Será que estamos mesmo sós no
universo?
Cesar Vanucci
“Universo, irmão mal conhecido.”
(Jean Wahl, poeta)
A aventura humana é
tecida de infindáveis interrogações. As perguntas espocam em número
infinitamente superior às respostas. Num contexto desses, de proporções
colossais, a ciência é gota. Os fenômenos investigados, na longa espera da
decifração, são um oceano.
Na hora em que
telescópios super poderosos em matéria de propriedades tecnológicas apropriadas
pelo homem, devassando interrogativamente o espaço sideral, dão-nos conta da
existência, em pontos distantes de outras galáxias, de corpos celestes ostentando
características assemelhadas às deste nosso planeta azul, é perfeitamente compreensível
e natural o reacender da sempre momentosa discussão em torno da existência de
vida inteligente nas demais paragens da infinitude cósmica. Embora intuída pela
grande maioria das pessoas, a tese da pluralidade de mundos habitados ainda não
é oficialmente admitida pela ortodoxia científica, sendo raivosamente
contestada pelas aguerridas falanges do integrismo religioso.
Hoje já não é bem
mais assim. Mesmo que se leve em conta o patrulhamento ostensivo no campo das
ideias largamente praticado pelas correntes fundamentalistas radicais. Mas tempos
houveram em que as pessoas de mente aberta cuidavam de trancar a sete cadeados
suas crenças na “sacrílega” hipótese linhas acima aventada. Resguardavam-se,
com justificáveis temores, das consequências práticas de ideias “tão extravagantes”
virem a cair nos ouvidos de zelosos e temidos guardiães dos conhecimentos
científicos e religiosos dogmaticamente consolidados. A crônica histórica está
coalhada de doloridas manifestações inquisitoriais das mais diversificadas
tendências
A ortodoxia científica,
mesclada de fanatice religiosa, fixava conceitos inamovíveis. Contestá-los
representava risco a que ninguém queria, obviamente, se expor. As proclamações de um luminar qualquer,
revestido de pompa e autoridade, tinham força de inabalável mandamento divino.
Ái daquele que ousasse contradizer, por exemplo, a “certeza” de que, lá no
inatingível ponto em que as águas do mar (povoadas de terríveis monstros) e o
horizonte se fundem, ficava a borda de um precipício aterrorizante! Ou a
assertiva de que o sol e os demais corpos celestiais do firmamento giravam em
torno da Terra! Ainda agora não há quem, “redondamente” equivocado, sustente a
tese da “terra plana”?
Retomemos o papo
sobre as descobertas, nos confins cósmicos, de mais de um astro de configuração
similar ao nosso planeta. Muitas especulações, a partir dessas constatações,
emergem a respeito da possibilidade de se abrigarem, nesses longínquos ermos,
espécies de vida inteligente como as que conhecemos aqui. A inviabilidade de
respostas a curto ou a médio prazo,
considerados sobretudo os milhares de anos-luz que separam um planeta do
outro, gera logicamente um monte de elucubrações. Vamos supor que os locais
apontados favoreçam o desenvolvimento de civilizações com as mesmas
peculiaridades oferecidas pela nossa morada terrena. A evolução tecnológica desenvolvida
ali se situaria em estágio superior ou estágio inferior ao daqui? Adiante. Conservemos
sob mira a transformação assombrosa que este nosso mundo velho de guerra
experimentou nas últimas décadas. Suposições a respeito do que poderia vir a
acontecer, em matéria de mudanças, num ciclo evolutivo de mil ou dois mil anos
a mais, remetem-nos, naturalmente, a projeções e perspectivas fantásticas. Não
apenas tão fantásticas quanto a gente consiga imaginar. Mas muito mais
fantásticas do que a gente jamais conseguirá imaginar.
A ciência garante (será
mesmo?) não dispor ainda de elementos para proclamar oficialmente a existência
de vida inteligente fora do orbe terráqueo. Sob esse aspecto, os estrondosos
avanços tecnológicos espaciais valeram pouco. Continuaríamos, praticamente, a
propósito, no mesmo patamar informativo científico dos remotos momentos da
censura ameaçadora que impedia a discussão aberta, transparente, do instigante
tema. Isso, todavia, não é de natureza a impedir que muita gente, já consciente
de sua cidadania cósmica, em diferentes cantos desta imensa pátria terrena,
paradoxalmente uma ilhotinha perdida num oceano infinito, repleto de situações
inexplicáveis, composto de zilhões de astros - entre eles os tais planetas que
guardam similitudes com o nosso -, aceite, pacificamente a ideia de que estamos
sós no universo. “Aceite” a ideia sem franzir o sobrecenho, sorriso maroto
pendurado nos lábios, em sinal de desbordante dúvida.
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