sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Ai de ti, Rio!

 



Cesar Vanucci *


"Brasil, tira as flechas do peito de meu padroeiro que São Sebastião do Rio de Janeiro pode ainda se salvar."(Aldir Blanc, em “Saudades da Guanabara”)

 

 Publicado há mais de 10 anos, este comentário conserva-se doridamente atual.

O que diferentes administrações de notória ineficiência, mafiosos e bandoleiros de diversificados matizes, policiais despreparados ou corruptos e políticos inescrupulosos ou desprovidos de espírito público andam aprontando, não é de hoje, com a mui leal e heróica São Sebastião do Rio de Janeiro, só pode ser mesmo classificado de crime de lesa-pátria. Sou de um tempo e pertenço a uma geração que aprendeu a cultuar o Rio como o segundo rincão natal de cada brasileiro. Mesmo daqueles patrícios que só o conheciam à distância. Melhor dizendo, daqueles compatriotas que se extasiavam com a soberba composição entre a Natureza e o engenho humano refletida na cidade, sem nunca ter tido a chance de contemplar de perto as belezas sem par, da cidade de encantos mil, cidade maravilhosa, coração do Brasil, cantada na imortal melodia de André Filho.

 Comprovo em depoimentos anotados por  Paulo Rónai,  que a magia do Rio é de tempos imemoriais, de abrangência universal. Vejam só o que a visão estonteante da paisagem arrancou de Bocage: "Pus, finalmente, os pés onde murmura / o plácido janeiro, em cuja areia / Jazia entre delícias ternura." Apolinário Porto Alegre, nas "Brasilianas", não faz por menos: "Vi dez sólios; oitenta e seis cidades / Vi as do engenho humano maravilhosas / Pelas artes criadas em mil anos / Mas meus olhos não viram quem te iguale / Divina Guanabara, em teus encantos.”

 Com certeira certeza, emoção parecida arrastou Paul Claudel a dizer que "o Rio é a única grande cidade que não conseguiu expulsar a natureza.". Ou Genolino Amado a proclamar, deslumbrado, que os panoramas cariocas, inundando o coração da gente, fornecem a sensação do mundo em festa. Ou ainda Carlos Lacerda a garantir ser o Rio uma admirável síntese brasileira, cidade onde existe a idéia de que a amizade é força essencial à vida, arrematando assim a definição de um Rio presente na saudade e na veneração dos brasileiros: "O que no Rio por dinheiro nenhum se consegue, com uma boa palavra se alcança. Ou um palavrão, dito com ternura.”.

 Esse Rio lindíssimo, terno, de imagens que comportam tantas grandezas, de abrasador calor humano, sinopse vibrante do sentimento nacional, parece não existir mais. Parece estar sucumbindo diante das flechadas letais disparadas pela violência e insensatez desabridas, estimuladas pelo despreparo e falta de criatividade governamentais no enfrentamento da bandidagem e corrupção.

  No passado, tomava-se conhecimento com sintomática freqüência de casos de conhecidos que se ligavam pela vida afora, movidos por contagiante entusiasmo, ao sonho dourado de terminar seus dias, à hora merecida da aposentadoria, na assim denominada cidade-maravilhosa. Que diferença de hoje, santo padroeiro!  Que diferença destes tempos ignominiosos das quadrilhas de traficantes; das milícias corruptas de policiais; de unidades pacificadoras, nem sempre lamentavelmente “pacificadoras”; das balas extraviadas, das rajadas luminosas mortíferas que enchem de pavor ruas, residências, estradas, bairros inteiros e que inspiram nas pessoas, ao reverso, a ânsia de sair à cata de outros refúgios para terminar os dias de forma que não renda notícia dolorida em canto de página policial.

 Os acontecimentos dos tempos cariocas dizem respeito a todos os brasileiros. O Brasil tem o direito e o dever de agir, se preciso for até com intervenção federal. O Rio de Janeiro precisa se desfazer de suas mazelas. Continuar lindo, para desfrute da humanidade. É preciso que surjam pessoas interessadas em arrancar as flechas do peito do padroeiro, para que São Sebastião do Rio de Janeiro possa ainda se salvar, como é dito na belíssima canção de Aldir Blanc.

 

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)


Nada disso

 



*Cesar Vanucci

“Quantas maçãs caíram na cabeça de Isaac Newton (lei da gravidade) até que ele entendesse os sinais?” (Robert Frost, poeta estadunidense, falando dos sinais transmitidos continuamente para que o homem entenda seu papel na aventura da vida)

 

 Nada disso por aqui! Nada de antissemitismo. Nada de islamofobia. Nada de rejeição preconceituosa talebanista contra ideias e modo de pensar religioso e político das pessoas. Nada de ódio solto contra comunidades étnicas. Nada de agressões, depredações, pichações, arruaças tendo por  alvo sinagogas, mesquitas, ou qualquer outro lugar sagrado erigido com o sublime fito de proporcionar diálogos dos homens com a Divindade. Agindo com modelar eficiência, utilizando adequadamente os serviços da Inteligência, a Polícia Federal conseguiu desbaratar, no nascedouro, trama criminosa arquitetada contra a comunidade judaica por elementos recrutados, ao que se divulgou, por um grupo terrorista internacional. O país inteiro experimentou uma sensação de alívio ao tomar conhecimento daquilo que poderia vir a acontecer, mas que, afortunadamente foi abortado pela ação policial.  O Brasil preza muito sua democracia, sua liberdade religiosa. Encontra nas práticas ecumênicas suporte vigoroso para o exercício da cidadania. Tem dado demonstrações exuberantes de sua repulsa às manifestações extremadas de quaisquer matizes. Sua valorosa gente compreende admiravelmente, melhor do que em outras partes do planeta, que a salvação do homem, a solução dos problemas aflitivos da humanidade não vêm das lateralidades ideológicas incendiárias, mas do Alto. Nada disso por aqui!

