sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Pandemia de cesáreas

Cesar Vanucci *

“Inaceitável esse procedimento!”
(Ministro Arthur Chioro, da Saúde)

Pelo conjunto de medidas que acaba de ser anunciado, o Ministério da Saúde parece mesmo decidido a por fim nessa “pandemia de cesáreas” propagada pelos serviços privados e públicos de assistência à saúde, com o primeiro dos setores mencionados assumindo a maior parcela de culpa no cartório pelos malfeitos detectados.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estipula em 15 por cento o índice tolerável de partos cirúrgicos. Entre nós, por conta de variados fatores, com realce para a mercantilização do processo e a ausência de orientação técnica adequada, os índices, considerados os mais elevados no rol dos países desenvolvidos, atingem as altitudes himalaianas de 84 por cento na faixa da assistência suplementar e de 40 por cento na esfera pública. Números que configuram quadro inaceitável, um verdadeiro e gravíssimo problema de saúde pública. Declarando-se no firme propósito de não mais aceitar, sob hipótese alguma, a cesariana indiscriminadamente como parto normal, o Ministro Arthur Chioro orientou os órgãos sob seu comando, com ênfase para a Agência Nacional de Saúde Suplementar, no sentido de que coloquem em vigor imediatamente normas capazes de interromper o descalabro apontado. Encarada por muitos, irresponsavelmente, como procedimento de mera rotina, as cesarianas a torto e a direito produzem danos pessoais e econômicos consideráveis. Oito entre dez casos de gestação assistidos pelos planos de saúde valem-se dessa alternativa obstétrica. Na rede pública, o condenável esquema também marca presença, se bem que em índice inferior ao da rede privada, conquanto ainda bastante exagerado para os padrões recomendados pela OMS. A ordem do Ministério é frear o abuso. Especialistas no campo médico asseveram que as cesáreas desnecessárias aumentam consideravelmente a probabilidade de o bebê nascer com problemas respiratórios e triplicam o risco de morte da parturiente.

As determinações previstas obrigam médicos, hospitais, clínicas, planos de saúde, agentes públicos da área, parturientes a obedecer critérios técnicos e administrativos fadados a eliminar, vez por todas, a prática irresponsável do parto cirúrgico desnecessário. O prazo estabelecido para que tudo seja posto a funcionar de acordo com os critérios traçados é de 180 dias. Sanções pesadas aguardam aqueles que se recusem a seguir as regras.

A resolução das autoridades, muito bem recebida pela opinião pública, demonstra a disposição governamental em enfrentar com rigor um dos muitos desafios hoje existentes nos sistemas de prestação de serviços públicos e privados na nevrálgica área da Saúde.

Tão benfazeja orientação oficial reacende na esperança popular o ardente desejo de que outras soluções possam vir a ser encontradas com referência a questões igualmente sérias enfrentadas pelos usuários dos programas assistenciais. Uma delas diz respeito aos abusos cometidos pelos planos com relação aos idosos. Brada aos céus uma exigência das operadoras. Em flagrante desrespeito à legislação brasileira, elas estabelecem que as contribuições mensais visando a continuidade da assistência sejam majoradas em percentuais elevadíssimos, insuportáveis, à hora em que as pessoas atingem faixas etárias diferentes. Quem chega, por exemplo, aos 60 anos vê-se constrangido a desembolsar valor equivalente ao dobro do que vinha até então pagando pelo seu sagrado direito de acesso aos serviços. Isso é simplesmente estarrecedor. É chegada a hora, então, Senhor Ministro, de se colocar freio também em tão extorsiva prática!


Reclames oficiais

Cesar Vanucci *

“Tá meio demais!”
(Argumento questionador de
lendário coronel de idos tempos)

Deu no jornal. No período de 13 anos, entre 2000 e 2013, as empresas estatais no plano federal carrearam mais de nove bilhões de reais em publicidade para veículos de comunicação social brasileiros. A nota preta despendida em “reclames oficiais” poderia, certeiramente dobrar, ou mesmo triplicar, caso alguém se dispusesse a computar todas as parcelas aplicadas, a esse mesmo título, por empresas e órgãos estatais dos governos estaduais e municipais.

O montante dos gastos com “propaganda das coisas fabulosas que os governantes realizam continuamente em favor da coletividade” faz aflorar à memória velha de guerra episódio ligado à figura majestática de um coronelão dos recuados tempos da infância. Personagem que deixou fama no lugar onde viveu. Homem temido, com proezas truculentas no currículo, segundo a lenda, mostrava-se bastante consciente do papel auto-outorgado de conselheiro-mor em questões de interesse envolvendo as pessoas que gravitavam à sua volta. Exprimia-se de maneira toda peculiar ao comentar situações e circunstâncias do cotidiano. Compunha frases que tomavam feição de sentenças. “O coronel disse isso”, “o coronel acha aquilo”: um mundão de gente se pautava pelos conceitos do coronel, levados bastante a sério. “Fulano é um bobão da Laurinda”; “Ciclano não reza pelo breviário do Padre Joanico”; “Beltrano se esqueceu do receituário do doutor Rozendo”. Seus ditos encerravam críticas generalizadas ao comportamento alheio. Cabe esclarecer que a citada Laurinha era uma mulher danada de mandona, Joanico um sacerdote piedoso e Rozendo um médico dedicado e virtuoso, unanimidade “busoluta” no apreço das ruas. O “busoluta”, segundo douta explicação do coronel, derivava de “bússola.” Expressão utilizada “mode que apontar rumo correto pras coisas”...
De certa feita, numa acesa discussão política, provocada pela análise das contas públicas da administração, o coronel cunhou dizeres que seriam bastante repetidos a partir daquele momento. Cientificado dos recursos aplicados num dos itens do orçamento, meneando a cabeça em reprovação, assumiu posição de censura ao gestor dos negócios, deixando cair: “Esse papo tá mais encompridado do que lamúria de pobretão na chuva. Os números tão meio muito. Meio demais. Há um baita exagero nos excessos!”
Recapitulando: nove bilhões em propaganda, talvez o dobro ou o triplo disso na canalização de recursos públicos para essa manjada e frenética disputa por espaço midiático com o Ricardo Eletro e a Casas Bahia! Sei não... sei lá! Isso é meio muito, meio demais. Um baita exagero nos excessos!
E não se perca a “ensancha oportunosa” de complementar o registro com eloquente ilustração. Nos últimos dias de 2014, em todos os intervalos do chamado horário nobre, até na horinha dos fogos, o governo de Minas, nos estertores do mandato, divulgou vibrantes peças publicitárias na televisão chamando a atenção do distinto público para o “colosso de realizações” promovidas em prol do bem comum como resultado de sua bem sucedida parceria com a Prefeitura de BH... Ora, veja, pois!



