sexta-feira, 11 de março de 2022

 





ÁLCOOL → Uso v. Abuso


                                                                             Klinger Sobreira de Almeida *

Em 07Fev22, no Flow Podcast (Estúdio Flow), o Youtuber Bruno Aiub,popularmente conhecido por Monark, durante um diálogo com os deputados federais Kim Kataguiri e Tabata Amaral, fez a apologia do Nazismo, com uma clareza impressionante, inclusive preconizando a legalização de um Partido Nazista no Brasil. Conduta estarrecedora e inaceitável pelo povo brasileiro!

A postura do Youtuber, à guisa de liberdade de expressão, acarretou, além de repúdio nacional e internacional, seu desligamento imediato da entidade de comunicação. Por outro lado, diversos patrocinadores romperam os contratos de apoio ao Flow Podcast.

A Ideologia Nazista – fundada no mal, ódio e intolerância –  que causou uma tempestade destruidora no século passado, culminando com uma guerra cruel, é considerada como fato delinquencial no Brasil e em todo o mundo civilizado.  No entanto, uma insignificante minoria, de baixíssimo nível consciencial e séria deficiência mental, costuma levantar loas e propugnar o retorno dessa idiossincrasia moral, já sepultada na história. Em decorrência, a Procuradoria Geral de Justiça, acionada por diversas instituições e cumprindo seu dever constitucional, iniciou investigação criminal, visto que ficara evidenciada, publicamente, a apologia de crime tenebroso.

O insensato Youtuber, assim que viu a repercussão negativa de sua conduta e as consequências que lhe poderiam advir, vem tentando se desculpar (num aparente arrependimento), alegando que se encontrava sob efeito de excesso de bebida alcóolica (embriaguez). Trata-se de saída tola, pois a embriaguez, à luz da lei penal, não constitui excludente de criminalidade e nem mesmo atenuante.

A tola desculpa do infrator fez-me recordar de um dito popular que, em criança, vi minha genitora enunciar:  “A cachaça é a saca-rolha da verdade.” Àquela época, a embriaguez alcóolica, nos rincões do interior, era ocasionada principalmente pela cachaça (a cerveja, rara, e o whisky, inexistente). A expressão cunhada pela sabedoria popular abria a comporta interior do indivíduo e constituía uma assertiva inexorável: o ébrio se torna um falador; costuma exteriorizar opiniões, preferências, fraquezas morais e segredos que traz escondido no fundo da alma.

Ao longo de minha extensa vida profissional, a ensinança popular serviu-me de guia: uso controlado e moderado de bebida alcóolica nos eventos sociais, além de ouvido atento, mormente em razão da profissão. Com isto, ouvi muitas verdades e segredos que se achavam na escuridão. Lembro-me dos jantares empresariais, mormente em Brasília, quando o whisky correndo solto nos permitia assenhorear de mazelas, traições e até mesmo conluios criminosos na seara da corrupção.

Na linha da sabedoria popular, o álcool em excesso fez com que o Youtuber Monark, entusiasmado numa sessão de elevada audiência, extravasasse o que estava acolhido em seu interior, ou seja, a admiração pela ideologia Nazista. Passado o momento, e à luz das consequências, ele demonstra arrependimento tardio, que ninguém acredita.

Manifestações de dois ministros do STF refletem o pensamento geral – (1) Gilmar Mendes: “Qualquer apologia a nazismo é criminosa, execrável e obscena”; (2) Alexandre Moraes: “O direito fundamental à liberdade de expressão não autoriza a abominável e criminosa apologia ao nazismo”.

O episódio, a par de evidenciar o repúdio ao nazismo, deixa uma lição aos descuidados no uso do álcool: cuidado com o abuso; sua língua pode ficar solta e desvendar segredos ocultos!

Klinger Sobreira de Almeida – Militar Veterano/PMMG

  Membro Efetivo-Fundador da Academias de Letras João Guimarães Rosa


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