Celebração magna do Lions
Cesar Vanucci *
“Paixão contagiante, o
futebol é a alegria do povo.”
(Neuza Ribeiro Viana na
“Invocação a Deus” do dia 8 de outubro,
no ato de abertura da Semana Mundial do
Serviço Leonistico)
O
futebol como fator de integração cultural foi o tema escolhido pelo Lions Clube
para as celebrações deste ano da “Semana Mundial do Serviço Leonistico”.
Promovidos pela Governadoria e Clubes do Distrito LC-4 e pela Academia Mineira
de Leonismo, os eventos se desdobraram entre os dias 8 e 15 de outubro passado.
Com expressiva participação popular, os dois atos mais significativos da
comemoração foram realizados no Espaço Cultural do Tribunal de Contas de Minas
Gerais (dia 8) e no Teatro do Sesiminas (dia 15).
Duas
palestras marcaram o primeiro desses atos. O jornalista Milton Naves, narrador
esportivo da Rádio Itatiaia, fez um vibrante apanhado de suas experiências
profissionais na cobertura das Copas Mundiais de Futebol a que compareceu. O
cineasta Geraldo Veloso discorreu sobre o entrelaçamento da arte
cinematográfica com a arte futebolística, numa fala de rica erudição.
Na
mesma ocasião, foi aberta linda mostra de artes plásticas da pintora e
escultora Mariza Guerra, versando a temática da celebração. Houve também a
apresentação ao público de um projeto elaborado pelo Lions relativo à
construção de moradias populares com o emprego de garrafas pet, de acordo com
modelo de edificação na linha da sustentabilidade testado com êxito no Rio
Grande do Norte. O projeto será implantado em Santa Luzia, região
metropolitana de Belo Horizonte. O Coral dos Servidores do Tribunal de Contas,
regido pelo Maestro Cleude William. respondeu pela parte artística do evento. A
Invocação a Deus da cerimônia foi feita por Neuza Ribeiro Viana.
No
dia 15, no Teatro do Sesiminas, o Lions entregou troféus a personagens de
realce na história futebolística brasileira. As homenagens contemplaram clubes
e outras instituições ligadas a essa modalidade esportiva, craques, árbitros,
cronistas, médicos, dirigentes, voluntários que comandam projeto de inclusão
social na várzea, indicados pelas lideranças leonisticas incumbidas da
elaboração do programa da “Semana”. Os homenageados, em número de 30, foram
agraciados com o “Troféu Lions”. A Academia Mineira de Leonismo conferiu a
tradicional “Medalha JK - Cultura, Desenvolvimento e Civismo” ao jornalista
Emanuel Soares Carneiro, diretor-presidente da Rede Itatiaia de Rádio. A
acadêmica Marilene Guzella Martins Lemos encarregou-se da Invocação a Deus.
Como Mestres de Cerimônia atuaram o jornalista Neymar Fernandes e a acadêmica
Nancy Maura Couto Konstantin.
A
magnífica parte artística da celebração esteve a cargo da famosa Companhia de
Dança do Sesiminas, comandada pela renomada coreógrafa Cristina Helena, com o
concurso da Orquestra de Câmera do Sesi, regida pelo Maestro Marcos Antônio
Maia Drumond. O espetáculo intitulado “Meu Brasil brasileiro”, composto de
melodias de Carlos Gomes, Vila Lobos, Ary Barroso, Tom Jobim, Luiz Gonzaga,
entre outros compositores, arrancou aplausos entusiásticos do público que lotou
as dependências do majestoso teatro. O governador do LC-4, José Leroy Silva,
recepcionou os convidados, figuras de projeção na vida política, econômica e
cultural. Na condição de presidente da Academia Mineira de Leonismo e de
presidente da Comissão Organizadora da “Semana”, este escriba saudou os
convidados e fundamentou a escolha do tema adotado pelo Lions como reflexão
sobre a realidade brasileira ao ensejo da magna celebração anual do movimento
leonistico. Em comentário vindouro serão reproduzidas neste espaço as palavras
proferidas na referida assembléia.
Para
o brilhantismo da celebração deste ano, o Lions contou com decisiva ajuda da
Assembléia Legislativa de Minas, Sistema Federação das Indústrias, Secretaria
de Estado de Esportes e da Juventude, Tribunal de Contas de Minas Gerais, Rede
Itatiaia de Rádio, Associação Mineira de Cronistas Esportivos e Associação de
Garantia ao Atleta Profissional de Minas Gerais.
Percepção altruísta da vida
“... os países devem se
enfrentar apenas nas quadras de esporte.”
(Acadêmica Marilene
Guzella, na Invocação a Deus
da celebração do “Dia
Mundial do Serviço Leonístico”)
Como
prometido, reproduzo abaixo os dizeres do pronunciamento que fiz, em nome do
Lions Clube, por ocasião da celebração, em 15 de outubro passado, do “Dia
Mundial do Serviço Leonistico.”