GALERIA DE ARTE

HEITOR DOS PRAZERES

RETRATOU O BRASIL 

EM SUA ARTE

HEITOR DOS PRAZERES


MORRO DA MANGUEIRA

Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, 23 de setembro de 1898 — Rio de Janeiro, 4 de outubro de 1966) foi um compositor, cantor e pintor autodidata brasileiro. Heitor começou a trabalhar cedo, na oficina do pai, marceneiro. Dominava o clarinete e o cavaquinho, e seus sambas e marchinhas alcançaram projeção nacional. Um dos pioneiros do samba carioca, Heitor compôs seu maior sucesso, Pierrô Apaixonado, em parceria com Noel Rosa. Nos anos 20, Heitor dos Prazeres foi um dos fundadores da escola de samba Vai Como Pode, que mais tarde chamou-se GRES Portela. Heitor dos Prazeres adotou a pintura como hábito após a morte da esposa. Nas artes plásticas, Heitor dos Prazeres teve seu trabalho reconhecido no Brasil e no exterior, com obras presentes em numerosas exposições. Menino do morro, filho de operário, sua vida seguiu a rotina de qualquer criança favelada. Ora trabalhava no ofício de seu pai, que era marceneiro, hora vadiava nas ruas do centro, entre a Praça Onze e o Mangue, região da mais refinada malandragem. Não é, pois de se estranhar que, já aos treze anos, fazia sua estreia nos registros policiais, ficando preso por dois meses na Colônia Correcional de Ilha Grande, sob a acusação de vadiagem, o que na época era tipificado como contravenção penal.
Pandeiro e Cavalete
A música foi a primeira paixão de sua vida, aprendendo, desde cedo, a tocar clarinete e, depois, cavaquinho. O samba e a marchinha surgiram em seguida, consequência do ambiente em que vivia e das rodas que frequentava, fonte de aprendizado e de inspiração. Depois veio o casamento, que não durou tanto, pois sua esposa faleceu quando ele tinha apenas 39 anos de idade. Foi então que, para preencher o vazio de sua vida, Heitor dos Prazeres começou a pintar aquarelas, ao sabor do vento, sem técnicas especiais; depois, passou para a pintura a óleo e aí, sim, foi, aos poucos, aperfeiçoando seu estilo próprio, até chegar às imagens claras e brilhantes que conhecemos hoje, com personagens em contínuo movimento e irradiando o calor humano. Uma festa sem fim. Era o cotidiano do morro que ganhava espaço e expressão em suas telas: as favelas, as mulatas, as brigas, as rodas de samba, tudo contado com extrema simplicidade, retratando as cenas mais comuns da vida do Rio de Janeiro, naquilo que a cidade tem de mais popular e autêntico. Nada de tristeza. Registrando o trabalho, o lazer e mesmo as desinteligências entre as pessoas, tudo é uma festa continuada, uma manifestação de apego à vida, de aproveitamento total de cada momento, como se fosse o único.
A imaginação é o que conta
Dotado de memória fotográfica, não precisava estar diante do objeto para retratá-lo. Simplesmente ia passando para a tela tudo aquilo que um dia vira e que ficara gravado em sua mente. Dono de uma imaginação extraordinária, não precisava mesmo ter visto nada. Diante de um quadro qualquer de Heitor sobre o homem do campo e a atividade rural, poucos acreditariam que ele nunca havia estado lá, vivendo o cotidiano do sertão, ou convivendo com o caboclo, apenas imaginou o que seria o dia-a-dia na zona rural.
O encontro com a fama
Heitor dos Prazeres alcançou em vida a consagração que muitos artistas só encontraram após a morte. Realizou exposições individuais em vários Estados, participou de coletivas, marcou presença nas bienais de São Paulo em 1951, 1953 e 1961. Seus quadros estiveram em exposições internacionais e chamaram a atenção pela ingenuidade com que foram abordados os acontecimentos mais triviais da vida carioca. Dizem que até a rainha da Inglaterra se impressionou com eles e mandou que fosse adquirida uma obra para sua coleção. Certo, mesmo, é que Heitor dos Prazeres ganhou efetiva ressonância no exterior e, para isso concorreu, com certeza, a honestidade com que reproduziu a gente simples do Brasil, sem enfeites, sem rebuscamentos, sem complicações. A obra de Heitor é o retrato, sem retoques, de uma cidade, o Rio de Janeiro, e de um povo, o povo brasileiro. (Texto de Paulo Victorino)




                     ESSE PAPA ADMIRÁVEL

Papa Francisco almoça com funcionários do Vaticano



JOGO ANIMADO – Clique ao lado 

Papa Francisco almoça com pobres

O Papa Francisco almoça, no dia de São Francisco, com os 

pobres no centro mantido pela  Caritas diocesana de Assis,

 Itália, em Santa Maria degli Angeli, uma estrutura com 23 

leitos e que fornece comida sem distinção de religião.

