sexta-feira, 29 de março de 2013

Mano Augusto

Cesar Vanucci *

“O magnífico Augusto Cesar Vanucci!”
(José Bonifácio Sobrinho, em “O livro do Boni”.)


O Professor José Peres, dos bons tempos do curso ginasial no Liceu do Triângulo Mineiro – embrião do fabuloso complexo educacional criado por Mário Palmério -, era pessoa de vasta erudição. Apreciava citações. Dava expansão nas salas de aula aos conhecimentos sobre o que se poderia chamar de a arte das citações. Ditos populares, brocardos, máximas, versos e sentenças de autores famosos eram com ele mesmo. Recordo-me de uma manhã em que, apreciando caso de autolouvação de alguém importante, ele anotou, todo solene, no quadro negro a seguinte frase: “Louvor em boca própria é vitupério.” Depois que explicou, provocado, o que vinha a ser vitupério, uma colega de classe animou-se a perguntar, em meio a risos e sorrisos: “- E na boca de parente, é também vitupério?”  Tanto quanto entendido pela explicação bem humorada do professor, não, não era vitupério.

Retiro essa lembrança pueril das ladeiras da memória, pra uma louvação relativa a homenagem prestada, em bela cerimônia cívica realizada em Uberaba, presidida pelo governador Antônio Anastásia,                                                                                  à memória de meu irmão Augusto Cesar Vanucci. Ele foi um dos dez agraciados este anocom a “Comenda da Paz Chico Xavier.” O único da lista a receber “in memoriam” a honrosa láurea. A indicação de seu nome foi feita pelo chanceler da Comenda, Procurador Joaquim Cabral Netto, personagem de relevo no cenário cultural.

A homenagem afianço, sem titubeios, foi das mais justas. A trajetória de mano Augusto, rica em cintilações, se entrelaça, em não poucos momentos, com a história fulgurante dessa criatura admirável que empresta o nome à honrosa láurea. Uma criatura iluminada que soube estabelecer, pela humildade, singular sabedoria e amor incondicional ao semelhante, diálogo perfeito com a divindade suprema. O Chico Xavier da veneração popular.

Augusto despontou para a vida artística meninote ainda. Foi considerado garoto prodígio pelos dons exibidos no palco. Com 10 anos arrebatou o público do programa “Hora do Pato”, com a interpretação de “Canta Brasil”. Liderando grupo de artistas mirins, apresentava-se em aplaudidos espetáculos em teatros do Triângulo Mineiro. Em mais de uma ocasião foi chamado a mostrar seus dotes como cantor pra Cândido Portinari. Adolescente, militou no rádio uberabense com sucesso. Aos 18 anos, concorreu a uma bolsa de estudos no Teatro do Estudante, de Pascoal Carlos Gomes. Tirou o primeiro lugar. Mudou-se para o Rio. Por razões de sobrevivência, antes de concluído o estágio, atraído por convite de Renata Fronzi e Mara Rubia, famosas intérpretes do teatro musicado, bandeou para a vida profissional.

Fez rápida e vitoriosa carreira. Quatro peças musicais que marcaram época tiveram-no como protagonista central: “Alô Dolly”, com Bibi Ferreira; “Como vencer na vida sem fazer força”, clássicos da Broadway pela primeira vez encenados em palcos nacionais, “Vamos brincar de amor em Cabo Frio” e “Feitiço da Vila”, onde contracenou com Elizeth Cardoso e Mary Gonçalves. Paralelamente à carreira teatral, participou de numerosos filmes. Dezoito no total. Entre eles, “Eles não voltaram”, única fita brasileira a focalizar a participação da FEB na Segunda Guerra, e “Sexto sentido”, ao que se sabe único filme até hoje produzido no Brasil sobre o emprego de poderes sobrenaturais a serviço de agências governamentais. No teatro e no cinema conquistou numerosos prêmios.

Na televisão, como diretor da linha de musicais e programas humorísticos da Globo, ganhou projeção mundial. Um dos responsáveis pelo chamado “padrão global de qualidade”, arrebatou o prêmio “Emmy” em Hollywood, com o inesquecível programa “Vinicius para crianças”. Outros programas por ele criados concederam-lhe o troféu “Ondas”, na televisão européia. Perfeccionista, foi o responsável pelos melhores musicais já levados ao ar na tevê brasileira. Dirigiu os especiais de Roberto Carlos, programas de Chico Anísio, os principais eventos da Globo. Prestou serviços também à Rede Bandeirantes e à Rede Manchete. Nesses dois prefixos executou projetos de divulgação sistemática dos chamados temas transcendentes. Foi o principal responsável pela abertura que os sensitivos brasileiros, caso de Chico Xavier, até então mantidos a uma certa e incompreensível distância na divulgação dos órgãos de comunicação de massa, passaram a desfrutar na televisão. Adaptando texto de Chico, lançou a peça “Além da vida”, provavelmente a mais encenada até hoje em palcos nacionais. Liderou a campanha que propôs a outorga do Nobel da Paz para Chico Xavier. A campanha reuniu dois milhões de assinaturas. No Congresso Nacional, em sessão especial, deu um substancioso depoimento a respeito de proposta, afinal acolhida, no sentido de que as percepções singulares de pessoas como Chico Xavier, agraciadas com dons especiais de sensibilidade espiritual, passassem a ser consideradas em sua verdadeira e rica dimensão humana. O que se pretendeu com a proposição foi abolir pra sempre a possibilidade de intervenções policiais arbitrárias, como tantas vezes se viu no passado, em atividades envolvendo sensitivos célebres, consagrados a trabalhos espirituais e assistenciais.

Então, tenho ou não tenho razão em dizer que o diligente Cabral, sempre inspirado nas indicações dos agraciados, acertou em cheio ao apontar Augusto Cesar para receber a Comenda Chico Xavier?


Derrapagens na Fórmula 1

“Ele agiu por conta própria.”
(Declaração do porta-voz da Red Bull/Renault a respeito
da atitude do piloto Sebastian Vettel na corrida da Malásia)


Na prova da Fórmula 1 da Malásia, o piloto Sebastian Vettel ultrapassou o companheiro de equipe Mark Webber, garantindo com o gesto o melhor lugar do pódio. Só que ganhou uma reprimenda por haver tocado a corrida “por conta própria”, contrariando “ordens superiores” e provocando com a atitude de independência e a ousadia demonstradas uma “crise” na Red Bull/Renault, marca automobilística que chancela a participação de ambos nas pistas. Os dois pilotos subiram, na verdade, à cobiçada tribuna reservada ao trio vitorioso da corrida. Mas aos patrocinadores o que interessava mesmo era que as posições ficassem invertidas.

