Primazia dos valores culturais
Cesar Vanucci
“O saber liberta e mostra o caminho assertivo da evolução humana”.
(Maria Inês Chaves Andrade, escritora)
No apogeu do nazismo alemão, que se notabilizou, como sabido, por nefanda política de extermínio de teor racista, alvejando judeus e outras indefesas minorias, bem como pela demolidora negação de sagrados símbolos humanos, Hermann Goring proferiu uma frase que ressoou sinistra, conquanto absorvida com frenético júbilo pelos adeptos da suástica. Aqui está a frase de autoria do segundo mandatário na escala hierárquica do regime: “Quando ouço alguém falar em cultura, saco logo meu revólver”. Louis Pauwels, magnífico pensador de vanguarda, rebateu de pronto a aterradora exclamação. Numa “carta aberta às pessoas felizes” anotou: “Quando me falam em revólver, saco logo a minha cultura”. (“Quand on me parle de revolver, je sors ma culture”).
As manifestações reproduzidas são bem emblemáticas. Traduzem impactante diferencial na compreensão do sentido da aventura humana. A primeira escancara baixos e degradantes instintos. A segunda se coloca na linha de valores que explicam a nossa própria razão de viver.
O embate entre concepções tão antagônicas pode ser detectado o tempo todo na caminhada da vida. É dai que advêm as estocadas amiúde desferidas à cultura em suas múltiplas modalidades de expressão, em épocas, circunstâncias e lugares os mais diversificados. O obscurantismo cultural, nutrido de mediocridade, distorcendo o entendimento das coisas, escudado em falso zelo moralista, fica sempre de tocaia. Vale-se de toda sorte de expedientes para criticar. Para promover análises precipitadas e injustas de fatos. Para condenar ações que não lhe saiam a gosto. Deixa sempre à vista vestígios de crassa ignorância diante de ofuscantes realizações reconhecidas pela inteligência e bom senso como essenciais na evolução civilizatória.
Resguardar os valores culturais, que derivam da consciência nacional e do sentimento do mundo, é dever imperioso imposto a todos os viventes, homens e mulheres de boa vontade que professam crenças alicerçadas no primado no espírito.
Essas considerações compuseram a ideia central do pronunciamento improvisado que fiz, dias atrás, na Casa de São Francisco, sede da Amulmig, ao ensejo de concorrida reunião conjunta promovida pela Ajeb – Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil, Coordenadoria Minas Gerais - e a Alacib/Mariana - Academia de Letras, Artes e Ciências do Brasil.
A programação do encontro abrangeu três fases distintas. Primeiramente, a acadêmica Andreia Donadon Leal, presidente da Alacib, e o professor José Luiz Fourreaux de Souza Junior fizeram uma exposição, bastante apreciada, sobre o tema “O Ex-Libris no Brasil: A arte esquecida”. Noutro momento ocorreu a posse de membros efetivos da mesma instituição. Mais adiante deu-se a posse de sócios efetivos e honorários da Ajeb-MG.
Estes os intelectuais empossados pela Alacib: Ana Maria Tourinho, Angela Guerra, Juçara Valverde e Dyandreia Valverde Portugal, todas com dinâmica atuação no Rio de Janeiro. A Ajeb/MG acolheu em seu quadro, como sócia efetiva, a escritora Maria da Cunha Lima Delboni e, como sócios honorários, as prosadoras e poetas Dyandreia Valverde Portugal, do Rio de Janeiro, e Andreia Donadon Leal, de Minas. Concedeu ainda diploma de Mérito Cultural a Juçara Regina Viegas Valverde.
No curso da magna sessão também usaram da palavra as escritoras Irislene Castelo Branco Morato, presidente da Ajeb/MG, Dyandreia Valverde Portugal, diretora cultural da Ajeb/Nacional, e a acadêmica Maria Inês Chaves Andrade, secretária geral da Amulmig.
Este escriba foi, inesperadamente, homenageado com diploma de sócio honorário da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil, e com moção cultural de aplausos conferida pela Rede Mídia de Comunicação e Editora Sem Fronteiras, sob a alegação de “empenho em colaborar para a disseminação e o desenvolvimento da cultura brasileira em prol de uma sociedade mais justa”. Agradecendo, fiz questão de ressaltar a esplêndida atuação tanto da Ajeb quanto da Alacib, na defesa desassombrada da cultura, tão maltratada nos confusos tempos de hoje.
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