Sinais - Alerta vermelho ligado em todos os cantos do mundo. A colossal encrenca climática acena com perspectivas funestas num prazo cada vez mais curto. Os sinais de alerta rebentam por toda parte. Os negacionistas de carteirinha, com seu fundamentalismo pré-histórico, olham a questão com desdém. Mais contundente ainda é a diferença das lideranças face às ameaças cada vez mais próximas e ruidosas. No entanto, como assinala o poeta Robert Frost, é preciso atentar para os sinais. Lembra ele: “Quantas vezes trovejou até que Benjamim Franklin (inventor do para raio), compreendesse os sinais?” O que anda ‘trovejando” por esse mundo do bom Deus onde o tinhoso costuma botar banca, sei não...

Dino - Visto com simpatia pela opinião pública por conta do desempenho à testa do Ministério da Justiça, Flávio Dino é também admirado pela fluência verbal e agilidade de raciocínio nos debates de que participa. “Indoutrodia” foi arguido por um adversário político sobre caluniosa suposição da existência de um pacto das autoridades governamentais com o “crime organizado”. Sem titubeios reagiu com afiada sutileza à destemperada observação: - “Não conheço nenhum miliciano. Não sou amigo de miliciano. Nunca contratei miliciano. Nunca contratei mulher ou filho de miliciano. Nunca homenageei miliciano. Não sou vizinho de miliciano.” Segundo jornalistas que acompanharam o diálogo, depois desta fala nada mais foi dito e nem lhe foi perguntado. Apreciada jornalista Natuza Nery contou outro sugestivo episodio referente ao citado personagem. Comentando possível inclinação do Presidente Lula em manter Dino na pasta da justiça, não o indicando para a vaga no STF, Natuza usou conhecido jargão jornalístico: “Dino, no que tange ao Supremo já subiu no telhado...” no minuto seguinte às gargalhadas, ela revelou que acabara de receber mensagem do próprio dizendo: “espero que exista no telhado uma escada para que eu possa descer tranquilamente”.

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

 

sábado, 4 de novembro de 2023

Nada de novo no front

 


  *Cesar Vanucci

Não importa os motivos da guerra, a paz ainda é mais importante do que eles.” 

(.Roberto Carlos.)

 

Nada de novo no front. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. Estas expressões podem soar, por vezes, como indicativo de que uma situação indesejada esteja sendo posta sob relativo controle. Mas não é bem assim quando aplicadas em narrativas alusivas ao horrendo conflito que monopoliza na atualidade as manchetes do mundo inteiro. Não está havendo nas frentes de luta entre as forças de segurança do Israel e as milícias terroristas localizadas na Faixa de Gaza nada que não seja morte violenta e destruição irreparável. Os belicosos contendores fingem não ouvir o clamor universal. Recusam-se a libertar inocentes reféns, idosos e crianças em boa parte. Não se sensibilizam nadica de nada com o drama angustiante dos milhares de cidadãos palestinos e de muitas outras nacionalidades, que querem deixar a região sitiada. Não se comovem com as notícias aterrorizantes do numero de mortos e feridos, entre estes últimos pessoas largadas à própria sorte devido ao colapso do sistema de saúde. Não se incomodam com as inacreditáveis informações da ONU, da OMS, dos correspondentes das agencias jornalistas, da Cruz Vermelha, acerca da carência absoluta de alimentos, medicamentos, água, eletricidade, moradias dos mais de dois milhões de seres humanos acossados pela metralha mortífera em estreita faixa territorial, sem saídas à vista para escapar do horror.

 A opinião publica mundial confessa-se atônita com o que vem acontecendo no Oriente Médio. Na Assembleia Geral das Nações Unidas uma maciça maioria de países, mesmo sabendo que sua manifestação não possui força deliberativa, recomendou, lucidamente, uma trégua no sanguinolento conflito para providências humanitárias e debates que possam conduzir a uma solução da questão crucial inserida no pano de fundo das discordâncias existentes entre as partes. No conselho de segurança, o Brasil conseguiu encaixar uma proposta na mesma linha. Toda via esta proposição acabou se tornando ineficaz diante do veto desprovido de fundamentos dos Estados Unidos. Os EUA fazem parte do quinteto que se arvora em exercer incompreensível tutela dentro da ONU, sobre o resto do mundo.

 O Papa Francisco e outras clarividentes lideranças mundiais tem sido unânimes em mostrar que o terrorismo e a guerra são instrumentos do mal, degradando os valores supremos que alicerçam a evolução civilizatória. Tais manifestações de peso considerável como expressão do sentimento universal, não conseguem varar as fortificações dos “senhores da guerra”, imperturbáveis em sua disposição de não ensarilhar armas.   

