Maçãs podres
Cesar
Vanucci
“Acredito
que as pessoas se unirão algum dia,
num
grande esforço coletivo, para retomar o mundo.”
(Michael
Moore, jornalista e cineasta)
A expressão maçãs podres foi cunhada por
ninguém nada mais, nada menos, do que George W. Bush. E de forma surpreendente,
a se levar em conta suas notórias vinculações com grupos empresariais nas áreas
armamentista e petrolífera. O presidente dos Estados Unidos classifica como
“maçãs podres” algumas corporações que atuam por esse mundo afora em negócios
vitais para o ser humano.
Já para os produtores do filme “Corporação”,
o número de organizações enquadradas na conceituação de Bush (que mostra a cara
nas cenas iniciais da película) não é nada restrito. É grande, enorme. O
documentário, ganhador de 24 prêmios internacionais em festivais de cinema, é
um arrasador libelo contra a hegemonia absoluta de importantes corporações
transnacionais, detentoras do monopólio de produtos essenciais, na sociedade e
vida das pessoas.
O filme diz, com todas as letras, erres e
esses, que em vários momentos e em muitos lugares o poder de influência dessas
organizações chega a sobrepujar a própria vontade política. Elas se movimentam
com força avassaladora, impondo regras prejudiciais aos interesses da
coletividade.
Enfeixando depoimentos de executivos,
críticos, historiadores, ativistas, entre eles Michael Moore, Noam Chomsky,
Naomi Klein e Vandana Shiva, a fita traz relatos assustadores. Sustenta, por
exemplo, que o mundo enfrenta na atualidade uma “epidemia de câncer” provocada
pelas adições químicas introduzidas em alta escala na alimentação. Denuncia que
as doses maciças de hormônios para uso do gado, produzidos por empresas
especializadas - com o fito, ao que se alega, de estabelecer melhor
produtividade leiteira -, não apenas afetam os animais, como despejam nos
alimentos que ingerimos elementos
químicos altamente nocivos. Mostra, com dados e números levantados por ambientalistas,
que a ação de inúmeras corporações, inteiramente fora do controle político e
social, é uma das causas mais relevantes do catastrófico aquecimento global.
Reporta-se a aspectos chocantes da atuação corporativa em regiões
subdesenvolvidas. Enumera-os: a utilização de mão-de-obra escrava; o emprego de
mão-de-obra infantil em condições de degradação humana; a contribuição
expressiva, com iniciativas e produtos indesejáveis, para as agressões
ecológicas. A fita assinala também que o FDA – “Food and Drug Administration”,
órgão americano equivalente à nossa Anvisa, tem-se mostrado complacente com
relação a abusos inomináveis, praticados em larga amplitude pelo setor cuja
fiscalização lhe está afeta. São revelados casos de produtos autorizados pelo
órgão que vêm sendo interditados ao consumo, por autoridades sanitárias
zelosas, em outros países. Entre eles, um vizinho bem próximo dos Estados
Unidos, o Canadá.
“Corporação” chama a atenção da opinião
pública mundial para outra aterrorizante perspectiva. Certas corporações
acham-se empenhadas, na atualidade, em manobras de bastidores que objetivam
estender a extremos inconcebíveis a legislação de patentes sobre seres vivos.
Sobre a exploração da água. Sobre descobertas científicas a partir da
decifração do código genético. O que se pretende, diabolicamente, com tal
procedimento, é a outorga a grupos cartelizados de poderes inimagináveis em
matéria de negócios, envolvendo gama imensurável de serviços e instrumentos
criados para garantir a saúde, o conforto e o bem estar da sociedade. Esses
grupos alimentam a perspectiva de se apoderarem, mercantilmente, de conquistas
científicas que ofereçam à humanidade qualidade de vida melhor.
Mais uma revelação estonteante do filme:
também nos Estados Unidos, à época de Franklin Delano Roosevelt, corporações
poderosas tentaram aplicar, a exemplo do que andaram fazendo em outros países,
sobretudo da América Latina, um golpe de Estado. O complô foi neutralizado,
numa declaração pública, pelo general Butler, escolhido pelos conspiradores
para liderar o movimento.
Tachado de “emocionante” e “destruidor” pelo
“L.A Times”, “Corporação”, produzido por Mark Achbar, Jennifer Abbott e Joel
Bakan, não pode deixar de ser visto por todos que se interessem em conhecer um
pouco melhor questões relevantes, insuficientemente divulgadas pela mídia, da
história de nossos tempos.
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