Um ensaio literário
O LADO MÍSTICO DE GUIMARÃES ROSA
Cesar Vanucci
“Mexendo em velhos papéis,encontrei
um texto precioso de Guimarães Rosa...”
(Luiz de Paula Ferreira, escritor)
Guima são muitos. O universo literário rosiano, povoado de pontos cintilantes, parece ser regido pela mecânica cósmica da expansão contínua. Ganha, de tempos em tempos, nova dimensão. Os observadores deparam-se, ao devassar com suas lunetas os horizontes ilimitados da obra do autor de “Grande Sertão, Veredas”, com descobertas as mais fascinantes. Nenhuma delas ofusca a outra. Tudo faz parte de um todo harmonioso, que fala das múltiplas e inesgotáveis facetas de um gênio da criação literária. Um intelectual que escalou altitudes himalaianas e soube, como bem poucos, valer-se do recado artístico para atingir, certeiramente, as profundezas da alma humana.
Guimarães Rosa são muitos. E, singularmente, único, sem que se possa vislumbrar na afirmativa qualquer paradoxo. Revela-se único ao ostentar - categorizado mensageiro da boa palavra literária, da palavra que encanta e arrebata - essa profusão de saberes incomuns que tornam tão reluzente o seu legado de idéias.
Há o Guimarães recriador de linguajares de ricas cadências e tinturas. Há o paisagista de um sertão bravio, espantosamente real. Uma faixa de chão de consideráveis proporções dominada por ritmos e critérios peculiares de vida, inalcançáveis na visão utilitarista urbana. Há o retratista portentoso de perfis inesquecíveis. Desenhista de tipos esfuziantes na maneira singela de agarrar as dádivas da vida, projetados das emoções e paixões das multidões anônimas. Há o contador insuplantável de estórias brotadas das vivências simples da gente do povo, com seus ditames éticos rudes que costumam ressoar incompreensíveis em ouvidos eruditos. E há, ainda, o prosador clássico dos achados poéticos inebriantes, das metáforas antológicas e das alegorias eletrizantes. “O alquimista do coração”: é assim que ele é mostrado em livro do escritor mineiro José Maria Martins. Sua literatura, segundo ainda o escritor citado, é levada a extremos de sutileza e inovação, ampliada “a recantos do mar da existência nunca d’antes explorados”, já que ele “tinha a capacidade de transpor a fronteira que separa o universo das manifestações temporais daquele da casualidade profunda”.
E eis que, agora, de repente, desponta um Guimarães Rosa de insuspeitados (e confessos) envolvimentos com as manifestações mágicas, de certo modo inextricáveis, da paranormalidade. A intrigante revelação chega por intermédio de um respeitado intelectual, com apreciável contribuição à causa da cultura. O dileto amigo, Luiz de Paula Ferreira, escritor, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas, figura de relevo na cena empresarial. A carta que me envia diz tudo: “Prezado Cesar, Mexendo em velhos papeis, encontrei um texto precioso de Guimarães Rosa, publicado há quase 40 anos no “Estado de Minas”, citando fenômenos paranormais presentes na vasta produção literária que lhe valeu merecidamente ser incluído na relação dos 100 maiores escritores de todos os tempos. Conhecendo seu gosto pelo estudo de fenômenos dessa natureza, estou anexando o texto que é muito rico e merece ser avaliado e divulgado em suas crônicas. Referindo-se ao “Grande Sertão, Veredas”, ele diz: “Quanto ao “Grande Sertão, Veredas”, forte coisa e comprida demais seria tentar fazer crer como foi ditado, sustentado e protegido por forças ou correntes muito estranhas.” Do amigo, Luiz de Paula Ferreira”.
No artigo em questão, Guimarães solta o coração para confissões que abrem instigantes perspectivas na avaliação de sua fabulosa obra. Comenta seus “sonhos premonitórios, telepatia, intuições, séries encadeadas fortuitas, toda a sorte de avisos e pressentimentos.” Um texto preciosissimo que deixa evidenciados, em boa interpretação parapsicológica, os dons paranormais de que o escritor era, indiscutivelmente, possuidor.
Na sequência, a reprodução desse texto notável.
