quinta-feira, 27 de novembro de 2014

 SEMANA MUNDIAL DO SERVIÇO LEONÍSTICO


ENCONTRO ECUMÊNICO MEMORÁVEL


¨ Painéis de estudos reuniram representantes de mais de uma dezena de culturas religiosas

¨ Assembleia festiva, com teatro lotado, homenageou 34 personalidades

¨ Espetáculo artístico de altíssimo nível emoldura histórica promoção leonística
Companhia de Dança Sesiminas fez uma apresentação arrebatante


Coral e conjunto de batuque da Unimed, uma beleza de espetáculo



Refulgente celebração leonistica

Cesar Vanucci

“Acabamos de participar de uma riquíssima experiência de aprendizado, diálogo e reflexão em torno do tema “Em busca de um mundo melhor”.
(José Monteiro da Silva, Governador do Lions)

Todos os anos o Lions Clube celebra a “Semana Mundial do Serviço Leonístico” na esfera de atuação da governadoria do Distrito LC4, com o envolvimento dos Clubes e da Academia Mineira de Leonismo. A comemoração deste ano, entre os dias 17 e 19 de novembro, ganhou  relevo todo especial, à vista do tema escolhido para reflexão, estudos e as atividades culturais levadas a efeito: “A busca de um mundo Melhor  - Travessia ecumênica e interreligiosa”.
Cinco painéis, com participação na condição de expositores de representantes das diferentes culturas religiosas, atraíram plateias vibrantes, com realce para a presença de estudantes e professores vinculados ao Instituto de Educação de Minas Gerais. Estes, por ordem das apresentações, os expositores: Pastor Jorge Diniz, da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil; Jornalista Romero Carvalho, da Sociedade Internacional para a Consciência de “Krishna”; Reverendo Bernardino Ovelar, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil; Professor Sidney Ferreira da Silva, especialista em candomblé afro-brasileiro; Dom Joaquim Mol, Bispo Auxiliar de Belo Horizonte e Reitor da PUC Minas; Irmã Márcia Maria Lobo Leite, dirigente do CONIC (Conselho das Igrejas Cristãs de Minas Gerais); Padre Dinamar Gomes Pinto, Vigário paroquial em Betim; Valeriane Bernard, coordenadora da Brahma Kumaris em Genebra; Professor Marcelo Gardini Almeida, diretor da União Espírita Mineira; Gurt Muller, da Comunidade Evangélica Luterana; Irmã Marizete Batista, da Congregação Paulina; Mauricio Godoy, membro do budismo tibetano.
Os debates, bastante animados, proporcionaram ao público a esplêndida oportunidade de conhecer mais a fundo os conceitos essenciais das varias doutrinas religiosas, permitindo ainda a constatação de que através do dialogo constante, compreendendo ações sociais conjugadas, é possível vislumbrar-se a eliminação, nas vivencias humanas, das desavenças de cunho ideológico que tantos malefícios acarretam. Vários grupos promoveram demonstrações artísticas.
A programação cumprida no curso da “Semana” culminou com uma festa cívico cultural grandiosa. Com as dependências do Teatro Francisco Nunes inteiramente tomadas, o Lions homenageou 34 personalidades com a outorga de troféus criados para enaltecer o trabalho de cada um na construção de um mundo melhor e em favor do diálogo ecumênico e interreligioso. O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, foi agraciado pela Academia Mineira de Leonísmo com a comenda “JK- Cultura, Civismo e Desenvolvimento”. Estas as pessoas homenageadas com os troféus “Lions–Solidariedade Social”: Deputado Adelmo Carneiro Leão; Padre André Callegari; Alba Duarte; Pastor Bernardino Ovelar Arzamendia; Celso Cota Neto; Deputado Dinis Pinheiro; Padre George  Rateb Massis; Henrique Vizibelli Chaves; Jacques Tadeu França; Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães; Padre José Cândido da Silva; Professor José Wagner Leão; Lieselotte Jokl; Luiz Roque; Maria Magdalena de Araujo; Irmã Márcia Maria Lobo Leite; Reverendo Márcio Moreira; Marcos Antônio Maldonado Moreira; Mauricio Alves Pereira; Marli Medeiros; Irmã Marizete Batista; Nelson Mateus Nogueira; Orestes Debossan Junior; Monsenhor Pedro Terra; Rosana Basile Ribeiro dos Santos; Salim Zaidan; Sergio Fernando Pinho Tavares; Sidália Xavier Silva; Sonia Sergio de Souza; Ulisses Martins Filho; Waldevino Batista de  Souza; Padre Willamy Feijó; Zélia Savala Rezende Brandão.
O Governador do Distrito LC-4, José Monteiro da Silva, discursou na ocasião. Este escriba também fez uso da palavra, como coordenador geral do evento. O Diácono Paulo Franco Taitson, professor da PUCMinas, agradeceu em nome de Dom Walmor, que não pôde estar presente ao acontecimento.
A parte artística da noitada de gala esteve a cargo, num primeiro momento, do Coral da Unimed, que apresentou números do folclore brasileiro, contando com o apoio de um grupo de batuque que integra o programa de incentivo cultural mantido com recursos da instituição. A apresentação foi muito aplaudida. A Companhia de Dança do Sesiminas, dirigida pela coreógrafa Cristina Helena, completou a programação artística, encenando uma adaptação do “Lago do Cisne”, com introdução de motivos brasileiros, A exibição foi arrebatante.


O Lions contou, para o êxito da promoção, com o decisivo apoio da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, do CONIC (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs), Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, Sistema FIEMG, Sesiminas, “Diário do Comércio” e de mais de uma dezena de organizações religiosas, além da colaboração do Sindicato dos Artistas de Minas Gerais. A consagrada atriz Magdalena Rodrigues, presidente do Sindicato, desempenhou com brilhantismo o papel de Mestre de Cerimônia na festividade.




Professor Paulo Franco Taitson, da PUCMinas, recebe, 
em nome de Dom Walmor, Arcebispo Metropolitano, a Medalha JK


Homenagens contemplaram figuras de destaque na vida comunitária



Escolher o bem é oração

Cesar Vanucci

“Como santa pode ser a guerra?”
(Marilene Guzella Martins Lemos, escritora).