 O jeito para os que conservam acesa a esperança na interrupção dessa porfia amalucada é meditar e rezar. E também apelar para que um súbito e abençoado lampejo de bom senso brote na consciência dos que ditam as ordens para matar e destruir, levando-os a se convencerem da necessidade de uma trégua e a admitirem, mais adiante de que fora da paz não há salvação, como proclama a cátedra de São Pedro.

 

2) Milei - Apontado como um “anarco-capitalista”, seja lá o que isso signifique, o economista Javier Milei, candidato à presidência da Argentina, segundo colocado nas pesquisas, promete horrores, caso bafejado pela vitória nas urnas. Pretende fechar o Banco Central, os Ministérios da Educação e da Saúde, romper relação com o Vaticano e com a China, acabar com o peso e dolarizar a economia, sair do MERCOSUL. De quebra faz considerações pouco lisonjeiras ao papa Francisco, ao Brasil e ao Presidente Lula. Observadores políticos têm como certo que após a eleição do dia 30 vindouro, Milei envergando vistosa camisa de força será reconduzido ao manicômio na Calle Florida.

 Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

ONU, votos e vetos.

                                                                                             *Cesar Vanucci

“O veto é um míssil contra a democracia”(Domingos Justino Pinto, educador.)

 

A ONU foi instituída em 1945 com o louvável escopo de proporcional representatividade política ao sentimento universal. Nascida logo após a 2° guerra mundial, vem cumprindo, a trancos e barrancos, sua importante missão, dentro de um mundo permanentemente conflagrado. Promove ações positivas em diferentes frentes, por intermédio de agências que se destacam por iniciativas de fomento econômico e social. Um bom exemplo disso está na ajuda prestada aos refugiados. Ou seja, às multidões sem eira nem beira das diásporas modernas produzidas pela ferocidade bélica dominante em tantas paragens deste belo e maltratado planeta azul.

O desempenho da Organização, por mais bem intencionadas que sejam as causas abraçadas, nem sempre, desventuradamente, gera resultados a pleno contento dos Estados-membros.

Os efeitos adversos registrados em algumas decisões tomadas ou recomendadas pelos órgãos executores das políticas das Nações Unidas derivam, não poucas vezes, de posicionamentos de países dominados por pretensões hegemônicas, ou por interesses geopolíticos camuflados. A modalidade de votação adotada, desde a fundação do Órgão é fator de peso nas frequentes dificuldades em se achar portas de saída para questões tormentosas, de se chegar a consensos construtivos em discussões e confabulações de relevância social, política e humanitária. Acontece que os estatutos da ONU atribuem o “direito de veto” monocrático a cinco países no meio do amplo conjunto das Nações representadas no Organismo. Isso quer dizer, que Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra – países aquinhoados com essa desajuizada prerrogativa - detém isoladamente o poder de neutralizar fulminantemente qualquer resolução aprovada pela maioria, ou até pela totalidade dos demais países com assento na Instituição.  

A circunstância apontada levanta, naturalmente, dúvida atroz quanto à legitimidade deste procedimento, sob os refletores democráticos. Como explicar algo assim, de escancarada característica autocrática como norma a que se devam os Estados-membros se submeterem numa Organização que proclama os valores excelsos da democracia e da vivencia humanística?

No caso do bestial conflito que ensanguenta o Oriente Médio, assistimos a uma demonstração frisante da força demolidora do veto. A diplomacia brasileira, com a costumeira competência, depois de exaustivas conversações, propôs numa resolução no Conselho de Segurança da ONU a imediata libertação dos reféns, o cessar fogo temporário, corredores humanitários para assistirem aos civis, mesa de negociações para definir o impasse acerca da implantação do Estado da Palestina, ao lado do Estado do Israel. Um único voto contrário, com força de veto derrubou a sensata proposta. Outras propostas com menor número de votos a favor foram também inviabilizadas por conta de vetos. Cabe ainda ressaltar outro lance incompreensível amiúde anotado nas relações da ONU com os países associados. Alguns deles se recusam, obstinadamente, a acatar resoluções aprovadas. A recusa, não implicando em sanções, deixa a proposta vazia.

Mais cedo ou mais tarde, como deseja a diplomacia brasileira com apoio majoritário na Assembleia Geral, essa desconcertante situação terá que ser equacionada para que a ONU possa executar com perspectivas melhores de êxito o seu relevante papel.

No front da guerra à hora em que essas considerações ganham forma, as coisas continuam de mal a pior, numa apavorante escalada. Nada de reféns libertos. nada de canhões silentes. Nada de civis adequadamente protegidos. Nada de fronteira aberta para quem queira escapar dos obuses.

 

 Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

O horror da guerra visto daqui (III)

 

 

                                                                                                  Cesar Vanucci 

Olho por olho, e o mundo acabará cego” (Mahatma Gandhi)

 

A atuação magistral do Ministério das Relações exteriores do Brasil na ONU e demais plenários onde se debate o horrendo conflito do Oriente Médio, somada à impecável performance da nossa FAB e dos nossos diplomatas no repatriamento de compatriotas nas zonas conflagradas estão sendo objeto de compreensível louvação por parte da comunidade internacional. O tom pacifista das intervenções, a disposição solidária para com as partes alvejadas, o resoluto propósito de alcançar com eficácia os alvos pretendidos, evidenciados nas ações promovidas por esses nossos denodados patrícios, projetam admiravelmente a índole e o sentimento humanitário que povoam a alma nacional.

