que conferem dignidade à vida. Implorou proteção às pessoas que se mostram “assustadas” com o que está rolando: “Há crianças gays em famílias democratas, republicanas e independentes, algumas temem por suas vidas”. Além disso, ressaltou: “As pessoas que colhem nossas plantações e limpam nossos prédios, que trabalham em granjas avícolas e, frigoríficos, que lavam a louça depois de comermos em restaurantes e trabalham no turno da noite em hospitais, elas podem não ser cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria não é criminosa”. Acrescentou: “Eu lhe peço que tenha misericórdia, senhor presidente, para com os filhos de nossa comunidade que temem que seus pais sejam levados embora” (...) “também peço que ajude aqueles que estão fugindo de zonas de guerra e perseguição em suas próprias terras e que aqui encontraram compaixão e acolhimento”.  Trump bem ao seu estilo atacou a religiosa de forma bastante grosseira.

Outra demonstração de desagrado proveio da interpelação judicial articulada por nada menos que 30 Estados da União e numerosos municípios importantes contra as medidas anunciadas.

Com a “saudação nazista” de Elon Musk, Trump comprou briga também na Europa. O Chanceler alemão condenou o gesto e foi chamado de “estúpido” pelo magnata da comunicação. Para agravar a história, o partido neonazista da Alemanha cumprimentou efusivamente o autor da insólita proeza. Alcançou destaque ainda a revelação de que Musk escreveu um artigo, recentemente, enaltecendo o movimento nazista. Não é preciso “bola de cristal” para adivinhar as encrencas a caminho...

 

Jornalista “cantonius1@yahoo.com.br”

A SAGA LANDELL MOURA

Tempos inquietantes

  *Cesar Vanucci                                    “Acho que vamos obtê-la ”(Trump, aludindo à Groenlândia)   Tempos confusos e inq...