A “Invocação a Deus” é ato tradicional nas atividades leonísticas. Cada evento da organização, que possui ramificações em todos os continentes, é sempre iniciado com uma palavra de reverência ao Ser Supremo.
Na recente celebração do “Dia Mundial do Serviço Leonístico”, 19 de novembro passado no teatro Francisco Nunes, BH, Marilene Guzella Martins Lemos, integrante de várias Academias de Letras, entre elas a Mineira de Leonismo, brindou o público, na “Invocação”, com as sugestivas palavras que se seguem. A propósito da autora, cabe adicionar a informação de ser ela também exímia “contadora de histórias”. Esta a “Invocação”:
“O homem sente carência, quer saber que influência norteia seu viver./ Quando sente a consciência e vislumbra o transcendente, sente a pequenez./ Conecta-se ao sagrado, é o místico em sua vez. Que força maior é essa? Causa, efeito?/ Quem fez tudo tão perfeito nesse mundo ao seu redor!/ Quem criou o que via? Epifania do conhecimento maior? / O homem segue, ideias se aprimoram, cria deuses e teogonias; rituais pelos quais moldam comportamentos. Em cada lugar brotam teorias, religiões, filosofias./ Zoroastro, Buda, Confúcio plantam pensamento./ Moises, em conexão sagrada, transmite da moral, os fundamentos./ Se grande a necessidade, maior a devoção; imensa a dor, é a fé solução./ Em meio ao caos, de semente divina nasce um redentor./ Do mundo, a esperança. Em curta vida, ensina, acima de tudo, o amor. / E fé. Tão simples a lição! O nome, Jesus de Nazaré. Caminha pela terra, mostra a luz. / Por poder e arrogância usam sua cruz em guerras santas. Como santa pode ser a guerra?/ Símbolo de uma era, pregou o entendimento, não a desavença./ Por ritos, heresias, dogmas, crença e descrença negam a paz./ Dissidências com motivo, sem motivo, inúteis, tanto faz./ Aldeia global, mundo sem barreiras, de muitas maneiras chega-se a Deus./ Cristãos e não cristãos, crentes e ateus; dentro de cada um vive o mesmo Deus./ Que é amor, solidariedade, compaixão. Escolher o bem é oração./ Rezar é olhar quem está ao lado: se necessitado estender-lhe a mão. / Que plantem filosofias adaptadas ao presente. Floração de Gandhis, Mandelas e Franciscos./ mesmo correndo riscos, vitória da bondade, do humanismo, da diversidade.”
Anos atrás, noutra celebração do “Dia Mundial do Serviço Leonístico”, foi apresentado, na Invocação, um texto com feitio de oração ecumênica. As pessoas de consciência aberta, infensas ao dogmatismo rançoso, tão ajustado ao paladar das correntes fundamentalistas, nele encontrarão referências enriquecedoras acerca do empenho da humanidade em se aproximar, pelo instrumento da prece, de suas origens e destino transcendentes. Vamos reproduzi-lo como uma contribuição a mais ao diálogo ecumênico.
“Oração é atitude essencial. Em todos os tempos, em todas as culturas, em todos os cantos do planeta, os seres humanos sempre se curvaram diante de algo maior que eles mesmos. É muito interessante e precioso ouvir a voz da humanidade, em todas as latitudes geográficas, dirigida a Deus. Como se faz aqui, agora, nesta oração ecumênica Ela enfeixa textos sagrados de diferentes épocas e formas de devoção humana, servindo de comprovação para o fato de ser o sentimento de religiosidade fenômeno sociológico planetário.
Comecemos pelo Bhagavad.Gita, da tradição sagrada hinduísta: “O que supera o fazer e o saber é o amor”. Ouçamos o que dizem os índios da tribo ienape, da América do Norte: “Deus é aquele que sentimos em nós quando praticamos uma boa ação”. Passemos à visão que tem de Deus o povo esquimó: “Ele é um espírito poderoso, que guarda o universo, regula as estações do ano e toda a vida do homem”. Manifestação inca: “Que esplendor! Eu me prostrarei diante de Ti. Olha-me, Senhor, presta atenção à minha voz”. Invocação a Deus dos tempos da Mesopotâmia: “Senhor - Tua divindade brilha com glória sublime. Sublime como o céu. Vasta como o mar”. Egito antigo: “A terra inteira, quando surges, cada dia, se prostra em oração, para Te adorar”. Judaísmo: “Iavé é meu pastor, nada me falta. Ele me conduz por campos verdejantes, leva-me a águas que refrescam, reconforta a minha alma”. Islamismo: “Deus é a luz dos céus e da terra. Sua luz é como um nicho onde se acha uma lâmpada”. Cristianismo, pela palavra de Paulo: “Temos agora a fé, a esperança, o amor. Mas, dos três, o mais excelente é o amor”. Martinho Lutero: “Para o meu próximo devo tornar-me um Cristo e agir como o Cristo fez por mim, sacrificando-se pela minha salvação”. E, por último, uma expressão carregada de lirismo de Antoine de Saint Exupéry: “Aparece-me, Senhor, porque é árido perder o gosto de Deus”.


Esses belos impulsos da alma humana foram extraídos em grande parte do livro “As mais belas orações de todos os tempos”, seleção e tradução de Rose Marie Muraro e Frei Raimundo Cintra. 


Paineis de estudos referentes ao diálogo ecumênico e interreligioso reuniram 
como expositores representantes de mais de uma dezena de instituições religiosas.


Diálogo, palavra-chave

Cesar Vanucci

“O sentido da vida e o seu arcano é a aspiração
de ser divino no prazer de ser humano.”
(Raul de Leoni)

A convicção que carregamos de que o diálogo ecumênico e interreligioso é uma forma magistral de tagarelar com Deus, contribuindo para que o mundo se conecte melhor em torno da verdadeira essência da aventura humana está traduzida nas palavras que dissemos na sessão festiva de encerramento da celebração da “Semana Mundial do Serviço Leonistico”, dia 19 de novembro último, no Teatro Francisco Nunes, em Belo Horizonte.
Eis o que falamos: Antes de tudo mais, efusivos agradecimentos aos ilustres expositores dos painéis de estudos de ontem, anteontem e de hoje pela manhã. As informações passadas enriqueceram bastante o nosso cabedal de conhecimentos.
Representantes de variadas culturas religiosas, eles nos fizeram ver que suas convergências suplantam esmagadoramente suas diferenças no território livre das ideias.
Os valores humanísticos e espirituais exaltados em todas as falas ouvidas, sem exceção, foram rigorosamente os mesmos.
Nossos brilhantes convidados, contemporâneos do futuro, deixaram-nos, com toda certeza, melhor preparados para entender o mundo e entendermo-nos no mundo.
Nossos homenageados são igualmente merecedores de congratulações calorosas por personificarem admiravelmente o espírito desta celebração. Mesclam harmoniosamente pensamento, palavra e ação na busca do ideal da fraternidade.
Perdoem-nos a empolgação das palavras neste amorável encontro festivo de características tão singulares. A palavra é pura magia. Segundo Ronsard, é na verdade a única magia, já que a alma é conduzida e regida pela palavra e também porque a palavra é sempre dona do coração.
Para todos nós, que vivemos as reconfortantes emoções da celebração de mais esta Semana Mundial do Serviço Leonistico, o evento desta noitada de gala e os eventos que a antecederam têm, simbolicamente falando, dentro da voragem das rotinas mundanas, a aparência singela de uma ermida toscamente plantada num bucólico outeiro campestre.
Mas, caríssimos amigos, nas audazes propostas e reflexões de cunho espiritual e social suscitadas, na tomada de consciência gerada, nesse trabalho ecumenicamente compartilhado, tudo isso tem também, ainda simbolicamente falando, a imponência de uma catedral profusamente iluminada. Ou de uma sinagoga. Ou de uma mesquita. Ou de uma outra majestosa estrutura arquitetônica que consiga refletir adequadamente o supremo anseio humano de interpretar a mensagem de infinita beleza que, do fundo e do alto dos tempos, chega aos homens de boa vontade e aos corações fervorosos.
O diálogo é palavra-chave. Um “abre-te Sésamo” universal. Dir-se-á mesmo cósmico. Destranca ferrolhos. Destrava segredos eletrônicos das blindagens compactas, espessas, da intolerância, do preconceito, dos dogmas rançosos, das dificuldades que muitos encontram em participar com alegria e descontração da fascinante aventura humana, reconhecendo a exuberância das diversidades de comportamento e da pluralidade de ideias.
O diálogo desbrava caminhos para que outras palavras edificantes possam ser conjugadas com maior intensidade. Palavras como amor, desenvolvimento, comunhão, paz, solidariedade, justiça social, respeito, tolerância, concórdia, igualdade, liberdade, democracia. E por aí vai.
O diálogo é a fórmula eficaz de reduzir as tensões do mundo. De melhorar o nível do entendimento entre países. De enfrentar as guerras do terror e o terror das guerras. De se fortalecer o sentimento nacional e o sentimento do mundo. De se combater o racismo e outras formas de preconceito, sempre aviltantes. De se conter a desagregadora e inquisitorial torrente das ideologias fundamentalistas que a ele, diálogo, se contrapõem tão ruidosamente. De promover a ascensão social de multidões marginalizadas no acesso a padrões de conforto consentâneos com a dignidade humana. Diálogo é compartilhamento. Sinaliza rumos, suaviza caminhadas, desarma desconfianças e belicosidades. Enriquece a convivência. Tem validade permanente, no jogo mundano, para todos, em todas as horas e em todos os lugares.
O poder imensurável do diálogo é uma das lições que esta celebração deixará para sempre na mente e no coração de seus participantes.
Outras lições a serem extraídas desta promoção do Lions, que contou com a ajuda decisiva de valorosos parceiros, representantes de culturas religiosas empenhadas verdadeiramente na construção de um mundo melhor, podem ser definidas em mais alguns conceitos essenciais.
Vejamos quais:
O espírito humano é que nem o paraquedas, só funciona aberto. O homem é a medida correta das coisas. A economia, a tecnologia e outros instrumentos importantes nascidos do engenho humano são meios e não fins em si mesmos. O fim é sempre social. É sempre o ser humano. O sentido da vida e o seu arcano, como proposto poeticamente por Raul de Leoni, é a aspiração de ser divino no supremo prazer de ser humano.