 

 Todas as circunstâncias apontadas arrancam da memória velha de guerra deste escriba uma emblemática citação feita, há tempos, pelo famoso sociólogo italiano Domenico de Mais, recentemente falecido. Com efeito, falando de seu encantamento pela vocação humanista de nossa gente, ele assim se expressou: “Ninguém bombardearia as Torres Gêmeas, se elas estivessem localizadas no Brasil”.

 

  Voltemos. Agora, o foco das atenções para o horror da guerra ainda sem perspectivas de acabar, à hora em que redigimos esse texto. Deploravelmente o clamor humano e os apelos sensatos dos homens e mulheres de boa vontade nos mais diferentes rincões deste planeta azul para que cessem imediatamente a abominável porfia bélica não têm encontrado a acolhida almejada por parte dos contendores. O coro de vozes proclamando a necessidade da paz, a possibilidade de “pausas humanitárias”, a criação de corredores por onde possam chegar às multidões sitiadas artigos de subsistência básica, inclusive combustível para geradores dos hospitais colapsados, não conseguem sensibilizar “os senhores da guerra”. Como não conseguem igualmente convencer os setores engalfinhados no morticínio e destruição, da urgência da libertação de inocentes reféns e da interrupção dos disparos de mísseis. O extremismos radicais recusam-se a por fim na violência, não importa a dimensão da catástrofe humanitária que se desdobra diante dos olhares perplexos de todos. A retórica exaltando a excelência da paz tem sido intensa, mas nenhuma atitude decisiva foi ainda tomada, passando-se da teoria para a prática. Minorias belicosas fazem prevalecer, sobre maiorias bem intencionadas e com lúcida compreensão da geopolítica concebida pelos amantes da paz, posições intolerantes, negacionistas, de primitivismo ideológico assustador. Tais minorias, de um lado negam a existência legitima do Estado do Israel. De outro lado, fazem de tudo para que o Estado da Palestina não seja implantado. Desafiam, despudoradamente, abertamente, a ONU, o entendimento consensual das Nações.  Por tão execrável motivo os horripilantes dramas da guerra a que estamos assistindo, impotentes e angustiados, continuam, maleficamente para a condição humana, a se sobreporem às discussões acaloradas das mesas de negociações diplomáticas. É aí que as diferenças, pendências, tensões, divergências, deverão ser lançadas de maneira a se encontrar porta ampla de saída para a crise política e a tragédia humanitária que assolam uma parte do mundo sob o olhar permanente de todos os viventes, não importa sua nacionalidade, sua etnia, sua crença.

 Por derradeiro, uma palavra sugestiva do Papa Francisco: “O terror e a guerra só causam morte e destruição.”

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

domingo, 22 de outubro de 2023

O horror da guerra visto daqui (II)

 

 

                                                                                                                  *Cesar Vanucci

 

A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos.” (Albert Einstein)

 

Como o Papa Francisco enfatiza, com a costumeira sensatez, nesta apavorante guerra do Oriente Médio, a escolha deve ser apenas para um lado: o lado da Paz!

Em conclamação, endereçada a cidadãos de todas as nacionalidades e crenças, o Pontífice, embargado pela emoção afirma: “meus pensamentos estão voltados para a Palestina e Israel. As vítimas estão aumentando e a situação em Gaza é desesperadora”.  Sua Santidade pede à comunidade internacional que promova tudo quanto seja necessário para impedir  catástrofe humanitária ainda maior. Pontua ainda: “É preocupante a possível ampliação do conflito enquanto tantas frentes de guerra já estão abertas no mundo. Silenciem as armas, ouçam o grito de paz dos pobres, das pessoas, das crianças”.

 Revela-se perfeita a sintonia da sábia exortação de Francisco com o autentico  sentimento universal. Suas lúcidas ponderações estão conectadas com os anseios dos homens e mulheres de boa vontade, com criaturas providas de mentes e corações fervorosos, com essa gente toda, entregue a orações em diferentes idiomas, que se acha convencida de serem a guerra e o terrorismo causadores de dor e desespero, morte e destruição, desfazendo sonhos e apagando o futuro.

Os setores majoritários da opinião pública mundial, alinhados com essas percepções pacifistas, abominam os atos terroristas que dizimam inocentes, que sequestram civis, tornando-os reféns. Aceitam como legítima a reação contra agressões virulentas do terror. Rejeitam, de outra parte, ações punitivas violentas que atinjam indiscriminadamente civis indefesos, profissionais da saúde, enfermos, jornalistas, funcionários de agências humanitárias em áreas densamente povoadas e desguarnecidas de meio de subsistência. Clamam pela cessação imediata das hostilidades, pela libertação dos reféns, pela abertura das fronteiras para que corredores humanitários sejam implantados. E, também, em tom imperioso que sejam reabertas com urgência, patrocinadas pela ONU, as conversações no sentido de que seja implantada, vez por todas, com limites demarcados na forma justa e precisa o Estado da Palestina ao lado do Estado de Israel.