O piloto que, “indisciplinadamente”, descumpriu as ordens, desfazendo um arranjo prévio devidamente costurado nos bastidores do “circo”, foi devidamente advertido. Viu-se constrangido a vir a público, por surreal que isso pareça, mode desculpar-se pela “falta grave cometida”. E, com certeira certeza, já se comprometeu, a esta altura do campeonato, a respeitar religiosamente, daqui em diante, as regras traçadas do jogo. Ou seja, numa disputa em que esteja defendendo a escuderia garantidora de seus polpudos salários, jamais se deixará levar, de novo, pela emoção esportiva descontrolada e meter-se a besta de sair na frente dos competidores sem receber a conveniente autorização superior para tanto...

Não houve – pasmo dos pasmos -, por parte tanto dos pilotos envolvidos no cabuloso episódio, quanto por parte dos dirigentes da Red Bull/Renault, a mais leve preocupação no sentido de ocultar, de quem quer que fosse, os veículos de comunicação inclusive, o desassossego vivido em suas fileiras diante dessas, chamemos assim, “divergências de posições” entre o que foi ordenado ao piloto e o que foi por ele executado durante a prova. É como se todos estivessem dizendo: “Calma, pessoal, o jogo é esse, todo mundo da Fórmula 1 tá calvo de saber que é sempre assim. A ninguém é lícito desrespeitar as regras. Quem não estiver a fim de acatá-las, que cuide de deixar a pista...”

Este não foi o único lance desconcertante da prova da Malásia, pelo que o noticiário nosso de cada dia andou revelando. Outra escuderia viveu situação parecida. O piloto Nick Rosberg, da Mercedes, preparava-se para ultrapassar o companheiro de equipe Lewis Hamilton, então em terceiro lugar, quando recebeu enfática advertência para “conter-se”. O acordo do dia previa que a vez de subir ao pódio seria de Hamilton. Ao contrário do compatriota alemão Sebastian Vettel, Rosberg resolveu acatar, provavelmente entre resmungos e ranger de dentes, a enérgica admoestação, abrindo mão para o companheiro do direito de galgar o pódio. Chegou a dizer para algumas pessoas, em tom de desabafo: “Lembrem-se desta prova!” Mas, obediente como tão bem se ajusta ao perfil de um autêntico e intimorato piloto da Fórmula 1, não quis saber de espichar conversa. Sentiu-se, por certo, parcialmente compensado com a provável promessa de Hamilton de, futuramente, quem sabe até já na disputa do circuito de Xangai, próxima etapa percorrida pelo circo, retribuir-lhe a “gentileza”.

Essas situações constrangedoras, antiesportivas, profissionalmente repugnantes do ponto de vista ético, são parte indissociável do cotidiano da Fórmula 1. Outros pilotos, inclusive brasileiros, já se envolveram em maquinações desse gênero. Tudo é encarado nesses redutos com descarada naturalidade e assimilado como razoável, até pelos veículos de comunicação, embora violente escancaradamente a lógica do esporte.

Os absurdos detectados no campeonato automobilístico guardam equivalência, nas devidas proporções, com a situação imaginária de uma partida entre duas seleções nacionais de futebol em que o resultado fosse antecipadamente pactuado.

Aliás, falando verdade, essa situação não é tão imaginaria assim, como se poderia de início supor. Tem-se como certo que já aconteceu numa Copa Mundial. A da Argentina. Os “hermanos”, já com uma derrota no torneio, precisavam de uma vitória com a margem absurda de cinco gols de vantagem sobre a seleção peruana para chegarem à final. Era o que estipulava o regulamento da competição, alterado por razões óbvias mais tarde. O outro escrete em condições de aspirar, na chave da Argentina, o direito de participar da final era o Brasil, único invicto, até aquele momento. E não é que os argentinos chegaram lá e, depois, “abiscoitaram” o título?
Tudo se deu por obra e arte da ditadura militar argentina, que aliciou na espúria jogada o governo peruano, as Federações futebolísticas dos dois países, com a concordância explicita dos atletas, assegurando gratificações polpudas ao time do Peru, para que amolecesse o jogo.

Falou-se pouco dessa tramóia, porque a época desaconselhava manifestações que colocassem sob suspeita a lisura, a honestidade, a integridade moral dos ditadores de plantão dos países do chamado “cone sul”.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Rir, um santo remédio

Cesar Vanucci *

“Pela risada de um homem podemos classificá-lo;
se nos for dado simpatizar com um desconhecido por causa da risada,
 podemos garantir tranquilamente que se trata de um homem bom.”
(Dostoievski)

Cientistas de Oxford acabam de reinventar a roda. O riso – asseveram eles, botando a maior panca doutoral – faz muito bem à saúde. Chegaram a tal conclusão depois de prolongadas e consistentes pesquisas. Constataram que a gargalhada libera endorfina. Proporciona supremo prazer, amplia a resistência à dor, fortalece o sistema imunológico. E por aí vai...

A “descoberta” comprova, outra vez mais, que a sabedoria popular costuma se antecipar, num bocado de situações às provas da ciência. Casos típicos em que, reportando-nos à saborosa linguagem das ruas, a gente surpreende a técnica humana toda compenetrada na tarefa de levar o milho quando a intuição humana já lá vem voltando com o fubá.

Afianço, com conhecimento de causa, que os respeitados peagadês da afamada instituição acadêmica do Reino Unido teriam como enriquecer substancialmente sua interessante pesquisa caso se lhes tivesse chegado às mãos, no curso das investigações, um livro precioso, de formato delgado, refulgente na forma, cativante pelo colorido humano extravasado de suas quase cem páginas. O tal livro é de autoria de alguém informado de um bocado de coisas relativas a arte da vida. Humanista na acepção completa do termo, agrega ainda a esse tantão de dons a invejável condição de haver se tornado personagem legendário na história do movimento leonístico. Refiro-me, com prazer, senhoras e senhores, ao médico, acadêmico, jornalista, historiador, advogado Áureo Rodrigues. O livro “Rir e sorrir – para viver mais e melhor”, de sua lavra, alinha importantes recomendações terapêuticas, informações de grande utilidade prática. Os capítulos falam do significado do sorriso na convivência humana, das conexões saudáveis do sorriso com o trabalho, relatam lances históricos concernentes ao riso, demonstram a extrema eficácia da terapia do riso.