E, por derradeiro, é certo, absolutamente certo, que a serenidade de Deus está sempre presente nas coisas que juntos empreendemos. Palavra de Leão!



Riquíssima experiência de aprendizado

O Governador do Distrito LC-4, José Monteiro da Silva, proferiu o seguinte discurso na solenidade realizada no Teatro Francisco Nunes:

"Boa noite!

O Distrito LC-4 vive nesta noite memorável um de seus maiores momentos.

A instituição do Dia Mundial do Serviço Leonístico reporta-nos ao dia 8 de outubro de 1917, data de abertura da primeira Convenção da Associação Internacional de Lions Clubes, feliz resultado da emanação solidária do notável visionário que foi Melvin Jones.
Em julho de 1917, apenas três meses antes, Melvin Jones conseguira reunir delegados de clubes independentes e associações dos Estados Unidos, procurando interessá-los na sua proposta de unificação, para formar uma associação de clubes de serviços que, em lugar de dedicarem-se exclusivamente a objetivos comerciais, dirigissem seus esforços para a melhoria da comunidade onde estão inseridos.
 Melvin Jones, percebe-se, tinha pressa.  Melhor dizendo, tinha determinação, liderança e força para, pela via exclusiva do diálogo, motivar pessoas. 
Isto, Senhores, se chama liderança!
Depois de quarenta e três anos dedicados ao Lions, Melvin Jones faleceu em 1961, aos 82 anos de idade, cercado de respeito e admiração.
E hoje, como em todos os anos, aqui estamos para celebrar esse grande feito, em uma comemoração de profundo e significativo brilho que traz em si a história de grandes leões que, através dos tempos, souberam também construir e enriquecer este grande legado. E pela beleza e pelo magnífico alcance desta festa em seu tema de uma nobreza ímpar, quero homenagear um grande companheiro Leão que tem firme condução em todas as bandeiras que empunha. Falo do CL Cesar Pereira Vanucci, Presidente da Academia Mineira de Leonismo, à frente de uma comissão radiosa, atuante e dedicada.

Ao CL Cesar Vanucci, um grande Leão pra Valer!, o agradecimento e o respeito de todos os Leões pra Valer do Distrito LC-4.
Acabamos de participar de uma riquíssima experiência de aprendizado, diálogo e reflexão em torno do tema
Em busca de um mundo melhor - Travessia Ecumênica e Diálogo Inter-religioso”.
Por três dias, em cinco mesas-redondas, ilustres representantes de diversas correntes de pensamento religioso nos informaram as bases e a estrutura de sua concepção doutrinária sobre Deus, sobre os homens e, principalmente, sobre a orientação que cada uma delas presta aos seus fiéis, na sua relação com a divindade e com a humanidade em geral.
Das exposições e debates feitos, restou-nos a instigante conclusão de que, para sermos respeitados em nossa crença, temos o dever de respeitar a do outro, em seu contrato particular com o Absoluto. A fé não é separada de nós.  Ela está em nós, porque Deus está em nós; quando respeitamos o outro, respeitamos a sua fé e a Deus, que nele habita.
 Nosso penhorado agradecimento a todos que abrilhantaram, com as suas lições, este portentoso exemplo.
Finalmente, nesta noite memorável, o Distrito LC-4 de Lions Clubes se engalana para homenagear personalidades cuja vida, convicções e atuação pessoal se exercem e se marcam por sua notável atuação em prol de um mundo melhor.
Impressiona sobremaneira a quantidade de saber coletivo, de conhecimento, de estudos, de dedicação, de espiritualidade, reunidos nos nossos homenageados.
Os senhores, e senhoras, constituem a mais legítima expressão da dignidade do ser humano, de quanto é possível crescer pessoalmente pela fé, pelos estudos, pelo aperfeiçoamento pessoal.
Esta cerimônia tem sua culminância na outorga, a Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, da medalha JK - Cultura, Desenvolvimento e Civismo, que ocorre na pessoa de seu representante, o dinâmico Professor da PUC-Minas e Diácono Sr. Paulo Franco Taitisom.
A quem solicitamos que leve a Vossa Excelência Reverendíssima, todo o nosso respeito e admiração, e pela contínua lição de seu exemplo pessoal, de suas atitudes e de seu magistério - de que somos beneficiários.
Ao homenageá-lo, crescem muito a Academia Mineira de Leonismo e o próprio Lions. E crescemos todos nós, como cidadãos de bem e como  LEÕES PRA VALER! Muito obrigado!"

    


 Linguagem ecumênica


Cesar Vanucci

“O que supera o fazer e o saber é o Amor.”
(Oração do Bhagavad-Gita)