Fonte:http://video.repubblica.it/ Convento do Carmo,

 São Paulo


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015


E por falar em Petrobras


Cesar Vanucci *

“O comando da Petrobras estava acuado
diante de uma empreitada superior às suas forças.”
(Carlos Drummond, jornalista)

A recente demissão dos integrantes do comando da Petrobras era uma mera questão de tempo. Falar verdade demorou mais do que devia. A situação gerada pelas denúncias de corrupção - alvo de investigações complexas que a Nação inteira espera possam ser levadas às derradeiras consequências, doa a quem doer - começou a exigir, a partir de dado momento, a mudança que vem de ser concretizada.

Aos administradores empossados impõe-se, agora, a árdua tarefa de tentar resgatar rapidamente os índices elevados de credibilidade que a principal empresa brasileira acumulou, com extraordinários feitos tecnológicos e administrativos ao longo de seu percurso. Na atual conjuntura, essa credibilidade foi impiedosamente alvejada pela ação desagregadora de uma máfia composta de funcionários, agentes políticos e empreiteiros inidôneos e de repulsivos comparsas recrutados no submundo das finanças. Mesmo que não pesem sobre os dirigentes afastados acusações formais alusivas a malfeitos diretamente praticados, não há como deixar de reconhecer que eles já não mais detinham condições efetivas de controle dos acontecimentos. O limite tolerável de permanência nos cargos acabou sendo inapelavelmente ultrapassado em decorrência da avalancha de revelações vindas a furo.

Nas avaliações dos setores mais lúcidos da opinião pública não são ignorados os aspectos essenciais da rumorosa questão. Por isso tais setores aconselham cuidados nas análises do processo investigatório, de modo a distinguir os impactantes fatos reais apurados pela Justiça das especulações políticas suspeitas e do sensacionalismo desmesurado de alguns registros midiáticos. Recomendam também sejam levadas em conta as inconveniências derivadas do “vazamento seletivo” de informações sigilosas e do denuncismo inconsequente. Pedem ainda não se perca nunca de vista a magnitude política, econômica e social da questão. Ancorada nesse entendimento a sociedade aguarda com serenidade, confiante e esperançosa, as deliberações dos órgãos oficiais incumbidos das apurações. Acredita-se que à hora dos indiciamentos alguns nomes indicados nas sucessivas listas de supostos culpados deixarão de ser mencionados.  Ao mesmo passo outras figuras jamais citadas poderão vir a integrar o rol dos implicados. Mas, de qualquer maneira, face ao que já foi oficialmente liberado no tocante aos personagens emaranhados na descomunal maracutaia, a destituição dos altos executivos da Petrobras, mesmo sem indícios formais de culpa, correspondeu a imperativos irrecusáveis.

Valemo-nos, para ilustrar o descontrole gerencial detectado, de uma entre muitas histórias desconcertantes afloradas nessa sucessão escabrosa de delitos cometidos pelo bando mafioso. Um dos assaltantes recolhido ao xilindró, do terceiro escalão, amparado pelo controvertido esquema da delação premiada, declarou-se disposto a devolver prontamente aos cofres da empresa a bagatela de 98 milhões de reais. Noventa e oito milhões! Pensamos, num primeiro momento, se tratasse de erro de impressão. O cara, reportando-se à ladroagem de que foi partícipe, estaria na verdade falando de cifra bem menor. Mas, não. Ele abocanhou no duro da batatolina, como cota-parte pessoal na propina global, 98 milhões. Onde já se viu!

Todas essas atordoantes circunstâncias apontam indesviavelmente no sentido de: 1º) A atual diretoria da Petrobras fica no indeclinável dever de realizar tantas alterações quantas se fizerem necessárias nas esferas gerenciais da casa, objetivando cercar-se de profissionais e consultores competentes, moral e eticamente inatacáveis, recrutados em seus valorosos quadros, para que a empresa se desgarre, pra sempre, dessa nódoa deixada pelos “predadores internos e externos”, que tanto maculou a trajetória grandiosa da organização; 2º) as autoridades competentes estão na obrigação de acelerar os trabalhos de apuração, definindo com precisão e rigor jurídico, a coberto de injunções políticas de quaisquer matizes, as responsabilidades dos envolvidos nas falcatruas; 3º) a vigilante opinião pública, as lideranças políticas e comunitárias, os meios de comunicação social, as entidades representativas da inteligência, cultura e produção de riquezas, apoiando a atuação da diretoria da Petrobras, da Justiça, Procuradoria Geral e Ministério da Justiça, precisam estabelecer, nesta hora, uma frente de proteção de consistência granítica à estatal, a fim de que ela, passada devidamente a limpo, possa continuar, como vem fazendo desde sua implantação, a vitoriosa caminhada de conquistas tecnológicas, econômicas, sociais e políticas que a tornaram referência maiúscula na paisagem mundial. Tal posicionamento atende ao sentimento nacional. Serve, ao mesmo tempo, para desencorajar eventuais disposições de alguns segmentos refratários aos genuínos e legítimos interesses brasileiros, abomináveis “pescadores de águas turvas”, que não se pejam nesta hora de escancarar o propósito de ver nossa maior empresa, na mira permanente da cobiça internacional, entregue à gestão de grupos multinacionais. Algo, calando definitivamente o papo, escorraçado pela consciência cívica da Nação.


