sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

 

O normal, com bode e tudo

 

Cesar Vanucci

 

“Depois da subjugação da pandemia, restarão os problemas de sempre.”

(Antônio Luiz da Costa, educador)

 

A luzinha acesa no final do túnel com a vacinação acena para a radiosa expectativa de que a pandemia possa chegar logo ao fim. Essa circunstância conduz a fervilhantes reflexões.

Volta ao normal. Da emotividade das ruas brotam generosos  anseios. Falam de uma esperança ardente quanto ao controle científico do flagelo. Com o vírus, as condições de vida se agravaram. Pioraram, num dizer mais rude.

 Mas como é que vai ficar mesmo a situação deste planeta azul, assim que subjugada a mortífera ameaça? A pergunta abre leque de desconcertantes respostas. Estimula seja aqui contada sugestiva historietazinha. Por certo, já ouvida pelo arguto leitor.

Seguinte: as encrencas envolvendo a patota familiar, implicando em desavenças e  atritos intermináveis, assumiram tal proporção que ao chefe da casa, um bom homem, temente a Deus, não restou outra alternativa que não a de procurar, para conselhos, o rabino. Um personagem respeitado por todos na comunidade. Expostas suas agruras, o consulente ouviu inesperada recomendação. “Coloque um bode na sala de visitas de sua moradia, que isso vai resolver o problema.” Franzindo a testa, o homem fez menção de questionar a sugestão, mas quedou-se mudo diante do tom resoluto do interlocutor. Voltou para o lar levando o bode. Explicou, debaixo de olhares atônitos, que o animal passaria a coabitar a residência com a família. Ninguém ousou levantar objeção. As orientações do influente rabino eram ali sempre seguidas à risca. O quadrúpede chifrudo, assim que se sentiu acomodado, aprontou, como se diz, o “bode”... Os transtornos e estragos produzidos, os desagradáveis odores impregnados no ar fizeram com que o ambiente deixasse de ser, apenas, bastante tenso, para sediar o caos. O retorno ao rabino, para aconselhamento, se tornou inevitável. Após o relato da “tragédia” causada pelo estabanado “hóspede”, o rabino, sem titubeios, ordenou a retirada imediata do animal. A nova ordem foi acatada prontamente pra gáudio geral. E, no tocante ao conturbado relacionamento doméstico, tudo voltou a ser como dantes no quartel de Abrantes...

Pois bem, quando ocorrer a exclusão da Covid-19 do rol das preocupações comunitárias, ou seja, quando conseguirmos  livrar-nos da presença insuportável do “bode na sala”, as problemáticas a confrontar serão – como não? - as mesmíssimas de sempre.

Na preparação para a “volta ao normal”, cuidemos de enfileirar algumas, dentre as mais doridas. Sem nos esquecermos, naturalmente, de esforços adicionais para enfrentá-las dentro de uma linha de ação que seja humanística e democrática. Quer dizer, sem permitir se apague em nós o candeeiro da esperança por dias mais venturosos. As questões pendentes de solução, na trepidante marcha civilizatória, apontam impactantes itens. Cá estão: desigualdades sociais indecentes; crescimento vertiginoso da pobreza, do desemprego; manifestações aviltantes de racismo e intolerâncias, provocações antidemocráticas, atos terroristas diversificados, produzidos por fanatice religiosa e tibieza política.

E, tudo, tudo isso, Santo Deus!, num momento de esplendor  intelectual único. Numa hora de conquistas tecnológicas extraordinárias, inimagináveis até. Esses feitos, nascidos da inventividade humana, carregam no bojo as sementes necessárias para colheita de frutos capazes de alterar o rumo da história em direção ao bem-estar social global. Basta para isso sejam sementes fertilizadas em terreno onde o humanismo e a espiritualidade operem como fontes geradoras de energia. Esta, a maneira correta, ao alcance da vontade humana, de retirar a manada de “bodes” da sala...

 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

 

Seja bem-vinda

 Cesar Vanucci


“Vacinação ampla, geral e irrestrita, sem qualquer perda de tempo, já!”

