terça-feira, 29 de outubro de 2024

Privatização que não deu certo

 


 

*Cesar Vanucci

“Inadmissível! O apagão deixou SP às escuras por uma semana inteira” (Domingos Justino Pinto, educador)

 


Os habitantes da maior metrópole brasileira não estão conseguindo ver a luz no final dos apagões. Têm plena convicção de que a empresa (ir) responsável pela distribuição de energia elétrica, para milhões de moradias e instalações de serviços essenciais nos lugares onde vivem e trabalham, não dispõe da mais leve condição técnica e administrativa para executar a contento sua função.

Desaparelhada para simples e rotineiras anomalias que ocorram no dia a dia da cidade de São Paulo, a concessionária deparou-se com desafios que não está conseguindo, definitivamente, contornar após o advento das mudanças climáticas. Noutras palavras, a empresa não se mostra apta a enfrentar sequer um toró das tradicionais temporadas chuvosas, quanto mais chuvas e trovoadas estrondosas destes novos tempos metrológicos.  

A ENEL, sucessora da Eletropaulo em razão de privatização com características muitíssimo singulares, não vem aportando os recursos definidos contratualmente, para a manutenção e constante ampliação das redes de distribuição de energia. E olhe que estamos falando de uma cidade colossal que cresce em ritmo vertiginoso. Para pasmo de todos, encontra dificuldade até mesmo para remover galhos de arvores tombadas sobre as fiações nas vias públicas.

A atuação da ENEL configura, de forma enfática, mais um caso de privatização que não deu certo e que envolveu ativos valiosíssimos e setores estratégicos vitais para o desenvolvimento nacional. O enorme patrimônio da antiga estatal que operava em São Paulo foi adquirido por uma bagatela. A concessionária conseguiu em curto espaço de tempo, a façanha, de piorar consideravelmente o serviço prestado a população além de elevar escorchantemente as taxas para consumidores.

Anotamos acima o caráter singular da privatização. Cuidemos, agora, de explicar do que se trata. A ENEL é uma multinacional com participação acionária do governo Italiano. Encurtando razões: para a “privatização” acontecida aqui foi trazida uma estatal de fora daqui. Há que se reconhecer  que a operação em questão revestiu-se de características bastante surreais, pra dizer o mínimo.  

Os clamores dos traumatizados paulistanos diante da calamidade dos apagões provocaram, como não poderia deixar de ser, reações vigorosas das autoridades competentes. Não faltaram ainda críticas ao comportamento de alguns segmentos administrativos comprometidos com a missão de fiscalizar os atos da empresa. A Aneel, órgão regulador do sistema energético foi chamada a se explicar. O mesmo aconteceu com relação à prefeitura de SP.  Instituições representativas dos governos Federal, Estadual e Municipal abriram procedimentos e autuaram a eletricitária faltosa. Dessas diligencias oficiais resultarão, por certo, amplo leque de medidas de resguardo do interesse coletivo, como, por exemplo, intervenção na empresa, cancelamento de contrato, indenizações pelos vultosos prejuízos.

Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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