A “lógica” das montadoras


Cesar Vanucci *

“Por que os carros vendidos no Brasil são mais caros? Quem está apto a responder a esta pergunta?”
(Domingos Justino, educador)

Mobilização de operários no ABC paulista obrigou algumas montadoras de veículos a recuarem na disposição de demitir colaboradores. A alegação das empresas foi de que as vendas de veículos no exercício passado acusaram resultados menores do que em 2013, quando mais um índice expressivo na produção e na comercialização foi novamente atingido.

O argumento é leviano. De inconsistência assustadora. A se levar a sério a “lógica” dos fabricantes, a compra de veículos pelos usuários teria que acusar todos os anos, invariavelmente, ilimitadamente, quantidades sempre ascendentes. Se essa frenética expectativa venha a se frustrar, mesmo que os números se revelem satisfatórios para a cadeia produtiva e comercial (como mais uma vez ocorreu em 2014), o “recurso aconselhável” é promover dispensas maciças de mão-de-obra. Fórmula padrão “altamente eficaz” para garantir em altitudes everestianas a lucratividade dos negócios, de maneira tal que os ditosos beneficiários do processo não se desacostumem.

Para quem se compraz com raciocínio tão utilitarista, tão exageradamente mercantilista e, ao mesmo tempo, tão despojado de sensibilidade social, não basta que o mercado brasileiro no setor seja dos mais atraentes do mundo; seja incomparavelmente o mais rendoso para a atividade, o mais favorecido com subsídios fiscais e outras benesses tão ao agrado das organizações que, ao longo dos tempos, resolveram por aqui “arrancharem-se”. Não basta que o governo, volta e meia, “invente” estímulos (em detrimento das receitas oficiais) mode não interromper o ritmo delirante das operações comerciais. O que importa mesmo, no duro, é a conquista do pódio do lucro. Repetitivamente, com recordes que não deixem de atender ao insofreável apetite dos interessados.

Algum tempo atrás, em reportagem que encontrou boa ressonância nas redes sociais, mas não rendeu desdobramentos, sabe-se lá por quais respeitáveis motivos, na comunicação impressa, televisão e rádio, a Rede Record divulgou dados impressionantes sobre os abusivos custos de veículos e os exagerados lucros das fábricas de automóveis que operam no país. Ficou exuberantemente demonstrado que em nenhuma outra parte do planeta um carro custa tão caro. Exemplo dos mais contundentes foi o de um modelo cotado no Brasil a valor que, nos Estados Unidos, permitiria a aquisição de quatro unidades da marca. Outra informação impactante disse respeito à inacreditável constatação de que veículos de fabricação nacional, exportados para outros países (casos da Argentina e México) são repassados aos consumidores locais por valores que chegam a representar a metade do que é cobrado por aqui. A reportagem esclareceu ainda, de modo bastante preciso, que a disparidade nos custos não decorre da carga fiscal. Deriva, única e exclusivamente, dos exorbitantes lucros auferidos pela engrenagem de comercialização estruturada entre nós. A expressão correta para classificar os desníveis detectados é uma só: ganância descomedida.

Um dado perturbador a mais de suma relevância. Com cerca (anotem, por favor, a expressiva cifra) de 3.4 milhões de automóveis vendidos em 2014, o Brasil continuou a ser o quarto maior mercado do mundo inteiro no setor automobilístico. Acima colocam-se apenas, nesta ordem, a China, os Estados Unidos e o Japão. A queda no emplacamento de carros novos foi, entre 2013 e 2014, de 6.9%.

Temos diante dos olhos, claramente configurada, uma situação onde a ameaça de dispensas soa clamorosamente como desrespeito. Exatamente, desrespeito à Nação que, certeiramente, maior grau de participação tem assegurado, em termos de ganhos, no curso dos anos, aos balanços contábeis das montadoras.



GALERIA DE ARTE


Tomie Ohtake
Aos 101 anos, primeira
Dama das artes plásticas

Tomie Ohtake morreu no dia 12 de fevereiro de 2015, aos 101 anos no Hospital Sírio-Libanês, em decorrência de choque séptico causado por uma broncopneumonia.
Suas obras estiveram presentes em cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo e renderam à artista um total de 28 prêmios. Em 2013, diversas exposições foram programadas em comemoração aos 100 anos de Tomie.

A vida e obra da grande artista estão retratadas no texto que vem a seguir, extraído do site do Instituto Tomie Ohtake.