A confissão de Guimarães
Sua obra suscita mais tentativas de decifração
do que a de qualquer outro escritor.”
(Paulo Rónai)
Conforme já contado, Guimarães Rosa confessou, 40 anos atrás, em artigo no “Estado de Minas”, reavivado pelo escritor Luiz de Paula Ferreira, seu entranhado envolvimento com fenômenos ligados às percepções extra-sensoriais. Do instigante texto ressalta claro que sua obra literária – obra que “suscita mais tentativas de decifração do que a de qualquer outro escritor”, segundo Paulo Rónai – foi marcada, desde sempre, por intuições e impulsos mágicos, de nítida configuração parapsicológica, inexplicáveis à luz do conhecimento consolidado.
Mas já é tempo de satisfazer a curiosidade do leitor, a respeito da confissão do autor de “Sagarana”, falando de seus dons paranormais. O artigo tem por título “Vida – arte – e mais?”.
“Tenho de segredar que – embora por formação ou índole oponha escrúpulo crítico a fenômenos paranormais e em principio rechace a experimentação metapsiquica – minha vida sempre e cedo se teceu de sutil gênero de fatos. Sonhos premonitórios, telepatia, intuições, séries encadeadas fortuitas, toda a sorte de avisos e pressentimentos. Dadas vezes, a chance de topar, sem busca, pessoas, coisas e informações urgentemente necessárias.
No plano da arte e criação – já de si em boa parte suplinar ou supraconsciente, entremeando-se nos bojos do mistério e equivalente às vezes quase à reza – decerto se propõem mais essas manifestações. Talvez seja correto eu confessar como tem sido que as estórias que apanho diferem entre si no modo de surgir. À Buriti (Noites do sertão), por exemplo, quase inteira, “assisti”, em 1948, num sonho duas noites repetido. Conversa de Bois (Sagarana), recebi-a, em amanhecer de sábado, substuindo-se a penosa versão diversa, apenas também sobre viagem de carro-de-bois e que eu considerara como definitiva ao ir dormir na sexta. A Terceira Margem do Rio (Primeiras estórias) veio-me, na rua, em inspiração pronta e brusca, tão “de fora”, que instintivamente levantei as mãos para “pegá-la”, como se fosse uma bola vindo ao gol e eu o goleiro. Campo Geral (Miguilim e Manuelzão) foi caindo já feita no papel, quando em brincava com a máquina, por preguiça e receio de começar de fato um conto, para o qual só soubesse um menino morador à borda da mata e duas ou três caçadas de tamanduás e tatus; entretanto, logo me moveu e apertou, e, chegada ao fim, espantou-se a simetria e ligação de suas partes. O tema de O Recado do Morro (No Urubuquá, no Pinhém) se formou aos poucos, em 1950, no estrangeiro, avançado somente quando a saudade me obrigava, talvez também sob razoável ação do vinho ou do conhaque. Quanto ao Grande sertão: Veredas, forte coisa e comprida demais seria tentar fazer crer como foi ditado, sustentado e protegido – por forças ou corrente muito estranhas.
Aqui, porém, o caso é um romance, que faz anos comecei e interrompi. (Seu título: A Fazedora de Velas). Decorreria, em fins do século passado, em antiga cidade de Minas Gerais, e para ele fora já ajuntada e meditada à massa de elementos, o teor curtido na idéia, riscado o enredo em gráfico. Ia ter principalmente, cenário interno, num sobrado, do qual – inventado fazendo realidade – cheguei a conhecer todo canto e palmo. Contava-se na primeira pessoa, por um solitário, sofrido, vivido, ensinado. Mas foi acontecendo que a exposição se aprofundasse, triste, contra meu entusiasmo. A personagem, ainda enferma, falava de uma sua doença grave. Inconjurável, quase cósmica, ia-se essa tristeza passando para mim, me permeava. Tirei-me, de sério medo. Larguei essa ficção de lado. O que do livro havia, e o que se referia, trouxou-se em gaveta. Mas as coisas impalpáveis andavam já em movimento. Daí a meses, ano-e-meio, ano – adoeci, e a doença imitava, ponto por ponto, a do Narrador! Então? Más coincidências destas calam-se com cuidado, em claro não se comentam. Outro tempo após, tive de ir, por acaso, a uma casa – onde a sala seria, sem toque ou retoque, a do romanceado sobrado, que da imaginação eu tirara, e decorara, visualizado freqüentando-o por oficio. Sei quais foram, céus, meu choque e susto. Tudo isto é verdade. Dobremos de silêncio.”