Nossos
homenageados de hoje compõem grupo categorizado de desportistas com folhas de
serviços expressivos na implantação e sustentação da mística do futebol. São,
de um lado, personagens que deixaram impressas nos gramados, em imagens
imorredouras, as pegadas de seu invulgar talento e habilidade. São, de outro
lado, personagens que atuam nos efervescentes bastidores dos espetáculos.
Integram as variegadas e complexas estruturas do apoio logístico, técnico e
administrativo do futebol, assegurando suporte aos atletas para que possam
encantar-nos com a magia de sua arte generosa. São, também, figuras que se
esmeram, no mister profissional, em projetar de forma colorida e vibrante,
produzindo salutar contaminação emocional, a beleza coreográfica incomparável
do esporte das multidões. São ainda
criaturas que, à custa de elogiável abnegação, se valem do fascínio que o
futebol exerce no espírito popular, para atrair em atividades educativas e
desportivas adolescentes e crianças em condição de vulnerabilidade, de maneira
a proporcionar-lhes chances de inclusão social. Somos gratos a todos esses
homenageados pelo que realizaram e continuam fazendo em favor da construção
humana.
O
Futebol é mesmo alegria do povo! Mais do que isso até!
Percorrendo
as veredas da memória, vejo-me, garoto do interior, ginasiano, rodeado de
familiares e colegas, diante do enorme aparelho de rádio que guarnecia a sala
de jantar na residência de vovó Carlota. Esta aí, uma santa criatura! Em seu
perfil humano encaixavam-se admiravelmente aqueles dizeres poéticos de Manuel
Bandeira narrando a chegada ao céu de uma mulher especial, feição meiga,
atitudes nobres, vida singela. São Pedro, o próprio, cuida de recepcioná-la.
Ela pede, humildemente, licença pra entrar. São Pedro reage com doçura
paternal:
-
Sem essa, mulher, vê lá se você precisa de licença pra entrar aqui!
A
voz rouquenha do espiquer Antônio Cordeiro, espalhava-se pela sala naquela
tarde de 16 de julho do ano da graça de 1950. O narrador esportivo da famosa
Rádio Nacional descrevia os emocionantes lances da partida decisiva entre o
Brasil e o Uruguai no Maracanã superlotado. Aguardávamos, todos nós, o final do
jogo pra fim de comemorar. A festança vinha sendo aguardada há dias.
O
título, pelo andar da carruagem, eram favas contadas. O Brasil dependia apenas
de um empate. E o gol do ponteiro Friaça já havia deixado a seleção em
confortável vantagem. Foi aí, então, que veio o gol de empate do ponta direita
uruguaio Gighia. Um gol que, falar verdade, não chegou, no primeiro momento, a
preocupar os torcedores. Mas um tiquinho de tempo adiante, de repente, não mais
que de repente, já ai de forma atordoante, o marcador voltou a ser alterado,
graças a uma jogada do mesmíssimo endiabrado Gighia. À medida em que, a partir
dali, os ponteiros do relógio avançavam, o desespero começou a ganhar contorno
nas mentes e corações. Quando o juiz trilou o apito final, o mundo veio abaixo.
Um verdadeiro tsunami psicológico! O Maracanã ficou mudo e quedo que nem
penedo. O silêncio de tumba etrusca que se abateu sobre o País inteiro era
ensurdecedor. Os comentaristas da Nacional trataram de por fim, alguns aos
soluços, à transmissão. A sala de jantar de dona Carlota tornou-se um reflexo
melancólico do estado de espírito geral. Clima de chororô. A doce matriarca,
muito ao seu feitio, procurava consolar-nos. O tom embargado de voz, somado ao
semblante vincado de amargura, desmentiam frontalmente a certeza que se
esforçava por repassar nas palavras: “Vamos ser racionais. Um jogo de futebol é
apenas um jogo de futebol, não passa apenas de um jogo de futebol.” Vovó
Carlota, – aprendi, dolorosamente, naquele fatídico 16 de julho, estava
redondamente equivocada. Um jogo de futebol nunca foi e nunca será, na
realidade brasileira, apenas um jogo de futebol.
A
história desse esporte popular, democrático como nenhum outro, documenta isso
exuberantemente. Em 58, na Suécia: em 62, no Chile; em 70, no México; em 94,
nos Estados Unidos; em 2002, na Coréia do Sul e Japão, para falar de outros
instantes futebolísticos marcantes, o chororô já foi bem diferente do de 1950. Houve, sim, lágrimas convulsivas, soluços
angustiados e arritmias cardíacas em profusão, mas o conteúdo das reações, já
ai, era alegre, feérico, extasiante.