Tomie Ohtake é considerada a “dama das artes plásticas brasileiras” pela carreira consagrada, construída ao longo dos últimos cinquenta anos, e pelo estilo ímpar de enfrentar a obra e a vida, nas quais força e suavidade têm o mesmo significado. A fama conquistada, desde a década de 60, nunca modificou o desafio a que se propõe: o eterno reinventar.
A capacidade de renovação de Tomie está expressa nas diferentes fases de sua pintura e nas suas composições de gravura e escultura. É dessa intenção intuitiva permanente que brotam o frescor e o esplendor de sua arte celebrada pela crítica e pelo público até hoje, com sua vigorosa produção recente. “Sua poética ao invés de declinar, germina em outras direções e aos 89 anos, de Tomie Ohtake pode-se dizer que o outono cede espaço à primavera”, escreve o crítico Agnaldo Farias (abril, 2003).
Nascida no Japão (Kioto/1913), Tomie chega ao Brasil em 1934 e só começa a pintar aos 40 anos de idade, construindo uma trajetória como poucos artistas brasileiros conseguiram. Os anos 60, quando se naturalizou brasileira, foram decisivos para a sua maturação como pintora originária da abstração informal. O domínio da esfera técnica de seu trabalho foi então confluindo com sua personalidade, passando a servi-la plenamente. O controle do processo coincidiu com uma nova orientação dada progressivamente ao trabalho, segundo o qual ela foi substituindo a imaterialidade aparente de suas telas pelo estudo da relação forma-cor Entre formas ovais, retangulares, cruciformes, quadradas - sugerindo a idealidade de uma figura geométrica ou de um signo qualquer – colocadas isoladamente, justapostas ou em série, ficava sempre preservada a ambiguidade perturbadora entre elas e o espaço da tela. Efeito que se obtém, por exemplo, na tensão entre a forma que se agiganta até praticamente encobrir o espaço; na maneira como este espaço insinua-se pelas frestas da forma; enfim, no confronto incessante entre esses dois termos e que se acentua, já nos anos 70, quando finalmente o espaço branco é tomado pela cor e se apresenta como forma. 
A linha curva, em associação a uma refinada fatura cromática, mais difusa e “cósmica”, como a ela se refere o crítico Miguel Chaia, introduz sobretudo a partir dos anos 80, novas referências ao trabalho da artista: da alusão à natureza e suas formas orgânicas; do céu às sementes; da paisagem às frutas; do sensual ao francamente sexual. As telas, ao invés dos planos coloridos chapados, são compostas de manchas justapostas e sobrepostas, solução que as transforma em campos em transformação constante. Dos anos 90 em diante, a transparência e a profundidade se acentuam e a pintura de Tomie parece emanar do espaço sideral.
A gravura é outra técnica que a artista domina desde o final dos anos 60 e que resulta também em um trabalho extremamente maduro e inovador: faz série em grandes formatos, transforma a gravura em objeto e, ainda, recentemente, produz obras que avançam de um plano ao outro, ortogonal, criando, nesta confluência de 90 graus, um espaço novo para a sua arte. Com este seu experimentalismo incomum para a técnica milenar, suas gravuras também ganharam reconhecimento internacional, desde 1972, quando foi convidada a participar da sala Gráfica D’Oggi na Bienal de Veneza - exposição que contou com a presença dos mais importantes artistas do mundo, como os norte-americanos da Pop Art -, além de sua participação na Bienal de Gravura de Tóquio, em 1978, tradicional mostra internacional desta técnica.
Além da pintura e da gravura, Tomie tem realizado esculturas em grandes dimensões para espaços públicos e, desde a 23ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1995, quando teve uma sala especial de esculturas, vem expandindo sua produção tridimensional. Hoje, 27 obras públicas de sua autoria fazem parte da paisagem urbana de algumas cidades brasileiras. Em São Paulo, parte delas se tornaram marcos paulistanos, como os quatro grandes painéis da Estação Consolação do Metrô de São Paulo, a escultura em concreto armado na Avenida 23 de maio e a pintura em parede cega no centro, na Ladeira da Memória.
Desde a década de 60, a participação da obra de Tomie nos principais espaços da arte nacionais e internacionais se amplia permanentemente. Está presente em cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo, conquista 28 prêmios, realiza cerca de 50 individuais e 85 coletivas, no Brasil e no exterior. No País, torna-se um fenômeno raro, alcançando uma popularidade incomum para um artista plástico cuja obra ao mesmo tempo é respaldada pelos principais
críticos de arte. Um exemplo disto foi a sua marcante primeira retrospectiva realizada no Museu de Arte de São Paulo - MASP, em 1983, quando, até então, o professor Bardi nunca havia assistido, no museu que dirigia, um sucesso tão estrondoso para uma mostra individual, quando na abertura compareceram mais de 4.000 pessoas. Hoje, a relevância de Tomie no cenário das artes plásticas brasileiras reafirma-se na abertura de um centro cultural com seu nome, o Instituto Tomie Ohtake, homenagem extraordinária a um artista em franca produção
“A obra de Tomie Ohtake, como trajetória íntegra e integral, tem enfrentado o desafio de construir um tempo reconciliado entre a sabedoria de uma tradição e a experiência visual do sujeito moderno. Sua obra parece buscar em nosso olhar um haicai perdido”, escreve o crítico Paulo Herkenhoff, curador do MoMA Museum of Modern Art, Nova York (setembro, 2002).

Na sequência, alguns trabalhos da artista














quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

E por falar em latifúndio



Cesar Vanucci *

“Hoje, quem não tem lucros expressivos
com a agropecuária prefere ficar na terra,
pois sabe que ela se valorizará com o tempo.”
(Bastiaan Reydon, consultor do Banco Mundial)

A ilustre Ministra Katia Abreu, da importante pasta da Agricultura, está na obrigação de corrigir a declaração feita de que não mais existe latifúndio no continente territorial brasileiro. Ou, então, de solicitar, do alto de sua prerrogativa como autoridade ministerial, que o Incra cuide rápida e urgentemente de promover uma alteração radical em seu Cadastro de Imóveis Rurais. Isso carece ser feito de modo a evitar a divulgação de “informações equivocadas” pertinentes à palpitante questão imobiliária no campo.