Ainda envolto nos bons eflúvios dos diálogos ecumênicos produzidos durante a “Semana Mundial do Serviço Leonistico”, que tive o privilégio de coordenar, insisto nestas maldatilografadas de hoje em entregar à reflexão dos leitores conceitos que estão em rigorosa sintonia com as ideias propagadas naquele memorável evento.
As malquerenças de cunho religioso que, volta e meia, no curso da história, desembocam em inenarráveis tragédias, estão em gritante dissonância com os textos sagrados, de louvor à divindade, das diferentes culturas e tendências. É o que se deflui, de forma prazerosa, da releitura que acabamos de fazer de livro muito especial, elaborado por um frade dominicano que conhecemos nos anos 50, à época em que residíamos em Uberaba. Ele se chamava frei Raimundo Cintra. Faleceu no final da década de 60. Compunha o quadro sacerdotal responsável pelos bons trabalhos desenvolvidos na paróquia de São Domingos, onde se acham localizados a casa matriz da congregação dominicana no Brasil e um dos mais belos templos do acervo arquitetônico católico.
Ministrando curso de História das religiões, Raimundo Cintra produziu bela antologia, enfeixando orações que exprimem, de alguma maneira, a relevância do ecumenismo. Tal circunstância foi muito bem captada pela pensadora e empresária cultural Rose Marie Muraro. Assinalando que o livro constituiu “fenômeno único” em seu itinerário pessoal de vida, Rose registra que, por meio dele, “pude perceber como todas as religiões em seus cumes místicos falam a mesma linguagem em todos os espaços e todos os tempos: a linguagem da ligação com a totalidade.” Intitulada “As mais belas orações de todos os tempos”, envolvendo como co-autora, responsável pela seleção e tradução de textos, a já citada pensadora, e contando com prefácio de ninguém mais nem menos do que Tristão de Athayde, o inesquecível Alceu Amoroso Lima, a obra é um cântico universal por onde a voz da humanidade se eleva a Deus. O próprio frei Cintra fala, na introdução, dos caminhos que, desde sempre, conduzem o homem a Deus: a busca do amor, da verdade e da beleza. Mostra, também, que a oração é uma atitude vital. Uma forma de liberação dos mais nobres impulsos da alma em direção ao Absoluto, ao Inominado, a Deus.
Nas orações que compõem a primorosa coletânea, tanto nas dos chamados povos primitivos, dos povos da antiguidade, quanto nas dos povos da chamada era moderna da civilização, o que se percebe, com clareza, é uma identificação bastante forte em termos de emoções e de sentimentos. Algo que extrapola tempo, território, conceitos culturais, dogmas, regras, latitudes físicas e psicológicas e que torna a aventura humana uma procura amorável e fascinante de integração com o cosmos.
“Deus é aquele que sentimos em nós quando praticamos uma boa ação.” Haverá quem discorde, não importa a crença religiosa a que esteja vinculado, do teor da mensagem de singela beleza extraída dessa prece do povo iename, tribo que povoou, em tempos idos, as terras norte-americanas?
Em suas invocações ao Altíssimo, os gregos do século VIII a.C. chamavam Zeus de rei soberano, “pai dos deuses e dos homens”. E proclamavam, com fervor: “Um sinal apenas de sua fronte basta para sacudir o Universo! És justo e poderoso, punes implacavelmente os maus, fulminas os orgulhosos, recompensas os bons e os humildes. (...) Tu, que trovejas do alto dos céus, sentado no palácio das regiões superiores, inspira-me a justiça e a verdade.”
Neste “versículo da luz”, atribuído ao profeta Maomé, os muçulmanos expressam sua devoção a Alá: “Deus é a luz dos céus e da terra. Sua luz é como um nicho onde se acha uma lâmpada. E este é como um astro brilhante. Seu óleo provém de uma oliveira abençoada. Que não vem do Oriente, nem do Ocidente. (...) Deus guia quem ele quer para a Sua luz. Ele se exprime em símbolos para os homens. Ele mesmo é onisciente.”
Numa prece a Viracocha, das tradições religiosas incas, louva-se com estas palavras a divindade: “Senhor antigo, Senhor longínquo (...) que criou e estabeleceu todas as coisas, dizendo: que seja o homem, que exista a mulher, (...) permitirá que eu possa viver em bravura, em segurança (...) multiplica Seu povo sobre a terra, aumenta o número de Seus filhos.”
O “Hino a Horus”, entoado pelos egípcios na época dos faraós, invoca o “Pastor que apascenta o rebanho” e que “habita nas profundezas do céu”, pedindo-lhe assegure aos homens “vida e repouso”, lembrando que “a terra inteira, quando surges, se prosta em oração, para Te adorar.”

A substanciosa coletânea revela ser a linguagem dos corações fervorosos universal e permanente. Igual em todos os tempos e em todas as partes. É só comparar as ligeiras amostras reunidas com as preces feitas em nosso cotidiano. Textos como os enunciados ajudam a entender o sentido da vida. E a enaltecer o ideal ecumênico, alojado nas mentes mais espiritualizadas ao longo da extensa jornada humana pela pátria terrena.


Ecumenismo rima com humanismo

Cesar Vanucci

“A fé é um pássaro que pousa no alto da
folhagem e canta nas horas em que Deus escuta.”
(Joaquim Nabuco)

Insistimos na temática ecumênica. Faz todo sentido. Vivemos instante humano perturbador. Sedento de amor, de compreensão, de tolerância. Em momento assim posturas ecumênicas ganham especial significado, por remeterem a questões essenciais, a nobres aspirações humanas.
O ecumenismo tem tudo a ver com humanismo, que é a nossa própria razão de viver. Responde com vigor escorraçante às propostas radicais dos fundamentalismos de todos os matizes. Setores que se prevalecem de rançosos (pré) conceitos, com conotações invariavelmente racistas, para baixar regras de comportamento em estridente dissonância com a dignidade humana. O espírito ecumênico torna explícito que religião não pode significar obstáculo a liberdade. A fé há que ser encarada, dentro de perspectiva religiosa autêntica, como “um pássaro que pousa no alto da folhagem e canta nas horas em que Deus escuta”, conforme lírica observação de Joaquim Nabuco.
Do ponto de vista ecumênico, as religiões mostram pontos consideravelmente mais numerosos de convergência, do que de divergências. Equivalem-se em mérito na busca do diálogo sincero com Deus. Com doses mais maciças de boa vontade, desarmamento de ânimos, respeito, zelo pela primazia dos valores fundamentais das diferentes crenças, reconhecendo que no fundo todos são valores extremamente parecidos, as religiões estarão capacitadas a oferecer valiosíssima contribuição na construção de um mundo melhor. Na retomada, digamos assim, do mundo pela humanidade.

Empolga-me a fala ecumênica. Todas as vezes em que a percebo enunciada nalgum ambiente cercado ou não por ritualística religiosa imagino a presença ali de criaturas inspiradas, propensas a deixarem de lado as diferenças na forma, para se fixarem, em junção fraternal, no conteúdo do culto aos valores transcendentes da vida.
Nos pronunciamentos do admirável Papa Chico, o ecumenismo vem ganhando, pelo lado cristão, sonoridade e intensidade com certeza nunca dantes registradas. João XXIII e João Paulo II estimularam também  ações positivas no tocante à aproximação das religiões. Das outras grandes correntes religiosas pouco se sabe quanto à real disposição de suas lideranças qualificadas em se associarem às práticas ecumênicas. O Dalai Lama, dignitário de facção budista de forte expressão, parece ser delas todas, a liderança que melhor assume publicamente atitude propositiva com relação ao tema.
Entendo que os meios de comunicação social estão capacitados a contribuir de maneira efetiva para a propagação do ideal ecumênico, amortecendo tensões resultantes das dificuldades que se antepõem, em tantas partes, ao exercício da liberdade de expressão religiosa. É certo que a tevê e o rádio reservam espaço considerável para divulgação religiosa. Nos casos específicos das emissoras vinculadas a correntes ideológicas bem configuradas os temas focalizados atendem naturalmente às conveniências do proselitismo. Mas, de qualquer modo, as mensagens são irradiadas para plateias imensas. Pena que uma tribuna de tamanha magnitude não dedique também boa fatia de tempo para a fala ecumênica. Tenho para comigo, com razoável conhecimento de causa, que poderão se revelar altamente compensadores os índices de audiências para programas produzidos com talento, abarcando estudos e debates de questões momentosas que coloquem lado a lado especialistas do pensamento cristão, budista, maometano, judaico, assim por diante.
A propósito, participei, tempos atrás, de missa dominical natalina na Igreja do Carmo, em Belo Horizonte. Rendi-me incondicionalmente ao fascínio de uma celebração de ponta a ponta impregnada de genuíno ecumenismo. Toda a composição litúrgica denotava isso, a começar pelo presépio, de singelo simbolismo, que ornamentava a nave principal do templo, confeccionado por meninos assistidos socialmente pela paróquia. E a mensagem, então, do celebrante Frei Cláudio van Balen! Um senhor cântico de louvor à divindade e à humanidade. Sem chavões piegas, sem fórmulas estereotipadas que pudessem desfigurar o sentido da sabedoria evangélica. Fala harmonizada com os clamores sociais da hora. Com os anseios de paz que habitam a alma das ruas. Anseios esses que se contrapõem à belicosidade fundamentalista que tanta angústia traz aos corações e mentes dos homens e mulheres de boa vontade em todas as latitudes deste nosso mundo velho (e cansado) de guerra.



quinta-feira, 20 de novembro de 2014

CONVITE AOS AMIGOS DO BLOG

XXX ENCONTRO CULTURAL DA ACADEMIA



Análises de Delfim e Ciro

“Nenhum outro país tem um portfólio tão impressionante.”
(Delfim Neto)

Uma sequência de lúcidas análises sobre o momento político, econômico e social brasileiro foi oferecida pela “CartaCapital” aos leitores em sua edição de 5 de novembro. A revista abriu espaço para entrevistas e comentários de Delfim Neto, Ciro Gomes, Jaques Wagner e Renato Janine Ribeiro. Vale a pena anotar muitas das coisas por eles transmitidas.

