quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Muita encrenca à vista

 


 

*Cesar Vanucci

“Uma das qualidades de um grande líder é ter misericórdia.”

(Bispa Mariann Edgar Budde)

 

Manifestações de desagrado, apelos ao bom senso, pronunciamentos críticos de cunho humanístico estrugiram, mundo afora, em consequência dos posicionamentos estremados e de gesto acintoso, registrados durante os históricos eventos que assinalaram a posse de Donald Trump como 46° presidente dos Estados Unidos. Líderes de projeção global, figuras eminentes da ciência e religião, pessoas de todas as camadas da sociedade humana não escondem sua apreensão, mais do que isso, seus temores, com relação aos efeitos que poderão advir dos atos e fatos anunciados.  

Amostra eloquente das reações eclodiu durante a tradicional cerimônia litúrgica ecumênica realizada no dia posterior à posse. Ganhou ressonância incomum, alcançando todos os quadrantes do planeta, o sermão da mais alta dignitária da Igreja Episcopal dos EUA, Bispa Mariann Edgar Budde, no comando da comunidade religiosa há 14 anos. Dirigindo-se a Trump, de forma serena e empregando termos vigorosos, ela expendeu considerações sobre o conceito evangélico da Misericórdia, pedindo para que as ações governamentais observem os valores humanísticos e espirituais que conferem dignidade à vida. Implorou proteção às pessoas que se mostram “assustadas” com o que está rolando: “Há crianças gays em famílias democratas, republicanas e independentes, algumas temem por suas vidas”. Além disso, ressaltou: “As pessoas que colhem nossas plantações e limpam nossos prédios, que trabalham em granjas avícolas e, frigoríficos, que lavam a louça depois de comermos em restaurantes e trabalham no turno da noite em hospitais, elas podem não ser cidadãos ou não ter a documentação adequada, mas a grande maioria não é criminosa”. Acrescentou: “Eu lhe peço que tenha misericórdia, senhor presidente, para com os filhos de nossa comunidade que temem que seus pais sejam levados embora” (...) “também peço que ajude aqueles que estão fugindo de zonas de guerra e perseguição em suas próprias terras e que aqui encontraram compaixão e acolhimento”.  Trump bem ao seu estilo atacou a religiosa de forma bastante grosseira.

Outra demonstração de desagrado proveio da interpelação judicial articulada por nada menos que 30 Estados da União e numerosos municípios importantes contra as medidas anunciadas.

Com a “saudação nazista” de Elon Musk, Trump comprou briga também na Europa. O Chanceler alemão condenou o gesto e foi chamado de “estúpido” pelo magnata da comunicação. Para agravar a história, o partido neonazista da Alemanha cumprimentou efusivamente o autor da insólita proeza. Alcançou destaque ainda a revelação de que Musk escreveu um artigo, recentemente, enaltecendo o movimento nazista. Não é preciso “bola de cristal” para adivinhar as encrencas a caminho...

 

Jornalista “cantonius1@yahoo.com.br”

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