De acordo com o Cadastro mencionado, contemplando-se apenas o segmento das propriedades privadas, deixadas de lado as terras públicas ou devolutas, existem hoje no Brasil apenasmente 130 mil e 300 latifúndios. Essas porções de terra de descomunal tamanho abarcam área superior a 244.7 milhões de hectares. A superfície média das propriedades em questão corresponde a 1,8 mil hectares. Recorrendo-se a uma outra medida, 18 mil quilômetros quadrados, tá bem? Os indicadores do órgão governamental apontam no sentido de que 2.3% dos proprietários rurais concentram hoje 47.2% de toda a área disponível para o desenvolvimento das atividades agrícolas, reconhecidamente fundamentais no processo de desenvolvimento nacional. No modo de ver da Associação Brasileira da Reforma Agrária, pelo menos a metade desses mais de 130 mil latifúndios constantes do Cadastro do Incra mostra-se improdutiva. Pela legislação fundiária vigente, sobre um terreno rural dessa proporção, devidamente caracterizado como improdutivo, recairia ônus tributário anual de 20 por cento de seu valor. Se tão rígido critério fosse pra valer, o dono do imóvel ficaria sob o risco de vir a perdê-lo ao longo de cinco anos. Mas não se conhece caso algum em que a legislação haja sido aplicada.

Para se ter uma ideia da dimensão colossal desses latifúndios, os maiores do mundo, aqui estão pra efeito de comparação, as superfícies em quilômetros quadrados de algumas unidades federativas brasileiras: Alagoas, 29.107 km²; Distrito Federal, 5.794 km²; Sergipe, 21.867 km²; Espírito Santo, 45.733 km²; Rio Grande do Norte, 53.167 km²; Paraíba, 53.958 km². Oportuno ainda ressaltar que Belo Horizonte, com seus 332 quilômetros quadrados de superfície, acolhe uma população próxima dos dois milhões e quinhentos mil habitantes.

Um conhecido que vai sempre a negócios ao Japão conta-me que, em mais de uma oportunidade, ao se falar das gigantescas extensões brasileiras de terra apropriadas para cultivo recolheu de cidadãos daquele país manifestações que giram entre a incredulidade e a perplexidade. Vivendo espremidos num território de superfície inferior a 320 mil quilômetros quadrados, os japoneses sentem, obviamente, tremenda dificuldade em entender como pode nalgum lugar do mundo (no caso, o Brasil) áreas desse tamanhão não inspirarem a criação, nos planos prioritários de desenvolvimento, de políticas mais arrojadas na distribuição da terra.

Acompanhada da implementação em elevada escala de boas técnicas de produção e produtividade, disponíveis entre nós, essa distribuição constituiria evidentemente instrumento decisivo na multiplicação da riqueza coletiva.
  
Falta de água e de consciência

Cesar Vanucci *

“Tomara que chova três dias sem parar.”
(Estribilho de modinha carnavalesca lembrado nessa véspera do tríduo momesco em virtude da escassez de água que nos ronda)

A estiagem prolongada acena com a perspectiva incômoda de desabastecimento. A chamada crise hídrica entra de supetão nas preocupações da comunidade. Comunidade esta já sobrecarregada de situações tormentosas, originárias das proverbiais dificuldades humanas em saber conciliar o frenético ritmo da vida moderna com as respeitáveis exigências da preservação do meio ambiente.

A Natureza vem emitindo, não é de hoje, repetitivamente, sinais inquietantes. Legiões de homens e mulheres de boa vontade, atentos a tão abundante sinalização, insistem também há tempos em conscientizar a opinião pública sobre as ameaças tormentosas que nos espreitam. São riscos decorrentes das ações destrutivas sistemáticas no plano ambiental, praticadas em alta escala por aí afora. Doloroso constatar a insuficiência das medidas de combate aos excessos amiúde comprovados. Os alertas feitos não encontram, desafortunadamente, a ressonância devida. Não conseguem, jeito maneira, alterar os rumos desastrosos das coisas. As informações disponíveis apontam no sentido de emergências que, até recentemente, na suposição geral eram dadas como improváveis.

Chegada a hora fatídica da onça beber água, como se diz no linguajar popular. Sem intenção alguma de gracejar, é o caso até de arriscar uma pergunta: e será que haverá água pra beber? Nas quantidades habituais, pelo visto, não. Os órgãos competentes já falam em racionalização, deixando subentendido como inevitável, mais adiante, algo sumamente indesejável: racionamento.
O quadro geral oferece contornos dramáticos. O desmazelo, melhor dizendo, a irresponsabilidade humana quanto à preservação dos elementos naturais adquiriu proporções descomunais. Criou toda ambiência propicia para que amargássemos condições adversas na tentativa de desfrute de apreciáveis conquistas de conforto. O que se antecipa ruim tende a se tornar ainda pior, na eventualidade de que as diligências recomendadas na esfera da gestão pública e na área da cooperação comunitária não sejam devidamente executadas. O momento reclama conjugação de vontades poderosa, ancorada no bom senso, para que as medidas preconizadas sejam, todas elas, colocadas logo em prática.