Crescer é a única alternativa, afiança Delfim, acentuando que sem a confiança do setor privado, a Presidente Dilma Rousseff corre o risco de sacrificar os ganhos sociais. “O Brasil vai precisar de um ajuste”, assinala, acrescentando que “estamos em uma situação desagradável, mas não à beira do Apocalipse, da tragédia.”

Ele mantém firme sua aposta no Brasil, mas adverte: “É crescer ou crescer. Não há outra saída.” Depois de explicar que “ninguém pode esperar um superávit primário de 2% em uma fase de estagnação” e que “não se pode mais usar políticas fiscais compensatórias, pois o nível da dívida subiu muito e as medidas não têm mais eficácia”, Delfim voltou a bater na tecla: temos de voltar a crescer. O economista reconhece que Dilma “perdeu a credibilidade no setor econômico por ter sacrificado o equilíbrio fiscal e ter sido um pouco leniente com a inflação”. Tudo isso - assevera ainda – “para conservar a inclusão social.” Acrescenta que, apesar da falta de apoio do setor econômico, “ela ganhou a eleição, por causa do suporte social, pelo fato de manter os empregos e a melhoria dos salários.” Delfim lembra que “Aécio teve apoio do mundo econômico, mas o PSDB continua associado ao descaso com as demandas sociais.”

Indagado da razão pela qual Dilma Rousseff não conseguiu manter o ganha-ganha dos tempos de Lula, Delfim respondeu: “Lula é uma coisa diferente, um animal de outro mundo, uma inteligência absolutamente privilegiada” (...) “Ele tem uma intuição poderosa e foi beneficiado por um vento de cauda muito grande.” Voltando a analisar o governo Dilma, sublinha que “quando ela assumiu, o vento de cauda havia se transformado em vento de frente.” “Depois – anota ainda – viu que a economia ia crescer muito pouco e esqueceu o programa que a elegeu”, esperando “fazer mais com menos”, com ênfase na produtividade. Para o ex-ministro, o governo demorou em promover as concessões na área da infraestrutura. “Demorou, porém parece ter aprendido.”

No final das considerações, Delfim enfatiza a necessidade de ser recuperada pelo governo a confiança do setor econômico, sob pena de perdê-la no flanco social. Palavras textuais suas no arremate: “Tenho pela Dilma uma grande admiração. Ela tem uma virtude extraordinária, é absolutamente honesta. Talvez desagradavelmente honesta para alguns. O governo tem se aperfeiçoado na área de concessões isso é claro. Além disso, o Brasil tem programas magníficos, projetos monumentais, com taxas de retorno gigantescas. Nenhum outro país tem um portfolio tão impressionante. Com um mínimo de inteligência o Brasil vai voltar a crescer.”

Já Ciro Gomes, ex-Ministro e ex-governador, sustenta a tese de que Dilma “precisa de melhores companhias”. “É incrível que tenha escapado da derrota com a equipe que montou no governo.” Afirma ainda que a Presidenta ganhou o pleito em razão de a maioria dos brasileiros ter perdoado “as graves contradições de sua governança e, especialmente, de sua condução da economia.” Aduz a essas considerações: “E o fizemos por argumentos de duas ordens: confiamos em sua boa-fé e decência pessoal, vis-à-vis a crônica de desmandos e escândalos magnificados pelos sócios majoritários da imoralidade prática, especialmente na grande mídia. E, acima de tudo, penso eu, por percebermos que, por trás de tudo, é possível enxergar que a “turma” que Dilma de fato representa, apesar de sua mania de andar mal-acompanhada, os valores mais importantes para o povo: o compromisso nacional, o trabalho como bem central em uma Nação civicamente sadia, o compromisso moral com a superação da vergonhosa desigualdade que nos aparta (de um lado, uma elite minúscula, mas aferrada a uma cultura escravocrata, de outro, imensa maioria excitada com informação globalizada de um padrão de consumo ao qual não conseguem ascender com o pouco que evoluíram).”

Ciro acredita que pra tudo há solução. Mas nenhuma produzida a partir da prostração ideológica que caracterizou a campanha eleitoral. “Fora do trivial cardápio moralista, discutiram-se apenas as nuances do conservadorismo.” Conclama a presidenta “a desinterditar o debate, chamar a inteligência brasileira e pedir que todos deixem suas certezas na porta de entrada e, livres de preconceitos, produzam uma ideia comovente ao País. Uma economia política inteligente guiada pelo pragmatismo na superação de nossos desequilíbrios.”


Análises de Janine e Wagner

“A democracia é o território do diálogo,
do contraditório e do embate de ideias.”
(Jaques Wagner, governador da Bahia)

Reportamo-nos hoje, como prometido, após conhecer as análises de Delfim Neto e Ciro Gomes, aos depoimentos feitos por Jaques Wagner e Renato Janine Ribeiro sobre o momento político, social e econômico brasileiro. Já explicamos que essas e as anteriores manifestações citadas, foram publicadas pela “CartaCapital”. Representam, todas elas, interpretações dignas de atenção da realidade nacional.

Assegurando que a votação recebida por Dilma provém da constatação popular de que a presidenta reeleita sabe conduzir melhor as políticas sociais, o filósofo Renato Janine Ribeiro, da Universidade de São Paulo, espera que ela mude seu modo de governar, se quiser “fazer um segundo mandato melhor do que o primeiro.” Assevera que, justamente por isso, precisa empenhar-se nesse sentido com o mesmo denodo de Lula, que se saiu melhor na etapa complementar da gestão. Registra que “se houver de fato uma disposição maior ao diálogo”, isso será ótimo, lembrando que Dilma é considerada por muitos como centralizadora, circunstância que acaba obstruindo a criatividade.

Sobre a alegada divisão do Brasil, o pensador emite o seguinte conceito: “Existe um clima de ódio alimentado por alguns veículos, sobretudo uma revista. Mas acho que ao menos 50% dos brasileiros não dão muita importância à política. Entre aqueles 30% e 40% que dão, há um profundo antagonismo. Mas vejo essa revolta, essa intolerância, mais no eleitorado tucano. Isso não quer dizer que os 48% que votaram em Aécio são intolerantes, um terço, talvez. E um número menor ainda fala em impeachment. Restou, porém, uma divisão, não geográfica, mas entre aqueles que se sentem beneficiados pelas políticas sociais do governo petista e quem se sente prejudicado ou tem preconceito contra a população que subiu na vida nos últimos 12 anos. Havia uma expressão horrorosa nos anos 1960, quando ocorreram os conflitos raciais nos Estados Unidos. “No Brasil não temos isso porque os negros conhecem seu lugar.” A ideia de que o pobre sabe qual é “o lugar do pobre” sempre foi forte no Brasil.”

