segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

O Globo de Ouro e a celebração da vida

 


“Uma mega-sena acumulada. Surfei na onda de minha mãe.” (Fernanda Torres)

Em meio ao torvelinho da aventura humana, pausa convidativa para poder festejar a inteligência e a arte. Pausa com tudo aquilo que uma comemoração, ao jeito de conquista de Copa do mundo, possa abarcar. Ou seja: aplausos ensurdecedores, brados de “viva”, charanga musical, batucada, estouro de champanhe e por aí vai.

A conquista do Globo de Ouro pela atriz Fernanda Torres, graças ao seu extraordinário desempenho em “Ainda estou aqui”, obra prima do consagrado cineasta Walter Salles, confere visibilidade solar à cultura efervescente que emerge das manifestações artísticas, nas mais variadas modalidades da gente brasileira. Além de disputar a láurea com algumas das mais famosas estrelas do cinema internacional, Nanda teve que superar outro obstáculo que se afigurava à primeira vista intransponível. Seu filme era o único falado em português, idioma com qual a grande maioria dos jurados não estava certeiramente, familiarizada. Esbanjou talento para chegar lá. Garantiu condição propicia, segundo a mídia e critica, para bisar o feito e trazer na bagagem em seu retorno, o cobiçado “Oscar”. Torcida não vai faltar.

A Fernanda Torres aplica-se, impecavelmente, a emblemática expressão “Tal mãe, tal filha”. Melhor ainda: “Tais pais, tal filha”. Ela despertou bem cedo para a ribalta. Encontrou em casa, no pai Fernando Torres e na mãe Fernanda Montenegro, primeira dama do teatro brasileiro, que há vinte e cinco anos atrás, por pouco não obteve o “Globo de ouro”, todo incentivo necessários para carreira cintilante que abraçou, vivendo papéis marcantes, no drama e na comédia, na televisão, no teatro, no cinema.

Falemos agora do filme. Um colosso de coisas a dizer, os louvores que vêm arrancando das plateias são mais que justificados. Direção, elenco e produção técnica impecáveis asseguram grandiosidade a uma narrativa humanística, aplicada a uma tragédia real ocorrida em tempos obscurantistas na vida brasileira. O “desaparecimento” de Rubens Paiva, humanista, parlamentar, torturado e morto durante os “anos de chumbo”, foi contado em livro, lido por milhares de pessoas, de autoria de seu filho Marcelo Paiva. Walter Salles resolveu projetar nas telas a dolorida historia. Fê-lo de forma magistral. Deu dimensão universal ao chocante e estarrecedor caso. Tornou conhecida, em enorme amplitude, a figura estoica de Eunice, esposa de Rubens, em sua indômita e obstinada luta pelos direitos humanos e contra os desmandos do totalitarismo. A fusão da personagem com a intérprete reveste-se de toque poético arrebatante. O filme convida o expectador a uma reflexão sobre esse dom precioso que é a vida. Repele implacavelmente as odientas ações humanas que insistem em amesquinhá-la. Promove o resgate democrático da História. Celebra os valores que tornam a vida digna de ser vivida.

Jornalista Cesar Vanucci

Nenhum comentário:

A SAGA LANDELL MOURA

Hora do espanto e incertezas.

  Cesar Vanucci “Todo cuidado é pouco. Viver é coisa de louco” (verso de canção da MPB)     A confusão é geral. No xadrez geopolític...