(Antônio Luiz da Costa, educador)

Ave, vacina, no morituri te salutant! Os que não vão morrer a saúdam. Os que não querem morrer de coronavírus celebram sua chegada.

Só não a recepcionam, efusivamente, com ruidosos festejos de rua, por causa da prudência e cautelas recomendadas pelos órgãos de saúde pública nesta hora de aflições e sofrimento. Os riscos das aglomerações inconvenientes fiquem eles para os incautos e os insensatos. Para os negacionistas enfermiços. Para os fanáticos talebanistas que usam as redes sociais espalhando falsas e contaminantes informações. Informações que, nascidas de supina ignorância, politiquice barata e notória má-fé, buscam justamente contestar a abalizada fala da Ciência responsável pela criação da vacina. A rejeitar os benefícios que ela, Ciência, assegura existirem na aplicação das doses do medicamento a ser distribuído, segundo tudo faz crer, gratuitamente e de forma massiva à gente do povo. Os argumentos empregados pelos que se opõem à vacinação são estrondosamente ridículos, mas, pelo visto, há quem os absorva, insensíveis ao bom senso e à lógica natural das coisas.

A picada da agulha no braço da enfermeira paulista, que simbolicamente inaugurou a campanha de imunização pública, foi sentida também nos braços de todas as pessoas que, diante da tevê, acompanharam o histórico ato. Lamente-se que tenha sido ato vivenciado com algum atraso. Não podemos deixar de considerar certas circunstâncias. O Brasil é o 5º país mais populoso do mundo. Ocupa, nas estatísticas mortíferas da pandemia, indesejável segundo lugar no registro de óbitos e infecções. Anunciando agora a implantação da vacinação em massa é o 55º a utilizar esse instrumento terapêutico na tentativa de refrear a marcha do flagelo.

A Anvisa autorizou o uso emergencial das vacinas contra o coronavírus produzidas no Butantan (CoronaVac) e na Fundação Oswaldo Cruz (Oxford-AstraZenica). A decisão unânime tomada pelos seus dirigentes trouxe sensação de alivio muito grande no seio da comunidade. Não se pode deixar de ressaltar que as manifestações dos dirigentes da agência controladora foram precisas e bastante elucidativas. A eficácia da medicação aprovada foi abundantemente documentada. Na complementação dos votos, os técnicos fecharam questão num ponto. Tirante a vacinação, não existe, em lugar algum, qualquer outra fórmula medicamentosa disponível, aceita pela ciência, que possa, comprovadamente, proporcionar efeitos terapêuticos positivos no enfrentamento da pandemia. Deixaram categoricamente expresso também que as medidas preventivas determinadas por cientistas e profissionais da saúde, mesmo com a vacinação em massa, até segunda ordem, carecem ser seguidas à risca. O sistema de reclusão social, na forma continuamente sugerida, deve ser rigorosamente observado por todo mundo. É parte indissociável do processo.

Com a vacinação uma onda de transbordante esperança percorre lares, ruas, hospitais, consultórios. Conhecedores da competência do SUS em campanhas desse gênero, esperamos, confiantes que tudo funcione, no esquema traçado, a pleno contento, atendendo ao sagrado interesse nacional. As autoridades competentes estão no dever indeclinável de promover um trabalho que corresponda às expectativas generosas da sociedade. Um trabalho que, em fase alguma do curso estabelecido, possa ser maculado por episódios aterrorizantes, como os mostrados nas imagens de Manaus, onde a irresponsabilidade e a insensibilidade social se deram as mãos pra fabricar caos.