Afiançando que o Brasil não está dividido e que aos vencedores é negada a soberba e aos perdedores o rancor, Jaques Wagner, declara, por sua vez, que o país empolgou-se com dois projetos políticos. Os programas apontaram para diferenças que precisam ser assumidas para que possam ser superadas. “Mas na pluralidade a nossa unidade deve ser sempre protegida”, argumenta.

Na análise do governador da Bahia, a democracia, nosso bem maior, “é o território do diálogo, do contraditório e do embate de ideias.” A democracia – registra ainda – “não resiste à intolerância e a qualquer tipo de fundamentalismo.” Já que nossa democracia é complexa, com múltiplas tonalidades, imaginar a hipótese de reduzi-la – sublinha também – é empobrecer e simplificar o debate.

Wagner propõe relações melhores com o empresariado, assinalando que pontes carecem ser construídas para recuperação do nível de investimento e aumento da produtividade. Alude também à questão tormentosa da corrupção, defendendo que ela seja combatida com vigor, “tanto no âmbito da sua repressão e punibilidade dos efetivamente envolvidos, como na sua prevenção, aumentando os mecanismos de transparência e controle, modificando as suas causas geradoras, especialmente o financiamento das atividades políticas.”


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Umas e outras



“Minas, capital nacional do futebol!” (Frase empregada com euforia, por muita gente nas ruas, em razão da atuação nos gramados do Cruzeiro e Atlético)



Futebol eletrizante. A torcida mineira está com tudo e – ao contrário do famoso ditado antigo – com muita prosa. Também pudera! O Cruzeiro já praticamente com os dois pés no título do “Brasileiro”, enfrentará o Atlético, bem posicionado na reta de chegada classificatória para a “Libertadores”, nas pelejas decisivas do outro magno torneio nacional, a “Taça Brasil”. Graças à performance de ambos os clubes nos gramados pode-se garantir, sem forçação de barra alguma, já como “favas contadas”, a conquista de outro sugestivo título: Minas, capital nacional do futebol!
Merecedores obviamente de aplausos pelo que acontece, os dirigentes das duas agremiações bem que poderiam concentrar o melhor de seus esforços e criatividade no sentido de evitar que momento tão refulgente do futebol mineiro se empobreça em consequência de decisões irrazoáveis, reveladoras de desnorteante primarismo. Essa história de clássico com “torcida única”, ou com quota de 10 por cento de “torcida adversária”; de espetáculos de gala, aguardados por multidões, deslocados para estádio com capacidade limitada no acolhimento de torcedores, não auxilia em nada, muito pelo contrário, a compor o epílogo eletrizante almejado por todo mundo com referência à competição. O bom senso – e não falo aqui do “Bom Senso Futebol Clube”, que tanto empenho tem demonstrado em alterar situações deprimentes na condução do “esporte das multidões” - recomenda a exclusão da cancha dessas normas sem pé nem cabeça, concebidas em instantes de absoluta irreflexão e alimentadas pela ausência total de disposição para diálogo minimamente civilizado.

Comunicação à praça. E, depois, ainda tem gente por aí considerando extravagante a teoria da existência de quantidade excessiva de estrôncio de alta toxicidade espalhado pela atmosfera a produzir reações comportamentais escalafobéticas!
Em Conselheiro Pena, Vale do Rio Doce, um sacerdote foi afastado das funções e o motivo alegado pelos superiores eclesiásticos, objeto de impactante repercussão, foi divulgado, com detalhes – imaginem só – no site oficial da instituição de que ele faz parte. Segundo o comunicado, o religioso mantinha relacionamento “afetivo-sexual” com uma paroquiana, mulher casada, advogada conhecida por todos na comunidade. Grávida no último mês da gestação, ela resolveu confessar ao marido, com quem tem dois filhos, que o terceiro filho a caminho havia sido concebido fora do casamento, em razão da ligação amorosa relatada. A informação, levada ao conhecimento do titular da Diocese, ganhou, pouco depois, para geral estupefação, registro com detalhes numa nota oficial dirigida aos fiéis e, via de consequência, a qualquer outra pessoa.
A atordoante divulgação expôs, descaridosamente, como fica fácil deduzir, todos os personagens direta e indiretamente envolvidos no episódio a impiedosa boataria. Onde já se viu...

Opção pela intolerância. Já disse e, agora, repito: ostensiva ou camuflada, a intolerância racial é impiedosa. Abre no corpo e na alma feridas de difícil cicatrização. Tenho para comigo que o racista é um desertor da condição humana. Um cara psicologicamente desarrumado. Um vivente de mal com a vida. No olhar raivoso, no tom de voz, em frases encharcadas de irritação, bota pra fora, sem mais nem menos, sua total incapacidade em conviver com a diversidade.
Vejam só o que acaba de ocorrer numa Universidade capixaba, envolvendo um professor de Economia! Num debate em sala de aula sobre as cotas raciais – tão combatidas em redutos extremistas, contaminados pela insensibilidade social – o referido educador deixou escapar sua orientação de vida pessoal preconceituosa. Disse, com todos os “erres” e “esses”: “Se tivesse que escolher (numa consulta) entre um médico branco e um médico negro, escolheria o branco.” “Explicou melhor”, ao depois, seu ponto de vista: “Os negros, em média, vêm de comunidades menos privilegiadas, para a gente não usar um termo mais forte. Nesse sentido, eles não têm uma socialização primária na família que os torne receptivos aos trâmites da Universidade.” Perfeito! Nada que antigos dirigentes da África do Sul se recusassem a utilizar para expressar com adequação suas estrambóticas teorias...


Giro pela sandice humana



“Um insano sempre encontra outro mais insano para aplaudi-lo”. (Domingues Justino, educador)


É como digo sempre: um pessoal chegado a galhofas, que se diverte à pamparra com as proezas praticadas, infesta os corredores da Bolsa de Valores. A serviço do desenfreado jogo especulativo, falando em nome dessa instituição abstrata alcunhada de “mercado”, apela incessantemente para ilações psicodélicas com vistas a “explicar” o que rola no desconcertante pedaço. Dias atrás, a oscilação para baixo ocorrida na pontuação do índice foi atribuída – ora, veja, pois! –, por mais incrível que isso possa soar, a uma operação de financiamento bancário concedido a uma socialite que atua na televisão...
Coisas do gênero ajudam a entender a razão pela qual o cidadão comum - que se sente naturalmente injuriado ao topar pela frente com “especialistas” tão empenhados em zombar da inteligência alheia – enxerga os negócios bursáteis com irretratável desconfiança...


Proposta para elevação do PIB. A notícia está deixando boa parte dos agentes econômicos simplesmente estupefatos. Cogita-se em alguns setores, na Itália, da hipótese de serem incorporados aos resultados do PIB os valores dos “negócios clandestinos”. Não apenas os provenientes da chamada “economia informal”, à margem de controles rígidos, mas rodeada de simpática complacência comunitária. Os autores da revolucionária tese falam em recorrer a estimativas referentes aos quantitativos das “atividades negociais” à inteira deriva dos devidos conformes legais. Ou seja, à imensa bufunfa correspondente às rendosas operações da máfia, melhor dizendo das diversas máfias que compõem as poderosas engrenagens do crime organizado que opera no país. A contabilização de toda essa dinheirama, na avaliação dos autores da insólita proposta, garantirá PIB mais encorpado, representativo de todas as riquezas circulantes, as declaradas e as não declaradas. Assim que divulgado esse esdruxulo propósito, apareceu na Irlanda e no Reino Unido quem se confessasse simpático a essa modalidade diferente de avaliação do potencial econômico nacional.
Cada uma.

