terça-feira, 29 de outubro de 2024

Hiroshima e Nagasaki



 

Cesar Vanucci*

“As guerras detestadas pelas mães"(Horácio)

 


O Nobel da Paz deste ano foi atribuído a uma instituição japonesa, constituída por sobreviventes das tragédias nucleares, em razão de seu trabalho infatigável visando a proscrição das guerras. O tema desencadeia infindáveis reflexões.

O estoque das armas de destruição em massa é cada dia mais volumoso. O acordo de não proliferação de armas nucleares só vale de verdade para os países que ainda não as possuem. Os integrantes do fechadíssimo “clube atômico” monitoram com rigor as ações dos demais países, procurando dificultar até mesmo a aquisição de conhecimento relacionado ao emprego pacífico da energia nuclear. Atribuem, por antecipação, a responsabilidade por suposta tragédia futura a terceiros, não detentores da mortífera tecnologia, “esquecidos” de que na única vez na historia humana, em que bombas atômicas caíram, destruindo cidades e matando centenas de milhares de pessoas, a iniciativa de lança-las foi tomada justamente por um dos membros do “clube”, que continuou, a exemplo dos parceiros, a armazenar novos e mais arrasadores artefatos.

Por outro lado, analistas em estratégias militares garantem que existem em poder das grandes potências, artefatos químicos tão eficazes quanto as armas atômicas, para “garantir”, se for da vontade dos “senhores das guerras”, o extermínio de qualquer forma de vida sobre a superfície planetária. Uma ligeira amostra dos danos de que essa parafernália bélica é capaz de provocar foi dada, anos atrás, nos conflitos do Vietnã e Golfo Pérsico e na guerra Irã-Iraque. Aquela mesmo em que o extinto ditador Saddan Hussein pôde contar com copioso fornecimento de armas e sólido apoio logístico de seus antigos aliados e futuros arqui-inimigos estadunidenses. Não se sabe dizer, com exatidão se artefatos similares não veem sendo empregados na Ucrânia, no Sudão, em Gaza, no Líbano e noutras contendas.

A bomba de hidrogênio, mais poderosa do que a atômica, ainda não foi utilizada. Existe em quantidade suficiente para acabar com o mundo várias vezes. São coisas assim que fazem com que os guerreiros vocacionados se imaginem sempre, em sua paranoia destrutiva, próximos do Armagedon. Farejar o Armagedon é postura natural para os espíritos deformados que fazem das guerra bom negócio. Hiroshima e Nagasaki, alvos atingidos pela insanidade bélica, legaram-nos uma mensagem. Mensagem contra todas as guerras. Não só contra a guerra atômica. Um clamor pela paz, originário dos recantos mais generosos da alma humana. Bem apreendido, pode levar o ser humano a refletir melhor sobre suas origens e destino. Permite-lhe até sonhar com aquele instante ideal na aventura terrena em que toda a dinheirama gasta para produzir morte seja aplicada na celebração da vida. Em favor de ações que elevem os padrões do bem-estar, promovam cura de doenças e erradicação da miséria. São essas, aliás, as guerras que precisam, na verdade, ser combatidas por todos.  Palavra de Hiroshima e Nagasaki!

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)

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