Essas providências implicam, a curto prazo, em correções técnicas, administrativas e comportamentais indispensáveis, a partir da captação e tratamento da água, passando pela distribuição, até o consumo domiciliar. Todo desperdício terá que ser doravante combatido com determinação. As recomendações precisarão ser incorporadas à rotina de todos, mesmo que, em resposta aos ardentes anseios populares (e às preces fervorosas de tanta gente), São Pedro resolva abrir de vez as torneiras do céu, mandando chuva em níveis suficientes para a recuperação de reservatórios e aumento do volume dos rios e barragens.

As variações climáticas, decorrentes da força colossal da Natureza, obviamente insatisfeita com o tratamento que o mundo contemporâneo lhe reserva, têm peso considerável nessa angustiante questão da escassez d’água. Mas, não há como eximir organismos dos governos, ligados à captação e distribuição do precioso líquido de culpas notórias pelo que ocorre. A ineficiência no planejamento e a inépcia burocrática na gestão do processo, percebidas em vários Estados, fazem jus a inapeláveis contestações.

Numa contemplação global do problema que nos aflige, inquietante também noutras regiões deste planeta azul, cabe deplorar, com base em substanciosas evidências, a inconsciência e incompetência detectadas como xis do problema.

O instinto predador que impulsiona numerosas engrenagens ditas desenvolvimentistas, despojadas de sensibilidade social, tem deixado rastros devastadores. Dá causa à fúria constante dos elementos naturais. Doutra parte, a arrogância e o pragmatismo que conduzem grande parte das conquistas tecnológicas e econômicas menosprezam as prioridades humanísticas. O que se observa, então, é a ciência debruçada na criação contínua de instrumentos eficazes para eventuais confrontos bélicos e nada empenhada em estudos voltados a questões relevantes como, por exemplo, a dessalinização da água dos oceanos. Ou seja, desses três quartos de massa líquida da superfície do globo que já até inspiraram poetas a propor a troca de seu nome de Terra para Água.
  
Sepulcros caiados

Cesar Vanucci *

“Je suis hypocrite.”
(Refrão sugerido pelo jornalista Mino Carta para definir atitudes de rematada falsidade de alguns dirigentes políticos do Ocidente e do Oriente)

Articulistas da CartaCapital – publicação que se sobressai pela capacidade analítica aprofundada dos fatos – denunciam a postura hipócrita de um punhado de dirigentes de países na ruidosa manifestação de solidariedade à sociedade e autoridades francesas, em razão de sua justa indignação diante dos recentes atentados terroristas. Na suprema cara de pau, apostaram em que não se lhes seria lembrada, naquela hora pelo menos, a visceral incoerência entre tais gestos magnânimos de rematada falsidade e o comportamento rotineiro que adotam de flagrante desrespeito aos direitos fundamentais. Genuínos “sepulcros caiados” (pra nos valermos de uma expressão evangélica) dos tempos convulsionados de hoje, esses elementos não se enrubesceram em participar da passeata de Paris, disputando lugares nas primeiras filas com aclamados defensores das liberdades públicas, à frente da gigantesca multidão dominada compreensivelmente pela dor e pela revolta.
Compõem, entre outros, a lista feita pelos jornalistas Mino Carta e Carlos Leonam os figurões abaixo citados, todos com avantajada culpa no cartório no capítulo do desrespeito aos direitos humanos. Antonis Samara, Primeiro-ministro da Grécia, ganhou notoriedade por promover violência xenófoba contra imigrantes, confinando-os e expulsando-os do país; Xeque Abdulah Al-Nahyan, Ministro  do Exterior dos Emirados Árabes – seu governo financia – vejam só! – os insanos “jihadistas” e mantém presos, sem julgamento, numerosos jornalistas; Ahmet Davutoglu, Primeiro-ministro da Turquia – seu país move combate sem tréguas à imprensa independente. Enquanto marchava em Paris, periodistas turcos, cartunistas entre eles, amargavam prisão pelo “crime” de criticar fundamentalistas muçulmanos; Benjamin Netanyahu, Primeiro ministro de Israel, tem comandado uma série de sangrentas invasões na Palestina, utilizando aviões, tanques, artilharia pesada contra civis. A contabilidade tétrica da última intervenção acusa 2 mil mortos e 10 mil feridos;  Abdullah, rei da Jordania, ordenou a invasão da rede de TV Al-Abasiya, encaminhando dezenas de jornalistas para a cadeia e estabeleceu o bloqueio das comunicações pela internet; Mahmoud Abbas, presidente da Palestina, comanda um território onde o exercício dos direitos fundamentais foi praticamente banido; Babacar Keita, Presidente do Mali, acusado de suprimir os direitos civis e de aplicar tortura a adversários; Samech Shoukry, Ministro das Relações Exteriores do Egito, Sergey Lavrov, Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Ramtave Lamamra, Ministro das Relações Exteriores da Argélia, Petro Poroshenko, Presidente da Ucrânia: há necessidade de explicar o que vem acontecendo nesses países no tocante à liberdade de expressão e aos direitos fundamentais?

Daí a sugestão de Mino Carta para que eles todos, ao invés de se agruparem em torno do refrão “Je suis Charlie”, passassem a bradar “Je suis hypocrite”...




GALERIA DE ARTE


TARSILA DO AMARAL,

PERSONAGEM DE DESTAQUE DO

MOVIMENTO MODERNISTA










Tarsila do Amaral (Capivari, 1 de setembro de 1886São Paulo, 17 de janeiro de 1973) foi uma das figuras centrais da pintura e da primeira fase do movimento modernista no Brasil, ao lado de Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugura o movimento antropofágico nas artes plásticas.