Leitores do "Blog do Vanucci" 

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. Ecumenismo rima com humanismo

Avelina Maria Noronha de Almeida

Excelente, muito sábio, o texto de Cesar Vanucci! Linda a citação de Joaquim Nabuco! E perfeita a rima que o autor colocou de ecumenismo com humanismo. O desenvolvimento que faz o escritor na temática ecumênica é muito pertinente porque, mesmo passado tanto tempo em que essa postura dignificante para o espírito e o coração humanos de fraternidade entre as diferentes crenças foi lançada, ainda não se conseguiu atingir a plenitude que seria almejada no abençoado Concilio Vaticano II. Ainda há muitas barreiras e conflitos. Sou católica apostólica romana praticante, mas tenho o espirito profundamente ecumênico. Como me emocionei quando, assistindo pela televisão um pronunciamento do Papa João Paulo II aos muçulmanos, em uma de suas viagens, ouvi, na voz do referido pontífice, traduzido na hora pelo locutor, esta frase: "Deus colocou sementes de Verdade em todas as religiões." Bem analisa Vanucci o que se passa em nosso tempo quando fala dos "anseios de paz que habitam a alma das ruas."


. Aglomerações e vacinação

Klinger Almeida

Com efeito, é impressionante o baixo nível consciencial de parte da população brasileira. A virada de 2020/2021 assinalou esse fenômeno de modo pujante: por todos os quadrantes do país ajuntamentos de pessoas, a maioria sem máscaras, numa clara evidência   de que o vírus mortal estaria sendo transmitido, como o foi. Essas pessoas irresponsáveis certamente fizeram a propagação em diversos segmentos: familiares, vizinhança, trabalho etc. Agora, estamos assistindo as consequências:  vide Manaus, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e dezenas de outras cidades. Será que o povo despertará o sens de responsabilidade? Seu artigo “Aglomerações e vacinação” aborda o tema com muita propriedade. Não podemos nos calar diante de tanta irresponsabilidade, inclusive incentivada pelos que deveriam, por imposição dos cargos, dar o exemplo (infelizmente, o baixo nível consciencial jorra do mandante máximo: o Presidente da República!). Cumprimento-o por sua coragem e persistência no alerta. Klinger Sobreira de Almeida – Efetivo-Fundador da ALJGR/PMMG 


. Aglomerações e vacinação

. O golpe frustrado de Trump

Orlando Almeida

Parabéns pelos excelentes artigos sobre o desrespeito às normas da ciência para o combate à pandemia, por parte da população, insuflada pelo psicopata do planalto e seu sinistro da saúde e cuja omissão resultou na morte de 210 mil brasileiros, e também a respeito da invasão do Capitólio articulado pelo fascista Trump que felizmente se foi. Espero para sumir do cenário político do país e do mundo. Abraço fraterno.


sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

 

Aglomerações e vacinação

 

Cesar Vanucci

 

“Aglomeração em clima festivo, em tempo de coronavírus,

não deixa de ser uma calamidade menor dentro da calamidade maior.”

(Antônio Luiz da Costa, educador)

 A começar pela paradigmática cena da performance desportiva do Presidente Jair Messias Bolsonaro, lançando-se, acompanhado de prosélitos, de uma embarcação, nas águas do mar e chegando a nado, com braçadas vigorosas, à Praia Grande, SP, onde o aguardava uma multidão de admiradores ansiosos por abraçá-lo e, descontraidamente, com ele festejar a passagem do ano, as aglomerações detectadas em praias, praças públicas e outros locais propícios a concentrações populares, mostradas pela televisão, constituíram temido prelúdio de uma nova onda de contaminações provocadas pelo coronavírus.

Cientistas, infectologistas, profissionais de saúde da linha de frente no combate ao flagelo esforçaram-se, à exaustão, em divulgar alertas sobre as danosas consequências que poderiam advir, a curto e médio prazos, de ações irrefletidas e levianas que fragilizassem os esquemas de proteção à saúde montados com base em recomendações razoavelmente eficazes, amplamente alardeadas.

Muita gente não se tocou nadica de nada. Não deu a mínima atenção às prudentes advertências. Procedeu, irresponsavelmente, como se à sua volta nada de extremamente grave, ameaçando vidas preciosas, estivesse acontecendo. As arrasadoras imagens de hospitais abarrotados de pacientes, das angustiantes filas de espera nas UPAs, da sobrecarga de trabalho jogada implacavelmente nos ombros de extenuados profissionais da saúde não conseguiram sensibilizar, comover, conscientizar os infratores das regras. O que eles fizeram foi mandar as cautelas, as reclusões sociais, tanto quanto possível menosprezadas, às urtigas.