  Fica evidenciado, pelo silvo dos foguetes, pelo barulho amedrontador das sirenes, pelos corpos estirados nas ruas e escombros, que existem porções minoritárias, entre os contingentes engalfinhados na sangrenta contenda às quais não interessa jeito maneira, o desfecho almejado pelos defensores da paz. Os “Senhores da Guerra”, os vorazes armamentistas, os fanáticos adeptos das facções radicais que pregam as “regras” do “crê ou morre” e do “olho por olho, dente por dente”, abjuram sua condição humana em nome de falsos valores, ira vingativa e ressentida, do preconceito ignominioso, afrontando os ditames humanísticos e espirituais abraçados pela paz.

 Dentro desta ordem de considerações é merecido classificar de impecável a atuação do Brasil nos palpitantes acontecimentos. Primeiro a criar um esquema de repatriamento de seus compatriotas da zona conflagrada, nosso país realizou a missão a pleno contento, graças ao Itamaraty e à FAB. Na ONU, seguindo orientação do Planalto, nossa competente diplomacia costurou uma resolução de paz aplaudida pela quase totalidade dos membros do Conselho de Segurança, mas injustificavelmente vetado pelos Estados Unidos. Isso não esmoreceu o esforço diplomático na busca da pacificação almejada por todos.

 

 

 

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

O horror da guerra visto daqui (I)


 

                                                                                                               *Cesar Vanucci.

 

Eu não quero morrer.” (Harret adolescente brasileira, entre soluços, em vídeo transmitido de Gaza durante um bombardeio.)

 

Milhões de pessoas ao redor do mundo, angustiadas e atônitas, acompanham ao vivo e a cores os horrores de mais uma guerra. Prodigiosos instrumentos de comunicação, criados com o objetivo de promover a união, a solidariedade e o bem-estar, a televisão e internet transportam até nós, diretamente do teatro das operações bélicas, as cenas apavorantes de um momento histórico perverso em grau supremo. Revela-se aí, nas cenas de ódio e beligerância captadas pelas câmeras e microfones de profissionais compenetrados de sua importante missão de informar a opinião pública, outro clamoroso contrassenso do uso distorcido de invenções surgidas com intuitos transformadores. Os “senhores da guerra”, em seu irremediável desvario, fazem questão solene, uma vez mais de abdicarem da condição humana, de se desvencilharem dos laços espirituais que recobrem de sublimidade a aventura da vida.

 Os horrores de agora tiveram seu começo no insano ataque terrorista (Hamas) que entre outras crueldades fuzilou a sangue frio centenas de criaturas inocentes entregues a afazeres cotidianos. Não houve quem não se comovesse com o arrepiante episódio. Um capítulo tenebroso a mais da guerra sem sinal de solução à vista que se trava há décadas, em territórios considerados sagrados por pelo menos três grandes correntes do pensamento religioso, o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Às macabras estatísticas dos mortos e feridos deste primeiro momento juntou-se o arrepiante lance do nefando sequestro de 200 cidadãos em sua maioria civis desramados entre eles numero significativos de crianças e mulheres   levados para locais incertos e não sabidos.

A reação do país atacado, Israel, está sendo avassaladora. Utilizando todo seu poderio bélico bombardeou indiscriminadamente o território de Gaza, onde o inimigo possui base de operações e de onde são disparados foguetes tendo por alvo áreas israelenses. O chamado Domo de Ferro, avançado aparato eletrônico pertencente às Forças Armadas do Israel, consegue destruir em pleno voo grande parte desses obuses. Gaza é considerada verdadeira prisão a céu aberto. Numa faixa que mede 40 km de extensão e 10 km de largura vivem em condições imensamente precárias 2 milhões e 200 mil pessoas,  com predominância de mulheres e menores. A Administração parcial é do Hamas que desalojou da região, pela força, a Autoridade Palestina. Os Palestinos que ali moram dependem para subsistência de recursos sob controle israelense. Água, energia elétrica, gás, combustível, fornecimento de víveres e medicamentos e o transporte além dos domínios em que se acham aglomerados, tudo isso vem de fora, passando por severo monitoramento das forças de seguranças de Tel Aviv.

 O fulminante contra-ataque, compreendendo uma chuva incessante de mísseis sobre Gaza, vem causando destruição, mortes e feridos em descomunal escala. Residências, hospitais, escolas tem sido atingidos. Entre as milhares de vítimas civis existem jornalistas, funcionários da ONU, da Cruz Vermelha, médicos e enfermos. Os “Médicos sem Fronteira” emitiram um alerta quanto à impossibilidade de deslocarem pacientes hospitalizados de um ponto para o outro do território, como as autoridades israelenses exigiram diante da possibilidade de uma ofensiva terrestre. O território bombardeado esta há dias sem água, luz, gás, medicamentos e alimentos.

 A tragédia humanitária em curso clama por ações resolutas da comunidade internacional no sentido de cessação das hostilidades, criação de um corredor humanitário para saída de civis e para a entrada de recursos que garantam a sobrevivência dos que ficarem.