Estudos em São Paulo e Barcelona - Tarsila do Amaral estudou em São Paulo, em colégio de freiras do bairro de Santana e no Colégio Sion. E completou os estudos em Barcelona, na Espanha, no Colégio Sacré-Coeur.

Início da carreira - Começou a aprender pintura em 1917, com Pedro Alexandrino Borges. Mais tarde, estudou com o alemão George Fischer Elpons. Em 1920, viaja a Paris e frequenta a Academia Julian, onde desenhava nus e modelos vivos intensamente. Também estudou na Academia de Émile Renard.
Apesar de ter tido contato com as novas tendências e vanguardas, Tarsila somente aderiu às ideias modernistas ao voltar ao Brasil, em 1922. Numa confeitaria paulistana, foi apresentada por Anita Malfatti aos modernistas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Esses novos amigos passaram a frequentar seu atelier, formando o Grupo dos Cinco.
Em janeiro de 1923, na Europa, Tarsila se uniu a Oswald de Andrade e o casal viajou por Portugal e Espanha. De volta a Paris, estudou com os artistas cubistas: frequentou a Academia de Lhote, conheceu Pablo Picasso e tornou-se amiga do pintor Fernand Léger, visitando a academia desse mestre do cubismo, de quem Tarsila conservou, principalmente, a técnica lisa de pintura e certa influência do modelado legeriano. 

Fases Pau-Brasil e Antropofagia - Em 1924, em meio à uma viagem de "redescoberta do Brasil" com os modernistas brasileiros e com o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, Tarsila iniciou sua fase artística “Pau-Brasil”, dotada de cores e temas acentuadamente tropicais e brasileiros, onde surgem os "bichos nacionais" (mencionados em poema por Carlos Drummond de Andrade), a exuberância da fauna e da flora brasileira, as máquinas, trilhos, símbolos da modernidade urbana.
Casou-se com Oswald de Andrade em 1926 e, no mesmo ano, realizou sua primeira exposição individual, na Galeria Percier, em Paris. Em 1928, Tarsila pinta o Abaporu, obra que deu origem ao Movimento Antropofágico, idealizado pelo marido.
Em julho de 1929, Tarsila expõe suas telas pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, em virtude da quebra da Bolsa de Nova York, conhecida como a Crise de 1929, Tarsila e sua família de fazendeiros sentem no bolso os efeitos da crise do café e Tarsila perde sua fazenda. Ainda nesse mesmo ano, Oswald de Andrade separa-se de Tarsila porque ele se apaixonou e decidiu se casar com a revolucionária Patrícia Galvão, conhecida como Pagu. Tarsila sofre demais com a separação e com a perda da fazenda, o que a leva a entregar-se ainda mais a seu trabalho no mundo artístico.
Em 1930, Tarsila conseguiu o cargo de conservadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Deu início à organização do catálogo da coleção do primeiro museu de arte paulista. Porém, com o advento da ditadura de Getúlio Vargas e com a queda de Júlio Prestes, perdeu o cargo.

Fase social - A partir da década de 40, Tarsila passa a pintar retomando estilos de fases anteriores. Expõe nas 1ª e 2ª Bienais de São Paulo e ganha uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) em 1960. É tema de sala especial na Bienal de São Paulo de 1963 e, no ano seguinte, apresenta-se na 32ª Bienal de Veneza.

Últimas décadas: 1960 e 1970 – Em 1965, vivendo sozinha, foi submetida a uma cirurgia de coluna, já que sentia muitas dores, e um erro médico a deixou paralítica, permanecendo em cadeira de rodas até seus últimos dias. Em 1966, Tarsila perdeu sua única filha, Dulce, que faleceu de um ataque de diabetes, para seu desespero. Nesses tempos difíceis, Tarsila declara, em entrevista, sua aproximação com o espiritismo. A partir daí, passa a vender seus quadros, doando parte do dinheiro obtido a uma instituição administrada por Chico Xavier, de quem se torna amiga. Ele a visitava, quando de passagem por São Paulo e ambos mantiveram correspondência.
Tarsila do Amaral, a artista-símbolo do modernismo brasileiro, faleceu no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, em 17 de janeiro de 1973 devido a depressão.  Foi enterrada no Cemitério da Consolação.


Representações na cultura -Tarsila do Amaral já foi retratada como personagem no cinema e na televisão, interpretada por Esther Góes no filme "Eternamente Pagu" (1987), Eliane Giardini nas minisséries "Um Só Coração" (2004) e "JK" (2006).
A artista também foi tema da peça teatral Tarsila, escrita entre novembro de 2001 e maio de 2002 por Maria Adelaide Amaral. A peça foi encenada em 2003 e publicada em forma de livro em 2004. A personagem-título foi interpretada pela atriz Esther Góes e a peça também tinha Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfatti como personagens.
Tarsila do Amaral foi homenageada pela União Astronômica Internacional, que em 20 de novembro de 2008 atribuiu o nome "Amaral" a uma cratera do planeta Mercúrio.
Em 2008, foi lançado o Catálogo Raisonné Tarsila do Amaral, uma catalogação completa das obras da artista em três volumes, em realização da Base7 Projetos Culturais, com patrocínio da Petrobras, numa parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura e Governo do Estado de São Paulo.
(Fonte: Wikipédia)

A SAGA LANDELL MOURA

Uma mulher rodeada de palavras

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