Algum preço, com certeira certeza elevado, será cobrado de todos nós, pelos imprudentes procedimentos, por conta dessas transgressões gratuitamente hostis ao bom senso e à boa convivência comunitária.

A opinião pública, aturdida, coloca-se agora na desassossegante expectativa do que está por suceder, como fruto danoso dos abusos flagrados, neste começo de 2021 que chega trazendo um verão maroto, de sol tórrido, sujeito a chuvas e trovoadas, deslizamentos e inundações.

As estatísticas impactantes, abeirando dos 200 mil óbitos e dos 8 milhões de casos de contaminação, nos arremessam, a contragosto, a lugar de destaque no “pódio” entre os países alvejados pela enfermidade impiedosa. Paralelamente a tal calamidade, defrontamo-nos, ainda, com o imenso desprazer de agregar às preocupações e infortúnios da atualidade essa novela da aplicação da vacina, de infindáveis e tormentosos capítulos. Nos outros países afetados, os entraves burocráticos, as questiúnculas políticas já foram resolvidos e as populações começaram a receber as doses de imunização, de diferentes procedências. Aqui, por estas bandas sacudidas por controvérsias, bate-papos improdutivos, debates inócuos, o martelo da decisão sobre a hora e vez da aplicação da vacina, está demorando a ser batido. E tudo em razão do andar vagaroso da carruagem conduzida pelos detentores dos poderes de definição.

Como se já não bastassem as acesas polêmicas abertas em torno da incandescente questão da vacinação massiva e, obviamente, gratuita, um novo flanco de discussão desaconselhável está aberto. Deriva da notícia de que clínicas particulares estariam se movimentando no sentido de se anteciparem aos órgãos oficiais competentes no fornecimento do produto medicamentoso almejado pela população. Estariam negociando, para pronta entrega, doses de uma vacina produzida na Índia para aplicações que envolveriam, além do atendimento rápido dos interessados, objetivos naturalmente comerciais. Da parte do Ministério da Saúde ouviu-se, a propósito, a “explicação” de que as clínicas particulares, na ação pretendida, serão obrigadas a seguir ordem de prioridades, seja lá o que isso possa representar.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

 

O golpe frustrado de Trump

 

Cesar Vanucci

 

"Ontem foi um dos dias mais sombrios da história do nosso país".

(Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos,

referindo-se à invasão do Capitólio, ordenada por Donald Trump)

 

Mesmo sabedora dos traços frisantes de megalomania, autoritarismo e inapelável falta de escrúpulos dominantes, de há muito, na conduta e palavras do personagem, a opinião pública mundial confessou-se estupefata no protesto categórico e sólida repulsa à tentativa golpista de Donald Trump.

É provável que jamais haja sido levantada, na vida pública estadunidense, a remota suposição de que alguém no exercício do posto público mais elevado da nação mais poderosa do mundo pudesse ousar levar avante manobra tão insana e ultrajante contra as tradições culturais e democráticas. O candidato derrotado em campanha pela reeleição comportou-se como um demagogo populista extremado. Relembrou posturas políticas de caudilhos boçais que comandaram os destinos das chamadas “repúblicas bananeiras”, conforme  assinalou, indignado um parlamentar, por sinal do partido Republicano.