O lirismo aflora no texto em citações poéticas, na apresentação do retrato falado de um artista gigantesco do sorriso, no caso Charlie Chaplin. O riso e o sorriso nas artes e na ciência são também projetados de maneira didática e com o intuito de valorização humana, dentro da idéia motriz de que “o sorriso representa o próprio encanto de viver.” Áureo relaciona no livro exemplos de risos positivos e negativos, ensina técnicas que, estimulando o sorriso e o riso, afugentam a depressão e o baixo astral.

O trecho em que se ocupa dos risos positivos vale a pena ser reproduzido. Os risos positivos provocam bons sentimentos e reações que nos fazem felizes, em alto astral, otimistas, garante o autor.

O riso aberto – acentua ele – é próprio de pessoas extrovertidas, amigas e leais. É claramente exteriorizado, franco. O riso verdadeiro é demorado e simétrico. Provoca rugas nas pálpebras, se instala gradualmente e vai lentamente despertando sinceridade e confiança. O riso constante é próprio da pessoa que está sempre contente e otimista, demonstrando força de caráter. O riso contagiante ou vibrante é próprio de pessoa otimista. Desperta nos outros a vontade de rir também.

No ensaio sobre o riso e o sorriso, Áureo explica que o primeiro é extroversão e o segundo, desvendando delicadamente o interior de quem sorri, é introversão. O riso – acrescenta – é algo que irrompe num estrondo e vai retumbando como o trovão da montanha, num eco que, no entanto, não chega ao infinito.

Já o sorriso, anota, é silencioso como a chuva mansa que cai e fertiliza a terra, como a brisa suave que acaricia e refresca o rosto.

Resumindo toda história: “O riso é um santo remédio.”


Menor, mas ainda lucro e tanto

“O lucro líquido da Vale caiu 74%”
(Dos jornais)

Os plantonistas do catastrofismo continuam apostando todas as fichas na debacle. Obstinados, empenham-se em transportar para a realidade brasileira situações adversas vividas noutros países, como se por aqui não estivéssemos desfrutando, de tempos a esta parte, uma condição econômica diferenciada (para melhor), traduzida em razoáveis ofertas de emprego e em perspectivas alentadoras de investimento, com destaque para empreendimentos sociais. Os indicativos são de que o país passa por momento de estabilidade com ligeira ascensão, sem prenúncios, apesar de algumas chuvas e trovoadas, de declínio a médio e longo prazos.

As interpretações dos resultados dos balanços empresariais, por parte de certos elementos com presença marcante na mídia, “especializados” na propagação de teses derrotistas quando se ocupam da análise das coisas brasileiras, laboram sempre em equívocos e exageros.

Tomemos por exemplo as contas da Vale, maior empresa privada brasileira. Confrontados com os dados de 2011, os resultados de 2012 anotaram queda. Foi o quanto bastou para alguns proclamarem que a situação não anda assim tão favorável quanto se fala. “Viram só? O lucro da Vale – logo da Vale! - caiu 74,3% em 2012. Isso é muito sério.” Mas não há nada de grave, em ciência econômica, no fato de uma empresa industrial, comercial, agropastoril, de serviços não conseguir lucros iguais ou superiores de um exercício para outro. Mesmo com a redução assinalada, os números da Vale em 2012 foram satisfatórios. Esse negócio de recordes sucessivos em lucratividade parece ser privilégio apenas das instituições que compõem o intocável sistema financeiro. Privilégio e intocabilidade assegurados por razões desconhecidas. Ou conhecidas até demais da conta.

O lucro líquido da Vale chegou – vamos lá - a quase 10 bilhões (R$ 9.734 bilhões). Para os desmemoriados faz-se oportuno citar certos fatos relevantes: essa empresa, ao longo de sua existência, mostrou-se sempre lucrativa, graças a gestões e equipes operacionais altamente capacitadas. O número agora atingido merece ser até classificado de invejável. Isso ganha didática configuração quando se tem presente a esclarecedora informação de que o lucro apurado no balanço do ano passado chega a ser bem superior ao valor do lance que o grupo controlador da Vale ofereceu, no leilão da controversa privatização de anos atrás, quando ficou definida a passagem da empresa, de estatal bem sucedida, para a iniciativa privada. Noutras singelas palavras: neste único resultado operacional anual, inferior, como se pôde ver, ao resultado do ano anterior, deparamo-nos com um ganho acima do custo de aquisição da empresa toda. Menor, sem dúvida, mas ainda assim um lucro e tanto.

E, então, gente boa?
        
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C O N V I T E
 



sexta-feira, 15 de março de 2013

CONVITE ESPECIAL AOS AMIGOS DO BLOG
"X Encontro Cultural da Academia"




O que se quer de Francisco

Cesar Vanucci *

“A mensagem pontifícia é uma mensagem
de esperança. Não uma promessa de utopia.”
(Alceu Amoroso Lima)

A escolha do Cardeal “hermano”, agregando novo elemento de surpresa aos acontecimentos vividos ultimamente no seio da Igreja, comprovou o acerto do alerta prévio de experimentados vaticanistas, quando afiançaram que todos os cardeais festejados pela mídia como possíveis Pontífices deixam sempre a Capela Sistina, após a votação secreta, como Cardeais.

O argentino Jorge Mario Bergoglio não teve o nome lembrado nas especulações que antecederam o conclave. O noticiário apontou outros altos dignitários eclesiásticos. Do Brasil, Itália, Colômbia, Canadá, Filipinas e continente africano. Mas a designação acabou atendendo, verdade seja dita, a ardente anseio popular, nos redutos católicos e mesmo fora desses redutos, configurado na idéia de que o sucessor de Bento XVI despontasse de alguma região do planeta, que não a Europa, onde o sentimento devocional cristão se revelasse mais pujante. Sob esse aspecto, o Espírito Santo – assegura-me amigo fraternal de exemplar vivência religiosa – ouviu as nossas preces. O novo Papa, com militância sacerdotal na América do Sul,parece conhecer de sobra as necessidades e dramas dos tempos atuais. É, ao que tudo faz crer, pessoa bastante consciente dos árduos caminhos que terão de ser percorridos, como orientador espiritual, na gigantesca obra de restauração da vida espiritual, social e econômica para que a humanidade venha a desfrutar dos benefícios da liberdade e justiça social em abundância.