Acontecências paranormais
“Tudo isto é verdade. Dobremos de silêncio.”
(Guimarães Rosa, em artigo escrito há 40 anos)
Restou cabalmente provada, no depoimento do próprio autor aqui reproduzido, a incomum capacidade de Guimarães Rosa de poder atingir, com prodigiosa freqüência, latitudes superiores na captação das energias sutís que compõem este nosso universo povoado de inexplicabilidades. Energias essas ainda indecifráveis do ponto de vista do conhecimento científico consolidado.
Depois de anotar que, por formação ou índole costumava opor “escrúpulo crítico a fenômenos paranormais”, o escritor viu-se obrigado a reconhecer que sua vida, sempre e desde cedo, “se teceu de sutil gênero de fatos.” E que fatos tão singulares, “entremeando-se nos bojos do mistério e equivalente às vezes quase à reza”, são mesmo esses, afinal de contas? A resposta chega de imprevisto, fulminante, de forma a esmorecer costumeiras dúvidas suscitadas pela proverbial dificuldade humana em avaliar situações consideradas fantásticas, misteriosas ou enigmáticas: “sonhos premonitórios, telepatia, intuições, séries encadeadas fortuitas, toda a sorte de avisos e pressentimentos.”
Foi, por exemplo, num sonho premonitório, “duas noites repetido”, que a estória de “Buriti”, constante de “Noites do Sertão”, tomou forma em 1948. É o que atesta, com franqueza e sem rebuços, o autor de “Tutaméia”. Os estudiosos dos fenômenos abarcados pela Parapsicologia não hesitarão em apontar, nessa revelação, a faculdade de precognição entre os dons singulares do escritor. E qual classificação atribuir ao relato de Guimarães concernente a “Conversa de bois”, do enredo de “Sagarana”? “(...) Recebi-a, em amanhecer de sábado, substituindo-se a penosa versão diversa, apenas também sobre viagem de carro-de-bois e que eu considerava como definitiva ao ir dormir na sexta”, sublinha o autor. O ato de haver “recebido” dá o que pensar. Esse mesmo processo intrigante de “recepção”, dir-se-á (à falta de definição melhor) mágica, ocorre em muitos outros momentos da fecunda trajetória literária de Guimarães, segundo informações dele próprio. É assim em “A terceira margem do rio” (“Primeiras estórias”). Assim, igualmente, em “Campo Geral”. (“Miguelim e Manuelzão”). Uma das estórias brotou na rua, “em inspiração pronta e brusca”, vinda “de fora”. A outra “foi caindo já feita no papel” (...) “e, chegada ao fim, espantou-se a simetria e a ligação de suas partes”. Será que a hipótese da “escrita automática”, também conhecida por psicografia, pode ser encaixada como tentativa de explicação? Ou o que aconteceu guardará sinais de similitude, de alguma maneira, com um “esclarecimento” que me foi passado, de certa feita, pelo consagrado autor espanhol J.J.Benitez? Perguntei-lhe em quais fontes se inspirara para o impressionante relato sobre a vida de Cristo que compõe a saga “Operação Cavalo de Tróia.” Pelo que deduzi da resposta, tudo provinha de um manancial de conhecimentos existente num plano superior. As informações teriam sido obtidas por percepção extra-sensorial, um tipo de “canalização” ainda não devidamente codificado. Guimarães Rosa parece querer dizer coisa parecida em seu artigo, quando fala de “Grande Sertão, Veredas”: “(...) forte coisa e comprida demais seria tentar fazer crer como foi (o livro) ditado, sustentado e protegido – por forças ou correntes muito estranhas”.
A precognição ganha sentido, mais uma vez, no caso de um outro romance que “faz anos, comecei e interrompi” (“A fazedora de velas”). A doença que veio a acometer o escritor, bem como a visualização antecipada que teve do interior de uma casa visitada, anos depois, “por acaso”, que haviam sido projetadas no romance, causando-lhe “choque e susto”, são elementos a mais a considerar na análise das fantásticas situações, de características iniludivelmente paranormais, vividas pelo genial Guimarães Rosa.