  

Retomaremos o assunto na sequencia

Canto ecológico de Tom Jobim

 


                                                                                                 *Cesar Vanucci

Deixe o mato crescer, deixe o índio viver” (Refrão de uma melodia de Tom Jobim)

 

Ainda bem que o livre território da internet não é percorrido tão somente por indivíduos e grupos inescrupulosos, especializados em disseminar o ódio e espalhar sandices de toda ordem.

 Em trechos e clareiras dominados por lições de vida edificantes e por criatividade artística rica em conteúdo humanístico, os internautas podem se defrontar, em muitos momentos com criações que enlevam o espírito. Tal qual aconteceu, dia desses, quando o neto predileto de vovó Carlota - que outra pessoa não é se não o desajeitado escriba dessas mal traçadas  – acionou no computador um aplicativo dedicado a espetáculos musicais. O que veio projetado na telinha foi uma soberba audição em praça pública dos anos 90, comemorativa do aniversário da cidade de São Paulo, levada ao ar pela TV Cultura, tendo como protagonista ninguém mais, ninguém menos do que o genial  e saudoso Antônio Carlos Jobim. Acompanhado de musicistas e interpretes vocais da melhor categoria, o compositor da antológica “Águas de março”, valendo-se de seu magistral repertório, produziu uma ode de suma beleza à Natureza, debaixo de aplausos prolongados e ensurdecedores da multidão presente ao evento.

As peças lindamente executadas por exímios instrumentistas e cantadas por um coral harmonioso, integrado em boa parte por jovens com sobrenome Caymi e Jobim, eletrizaram o ambiente. As vocalizações de Tom e convidados, Chico Buarque de Holanda e Milton Nascimento criaram atmosfera, pode se dizer, de puro êxtase.

Depois de assistir ao espetáculo por duas vezes consecutivas, recomendo singelamente ao pessoal responsável pelas políticas publicas de conscientização ambiental que procurem se inspirar em sugestivas passagens desse show de Tom Jobim e companheiros, na elaboração de suas campanhas educativas.

As musicas apresentadas clamam por respeito permanente à floresta, à biodiversidade. Apelam para que se deixe o “mato crescer” e o “índio sobreviver...”

Achei oportuno reproduzir abaixo a letra de uma das canções (“Borzeguim”) pelo conteúdo ecológico .

Borzeguim, deixa as fraldas ao vento / E vem dançar / E vem dançar / Hoje é sexta-feira de manhã / Hoje é sexta-feira / Deixa o mato crescer em paz /
Deixa o mato crescer /Deixa o mato / Não quero fogo, quero água /(deixa o mato crescer em paz) / Não quero fogo, quero água / (deixa o mato crescer)
Hoje é sexta-feira da paixão sexta-feira santa / Todo dia é dia de perdão
Todo dia é dia santo /Todo santo dia /Ah, e vem João e vem Maria
Todo dia é dia de folia / Ah, e vem João e vem Maria / Todo dia é dia
O chão no chão / O pé na pedra /O pé no céu / Deixa o tatu-bola no lugar
Deixa a capivara atravessar /Deixa a anta cruzar o ribeirão / Deixa o índio vivo no sertão / Deixa o índio vivo nu / Deixa o índio vivo / Deixa o índio / Deixa, deixa / Escuta o mato crescendo em paz / Escuta o mato crescendo
Escuta o mato/ Escuta /Escuta o vento cantando no arvoredo /Passarim passarão no passaredo /Deixa a índia criar seu curumim
Vá embora daqui coisa ruim / Some logo/Vá embora
Em nome de Deus é fruta do mato/ Borzeguim deixa as fraldas ao vento
E vem dançar/ E vem dançar /O jacú já tá velho na fruteira /O lagarto teiú tá na soleira /Uirassu foi rever a cordilheira /Gavião grande é bicho sem fronteira/Cutucurim / Gavião-zão /Gavião-ão /Caapora do mato é capitão /Ele é dono da mata e do sertão/ Caapora do mato é guardião / É vigia da mata e do sertão /(Yauaretê, Jaguaretê) / Deixa a onça viva na floresta /Deixa o peixe n'água que é uma festa /Deixa o índio vivo / Deixa o índio /Deixa /Deixa /Dizem que o sertão vai virar mar /Diz que o mar vai virar sertão / Deixa o índio /Dizem que o mar vai virar sertão /Diz que o sertão vai virar mar /Deixa o índio/ Deixa/Deixa

 

 Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

 

Estamos no mesmo barco


 

*Cesar Vanucci

 

“Um país não é feito de nós e eles” (Ministro Luís Roberto Barroso, Presidente do STF)

 

Com magnífico pronunciamento, em que exaltou o papel decisivo da Justiça na consolidação da Democracia e em que exortou a sociedade a promover a conciliação nacional, o Ministro Luís Roberto Barroso assumiu a Presidência do STF. Substituiu a Ministra Rosa Weber, terceira mulher a ocupar o posto, que se consagrou por brilhante desempenho.

A cerimônia de posse reuniu figuras de maior projeção da vida pública brasileira, numa demonstração inconteste de apoio e solidariedade ao bom trabalho executado pelo Poder Judiciário.

