quinta-feira, 2 de maio de 2019


Sinais perturbadores

Cesar Vanucci

“E de repente nós percebemos o significado dos sinais.”
(Robert Prost, poeta estadunidense)

Atentar para os sinais é preciso. São preocupantes. Provocam espanto. Geram inquietação intelectual. Não há como deixar de admitir algo estranho no ar, algo além dos aviões de carreira, relembrando dito jocoso do Barão de Itararé.

Sinalização indesejável. Para quem possua olhos pra enxergar, ouvidos pra escutar e percepção aguçada, deixa à mostra reações comportamentais merecedoras, a esta altura, de reflexões e ações serenas, mas resolutas. Os segmentos da sociedade comprometidos com as crenças humanísticas e espirituais que conferem dignidade à aventura da vida não podem ignorar tais sinais.

As reações comportamentais sob o foco de nossa atenção neste comentário são detectadas, envoltas em variados pretextos e em diversificadas escalas, aqui dentro e lá fora. No atacado e no varejo, pode-se mesmo dizer. São abundantes esses sinais de que muita coisa anda escapulindo ao controle social regido pelo bom-senso. Alguns desses sinais chegam a parecer, a um primeiro olhar, falsidades disseminadas com o intuito de confusão. “Fakes”, como é de moda dizer. Há, ainda, indicações brotadas de episódios que resvalam bizarrice, mas nem por isso despojados de componentes corrosivos.

Na contemplação do que vem rolando, ocupemo-nos primeiramente de acontecências no cenário internacional. Longo aí o desfile de revelações perturbadoras. Febricitantes articulações geopolítico-econômicas levantam interrogações sem conta. Algumas delas, alinhadas na sequência. Como explicar o “ensurdecedor silêncio” que presentemente rodeia a sanguinolenta guerra na Síria, se até indoutrodia esse confronto bélico rendia, em todas as edições jornalísticas, estrondosas manchetes? De outra parte, qual a razão de haver arrefecido o noticiário a respeito do terrorismo praticado pelas legiões fundamentalistas do EI, depois que as ações desses fanáticos passaram a se concentrar na parte de lá do mundo, como sucedeu, dias atrás, no pavoroso atentado no Sri Lanka? Explique, quem for capaz, os motivos pelos quais as grandes lideranças políticas mundiais, com inestimável cooperação midiática, mantêm-se em sepulcral mutismo diante das estarrecedoras violações aos direitos humanos cometidas, continuamente, na Arábia Saudita e no sultanato de Brunei? Para quem ainda não sabe, nesses dois países, governados por déspotas de mentalidade medieval - donos de riquíssimas jazidas petrolíferas exploradas por poderosos consórcios norte-americanos e europeus –, os “códigos penais” prevêem mutilações de órgãos, decapitação a golpe de sabre, apedrejamento e crucificação em praça pública de criaturas que infrinjam normas de vida que não estejam ao agrado dos poderes dominantes.

Os sinais de que coisas bastante estranhas, ou, quando pouco, “diferentes”, vêm pipocando no cenário mundial são sem dúvida significativos. Reclamam, voltemos a anotar, atenção. Que interpretações, por exemplo, extrair-se dos anúncios, feitos com algum estardalhaço, tanto pela Casa Branca como pelo Kremlin, de que não mais se lhes interessa participar de acordos, celebrados com euforia na época em que foram firmados, em torno da contenção da corrida armamentista? Qual o significado do, chamemos assim, “banho Maria” em que foram largados os entendimentos, tidos de início como altamente promissores pelas partes, entre os Estados Unidos, de Donald Trump e a Coréia do Norte, de Kim Jong-un? Como analisar, dentro do mesmo contexto, o recente encontro do ditador coreano, recepcionado com extrema gala, em Moscou, pelo colega Vladimir Putin?

Comentadas com exagerada parcimônia, as recentes manobras militares conjuntas de chineses e russos, primeiras a ocorrerem em longo espaço de tempo, são de molde a sinalizar, pela mesma forma, algo que clama por interpretação adequada de qualificados estudiosos da conjuntura política planetária. E o que não dizer do drama dos refugiados? Acossados pelas loucuras bélicas em tantos pontos do atlas, milhares de seres humanos continuam a enfrentar esse drama em toda sua inteiriça perversidade. Mas, por razões que a própria razão desconhece, a tormentosa questão andou tomando “chá de sumiço” no noticiário nosso de cada dia...

Ficando hoje por aqui nessas narrativas, juntamos agora a esse conjunto de lances, que sinalizam situações no mínimo confusas, mais um desconcertante registro. É irrazoável e incompreensível o desinteresse dispensado pela comunidade internacional à inacreditável história das centenas e centenas de menores, filhos de imigrantes, recolhidos a “abrigos”.  Eles foram desapartados dos pais, latino-americanos, à hora da travessia, quando os mesmos  tentavam penetrar ilegalmente em solo estadunidense. O cativeiro de muitas dessas crianças já se estendeu por tempo demasiado.

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