Concurso de beleza nazista. “Miss Hitler” é a denominação de um “concurso de beleza” instituído na Alemanha. Das candidatas exige-se como “atributo essencial”, além de “dotes estéticos”, que sejam fervorosas adeptas do nazismo, porta-vozes entusiastas das “sábias concepções sobre pureza racial” do “admirado mestre” que empresta o nome à competição. Não deixa de chocar a revelação de que número expressivo de “beldades” inscreveu-se para a insana competição. Além de postarem fotos sensuais com símbolos nazistas, terão que redigir também texto confessando “amor incondicional ao glorioso Fuhrer.”
A quantidade de estrôncio com elevada toxidade solto no ar parece muitas vezes mais abundante do que se calcula...


“Adiamento de gravidez.” Deu no jornal. As organizações “Apple” e “Facebook” anunciaram um original plano de “congelamento de óvulos”, apontado como “incentivo econômico” para colaboradores do sexo feminino. Cada funcionária que se disponha a “adiar a gravidez” por meio do “congelamento de óvulos” fará jus a uma indenização equivalente a 100 mil reais mais ou menos. Não faltaram executivos empresariais para aplaudir a “genial” proposta. 
Tá danado.


De espanto em espanto



“Não se espantar com nada é o único meio.” (Horácio, “Epístolas”)



Houve tempo, como sabido, em que o extinto ditador Sadam Hussein, do Iraque, desfrutou de incondicionais apoio e simpatia por parte dos Estados Unidos para suas estripulias bélicas. A maior potência do mundo era governada pelo xerife George W. Bush, cujos atos deixaram na memória humana sombrias recordações. Como ajuda aos iraquianos em seu esforço de guerra contra o Irã dos raivosos aiatolás, a Casa Branca resolveu montar no “território aliado”, clandestinamente, na época do confronto entre os dois países, opulento arsenal de armas químicas. (Aquelas que, provavelmente, acabaram sendo utilizadas por Sadam contra rebeldes curdos). Seja esclarecido que esse material destrutivo específico nada tem a ver com a história fantasiosa das armas de destruição em massa que o tirano iraquiano manteria estocadas e que serviram, como reconhecido anos depois, de mero pretexto para a invasão do Iraque, com o Sadam já aí devidamente deslocado da posição de “aliado” para a condição de “inimigo”. O arsenal permaneceu guardado a sete chaves em local incerto e não sabido. Até que, no início do mês de outubro, tantos anos passados após a ocupação e retirada das tropas da coalizão incumbidas da “pacificação” e “democratização” do país, alguém ligado aos atuais círculos dirigentes iraquianos resolveu quebrar o silêncio a respeito dessa operação ultra sigilosa, face a uma nova aterrorizante perspectiva. O local secreto onde o material (um gás de toxidade letal) se encontra “armazenado” fica localizado em área conflagrada, atualmente em poder do grupo fundamentalista do EI. Algo, sem dúvida, apavorante. Bota pavor nisso...


Incesto entre irmãos. É o caso de recorrer, mais uma vez, às “Epístolas” de Horácio (65-8 a.C): “não se espantar com nada talvez seja o único meio”. Vejam só mais esta aqui, chegada das terras germânicas! O incesto entre irmãos poderá deixar de ser crime. O governo revela-se disposto a descriminalizar as relações íntimas entre irmãos. O Conselho de Ética, muito acatado na vida nacional, com grande força junto ao Parlamento, sustenta a tese de que “a prática sexual entre irmãos deve ser legal”, sem que signifique obrigatoriamente que ela não possa ser moralmente condenada.” Um dos argumentos levantados em favor da medida é este: “O direito à autodeterminação sexual é mais importante que a ideia abstrata de proteção à família e mais importante que os riscos de se gerar crianças portadoras de necessidades especiais.” As autoridades alemãs explicam que as punições legais continuarão prevalecendo para casos incestuosos envolvendo pais e filhos.
A anunciada disposição do governo alemão em regulamentar o incesto trouxe ao conhecimento público que na França, em Portugal, Espanha, Bélgica e Luxemburgo, o relacionamento sexual consentido é permitido entre adultos, ainda que envolvendo irmãos. Condenado moralmente quase em todo o mundo, ele é legalmente proibido em numerosos países. Não é objeto de condenação criminal no Brasil, em casos onde as pessoas sejam maiores de 14 anos e a relação ocorra de forma consentida.



Drama kafkiano de atleta brasileiro. Com a anexação da Crimeia, operada na marra pelos russos, um jogador de futebol brasileiro, Célio Santos, viu desmoronar de hora para outra, em circunstâncias inimagináveis, sua promissora carreira profissional. Ele havia sido contratado para o elenco de um clube de Simferopol, capital da Crimeia. De repente, não mais que de repente, um drama kafkiano pintou em seu percurso de vida. Seu time passou, em consequência das bruscas alterações políticas, a integrar a Confederação russa de futebol. Esse órgão não aceita atletas estrangeiros nos torneios. Diante do impasse, Celio ficou privado da condição de exercer a profissão na Crimeia. Pra piorar as coisas, os salários em atraso não foram quitados. Sem perspectiva de trabalho no confuso cenário ucraniano/russo recorreu à FIFA pedindo desvinculação do clube ucraniano, na esperança de poder fechar contrato com alguma agremiação europeia. A janela de transferências para atletas no futebol europeu havia sido fechada um pouco antes dos acontecimentos narrados.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Ganha quem tem mais voto


“Ação incabível, com potencial para arranhar a imagem do país.”(Ministro José Otávio de Noronha, corregedor do TSE)


 É da essência democrática. Vitória e derrota apresentam-se como contingencias naturais de um processo eleitoral. Simples assim: quem soma mais votos, ganha; quem soma menos, perde. A regra contempla até a inimaginável hipótese de empate.

Abrimos aqui parêntese, por não resistir à tentação, a propósito dessa “inimaginável hipótese”, de contar o que aconteceu, numa eleição nos idos de 50, em Uberaba, cidade de singulares e inesgotáveis fascínios. Pra espanto geral e, de algum modo, ao inteiro agrado dos dois grupos políticos locais mais influentes naquela época – petebistas (PTB), aliados do PSD, e pessepistas (PSP – Partido Social Progressista) - a disputa presidencial entre JK e Ademar de Barros terminou rigorosamente empatada. Se a cuca não tá a fim de trair, cada candidato abocanhou 7.700 votos. Juarez Távora (UDN) ficou bem atrás.

Parêntese fechado, retomando o fio da narrativa, apraz-nos sublinhar, outra vez mais, fazendo coro com a ufania das ruas, que a pujante democracia brasileira saiu muitíssimo enriquecida, fortalecida para valer, da campanha eleitoral finda. Eleição memorável, com epílogo eletrizante, irrepreensível do ponto de vista institucional. Exuberante pela pluralidade de ideias e propostas apresentadas. Eloquente na comprovação de que a democracia é território ecumênico aberto ao diálogo e às discordâncias saudáveis.

A soberana vontade popular apontou nas urnas, nos dois turnos, o caminho a ser trilhado pelo país na invasão do futuro. A opinião pública deixou definidas claras responsabilidades, no contexto do esforço nacional pelo progresso, para os protagonistas do embate político.