“Nós não somos um Tribunal de consensos plenos. Nenhum tribunal é. A vida comporta diferentes pontos de observação e eles se refletem aqui.”  Foi o que afirmou Barroso, sublinhando em seguida que a instituição manteve-se solidamente unida, na proteção da sociedade brasileira nos momentos angustiantes da pandemia. Lembrou ainda que essa junção de propósitos foi observada igualmente na defesa da democracia quando das tentativas golpistas ocorridas no processo eleitoral recém-findo.

Disse o Presidente do STF: “A democracia constitucional é a composição de valores diversos, duas faces da mesma moeda. De um lado, soberania popular (amplo direito de participação popular), eleições livres e governo da maioria. De outro, poder limitado, Estado de direito e respeito aos direitos fundamentais. Um equilíbrio delicado e fundamental.”

Aqui está passagem muito aplaudida na alocução de Luis Roberto Barroso: “A democracia venceu e precisamos trabalhar pela pacificação do país. Acabar com os antagonismos artificialmente criados para nos dividir. Um país não é feito de nós e eles. Somos um só povo, no pluralismo das ideias, como é próprio de uma sociedade livre e aberta.”

O orador chamou a atenção de todos para situações que, nas atividades do dia a dia, por conta da desinformação e de equívocos de interpretação têm dado margem a conclusões destituídas de base. Explicou didaticamente: “O sucesso do agronegócio não é incompatível com proteção ambiental. Pelo contrário. O combate eficiente à criminalidade não é incompatível com o respeito aos direitos humanos. O enfrentamento à corrupção não é incompatível com o devido processo legal.”

Enfatizou: “Estamos todos no mesmo barco e precisamos trabalhar para evitar tempestades e conduzi-lo a porto seguro. Se ele naufragar, o naufrágio é de todos, independentemente de preferências políticas.”

Comentou a importância de uma agenda para o Brasil nascida de uma conjugação de vontades agrupando pessoas de todos segmentos sem distinção de vinculações ideológicas. Afirmou: “Sem que ninguém precise abrir mão de qualquer convicção, é preciso que o país se aglutine em torno de denominadores comuns, de uma agenda para o Brasil.” Traçou um roteiro positivo de iniciativas a serem desencadeadas dentro do propósito de promover o desenvolvimento econômico e social. Disse: “Com base na Constituição, é possível construir esses consensos. Aqui vão alguns deles: (i) combate à pobreza; (ii) desenvolvimento econômico e social sustentável; (iii) prioridade máxima para a educação básica; (iv) valorização da livreiniciativa, bem como do trabalho formal; (v) investimento em ciência e tecnologia; (vi) saneamento básico; (vii) habitação popular; e (viii) liderança global em matéria ambiental.”

Outro ponto do discurso intensamente aplaudido disse respeito ao que denominou de causas humanitárias: “ Há quem pense que a defesa dos direitos humanos, da igualdade da mulher, da proteção ambiental, do respeito à comunidade LGBTQIA+, da inclusão das pessoas com deficiência, da preservação das comunidades indígenas são causas progressistas. Não são. Essas são as causas da humanidade, da dignidade humana, do respeito e consideração por todas as pessoas.”

Sem sombra de dúvida um discurso empolgante repleto de lições.

 

Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)

Resgate das tradições humanistas

 

 

“A emergência climática torna urgente uma correção de rumos” (Presidente Lula)

O esplêndido discurso do Presidente Lula na ONU atraiu atenções de importantes órgãos da imprensa internacional. Assim se expressou a respeito o The New York Times: “O pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva marcou sua posição como figura global influente e trouxe relevantes questões internacionais para o centro do debate político mundial.” O mesmo jornal revela que o discurso teve enorme repercussão nas redes sociais, sendo o sétimo assunto mais comentado globalmente no Witter. Já o Diário de Notícias, de Portugal, classificou a fala de histórica, pela abordagem de temas como a fome e desigualdades sociais, a emergência climática e a necessidade de reformas no relacionamento das grandes potências com o resto do mundo.

Estas foram, a propósito as palavras de Lula ao focalizar a questão das mudanças climáticas: “Agir contra a mudança do clima implica pensar no amanhã e enfrentar desigualdades históricas”. (...) A emergência climática torna urgente uma correção de rumos e a implementação do que já foi acordado.

Não é por outra razão que falamos em responsabilidades comuns, mas diferenciadas”.

 

Noutro ponto da manifestação, Lula refere-se ao que o Brasil vem fazendo no enfrentamento do problema: “Vamos provar de novo que um modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável é possível”. Estamos na vanguarda da transição energética, e nossa matriz já é uma das mais limpas do mundo.

87% da nossa energia elétrica provem de fontes limpas e renováveis.

A geração de energia solar, eólica, biomassa, etanol e biodiesel cresce a cada ano.

É enorme o potencial de produção de hidrogênio verde.

Com o Plano de Transformação Ecológica, apostaremos na industrialização e infraestrutura sustentáveis.”

A Amazônia mereceu registro enfático no pronunciamento: “Ao longo dos últimos oito meses, o desmatamento na Amazônia brasileira já foi reduzido em 48%.

O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si.”

Lembrou ainda que: “Sem a mobilização de recursos financeiros e tecnológicos não há como implementar o que decidimos no Acordo de Paris e no Marco Global da Biodiversidade”. Aludiu também à promessa dos países desenvolvidos de destinarem 100 bilhões de dólares – anuais – para os países em desenvolvimento, até hoje não materializada.