O que se viu foi uma verdadeira insurreição patrocinada abertamente pelo já quase – felizmente – ex ocupante da Casa Branca. Recusando-se a admitir a vitória de Joe Biden, obtida de forma insofismável, Trump viu ruírem seus propósitos de deslegitimizar os resultados que lhe foram desfavoráveis. Quase meia centena de recursos submetidos à apreciação do Judiciário foram julgados e indeferidos. Próceres destacados de sua própria agremiação partidária consignaram publicamente pontos de vista vigorosos a respeito da lisura do pleito, numa discordância frontal à insistente proclamação, sem provas, baseada exclusivamente em retórica delirante, do candidato republicano. Entre seus próprios assessores surgiram vozes influentes de divergência quanto ao procedimento do supremo mandatário. No plano internacional, as congratulações ao presidente eleito por parte de chefes de governo de (quase) todos os países do mundo como que referendaram a decisão tomada pelo eleitorado americano, favorável cabalmente ao opositor de Trump, em número de votos individuais e votos distritais. Nada disso arrefeceu o ânimo belicoso e a doentia intransigência de Donald em reconhecer o óbvio ululante. Num gesto desesperado, assustador, utilizando em larga escala os instrumentos de comunicação digital - dos quais, em boa hora, acaba de ser defenestrado até o final do mandato - para concitar adeptos fanáticos a contestarem o veredicto soberano das urnas. Da concitação adveio a invasão inédita, inimaginável do Congresso em Washington. Milicianos agressivos, recrutados em organizações do tipo “supremacistas brancos” e outras de assemelhado cunho político e religioso fundamentalista, romperam as barreiras de segurança do Capitólio com o objetivo de intimidar senadores e deputados para que não promulgassem a vitória de Biden, conforme a ritualística constitucional vigente. Cessada a refrega, com lastimável saldo de cinco mortos e 40 feridos, o Congresso, altivamente, presidido pelo vice-presidente dos Estados Unidos Mike Pence, companheiro de chapa de Trump aprovou, como não poderia jamais deixar de ser, a certificação que assegura o desfecho legal da corrida eleitoral.

A sensação de alivio que os norte-americanos experimentaram foi compartilhada no mundo inteiro. Coro alentado de vozes, condenando a tentativa de golpe de Donald Trump, se fez ouvir, retumbantemente, em tudo quanto é canto do planeta. Mesmo entre líderes mundiais reconhecidamente ligados ao atual ocupante da Casa Branca não faltaram manifestações inequívocas de desagrado a sua tresloucada atitude. Casos, para exemplificar, dos primeiros ministros da Inglaterra e de Israel. Os veículos de comunicação social mais importantes reservaram suas principais manchetes para comentar e noticiar os inacreditáveis acontecimentos registrados nos Estados Unidos, sem poupar de críticas acerbas a atuação golpista de Trump.

A forma imprópria e criticável da reação oficial do governo brasileiro quanto ao assunto, exceção no concerto das nações, foi de molde, evidentemente, a causar desconforto e mal-estar em todos os setores da vida brasileira.Outra coisa chocante foi o desproposito da insinuação presidencial de que o processo eleitoral eletrônico adotado pelo Brasil já rendeu e poderá ainda produzir fraudes no futuro, como aconteceu nos Estados Unidos, valha-nos Deus, Nossa Senhora!

 

Privatização não é dogma de fé

 

 Cesar Vanucci

 

“O STF agiu com bom senso ao inviabilizar a portaria

que concedia isenção de tributo na importação de armas.”

(Domingos Justino Pinto, educador)

  

● Já ouvimos, em mais de uma ocasião, o Ministro da Economia Paulo Guedes lamuriando-se do fato de não haver conseguido, até aqui, transcorrida já metade do mandato governamental em curso, promover qualquer privatização de magnitude.

Dá pra perceber nessas insistentes manifestações que S.Exa. encara a desestatização de empresas como um dogma de fé. E isso, cá pra nós, não consulta, um tiquinho que seja, o bom senso, as prioridades sociais desafiadoras antepostas na marcha em busca do desenvolvimento, nem tampouco reflete o genuíno sentimento nacional. Privatização de empresa não significa, necessariamente, ao contrário do que alguns erroneamente sustentam, uma forma de garantir prosperidade social e econômica. Não representa “salvação da lavoura” na ardente procura das soluções de envergadura social avantajada reclamadas pela Nação.

Não se está dizendo aqui que uma organização estatal não possa ser passada à iniciativa privada. Isso já aconteceu e poderá perfeitamente voltar a acontecer. Algo, entretanto, precisa ser, de antemão, sublinhado. Com bastante ênfase. Sob o olhar vigilante da opinião pública, qualquer privatização projetada terá de ser articulada em moldes que atendam rigorosamente, por inteiro, as sagradas conveniências da sociedade brasileira, legitima proprietária do ativo que se pretenda transferir.

