sábado, 7 de maio de 2022

 

A devastação que não cessa

 

Cesar Vanucci

 

“Em 2021, novo recorde.”

(Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia)

 

A extensão territorial do estado de Sergipe é de 21.938,184 km2. É maior do que vários estados membros da ONU. Saber que área equivalente à metade da superfície de Sergipe foi em apenas um ano, criminosamente devastada na compacta floresta amazônica, por queimadas e motosserras é de estarrecer não apenas um frade de pedra, mas, sim, todo o portentoso conjunto de estátuas sagradas esculpidas em pedra sabão pelo genial Aleijadinho no majestoso adrio do santuário de Bom Jesus de Matozinhos, na barroca Congonhas do Campo.

 

Esses dados alarmantes, representando novo recorde no rastro da destruição florestal incontrolada, que tanto envergonha o Brasil perante a comunidade internacional, foram divulgados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) retratando o que andou ocorrendo naquelas bandas em 2021. A revelação se torna ainda mais chocante quando se dá a conhecer que os quantitativos da mata nativa devastada no período são superiores em 20% aos índices, também “recordes” do ano anterior. Aliás, os recordes vêm sendo batidos desde muito tempo para cá, inquietando a opinião pública, perplexa diante da inoperância governamental em deter a ilegalidade praticada, a rédeas soltas, por hordas de invasores envolvidos em clandestinas atividades de exploração agropastoril, extração de madeiras e de minérios, e garimpagem de ouro.

 

Os especialistas em meio ambiente chamam a atenção, continuamente, para as gravíssimas consequências dessa sanha destruidora impactando a maior reserva florestal do planeta acompanhada com preocupação, em todas as partes do mundo, citando como ocorrências indesejáveis delas derivadas, entre outras, alteração do regime de chuvas, a perda da biodiversidade, a ameaça à sobrevivência de povos e comunidades tradicionais e a intensificação do aquecimento global.

 

De acordo com os levantamentos acerca do candente problema, o Pará manteve a primeira colocação na lista dos que mais desmatam, com 4.037 km² devastados, 39% do registrado em toda a Amazônia. No estado, houve aumento da derrubada da floresta tanto em áreas federais quanto estaduais. Além disso, mais da metade das 10 terras indígenas e das 10 unidades de conservação que mais desmataram em 2021 ficam em solo paraense.

 

O Amazonas, segundo estado que mais desmatou em 2021, foi o que apresentou o maior crescimento na devastação em relação ao ano anterior.  A destruição registrada em solo amazonense passou de 1.395 km² em 2020 para 2.071 km² em 2021, alta de 49%. Também ali registrou-se aumento do desmatamento tanto em áreas federais quanto estaduais.

 

Mato Grosso aparece como o terceiro estado que mais devastou.  Foram 1.504 km² no período, 38% a mais.

 

Rondônia (1.290 km²) e Acre (889 km²) ocuparam a quarta e quinta colocações, mas o Acre foi o terceiro com o maior aumento em comparação com o ano precedente: 28%.

 

Conforme as mesmas fontes, as pesquisas cruzaram dados das áreas desmatadas com o banco de dados do Cadastro Nacional de Florestas Públicas do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), constatando que 4.915 km² foram revolvidos em territórios federais. Isso corresponde a 47% de todo o desmatamento registrado no periodo. Apenas nessas áreas, a destruição aumentou 21% comparativamente com 2020, sendo a pior em 10 anos, disse o instituto.

 

As unidades de conservação federais também viram o desmatamento avançar por seus territórios: Em 2021, foram devastados 507 km² de mata nativa dentro dos espaços protegidos, 10% a mais. Nesses territórios, a devastação também atingiu o pior patamar da década, sustentaram os responsáveis pelos trabalhos de pesquisa.

 

A insuficiência e inoperância nas ações têm sido a resposta dada pelos setores governamentais a essa momentosa questão da Amazônia. Meio Sergipe por ano é dose mastodôntica. Quão gritante tudo isso!

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