Lula criticou os critérios que norteiam a distribuição de recursos feita por organismos internacionais. Deu como exemplo o fato de o FMI haver carreado, ano passado, para a Europa, investimentos de 160 bilhões de dólares e de apenas 34 bilhões para a África.

Lamentando que as bases de uma nova e necessária governança econômica ainda não tenham sido lançadas, o chefe do governo brasileiro explicou que o BRICS surgiu na esteira desse imobilismo, e constitui uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países emergentes. Defendeu modelo de um comércio global mais justo num contexto de grave crise do multilateralismo.

Salientou que, o desemprego e a precarização do trabalho minaram a confiança das pessoas em tempos melhores, em especial os jovens.

 

Considerou significativo que haja por parte dos governos ruptura com a dissonância cada vez maior entre a “voz dos mercados” e a “voz das ruas”.

“O neoliberalismo – aduziu Lula - agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias”. Disse mais: “Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos. Em meio aos seus escombros surgem aventureiros (...) que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas.”

O Presidente louvou entusiasticamente a excelência da democracia e repudiou todas as formas de autoritarismo, anotou também, como clamorosa evidência das desigualdades, que os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade.

Conclamou as lideranças mundiais a promoverem ações que permitam à ONU “resgatar as melhores tradições humanistas” que inspiraram sua criação.

Fala do Presidente na ONU.

 

“A Agenda 30 pode resultar em fracasso” (Presidente Lula na ONU)

 

Fala de Estadista.

“Foi um discurso brilhante” reconheceu o adversário Ciro Gomes, de forma republicana, embora oferecendo críticas à conduta política e administrativa de Lula.

O pronunciamento do presidente da república, na abertura da Assembleia Geral da ONU, alcançou simpática ressonância na comunidade das Nações e mídia internacional. A plateia do solene evento, constituída de Chefes de Estado de mais de uma centena de países, aplaudiu com incomum vibração as palavras proferidas. Para alguns observadores a manifestação teria sido magistral, não houvesse a relutância de Lula, outra vez mais, em admitir que a estúpida guerra da Ucrânia foi desencadeada por culpa da invasão imperialista russa.

As clamorosas desigualdades sociais, as agressões ambientais, as ameaças à Democracia, o flagelo da fome, foram entre outras candentes questões, focalizadas com propriedade na alocução. Disse Lula: “ A comunidade internacional está mergulhada em um turbilhão de crises múltiplas e simultâneas: a pandemia da Covid-19; a crise climática; e a insegurança alimentar e energética ampliadas por crescentes tensões geopolíticas.”

Afirma, mais adiante, o mandatário brasileiro: “O racismo, a intolerância e a xenofobia se alastraram, incentivadas por novas tecnologias criadas supostamente para nos aproximar. Se tivéssemos que resumir em uma única palavra esses desafios, ela seria desigualdade.”

Há, no importante discurso, um comentário incisivo sobre a alardeada “Agenda 30”, instituída pelas Nações Unidas.

Argumenta o Presidente:  “A mais ampla e mais ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento – a Agenda 30 – pode se transformar no seu maior fracasso. Estamos na metade do período de implementação e ainda distantes das metas definidas. A maior parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável caminha em ritmo lento.”

Prosseguindo, em tom veemente, conclama as nações a uma retomada de consciência das graves responsabilidades afetas a todas elas. Enfatiza:

“O imperativo moral e político de erradicar a pobreza e acabar com a fome parece estar anestesiado. Nesses sete anos que nos restam, a redução das desigualdades dentro dos países e entre eles deveria se tornar o objetivo-síntese da Agenda 30.

Reduzir as desigualdades dentro dos países requer incluir os pobres nos orçamentos nacionais e fazer os ricos pagarem impostos proporcionais ao seu patrimônio.”

Lula expõem os propósitos do governo brasileiro: No Brasil, estamos comprometidos a implementar todos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, de maneira integrada e indivisível. Queremos alcançar a igualdade racial na sociedade brasileira por meio de um décimo oitavo objetivo que adotaremos voluntariamente. Lançamos o plano Brasil sem Fome, que vai reunir uma série de iniciativas para reduzir a pobreza e a insegurança alimentar. Entre elas, está o Bolsa Família, que se tornou referência mundial em programas de transferência de renda para famílias que mantêm suas crianças vacinadas e na escola.”

Noutro trecho do discurso, o Presidente reitera a disposição de trabalhar com denodo em favor de causas humanitárias alvejadas pelos preconceitos e discriminações. Alinha itens significativos das políticas públicas que espera poder implantar por inteiro em sua gestão. Registra: “Inspirados na brasileira Bertha Lutz, pioneira na defesa da igualdade de gênero na Carta da ONU, aprovamos a lei que torna obrigatória a igualdade salarial entre mulheres e homens no exercício da mesma função. Combateremos o feminicídio e todas as formas de violência contra as mulheres. Seremos rigorosos na defesa dos direitos de grupos LGBTQI+ e pessoas com deficiência. Resgatamos a participação social como ferramenta estratégica para a execução de políticas públicas.”

O pronunciamento de Lula faz jus a outras considerações.



                                                                        Cesar Vanucci

A SAGA LANDELL MOURA

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