Operações desse gênero carecem ser exaustivamente examinadas, dentro de rígidos critérios administrativos, técnicos e políticos. Terão que ser esmiuçadas nos mínimos detalhes. Debatidas à exaustão pela comunidade. O assunto não poderá ser levado às consequências derradeiras em marcha acelerada, sem a escrupulosa e estrita observância desses pressupostos fundamentais enunciados.

De passado recente emerge uma lição. Serve como advertência e sugere cautelas.

Recorramos ao vídeo cassete da memória para relembrar o que sucedeu com a transferência à iniciativa privada da segunda maior empresa do Brasil, a Vale. Ela mesma, a Vale, que experimenta na atualidade desgastante processo de imagem por conta de contínuas “aprontações ambientais”, extremamente nefastas à vida. Seja lembrado que sua venda se deu na “bacia das almas”. Preço de banana nanica refugada em sacolão de arrabalde no final de feira. Todo mundo, do Oiapoque ao Chuí, está careca de sabe disso.

Do Ministro Paulo Guedes ficamos aguardando menos açodamento com relação ao tema preferencial de suas lamúrias. O que os brasileiros gostaríamos mesmo de ouvir saindo de sua boca é a notícia de uma mobilização das forças vivas da Nação em torno de um grandioso projeto nacional de desenvolvimento compatível com a vocação de grandeza do país. Uma notícia retumbante que anunciasse a implementação de canteiros de obras a perder de vista (como nos saudosos tempos de JK), ampliando nossas infra-estruturas básicas, desencadeando ações que gerem empregos, que acabem com a pobreza extrema, que coloquem, enfim o Brasil nos trilhos do progresso, em velocidade de um super trem bala.


● O Supremo Tribunal Federal inviabilizou, por conta de despacho do Ministro Edson Fachin, a portaria da Presidência da República que favoreceria a importação com isenção de taxas (ora, veja, pois!) de pistolas e revólveres, a partir do início do ano que está chegando.

Na manifestação, o Magistrado ressaltou “o risco de um aumento dramático da circulação de armas de fogo, motivado pela indução causada por fatores de ordem econômica.”

Fez, também, uma defesa, obviamente, da indústria brasileira, ao acentuar que a desoneração tributária pretendida, totalmente fora de propósito, “impacta gravemente a indústria nacional, sem que se possa divisar, em Juízo de deliberação, fundamentos juridicamente relevantes da decisão político-administrativa que reduz a competitividade do produto similar produzido no território nacional.” A portaria governamental vinha merecendo críticas acerbas, em variados segmentos, sob a justificativa de introduzir novo elemento negativo na chamada flexibilização do porte de armas. Flexibilização, por sinal, largamente incrementada nos últimos tempos, graças a outros expedientes adotados no âmbito oficial, em conflito com a opinião de preponderantes parcelas da sociedade.

 


 

Leitores do “Blog do Vanucci” 
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 O antirracismo entra em campo

Alcino Lagares

Ilustre presidente da Amulmig,  Parabéns pela qualidade de conteúdo de seu artigo "O antirracismo entra em campo". Abraços fraternos,  Cel. Lagares

 O antirracismo entra em campo

Geraldo Dias da Cruz


 Meu caro Vanucci, Leio com carinho seu blog. Inteligente e renovador. Mande-me seu endereço. Quero lhe enviar alguns livros meus publicados. Feliz Natal! Abraços Geraldo Dias da Cruz

 Escalada de preços indecorosa

Orlando de Almeida


Leitor assíduo de seu Blog, acompanho a sua indignação estampada no comentário sobre a indecorosa e injustificada escalada dos preços dos medicamentos essenciais e dos alimentos. O pior prezado amigo é que não se vê uma atitude dos órgãos responsáveis do Governo para coibir estes abusos e punir quem os pratica E em plena pandemia. E o que falar do tal código fantasma que está aparecendo nas contas dos supermercados, para justificar diferenças a mais nos preços dos produtos e exigindo atenção redobrada dos consumidores. Como diz o nome de um filme famoso, E assim caminha a humanidade. Grande abraço.

sábado, 9 de janeiro de 2021

 

A magia da palavra

 Cesar Vanucci


 “A palavra é a única magia.”