Isso
ai, minha gente! A crônica futebolística dá conta, constantemente de que um
jogo de futebol, do ponto de vista dos brasileiros de todas as classes,
profissões, etnias e crenças, não é apenas, simplesmente, um jogo de futebol. É
uma interpretação única, singular, sem comparações com o que costuma rolar
noutras paragens deste planeta azul, do jeito de ser, criativo, imaginoso,
contagiante, conciliador do povo. No caso, do nosso povo brasileiro. O futebol,
ato esportivo repleto de significados antropológicos, é uma expressão lídima da
alma das ruas.
É
uma afirmação robusta da integração nacional, de nossa identidade cultural. Um
soberbo agente de confraternidade.
É
eclosão de sentimentos genuinamente brasileiros. Revela o povo em pleno esforço
de criatividade. Um povo que deixa à mostra, nessa pujante modalidade de
manifestação cultural, suas grandes qualidades, até mesmo seus defeitos, suas
virtualidades, sua percepção atilada e altruísta da aventura humana. Palavra de
leão!
Invocação a Deus
“A serenidade de Deus está
presente
nas coisas que fazemos juntos.”
(Provérbio popular)
A
“Invocação a Deus” abre todas as assembléias promovidas pelo Lions Clube.
Trata-se de uma mensagem de fundo espiritual e humanístico onde são traduzidos
os sentimentos que embalam as ações do movimento leonistico no sentido da
construção humana.
Na
celebração deste ano, vivida festivamente agora em outubro, da “Semana Mundial
do Serviço Leonistico”, a acadêmica Marilene Guzella Martins Lemos e a
Companheira Leão Neuza Ribeiro Viana brindaram o público com magistrais
“Invocações” nas duas principais assembléias constantes da programação.
Pelos
edificantes conceitos emitidos, ambas as manifestações merecem ser conhecidas
por parte de um número mais elevado de pessoas. Daí a razão de havermos optado
pela reprodução dos textos lidos neste espaço.
Assim falou Marilene: “Quando invocamos a presença de Deus para abençoar esta cerimônia, ponto alto da Semana Mundial do Serviço Lonístico, que
neste ano usa o lema “Futebol, Alegria do Povo”, podemos sentir orgulho. Os dois principais times mineiros estão lá no alto.
Muitas vezes nos
chamaram de “País do Carnaval e País do Futebol”.
Somos isso, isso
e muito mais, caminhamos bem no desenvolvimento de vários setores, mas, se
carnaval e futebol encontraram no Brasil a pátria ideal é porque seu povo,
fruto de um maravilhoso caldeamento de etnias, mantém, apesar de todos os
percalços, uma inigualável alegria de viver.
Preferimos o
apito das escolas de samba aos apitos de sirenes e fumaça dos fogos de
artifício a fumaça de bombas.
Peçamos a Deus:
Que no próximo ano, quando acolhermos os jogadores para a Copa do Mundo,
possamos divulgar a mensagem de que os países devem se enfrentar apenas nas
quadras de esporte e que as
supremacias se limitem ao resultado de um placar.
Que os tratados
de paz sejam as trocas de camisas e a
derrota represente apenas a frustração
de ver outros levantarem o caneco.
Que os feridos
dessa guerra se curem com mercúrio nas esfoliações.
Que os custos da
derrota sejam investimentos em formação de atletas e os rancores e retaliações
se traduzam em preparação para o certame seguinte.
Agradecemos,
Senhor, e que assim seja!”
Assim falou Neuza: “Agradecemos, Senhor, pela
grandiosidade e magia deste encontro, pelo seu significado, pela nobreza do
serviço leonístico e pela profunda solidariedade que envolve os propósitos de
nossos caminhos.
Senhor
Deus, abra sobre nós o brilho de sua luz; abra sobre nós o manto de sua
segurança, da perseverança, do perdão e do aconchego. Que possamos aprender a
orar pedindo um coração aberto e disposto a servi. Que possamos nos render à
direção do Espírito ao lidar com o nosso próximo, com as circunstâncias e com
as decisões que tomamos no decorrer de nosso trabalho em Lions. Que nossa
presença evoque esperança, que nossas mãos tenham o dom de realizar boas obras,
de acolher, de afagar o desvalido, e assim doando serviços, ganharmos vida.
Senhor,
que a comemoração da Semana Mundial do Serviço Leonístico seja a celebração do
servir, a celebração de companheiros fortes, unidos e imantados na lei maior do
amor.
Abençoe
nossa Governadoria, os Clubes do Distrito LC-4 e nossa Academia Mineira de
Leonismo. Abençoe ricamente os homenageados deste magno evento, alcançando
todos aqueles da direção e da atividade desta paixão contagiante: “Futebol,
alegria do povo”. Faça com que essa magnífica energia abrace a vida e seja sempre para a construção do bem, da paz e
da concórdia.
Enfim,
Senhor, permaneça na justiça e na fé com os que, de coração puro, invocam o seu
santo nome. Assim seja!”