E nem se queira aferir dos fatos alusivos à sucessão papal, que tão ruidosa repercussão alcançaram, que as questões suscitadas digam respeito tão somente, exclusivamente, aos adeptos do catolicismo. A força espiritual e moral da Igreja sobre os destinos humanos conduz, mesmo os que não sejam cristãos ou discordem da orientação de Roma, a acompanharem com vivo interesse as ações pontifícias. De uma maneira ou de outra, elas sempre influenciam a humanidade.

É compreensível, à vista disso, portanto, que todo mundo, católico ou não, cristão ou não, se ponha a esperar de Francisco um desempenho em harmonia com as exigências cruciais da sociedade humana destes tempos conturbados. Colocar as coisas em ordem, corrigindo os desacertos e calamidades provocados pelo Banco do Vaticano, pela desídia da Cúria na avaliação dos escândalos de pedofilia e outros, afigura-se dever de casa essencial. O exame meticuloso, à luz da autêntica espiritualidade, de outras questões momentosas fazem também parte da empreitada a enfrentar. Registremos algumas delas: celibato sacerdotal (já assegurado, de há muito, pela própria Igreja Católica Apostólica Romana a clérigos do oriente); ordenação de mulheres;  reavaliação de conceitos dogmáticos estratificados em função de conquistas da ciência;  condenação decidida às tiranias políticas, à ordem econômica e social injusta, ao racismo desapiedado e à homofobia; às guerras do terror e ao terror das guerras. Tudo isso é parte relevante do trabalho apostólico a ser encetado. E o que não dizer da criação de uma base de sustentação sólida ao exercício permanente do ecumenismo, a partir da aceitação de que as religiões, todas elas, são caminhos diversificados que, lá na frente, convergem para um único e sublime objetivo? À Igreja Católica caberia o papel mais proeminente na coordenação dessa conjugação de esforços voltada para o ideal de uma autêntica confraternização universal.

O currículo do novo Pontífice revela que esse cidadão de sorriso simpático, lembrando um pouco João XXIII, um pouco João Paulo I, é detentor de hábitos singelos, tendo se destacado, no trabalho pastoral em seu país de origem, por atitudes vanguardeiras no plano social. Tem-se noticia também de que sua postura diante da feroz ditadura militar portenha mostrou-se um tanto controvertida. Teria sido omissa em certos momentos, a ponto de merecer acerbas críticas de respeitados ativistas políticos. Mas há relatos também de intervenções corajosas que tomou e que ajudaram a proteger vidas ameaçadas pela repressão irracional que dominou o cenário portenho.

O que nos pomos, todos, com esperança, a aguardar, é que, no tocante à política de direitos humanos, ele assuma sempre, sem hesitações, doa a quem doer, a defesa intransigente dos valores que conferem dignidade à aventura humana. O Papa que adotou o nome de Francisco – numa sugestiva evocação a dois Santos da especial devoção popular, um deles comprometido com a inclusão humana e social e o outro engajado no titânico esforço de desfazer incompreensíveis malquerenças religiosas – parece forjado a promover o desencadeamento do vasto e complexo processo de realinhamento da Igreja, fiel aos princípios espirituais e humanísticos, com os mais ardorosos e generosos desejos dos homens e mulheres de boa vontade que povoam este planeta azul. A esperança de todos é vê-lo, do alto de sua cátedra, empenhado na construção de uma ordem política, social e econômica que seja capaz de assegurar a universalidade do bem estar social e da paz duradoura.


Peagadês em maracutaia

Cesar Vanucci *

“Patifes, sim, mas sem mais abrir mão da postura
Austera dos cidadãos honrados acima de qualquer suspeita!”
(Antônio Luiz da Costa, acerca dos bandidos do “colarinho branco”
 responsáveis pelo escândalo da “bolha imobiliária”)

Documentário estadunidense exibido noite dessas na televisão brasileira deixou gravada no espírito das pessoas a estranha sensação de que, em matéria de crimes do “colarinho branco”, os malfeitores tupiniquins talvez não passem de simplórios alunos de jardim de infância, quando comparados com seus êmulos norte-americanos. Estes, sim, no duro da batatolina, peagadês laureados em safadezas cometidas com o dinheiro do contribuinte. (Que a comparação não seja de molde, contudo, para produzir qualquer tipo de consolo, é o meu desejo sincero).

O relato ocupa-se da monumental maracutaia que se fez universalmente conhecida por “bolha imobiliária” e que impactou de roldão a economia de dezenas de países, com sequelas até aqui incicatrizáveis. Mostra que as fraudes foram executadas com consciência plena do horror que estavam fadadas a desencadear. Contaram com a omissão criminosa das autoridades e conivência descarada dos órgãos institucionalmente encarregados do monitoramento e regulamentação das atividades negociais, o que desmente frontalmente a tese da existência de legislação severa naquelas bandas - coisa de que o Brasil, por exemplo, se ressentiria - para coibir agressões virulentas à economia popular. Junção de conveniências espúrias colocou de um mesmo lado grupos financeiros poderosos, lideranças políticas, agências de risco “respeitáveis”. Essas mesmas que vivem aporrinhando com suas pontuações manipuladas a paciência dos países emergentes. O inocultável propósito dessa “tchurma”, considerada “acima de qualquer suspeita”, foi o de aplicar um golpe de colossais proporções. Centenas de bilhões de dólares (há quem fale em trilhões) foram, assim, dissipados do Tesouro, da poupança popular, dos fundos de pensão, nos Estados Unidos e noutros países, para atender à voracidade insaciável da megaespeculação acionada pelo sistema financeiro, que fomentou no capricho a crise e dela conseguiu sair ileso, largando conta pesada a ser paga pelo Erário e população.