(Ronsard)

 Cá estão, para reflexão do atento e culto leitorado, duas dúzias (mais ou menos) de ditos e conceitos sugestivos extraídos de lista ampla de citações reunidas num caderno de anotações deste repórter. Exprimem o colorido mágico das palavras e ajudam um pouco a explicar o significado da fascinante, posto que conturbada, aventura da vida.

“Pedi e recebereis. Buscai e encontrareis. Batei e a porta abrir-se-vos-á.” (Mateus 7:7) // “A serenidade de Deus está presente nas coisas que fazemos juntos.” (Provérbio popular.) // “Deus é aquele que está em nós quando praticamos uma boa ação”. (Oração do povo indígena yenape) // “Ame até doer!” (Madre Tereza de Calcutá) // “As coisas que hão de ser já foram.” (Expressão colhida no evangelho) // “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que é capaz de supor nossa vã filosofia.” (William Shakespeare) // “Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo”. (Voltaire) // “O espírito humano é que nem o paraquedas. Só funciona aberto.” (Louis Pauwels e Jacques Bergier) // “Ninguém morre. Parte primeiro.” (Camões) // “Existe um jeito simples de saber se está cumprida a missão de alguém. Se está vivo, não está”. (Richard Bach) // “Na escala cósmica só o fantástico tem probabilidade de ser real. As coisas na escala cósmica não são tão fantásticas quanto a gente imagina, mas muito mais fantástica do que a gente jamais conseguirá imaginar.” (Pierre Teilhard de Chardin) // “O sentido da vida e o seu arcano é a aspiração de ser divino no prazer de ser humano.” (Raul de Leoni) // “A salvação do homem não vem do leste, nem do oeste. Vem do Alto.” (Tristão de Athayde) // “Tristeza não tem fim, felicidade sim”. (Vinicius de Moraes) // “Sodade é como a grama tiririca, que a gente pode arrancá, virá de raiz pro ar, mas quá! Um fiapo escondido no torrão faz a peste vicejá”. (Versos de um poema caipira, autor desconhecido) // O essencial é invisível aos olhos, não ao coração.” (Antoine Saint Exupéry) // “Senhor Deus dos desgraçados, dizei-me vós, Senhor Deus, se é mentira ou se é verdade tanto horror perante os céus?” (Castro Alves, num texto que se refere aos “navios negreiros”, mas que, indubitavelmente, pode ser aplicado a muitas outras calamidades sociais de diferentes épocas) // “O homem explora o homem. Por vezes é o contrário.” (Woody Allen) // “O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O comunismo é o contrário.” (Provérbio checo) // “Para muita gente, entre Deus e o dinheiro o segundo é o primeiro.” (Provérbio popular) // “É perdoando que se é perdoado.” (Oração de São Francisco) // “Habitamos uma ilhota perdida num oceano infinito de inexplicabilidades.” (Aldous Huxley) // “E se, de repente, descobrirmos que a Terra é o inferno dos outros planetas?” (Aldous Huxley) // “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.” (Winston Churchill) // “O amor é a única paixão que não admite nem passado nem futuro.”(Balzac) // “Nada existe de permanente, exceto a mutação. O fato básico da atualidade é o tremendo ritmo de mutação na vida humana.” (Nehru) // “E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que têm.” (Pero Vaz de Caminha, referindo-se ao Brasil, quando da descoberta, em carta ao rei de Portugal) // “Os brasileiros são entusiastas do belo ideal, amigos da sua liberdade e mal sofrem perder as regalias que uma vez adquiriram. Obedientes ao justo, inimigos da arbitrariedade. (...)” (José Bonifácio) // “O desenvolvimento é o novo nome da paz.” (Paulo VI) // “Fora da solidariedade social não há salvação.” (Ditado popular)

Que o Ano Novo seja realmente Novo,

fecundo em realizações e transformações positivas.

 

 

Falas momentosas

 Cesar Vanucci


 “O 84º lugar ocupado pelo Brasil no “Índice de

Desenvolvimento Humano” é o fim da picada...”