Não há como negar: as instigantes revelações acerca da paranormalidade do escritor, ouvidas de sua própria boca, reclamam atenções maiores dos estudiosos de sua fabulosa obra.
Cartas do médico Guimarães
“Uma pequena preciosidade.”
(José Dias Lara, escritor, estudioso da obra de Guimarães Rosa)
Nas três crônicas anteriores – “Guimarães Rosa”, “Confissão de Guimarães” e “Acontecências paranormais” -, andei deitando falação acerca dos insuspeitados, singulares, e, como se viu depois, confessos dons de percepção extrasensorial do genial escritor. As considerações alinhadas se basearam num artigo, de 40 anos atrás, em que o próprio Guima narra suas incríveis experiências nessa enigmática seara. O artigo me foi encaminhado por um grande amigo, o escritor e historiador Luiz de Paula Ferreira, um dos maiores empresários do ramo têxtil da América Latina.
Das crônicas aqui estampadas tomou conhecimento o respeitado homem de letras José Dias Lara, ex-governador do Lions, educador emérito, membro da Academia Mineira de Leonismo, onde ocupa a cadeira que tem Guimarães Rosa como patrono. Estudioso das coisas ligadas ao encantador universo rosiano, Lara detém valiosas informações sobre a vida e a obra do autor de “Grande Sertão, Veredas”. Numa amável correspondência, registra sua surpresa diante do artigo de Guimarães: “O tal artigo, de 40 anos atrás – que desconhecia – talvez seja mais uma das excentricidades do velho Guima, que ele as tinha em bom número”. No desdobramento da mensagem, presenteia-me, conforme suas palavras, com “uma pequena preciosidade”.
Ouçamos de sua própria boca as explicações: “Sabe-se que Guimarães era de falar pouco e escrever muito, particularmente cartas: era um missivista de escol. E isto já fazia, bem antes de tornar-se o notável escritor que todos conhecemos. Ainda era o dr. João, médico em Itaguara, nos idos de 1932; são desse tempo as cartas de que lhe envio algumas cópias – uma pequena preciosidade – uma delas até com uma fórmula medicamentosa para manipular. Linguagem simples para seu povo muito simples. Eram os primeiros passos de um bom médico, que se fez grande nas letras nacionais.”
O destinatário de todas as cartas, redigidas pela ortografia da época, datadas de 1932, a caligrafia firme e desenvolta, é um senhor de nome Manoel, residente no Mambre, próximo a Itaguara, onde o médico Guimarães Rosa clinicava. Em tom assaz cordial, evidenciando o grau de amizade existente entre os dois, Rosa acompanha o tratamento de pessoa próxima ao companheiro Manoel. Indica procedimentos terapêuticos incluindo aí, até mesmo, receitas médicas caseiras, de uso corrente naqueles tempos. Abaixo a reprodução das duas primeiras cartas-receitas. As outras ficam para depois.
“Itaguara, 22 maio 932 Prezado Manoel, Abraços, Seguem os apetrechos. Faça o serviço com jeito, e mande-me a ferramenta logo depois. Explique ao povo da casa o modo de usar os remédios.
Recomende quanto à hygiene. Mande fazer também uma lavagem intestinal. Será bom você mandar-me uma informaçãozinha por escripto. Recomendações aos seus. Abrace por mim o velho. Estou com saudade do agradável Mambre e, principalmente, dos seus bondosos moradores. Muito grato por todas as finezas; desculpe-me os incômodos. Do amigo J. Guimarães Rosa”
“Prezado Manoel Cumprimentos aos seus. Continue a mandar fazer as lavagens intestinaes, bem como as vaginaes. A doente deve tomar, na maior quantidade possível, chá de cabellos de milho adoçado. A alimentação deve ser reforçada, com prudência, porem. Um apertado abraço do amigo Guimarães Rosa.!
Receitas de Rosa
“... aplicar angús quentes no logar da dor.”