Da vasta conspiração – fica-se sabendo com detalhes - participaram também elementos de projeção nos círculos acadêmicos estadunidenses. Pensadores econômicos de renome, recrutados em Universidades famosas, prestaram valiosos serviços à inglória causa. Remunerados a peso de ouro, contrapuseram-se aguerridamente às tentativas de regulamentação, esboçadas antes, durante e depois da crise, do despoliciado setor financeiro. Contribuiram com seus conceitos e teses rançosos em favor da liberdade de iniciativa (leia-se libertinagem no lugar de liberdade) para que o sistema bancário pudesse, na busca frenética por ganhos vorazes, agir com o despudorado desembaraço que caracterizou o seu desempenho nas patifarias perpetradas.

As averiguações sobre os gravíssimos acontecimentos ocorridos na terra do Tio Sam trouxeram, uma atrás da outra, revelações sempre estarrecedoras. O setor financeiro valeu-se ostensivamente do eficiente concurso de três mil qualificados lobistas junto ao Congresso, a fim de fazer prevalecer suas teses desabridas sobre economia de mercado. Os grandes responsáveis pela debacle, todos “cidadãos ilibados”, com os prontuários devidamente levantados, permaneceram com as fortunas intactas. Não poucos ainda, entre eles, receberam, das respectivas organizações – envolvidas na megatramoia – vultosas quantias a título de bonificação, pela “boa gestão dos negócios” no período agudo em que grassou a pandemia das fraudes hipotecárias. O socorro do Tesouro, uma nota preta, beneficiou as corporações causadoras do abalo, mas não as milhares de famílias que perderam por inteiro seus haveres. Desses milhares, uma verdadeira multidão, a partir do momento em que se viu despojada de suas moradias, passou a habitar tendas em vias públicas, numa versão tipicamente americana de “moradores de rua”.

Não faltaram, em meio à implantação paulatina da catástrofe financeira, os alertas de setores lúcidos da opinião pública. Mas os executores do danoso projeto não se tocaram em nada. Diante da chegada iminente do tsunami se limitaram a sugerir, como lembrou alguém, algumas opções sobre o tipo de maiô a ser usado na praia.


E da água brotou estrela


“Não procurem entender os desígnios de Deus.”
(Padre Francisco, de saudosa memória)

No livro “Um certo Dom”, em que retrato passagens da lendária história do grande brasileiro e saudoso Arcebispo Alexandre Gonçalves Amaral, falo das visitas periódicas que o ilustre Prelado fazia, espichando as viagens a Belo Horizonte, a um refugio de paz, amor e orações chamado Mosteiro Nossa Senhora da Glória, localizado em Macaúbas.

Quem costumava levá-lo de carro até aquelas paragens era minha esposa Addi, que acabou ficando conhecida das religiosas do lugar como a “chofer de Dom Alexandre”.

Tal circunstância permitiu-lhe aproximação extremamente grata com uma figura humana maravilhosa, acrisolada de dons muito especiais, a Irmã Maria da Glória. Essa meiga criatura, que fez da vida, pela oração e com demonstrações contínuas de amor ao próximo, um diálogo permanente com Deus, nutria por Dom Alexandre filial afeição. Ele, a seu turno, dispensava-lhe, bem como às suas companheiras de clausura, paternal solicitude. Esse entrelaçar de relacionamento fraternal e afetividade criou o pano de fundo propício a uma situação cheia de encantamento, se bem que misteriosa, que acabou colocando em nossas mãos, minhas e da esposa, um presente inesperado. Um relicário muito valioso.

No livro já mencionado prometo contar, noutro momento, o que se passou. Cumpro, agora, a promessa.

A respeito da Irmã Maria da Glória é bom registrar que, à sua volta, independentemente – como é obvio supor – de sua vontade, estabeleceu-se, por força de edificantes lições de vida, uma poderosa e contaminante onda de empatia popular, que não deixou de tomar, com os tempos, a clara feição de uma devoção. Para um contingente apreciável de pessoas, a trajetória da freira de Macaúbas pela pátria terrena ganhou timbre de santidade. A crença comunitária a esse respeito brotou da postura humilde, impregnada de humanismo e espiritualidade, assumida, vida afora, pela religiosa. As informações transmitidas, boca a boca, relativas a graças alcançadas com sua intermediação, eram e continuam sendo numerosas. Muitas das notícias reportam-se a fatos considerados prodigiosos, na avaliação singela dos devotos.

Tudo começou, neste episódio que estou em condições de relatar, com um frasco de água benta trazido do Mosteiro, depois de um encontro com a saudosa Irmã. Porções do conteúdo do frasco foram oferecidas, no curso de algum tempo, a amigos e conhecidos. O restante do líquido foi deixado num copo de cristal que permaneceu guardado por meses num armário. Quando, num belo dia, o copo foi retirado da prateleira, deparamo-nos em casa, entre perplexos e comovidos, com surpreendente e instigante revelação. A água benta havia se evaporado toda. Mas no fundo do copo de cristal podia ser claramente distinguida uma crosta de forma circular com enigmática sinalização: muitas estrelas e cruzes. Uma pergunta desconcertante nos acorreu de pronto: figurações geométricas podem surgir de um processo de evaporação numa superfície de vidro? Pusemos água benta, de variadas procedências, e água de filtro noutros copos idênticos e ficamos esperando pelos resultados. Nada ligeiramente parecido aconteceu. A história do copo foi levada ao conhecimento da própria Irmã Maria da Glória antes que ela “partisse primeiro”.

A resposta que deu ao pedido de explicação acerca do – chamemos assim – intrigante fenômeno tomou a forma de um sorriso franco, escancarado, encharcado de suavidade e santa ternura, algo muito seu.

Um venerável sacerdote da comunidade da Boa Viagem, Padre Francisco, já falecido, examinou os incríveis caracteres do copo, brindando-nos com observação igualmente enigmática: “Não procurem entender os desígnios de Deus.”

Desfecho da história: com alguns sinais já esmaecidos pelo perpassar dos anos, o copo é conservado, ainda hoje, como um precioso relicário.


* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

sexta-feira, 8 de março de 2013

Sequência de “Casablanca”

Cesar Vanucci *

"O cinema é infinito – não se mede."
(Vinicius de Moraes)

“Casablanca” é titulo obrigatório em qualquer lista que se elabore de filmes que deixaram marca para sempre na memória dos espectadores. Por essa razão a noticia de que produtores de Hollywood cogitam reviver, numa super produção, a atmosfera romântica inolvidável das cenas protagonizadas por Humphrey Bogard e Ingrid Bergman, lançando uma sequência da fita onde possa ocorrer o reencontro dos personagens perdidamente enamorados, por força do destino irremediavelmente separados, não deixa de ser acolhida com interesse e, até mesmo, simpatia.

Como, anos atrás, num artigo intitulado “Revisitando Casablanca”, andei fazendo algumas elucubrações como cinemeiro, a respeito da hipótese de uma reaproximação do casal, considerei de bom alvitre reproduzir aqui o texto então lançado. Vamos lá.

A Rede Globo, que detém entre as concorrentes em escala mundial a supremacia absoluta em dramaturgia de qualidade, possui um setor dedicado a consultas aos telespectadores, levantando opiniões quanto ao destino dos personagens nas novelas. Não sei honestamente dizer se tal intervenção é boa ou não para o enredo. Mas sei que as impressões colhidas têm peso no desfecho das tramas. Acontece, às vezes, de o autor ser induzido a reformular a trajetória inicialmente traçada. Parcerias românticas podem ser, desse modo, desfeitas ou compostas, para gáudio da fiel torcida.

Imagino, vez por outra, embora divisando, já ai, dificuldades bem maiores na execução do esquema de apuração das tendências do público, como seria bacana para os cinemeiros, caso pudessem, também, a seu turno, influir na condução das histórias de seu agrado, envolvendo heróis, heroínas e vilões. A única fórmula que me ocorre, danada de complexa, de fazer as coisas acontecerem, aplicável a fitas de sucesso, seria garantir, com sugestões e palpites do espectador, a continuidade da história numa outra película. Algo no gênero, sem a participação obviamente do público, foi feito na impecável trilogia de "O Poderoso Chefão". De tão bem realizada, dá até pra pensar numa quarta película. Ao Andy Garcia seria oferecida a oportunidade de ouro de retomar a saga Corleone, alimentada nas marcantes representações de Robert de Niro, Marlon Brando e Al Pacino.

Pode ser que isso seja de todo inexeqüível. Mas, como eu, muita gente cheia de idéias arde, por exemplo, de curiosidade pra saber como acabaria sendo o primeiro encontro da doce Ingrid Bergman com o carrancudo Humphrey Bogart, finda a guerra, depois do dia do adeus dolorido no aeroporto de Casablanca. E pra saber também o que poderia acontecer com o Claude Rains, caso os nazistas se inteirassem de ter sido ele, não "os suspeitos de sempre", o responsável pelos disparos que livraram os judeus e os resistentes franceses de mais um algoz.

Mudando de um filme para outro, seria interessante pacas também contribuir com sugestões que ajudassem o aventureiro Clark Gable e a ambiciosa Vivien Leigh a se reconciliarem na sequência de "O vento levou", largando no esquecimento a troca de desaforos do passado.

Se o esquema proposto pudesse algum dia funcionar, gostaria também de saber como o Bertolucci definiria com quem afinal acabaria ficando, num eventual segundo tempo do filme, aquela belíssima criatura cor de ébano que viveu magistralmente o duplo papel de estudante de medicina e faxineira, no excelente "Assédio sexual".

E indo mais adiante um tiquinho, quem sabe mesmo se, nos desdobramentos de uma das tramas cinematográficas sobre o atentado de Dallas, não se pudesse chegar à elucidação dos detalhes escabrosos do complô contra Kennedy, apontando-se os nomes dos verdadeiros assassinos e mandantes, pondo-se, assim, ponto final na monumental farsa que, há quase 60 anos, vem sendo imposta à opinião pública mundial.


Outros desfechos de filmes

"O cinema não tem fronteiras, nem limites.
É um fluxo constante de sonho.”
(Orson Welles)

 Meu assíduo público leitor, composto na maioria de membros da ilustre família Vanucci, delirou com a proposta contida no artigo "Sequência de Casablanca", de dias atrás. A idéia de se dar continuação à trama de filme cujo desfecho não tenha saído ao inteiro agrado do espectador fez brotar uma porção de instigantes sugestões que, devidamente anotadas por este despretensioso escriba, começam a aterrizar hoje neste impoluto espaço.

A primeira sugestão é de um leitor que aposta no sucesso de uma produção que reabra o caso narrado no excelente "O desaparecido", estrelado pelo impecável Jack Lennon. O ator faz o papel de um cidadão americano que perde o filho nas masmorras da ditadura chilena, descobrindo, horrorizado, a participação conivente na trágica ocorrência de adidos militares de seu próprio país.

Nas cenas concebidas para o segundo filme, Augusto Pinochet seria colocado no banco dos réus. O próprio, se já não houvesse desencarnado, seria o interprete ideal para viver na tela a sinistra trama. Afinal de contas, o cara tinha lá seus méritos como ator. Não vamos nos esquecer de que naquela quarentena que lhe impuseram em Londres, fruto de um pedido de extradição da Justiça espanhola, ele fez jus, cá pra nós, ao "Oscar". Viveu esplendidamente o papel de um homem sofrido, sucumbido pela senilidade, praticamente já com um pé do lado de lá. Ou seja, do lado pra onde remeteu, em seu reinado de terror, milhares de desafetos. Seu desempenho, como sabido, comoveu os juizes britânicos, que se confessaram, ao depois, estupefatos com sua rapidíssima recuperação, quando o viram desembarcando, logo após a ordem de soltura, obtida com a prestimosa ajuda de dona Margareth Thatcher, todo lépido e fagueiro, em meio às festas arrumadas pelos correligionários, no aeroporto de Santiago. Nesse imaginário desdobramento do filme teria que prevalecer uma regra canônica que, por largo espaço de tempo, norteou os enredos em Hollywood: o vilão é exemplarmente punido. A questão agora é achar um sósia para o papel. Ou alguém do grupo que ainda curta as reminiscências dos “tempos gloriosos” em que o Chile não era regido por essa “bagunça democrática”...

