sexta-feira, 2 de agosto de 2019

E por falar em redes sociais...

Cesar Vanucci

“As redes sociais odeiam sua alma”.
(Jaron Lanier, escritor)

Elas estão tornando você um tremendo babaca. A frase acima proferida tem por foco as redes sociais. O prodigioso sistema de comunicação digital instantânea, utilizado em escala inimaginável por bilhões de viventes em todas as latitudes deste conturbado planeta azul, é alvo de ácidos comentários num livro recente do escritor estadunidense Jaron Lanier, lançado no Brasil pela Editora Intrínseca, com tradução de Bruno Casotti. O título da obra contém convite, mais do que isso, uma advertência, para que as pessoas adotem máxima precaução mode quê driblar dissabores produzidos pelo emprego irrefletido das “contas” disponibilizadas na internet. Este o título: “Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais”.

A eventualidade de que o usuário venha a se tornar babaca, caso se deixe contaminar pelo lado perverso da massiva utilização de uma das mais fabulosas conquistas tecnológicas do mundo contemporâneo, constitui um dos “argumentos” alinhados pelo autor. Noutras palavras, uma das conclusões oferecidas na explicação de que, influenciando decisivamente as atitudes comportamentais, os algoritmos concorrem, de certa maneira, para que os seres humanos se tornem piores. Cada “argumento” corresponde a um capítulo da obra, que possui formato de bolso e é de manuseio fácil. As dez conclusões vêm reproduzidas na sequência: 1) você esta perdendo seu livre-arbítrio; 2) largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade dos nossos tempos; 3) as redes estão tornando você um tremendo babaca; 4) elas minam a verdade; 5) transformam o que você diz em algo sem sentido; 6) destroem sua capacidade de empatia; 7) deixam você infeliz; 8) não querem que você tenha dignidade econômica; 9) tornam a política impossível; 10) odeiam sua alma.

Jaron Lanier sustenta que os “whats apps” da vida operam em circunstâncias que afetam negativamente o cotidiano dos usuários. “Bummers”, a denominação dada aos aplicativos. A expressão tem significado intrigante: “comportamento de usuários modificados e transformados em um império para alugar”. Mirando o objetivo da lucratividade desmesurada, o esquema opera com base em análises estatísticas atentas às inclinações de dócil clientela. Vale-se, a partir daí, de expedientes sutis, na linha da subliminaridade, para conquistar engajamentos enraizados. Faz de desprevenidos usuários “viciados” em aplicativos.

Admitindo, como não poderia deixar de ser, que o sistema esteja apto também a oferecer coisas boas, positivas, fortalecendo a aproximação das pessoas, criando elos fraternos e solidários, o livro concentra-se prioritariamente nos riscos confrontados pela sociedade no tocante a ameaças de alterações nas rotinas de vida e nas atividades políticas e econômicas, com inevitáveis desdobramentos sociais.

Jaron Lenier registra, no prólogo, uma metáfora que reflete o “espírito do livro”. Alude a dois animais domésticos. “Embora inteligentes, os gatos não são uma boa escolha para quem quer um animal que aceite o treinamento de maneira confiável. Basta assistir a um vídeo de circo de gatos na internet: o mais comovente é que fica claro que os animais estão decidindo se colocam em prática o truque que aprenderam, não fazem nada ou saem andando em direção à plateia. Os gatos fizeram o que parecia impossível: se integraram ao mundo moderno, de alta tecnologia, sem se entregarem. Eles ainda estão no controle. Você não precisa se preocupar que algum meme furtivo produzido por algoritmos, pago por um oligarca sinistro e oculto, passe a dominar seu gato. Ninguém domina seu bichano; nem você, nem ninguém. Ah, como gostaríamos de ter essa segurança não apenas em relação a nossos gatos, mas a nós mesmos! Os gatos na internet representam nossas esperanças e sonhos para o futuro das pessoas na grande rede. Ao mesmo tempo, ainda que a gente adore os cachorros, não queremos ser como eles, pelo menos no que se refere à relação de poder com as pessoas. Tememos, porém, que o Facebook e redes afins estejam nos transformando em cachorros. Quando do nada fazemos alguma coisa desagradável na internet, podemos considerar isso uma resposta a um “apito de cachorro”, daquele tipo que só pode ser ouvido por eles. Temos medo de ficar sob algum tipo de controle obscuro. (...) Este livro é sobre como ser um gato, à luz das seguintes perguntas: como permanecer independente em um mundo onde você está sob vigilância contínua e é constantemente estimulado por algoritmos operados por algumas das corporações mais ricas da história, cuja única forma de ganhar dinheiro é manipulando o seu comportamento? Como ser um gato, apesar disso tudo?”

Isso aí, gente boa!

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