(Antônio Luiz da Costa, educador)


Duas falas momentosas. Uma foi do vice-presidente Hamilton Mourão.

De forma serena, transparente, objetiva, evidenciando conhecimento de causa, ele explicou a razão pela qual o Brasil não pode prescindir, no processo de utilização da tecnologia 5G, dos préstimos da empresa chinesa Huawei. Suas declarações obtiveram simpática ressonância em diversificados setores, mormente o empresarial.

Contrapuseram-se às alegações pueris, desfalcadas de bom senso, com motivação ideológica extremada, formuladas por vozes menos credenciadas dos círculos governamentais. O general asseverou que, no momento presente, 40 por cento da infra-estrutura do país em 3G e 4G se ancoram na tecnologia oferecida pela organização chinesa. Se, por um acaso, a Huawei ficar fora do esquema de implantação do 5G, haverá a necessidade de se desmantelar um gigantesco complexo de instalações e equipamentos, de modo a readaptar os sistemas montados a outros padrões. Uma mudança dessas proporções custaria muito caro, acentuou. Concomitantemente com a manifestação de Mourão, os segmentos empresariais que acompanham atentamente os desdobramentos dessa questão, tão momentosa, deram realce a um outro dado positivo recente relacionado com o tema. A área técnica da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) concluiu os estudos concernentes às regras que vigorarão no leilão previsto para breve, caso do 5G, sem que o edital acuse quaisquer restrições à Huawei. Temores chegaram a ser levantados diante das inocultáveis pressões exercidas pela chamada “ala ideológica palaciana”, que queria os chineses fora da operação. Esse insensato posicionamento foi amplamente contestado, política e tecnicamente.   

● A outra fala foi do general Carlos Alberto dos Santos Cruz. O ex-ministro da Secretaria de Governo concedeu entrevista, à jornalista Andreia Sadi na “Globo News”, que causou grande impacto, sobretudo nos redutos políticos. As palavras usadas com referência ao Governo Bolsonaro foram, pra dizer o mínimo, causticantes. Admitindo que deixou o Ministério por atritos com o Presidente, assinalou haver observado, já desde os primeiros momentos, colocações inimagináveis e incompatíveis com a missão institucional atribuída ao dirigente eleito. Santos Cruz chegou a afirmar que o governo se transformou em “um PT verde amarelo”. Disse ainda que todo mundo esperava, após as eleições presidenciais, atos e procedimentos que significassem uma nova maneira de se fazer política no Brasil. Mas o que se viu - acrescentou – foi a chegada de um pequeno grupo extremista com propósitos de dividir a sociedade. Registrou também que toda a lista de práticas condenáveis criticadas durante a campanha, contrariando a expectativa geral, voltou a ser executada em alta escala. E por aí seguiu a fala do general. O tom resoluto, contundente, do pronunciamento do ex-ministro, aludindo várias vezes, no extenso depoimento, a gestos prejudiciais cometidos por extremistas e fanáticos infiltrados nas altas esferas, está conduzindo alguns analistas políticos a vaticinarem que Santos Cruz acabará sendo naturalmente conclamado a participar de futuros eventos sucessórios. Quando pouco, será convidado a atuar como conselheiro em corrente empenhada na corrida pelo poder.

● Ao retroceder algumas posições na relação dos 189 países avaliados pelo chamado IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), com pontuação (2019) de 0,765, ficando no 84º lugar, o Brasil colocou-se, na América do Sul, atrás do Chile, Argentina, Uruguai, Peru e Colômbia. A liderança continuou com a Noruega. Suíça e Irlanda dividem a segunda colocação. Com suas potencialidades prodigiosas, pode-se dizer mesmo, inigualáveis, fica difícil pacas aceitar que, por falta de um grande projeto nacional de desenvolvimento, amarguemos o constrangimento de permanecer, no IDH, numa classificação tão desprimorosa.

A SAGA LANDELL MOURA

Uma mulher rodeada de palavras

                             *Cesar Vanucci “Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida” (verso da canção “M...