(Prescrição do dr. João Guimarães Rosa)
Esta crônica ocupa-se de textos inéditos de Guimarães Rosa datados de 1932. Não se trata, já vimos, de escritos literários, mas de mensagens coloquiais, em tom afetuoso, assinadas pelo médico dr. João Guimarães Rosa. Ele exercia a profissão em Itaguara, interior deste imenso país das Geraes. O destinatário, amigo dileto, era o fazendeiro Manoel Carvalho, chefe político conceituado na região. A fazenda Mambre, citada várias vezes nas correspondências, ficava localizada na divisa de Itaguara e Itatiaiuçu.
Em carta de 25 de maio de 32, Guima refere-se ao amigo como “um bom enfermeiro e um bom informador” e recomenda à paciente sob seus cuidados “lavagem intestinal” com “água fervida, ou cozimento de rosas”. Este o texto: “Itaguara, 25 de maio de 932 Prezado Manoel, Um abraço apertado. Primeiramente, ardorosos parabens, pois você tem sido um bom enfermeiro e bom informador. Quanto à doente: Deve ir se alimentando com canjas, caldo de frango, mingáu de fubá com leite, café com leite, sopa de macarrão bem cozido, etc, porque a moléstia é demorada e a doente necessita de manter as forças. Mesmo sem appetite, deve insistir. Deve fazer nova lavagem intestinal, com litro de água fervida, ou cozimento de rosas. Vão novos papeis para lavagens vaginaes. A injecção não póde falhar nenhum dia amanhã póde falhar a informação, só isso. Quando a febre estiver mais alta, a doente deverá tomar um banho morno de corpo todo, enxugando-se bem depois. Os remédios (poções) devem ser tomados sem interrupção, e, terminado o conteúdo dos vidros deve vir o portador para reformal-os. Continue: - Hygiene.... Hygiene.... si fôr possível. Abrace todos os seus em meu nome. Do amigo Guimarães Rosa.”
Na carta seguinte, 29 de maio, expressa muito carinho pelo pessoal da fazenda.
“Distinto Manoel, Gloria! Fico bem satisfeito de saber das melhoras apresentadas pela doente – melhoras devidas em parte aos cuidados enérgicos do amigo, que tem sabido informar-me magnificamente da marcha da moléstia. Si as dores nas pernas continuarem, veja si há alguma novidade no local dolorido (inchação branca e dura), pois pode tratar-se de uma phlebite puerperial. De qualquer maneira, caso a dôr continúe, a doente deverá manter-se em repouso rigorosissimo, podendo applicar angús quentes no logar da dor. No mais, continue, que está bem orientado. Distribua um punhado de abraços entre o pessoal do Mambre, sendo um abraço maior para o seu Chico e um outro para você. Até outra vez. Guimarães Rosa.”
Na missiva posterior (03.06.1932) Guimarães Rosa prescreve uma receita caseira, indicando os ingredientes da manipulação a ser feita.
“Prezadissimo Manoel Cordiais cumprimentos. Seguem novos remédios para a enferma. É preciso que ella vá se alimentando bem, com as devidas cautelas, naturalmente, para que a causa não desande em vez de andar. Não deixe de mandar informações por mais uns três dias, principalmente temperatura e pulso. Mande fazer diariamente uma lavagem intestinal. E, fallo sem intuito de envaidecel-o, póde você estar certo de que a cura da doente deverá, em grande parte, ser agradecida ao enfermeiro. Pudesse eu ter sempre á mão um auxiliar assim! Quanto á crioula, si você quizer experimentar ainda, póde dar a ella: Uso interno Elatério - 0,50 .....; Rhuibarbo preto - 1,0 gr; Estr. de fel de boi - qsp para 20 pilulas. Dar 1 de 2/2 horas. Conjuntamente devem ser dadas umas 3 injecções de óleo camphorado. Provavelmente o resultado será bom. Até breve. Abraça por mim a todos os mambrenses, principalmente o velho. Do amigo Guimarães Rosa Itaguara, 3 de junho de 932.”
Interessantíssima, sem dúvida, essa série de cartas-receitas que o professor José Dias Lara, estudioso da vida e obra de Guimarães Rosa, traz ao conhecimento dos leitores por intermédio deste seu admirador e amigo.