sexta-feira, 12 de julho de 2019


Maçãs podres

Cesar Vanucci

“Acredito que as pessoas se unirão algum dia,
num grande esforço coletivo, para retomar o mundo.”
(Michael Moore, jornalista e cineasta)

A expressão maçãs podres foi cunhada por ninguém nada mais, nada menos, do que George W. Bush. E de forma surpreendente, a se levar em conta suas notórias vinculações com grupos empresariais nas áreas armamentista e petrolífera. O presidente dos Estados Unidos classifica como “maçãs podres” algumas corporações que atuam por esse mundo afora em negócios vitais para o ser humano.

Já para os produtores do filme “Corporação”, o número de organizações enquadradas na conceituação de Bush (que mostra a cara nas cenas iniciais da película) não é nada restrito. É grande, enorme. O documentário, ganhador de 24 prêmios internacionais em festivais de cinema, é um arrasador libelo contra a hegemonia absoluta de importantes corporações transnacionais, detentoras do monopólio de produtos essenciais, na sociedade e vida das pessoas.

O filme diz, com todas as letras, erres e esses, que em vários momentos e em muitos lugares o poder de influência dessas organizações chega a sobrepujar a própria vontade política. Elas se movimentam com força avassaladora, impondo regras prejudiciais aos interesses da coletividade.

Enfeixando depoimentos de executivos, críticos, historiadores, ativistas, entre eles Michael Moore, Noam Chomsky, Naomi Klein e Vandana Shiva, a fita traz relatos assustadores. Sustenta, por exemplo, que o mundo enfrenta na atualidade uma “epidemia de câncer” provocada pelas adições químicas introduzidas em alta escala na alimentação. Denuncia que as doses maciças de hormônios para uso do gado, produzidos por empresas especializadas - com o fito, ao que se alega, de estabelecer melhor produtividade leiteira -, não apenas afetam os animais, como despejam nos alimentos  que ingerimos elementos químicos altamente nocivos. Mostra, com dados e números levantados por ambientalistas, que a ação de inúmeras corporações, inteiramente fora do controle político e social, é uma das causas mais relevantes do catastrófico aquecimento global. Reporta-se a aspectos chocantes da atuação corporativa em regiões subdesenvolvidas. Enumera-os: a utilização de mão-de-obra escrava; o emprego de mão-de-obra infantil em condições de degradação humana; a contribuição expressiva, com iniciativas e produtos indesejáveis, para as agressões ecológicas. A fita assinala também que o FDA – “Food and Drug Administration”, órgão americano equivalente à nossa Anvisa, tem-se mostrado complacente com relação a abusos inomináveis, praticados em larga amplitude pelo setor cuja fiscalização lhe está afeta. São revelados casos de produtos autorizados pelo órgão que vêm sendo interditados ao consumo, por autoridades sanitárias zelosas, em outros países. Entre eles, um vizinho bem próximo dos Estados Unidos, o Canadá.

“Corporação” chama a atenção da opinião pública mundial para outra aterrorizante perspectiva. Certas corporações acham-se empenhadas, na atualidade, em manobras de bastidores que objetivam estender a extremos inconcebíveis a legislação de patentes sobre seres vivos. Sobre a exploração da água. Sobre descobertas científicas a partir da decifração do código genético. O que se pretende, diabolicamente, com tal procedimento, é a outorga a grupos cartelizados de poderes inimagináveis em matéria de negócios, envolvendo gama imensurável de serviços e instrumentos criados para garantir a saúde, o conforto e o bem estar da sociedade. Esses grupos alimentam a perspectiva de se apoderarem, mercantilmente, de conquistas científicas que ofereçam à humanidade qualidade de vida melhor.

Mais uma revelação estonteante do filme: também nos Estados Unidos, à época de Franklin Delano Roosevelt, corporações poderosas tentaram aplicar, a exemplo do que andaram fazendo em outros países, sobretudo da América Latina, um golpe de Estado. O complô foi neutralizado, numa declaração pública, pelo general Butler, escolhido pelos conspiradores para liderar o movimento.

Tachado de “emocionante” e “destruidor” pelo “L.A Times”, “Corporação”, produzido por Mark Achbar, Jennifer Abbott e Joel Bakan, não pode deixar de ser visto por todos que se interessem em conhecer um pouco melhor questões relevantes, insuficientemente divulgadas pela mídia, da história de nossos tempos.

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