O fascínio das coleções
Cesar
Vanucci *
“Existe uma arte da citação.”
(Valery Lasband)
Existe uma natural inclinação humana para colecionar coisas. E o intrigante (para muitos, fascinante) hábito da coleção é praticado de forma fervorosa pelos adeptos. O colecionador costuma cuidar com carinho singular, não perceptível em outros procedimentos de sua rotina de vida, dos objetos colecionados. Agarra-se, também, com entusiasmo às vezes frenético, às chances de poder ampliar, com constantes aquisições, seu precioso acervo.
A lista de materiais, peças, coisas colecionadas é extensa e profusa, oferecendo surpresas incontáveis. Obras de arte, correspondentes a momentos culturais diferentes, animais raros ou comuns, veículos antigos, gravatas, caixas de fósforo, miniaturas de garrafas de bebida e de carros de corrida, peças de vestuário: a inclinação humana para montar coleções deixa a imaginação correr solta, a voar com o desembaraço de um condor nas alturas andinas. Um tipo de coleção que andou em grande moda no passado é a de selos. O irreverente Pitigrilli dizia a respeito: no fundo mesmo, o que os colecionadores se esmeram em reunir não passam mesmo de amostras internacionais de escarros.
Este nosso papo introdutório é pra contar procês que eu também participo, não é de hoje, sem alardes, do nobre ofício de colecionador. Comecei a coleção adolescente. Não me desapartei dela, com o atravessar dos anos, apesar da coleta intermitente, não enquadrada em critérios rígidos de disciplina. Socorrendo-me de livros de citações, de anotações à mão, de registros datilografados ou digitados, de recortes de jornais e revistas, de muitas outras modalidades de impressos, acumulei razoável coletânea de frases. Adágios, ditos de efeito, axiomas, aforismos, máximas, sentenças, ditados, brocardos, versos, manifestações proferidas em tribunais ou entrevistas, expressões nascidas da saborosa linguagem das ruas.
O material reunido trata temas antigos ou atuais. Algumas citações conservam timbre de eternidade. Outras são de duração conceitual efêmera. Utilizo-as invariavelmente no preâmbulo de meus despretensiosos escritos, como estão em condições de atestar os 25 leais e assíduos leitores que inadvertidamente me acompanham há anos.
Valery Lasband falava, como lembra Paulo Rónai, da existência da “arte da citação”. Dizia que “Montaigne parecia possuí-la em grau supremo”.
Tudo isso posto, achei de bom alvitre, como se costumava dizer em tempos de antanho, arrolar aqui algumas frases marcantes dessa coleção, embalando a expectativa de que delas possam emanar sabedoria e enlevo que aqueçam o espírito e o coração.
De início, frases que contemplam aspectos transcendentes da aventura humana. De Teilhard de Chardin (filósofo, teólogo, antropólogo, paleontólogo, arqueólogo, uma das cabeças pensantes iluminadas do século 20): “Na escala cósmica, só o fantástico tem probabilidade de ser real.(...) Na escala cósmica, as coisas não são tão fantásticas quanto a gente imagina, mas muito mais fantásticas do que a gente jamais conseguirá imaginar.” De Jacques Bergier e Louis Pauwells (geniais autores de “O despertar dos mágicos”): “O espírito humano é que nem o paraquedas. Só funciona aberto.” De William Shakespeare: “Há muitos mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia.” Do excelente poeta Raul de Leoni (“Luz Mediterrânea”): “O sentido da vida e o seu arcano é a aspiração de ser divino, no prazer de ser humano.” Do poeta (indiano) Rudyard Kipling, no célebre poema “Se” (tradução de Guilherme de Almeida): “Se podes conservar a fé, quando à tua volta, atribuindo-te a culpa, os outros a perderam. Se confiando em ti mesmo, aceitas sem revolta que duvidem de ti os que não te entenderam (...) És um homem!”. De Aldous Huxley, um pensador com visão plantada no universo e no futuro: “Habitamos uma ilhota perdida, num oceano infinito de inexplicabilidades."
Mais
citações pela frente.
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