Para outro estimado leitor, um desfecho que também carece ser modificado é o do filme "A princesa e o plebeu". Fala-se aqui, evidentemente, da primeira versão. Em preto e branco, com o excelente Gregory Peck e a deslumbrante Audrey Hepburn. Não dá, definitivamente, para aceitar a separação da princesa e do plebeu depois daquela romântica peregrinação pelo convidativo cenário de Roma. Impõe-se juntá-los, para a felicidade geral do povo e da nação. Ele poderia ser contratado como adido de imprensa do Palácio Real e posto a acompanhar a rainha num périplo ecológico preparado por agência de viagem brasileira. Começaria por Manaus e terminaria no Vale do Jequitinhonha, passando antes pelos Lençóis Maranhenses, Jericoaquara, no litoral cearense, Fernando de Noronha, Pantanal, Airuoca (Sul de Minas), Lavras Novas e Serra do Cipó, lugares de lindezas incomparáveis, desconhecidas de muitos dos nossos próprios patrícios. Em Araçuaí, numa capelinha adornada por flores silvestres, o Frei Xico cuidaria de abençoar nossos heróis para que fossem felizes para sempre, na alegria e na dor. Tudo isso ao som das vozes dos cantores mirins da cidade, com músicas de Milton Nascimento. Bacana né?

Tem mais, adiante, reformulações de filmes que deixaram saudade.


Mais epílogos de filmes

 "O cinema não tem passado nem futuro."
(Vinícius de Moraes)

Outro filme que a turma manifesta vontade de ver com final modificado é o "Exterminador do futuro". Ele traz no papel central aquele ator de nome Arnold e de sobrenome complicado de dizer, quanto mais de escrever. Como o enredo lida com sutilezas e perspectivas de cunho ostensivamente mágico, criando condições para que os personagens se desloquem no tempo, pra frente e pra traz, seria extremamente desejável que, no prosseguimento das ações, em novo filme, Arnold fosse surpreendido num momento anterior ao de seu ingresso na política, antes mesmo de sua eleição para governador da Califórnia. Toda atenção da produção teria que ficar concentrada no salutar objetivo de convencer o musculoso intérprete a permanecer, quem sabe até no exercício do posto máximo de comando, lá mesmo em Marte, combatendo com a valentia costumeira seus pertinazes inimigos. Uma definição dessas teria o condão de produzir onda de alivio muito grande. Já pensaram só no risco desse cidadão, seguindo a trilha de outro ator festejado do passado, de predicados artísticos por sinal equivalentes, enfiar de repente na cuca, desguarnecida de idéias, a aspiração de galgar degrau superior na carreira política? Sai de baixo!

"Contatos imediatos" é mais um celulóide que muitos apreciariam ver em nova versão. O diretor, Steven Spielberg, extremamente criativo e competente, desfruta de respeito nos círculos místicos como abalizado estudioso de fenômenos transcendentes. Saberá imprimir a um segundo filme, baseado na mesma fascinante temática, o toque eletrizante que deixou como marca registrada na película anterior, estrondoso sucesso de público e de crítica. Sendo igualmente pessoa de espírito aberto e de acurada sensibilidade social, creio que não lhe será difícil acolher algumas sugestões na elaboração da nova trama.

Estamos imaginando, para o apoteótico final, uma nova descida daquela nave de colossais dimensões. O OVNI emitiria aqueles hipnóticos sons que a extinta Rede Manchete buscou emprestado para se contrapor ao plim plim da Globo. No deserto imenso, personagens famosos do enredo humano contemporâneo seriam vistos a aguardar, com emoção, o sinal dos alienígenas, para ocuparem seus lugares no aparelho, num passeio pela noite cósmica. Seria acertado previamente, entre todos, sob a égide da ONU, uma trégua em suas desavenças cotidianas. E, agora, lado a lado, esperam pelo chequim a ser feito por alienígenas não tão graciosas, reconheçamos, quanto as gurias dos balcões das agências aéreas da Pampulha. Intrépidos senhores da guerra, caras que não querem, de um e de outro lado, que se estabeleça jeito maneira a paz no Oriente Médio, ditadores em exercício e aposentados são chamados pelo alto-falante a tomar assento nos camarotes executivos.

Os demais passageiros escolhidos assumem, em seguida, seus confortáveis lugares na categoria econômica. Lá estarão, majestáticos, dirigentes de organizações terroristas, de corporações responsáveis pela crise econômica, notórios megaespeculadores, corruptores e corruptos, torturadores, pedófilos, fabricantes e traficantes de drogas, radicais fundamentalistas de todos os matizes, exploradores de tudo quanto seja capaz de gerar sofrimento e servidão humana. Ao som de trepidantes marchas marciais, a nave inicia suavemente a decolagem, arrancando um prolongado oh de admiração das multidões. Tudo ao vivo e a cores.

O aparelho ganha distância, vira um ponto luminoso diminuto e desaparece na escuridão do céu. Uma legenda explica, no arremate, aos deslumbrados expectadores, que o retorno da nave só se dará daqui a 10 mil anos.

Sejam honestos, sinceros e francos: dá pra alguém conceber epílogo mais eletrizante?

sexta-feira, 1 de março de 2013

Os desejos dos tucanos paulistas

Cesar Vanucci *

“Os tucanos paulistas, com raras
exceções, pensam que o PSDB é só deles.”
(Marluce Fialho, consultora política)

O ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso tem dado provas concretas de apoio resoluto à candidatura do Senador Aécio Neves em 2014. Mas seus correligionários da paulicéia, com ramificações no Paraná, não estão fazendo muita questão em esconder que a opção de seu especial agrado é diferente. Desejam alguém vindo das fileiras, chamemo-las assim, regionais. Deixam evidente, nesta altura do jogo, a disposição em insistir, enquanto fôlego existir, na busca de um nome afinado, em tudo por tudo, com as forças que representam, tanto as político-partidárias como as chamadas elites do empreendedorismo quatrocentão. Setores fissurados na manutenção de seus anseios ou prerrogativas hegemônicos.