Dos vitoriosos são esperadas medidas urgentes que promovam, em ritmo acelerado, a retomada do crescimento; que garantam o rigoroso controle da meta inflacionária, a ampliação dos programas de inclusão social e a expansão da oferta de emprego e renda. Sem perder de vista, em instante algum, o compromisso formal assumido com a Nação de mover tenaz combate à corrupção, doa a quem doer, de executar as tão necessárias reformas política e tributária, além de outras.

Dos perdedores, que saibam usar competentemente o respeitável cacife político que se lhes foi outorgado pelo eleitorado, participando dos grandes debates nacionais com visão crítica e disposição construtiva.

Os desafios a enfrentar, as mudanças a fazer são tarefas que reclamam poderosa conjugação de vontades. Na democracia, a pluralidade de ideias oferece, por meio do diálogo e dos debates (os mais acalorados que possam ser) a oportunidade de se firmar sólido sentimento nacional. Ou seja, mostrarmos ao mundo quem somos e qual a contribuição que estamos capacitados a dar na construção da aventura humana.

Assim avaliados, serena e objetivamente, aspectos fundamentais do processo político democrático, cabe fazer, agora, um registro da incontida surpresa, mais do que isso do enorme espanto causado perante a opinião pública pela estapafúrdia decisão tomada por setores da oposição, ao postularem do TSE “uma auditoria para verificar a lisura do processo eleitoral, atendendo a dúvidas levantadas nas redes sociais.” Como bem sublinhou o ministro João Otávio de Noronha, corregedor da Justiça Eleitoral, o pedido não apresenta fato algum que possa colocar em xeque o sistema da eleição. Trata-se de “ação incabível, com potencial para arranhar a imagem do país”.

Lamentável que isso esteja acontecendo na sequencia de um momento cívico-eleitoral da magnitude que acabamos de viver no Brasil. As lideranças mais lúcidas da oposição estão na indeclinável obrigação de conter essa ação desatinada, fadada naturalmente a estrondoso insucesso. As circunstâncias dão vaza a que se reacenda na lembrança de muitos de nós um incidente político desagradável de anos atrás. O injustificável inconformismo de alguns dirigentes udenistas face ao triunfo insofismável de JK na campanha presidencial levou adversários radicais a criarem artifícios ridículos para contestar a manifesta preferência dos eleitores ao seu nome. Semearam a confusão, mas perderam, do ponto de vista legal, a parada. Juscelino cumpriu brilhantemente o mandato, tornando-se o personagem de maior projeção da cena política nacional. O julgamento da história foi implacável com os talibãs da UDN. É verdade que, mais adiante, em momento sombrio da vida brasileira, “eles” se “vingaram”, como sabido, do grande estadista. Mas pagaram com amargo ostracismo na memória nacional pelos atos cometidos.


Mensagens eletrônicas nocivas


“No segundo turno cresceu o volume dos conteúdos falsos.”(Silvana Batusi, da FGV)


 A boataria desenfreada, no dia da eleição para o segundo turno, em torno do falso assassinato por envenenamento de um réu processado por corrupção foi uma amostra perturbadora do grau de nocividade atingido pela comunicação eletrônica instantânea quando a serviço de nefandos propósitos. A disseminação da mensagem mentirosa foi de tal envergadura, gerou um desconforto tão grande que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal viram-se compelidos a sair a público para explicações.

A dedução a extrair dos fatos é de que não existem, no momento atual, recursos legais e tecnológicos suficientes mode garantir monitoramento adequado que impeça a ocorrência de operações perversas nas velozes redes eletrônicas de comunicação. A cada instante pipoca um aplicativo acenando com novidades ousadas. Ganha rapidamente espaço no febricitante esquema de divulgação. As ferramentas lançadas ampliam o raio de atuação fulminante dos usuários fissurados nessa variedade de diálogo. Diálogo, como sabido, com regras bem específicas dando vaza a procedimentos comportamentais singulares.

O jornalista Lucas Pavanelli coloca-nos, em reportagem no “O Tempo”, diante de sugestivas informações sobre o que anda pintando no pedaço. Focado na propagação de dados pelos avançados instrumentos eletrônicos ao dispor do público, mostra que um aplicativo de mensagens instantâneas foi bastante empregado em malfeitos no curso das eleições. É revelado ao distinto público que, inteiramente fora de controle, o chamado “WhatsApp”, adicionado recentemente ao “debate político”, virou um senhor “propagador de mentiras”. Criando condições para trocas repentinas de mensagens de texto, áudio e vídeo, o tal aplicativo despejou na rede de computadores um montão de boatos. Alguns com o indisfarçável propósito de bagunçar pra valer o coreto...

É interessante acompanhar as explicações do repórter sobre o assunto. Aqui estão exemplos arrolados: 1) Um cara apontado como “estrategista político” postou nas redes, inicialmente no “Facebook” e no “Twitter”, depois no “WhatsApp”, uma informação maldosa, dando o TSE - Tribunal Superior Eleitoral - como fonte. A matéria posta para circular “esclarece” que, “para evitar confrontos violentos”, face à circunstância da campanha desenvolver-se em clima “muito acirrado”, as autoridades competentes resolveram “fixar datas diferenciadas” para os votos dos eleitores da oposição (Aécio) e da situação (Dilma). Os primeiros votariam no domingo 26; os outros no domingo posterior, 2 de novembro”. A postagem do “WhatsApp” concernente ao caso foi apagada tão logo um jornal registrou a solerte manobra.

Noutra postagem, transmitiu-se “com detalhes” a “notícia” de que o ex-Presidente Lula “seria internado na quinta-feira anterior à eleição, como forma de comover a população visando atrair votos para sua candidata.”

No domingo, 26, das eleições, propagou-se que Alberto Youssef, doleiro comprometido até o gorgomilo num número incontável de falcatruas, encarcerado no Paraná, tinha morrido por envenenamento, num típico caso de “queima de arquivo”. O tal doleiro tinha sido, na verdade, internado, por conta de pressão baixa. A Justiça e a Polícia Federal sentiram-se no dever de apor um desmentido público à criminosa especulação.

Outro boato maldoso propagado com intensidade, seguindo o mesmo figurino, disse respeito ao “fato” de que “o Ministério Público pediu o bloqueio dos bens de Lula no valor de R$ 9.526.070,64, por improbidade administrativa.”

Ocorreu, ainda, segundo a reportagem, outra farta divulgação sem suporte na realidade relacionada com os resultados do pleito no segundo turno. Pouco antes do anúncio oficial dos números, circulou intensamente a informação de que “Aécio acabou de receber telefonema. É o novo presidente do Brasil!”

A Professora de Direito Silvana Batusi, da Fundação Getúlio Vargas, ouvida na reportagem sobre a questão do emprego desvirtuado dos aplicativos na campanha política, declarou que o uso dessas ferramentas foi ainda mais frequente no segundo turno, período em que cresceu o volume dos conteúdos falsos e dos boatos. Na opinião da especialista, “você não pode condenar o meio por causa do mau uso.” “É óbvio que qualquer esforço para espalhar boato e inverdade é irregular e pode enveredar para abusos na comunicação”, embora seja difícil – pontua – “a apuração da irregularidade”.

Existe dificuldade – anota –em se adequar a legislação à velocidade dos meios eletrônicos.


Depois de tomar tento de toda essa encrenqueira pela boca do Pavanelli, a gente fica um tanto quanto inclinado a admitir que nem costuma fazer o capiau lá dos cafundós triangulinos quando topa na reta com a porqueira de um impasse sem saída: - “Tamo n’água, seu zé, tamo n’água!”

A SAGA LANDELL MOURA

Uma mulher rodeada de palavras

                             *Cesar Vanucci “Quem traz na pele essa marca Possui a estranha mania de ter fé na vida” (verso da canção “M...