Fernando Henrique, com a ajuda de Sérgio Guerra, presidente da sigla, vai ter que esparramar na mesa todas as fichas na aposta feita em torno do nome do ex-governador das Gerais. Geraldo Alckmin, com sua proverbial incapacidade intelectual para análise de fatos políticos, sociais e econômicos que exijam grande esforço de concentração, espera ardentemente pela chance de concorrer mais uma vez ao Palácio do Planalto. O próprio José Serra não pensa noutra coisa. Sente-se uma espécie de herdeiro natural, sagrado pelos deuses, dos votos das correntes que se antepõem a Lula e/ou Dilma. Andou lançando, indoutrodia, botando pra fora seu inconformismo com os rumos das tratativas feitas por FHC, alguns balões de ensaio, em clara provocação à própria companheirada. Ameaçou deixar o barco partidário, na suposição de que a “extremada decisão” pusesse todo mundo desarvorado com a perspectiva de estar embarcando numa nau sem rumo. Mandou espalhar, com o solícito concurso dos jornais paulistas, engajados nesse esquema político danado de provinciano, noticias sobre seu “provável ingresso” noutra legenda e sobre a possibilidade de achar-se enfronhado, com outras lideranças, em debates para a criação de mais uma agremiação partidária. O recado que se procura passar é o de que ele, José Serra, dispõe-se ao “supremo sacrifício” de enfrentar novamente, as urnas, daqui dois anos, confrontando o candidato, qualquer que seja ele, a ser lançado pela situação.

Analistas políticos traquejados não deixam por menos. Consideram essa obstinação pelo poder de Serra, bem como a notória resistência de próceres do tucanato paulista à idéia da candidatura de um correligionário, mesmo contando com receptividade popular (hipótese aplicável a Aécio), mas não pertencente à sua grei corporativista, uma tremenda mancada política. A mancada, por sinal, dos ardentes sonhos dos estrategistas eleitoreiros empenhados em criarem ambiência propicia à reeleição de dona Dilma Rousseff.

˜ Marildinha, de novo. Essa adolescente espevitada, moradora do São Benedito, na divisa de BH com Santa Luzia, como sabido dos leitores que frequentam este espaço, é danada de xereteira. Pergunta desconcertante, às vezes impertinente, é com ela mesma. Ela é siderada em futebol, confessando-se torcedora do América, um modo que encontrou de evitar as emoções fortes que o chamado esporte bretão provoca.
Ainda na semana passada andou discando para a Federação Mineira de Futebol à cata de informação sobre o campeonato que está pra começar. “Já que o Mineirão ficou pronto e, segundo dizem, muito bem apetrechado para clássicos, vancê pode me explicar qual a razão de alguns dirigentes esportivos haverem insistido tanto na idéia de que o próximo confronto Atlético–Cruzeiro devesse ser realizado no estádio do Sete? Os autores dessa idéia de jerico serão os mesmo que inventaram a risível história das competições com “torcida única?” Consta que a pessoa consultada desligou o telefone.


“Ho’oponopono”, o nome da oração

“O Ho’oponopono libera as energias tóxicas (...) permitindo que a
inspiração divina tenha efeito impactante nos pensamentos e palavras.”
(Ihaleakala Hew Len, médico havaiano)

 Em artigo divulgado dias atrás, sob o título “Sinto muito”, procurei reproduzir, socorrendo-me de registro guardado na memória, o texto de sugestiva oração de origem havaiana, recitada por grupo de atores durante uma representação teatral recente.

Julieta Correia Fialho, que se confessa, gentilmente, leitora assídua das elucubrações produzidas por este desajeitado escriba, “apreciando a diversidade dos temas abordados”, adiciona àquele trabalho enriquecedora contribuição. Explica, em mensagem via Internet, que a oração, contendo diversificadas versões, estribada no desejo de libertação pessoal de situações de desconforto enclausuradas na mente, utiliza como expressões-chave para exprimir o sentimento as frases “Sinto muito”, “Me perdoe”, “Te amo”, “Sou grato”. Esses dizeres, inspirados na súplica do perdão, estão harmonizados com o que se convencionou denominar de “Ho’oponopono”, uma manifestação religiosa espalhada por dezenas de lugares. Ao fazer o “Ho’oponopono”, implora-se da Divindade Suprema que limpe, purifique, transmute em energia positiva a carga negativa de problemas armazenados na mente.

O nome do artista plástico Al Mc Allister, gaúcho de Porto Alegre, com trabalhos sobre o tema amplamente divulgados, inclusive no exterior, é especialmente citado na mensagem da leitora. As palavras vindas a seguir são de autoria do mesmo: “Em 2007 tive a grata satisfação de conhecer a prática do “Ho’oponopono”, conforme ensinado pelo dr. Ihaleakala Hew Len (médico havaiano). É assim que ele define o processo: o “Ho’oponopono” libera as energias tóxicas internas, permitindo que a inspiração divina tenha efeito impactante nos pensamentos, palavras, feitos e ações.”

E em que ocasiões a prática se faz aconselhável? Naqueles momentos em que nos damos conta de algum incômodo ou desconforto em relação a alguém, a alguma situação ou coisa. Em horas assim, na tentativa de neutralizar a energia associada aos fatos desagradáveis, promove-se o processo da limpeza energética. O alvo a ser alcançado com a oração é a transmutação da energia negativa, emanada das recordações desconfortáveis, em pura luz. O pedido de perdão é para que o problema se desvaneça dentro do coração e da mente. As palavras-chave sublinhadas são repetidas com firmeza e fervor para que se possa operar o desbloqueio energético.

Constato, prazenteiramente, amparado nas informações passadas pela leitora, que o comentário por mim lançado, repetindo de memória, numa espécie de versão livre, a oração, guardou fidelidade à sua essência filosófica. O texto de uma das muitas versões dessa prece, que também me foi encaminhado, confirma o que estou dizendo. Cuidemos de reproduzi-lo: “Essa oração deve ser feita para harmonizar todas as áreas da sua vida. "Divino criador, pai, mãe, filho em Um... Se eu, minha família, meus parentes e ancestrais lhe ofendemos, à sua família, parentes e ancestrais em pensamentos, palavras e ações, do início da nossa criação até o presente, nós pedimos seu perdão. Faço isso na intenção amorosa de limpar, purificar, liberar, cortar todas as recordações, bloqueios, energias e vibrações negativas e transmutar estas energias indesejáveis em pura luz... Assim está feito. Eu sinto muito. Eu peço perdão. Eu te amo. Eu sou grato.”

A SAGA LANDELL MOURA

Uma mulher rodeada de palavras

                             *Cesar Vanucci “Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida” (verso da canção “M...