quarta-feira, 26 de junho de 2024

O Terror enfrentado pelo Bispo

 


“Arauto da palavra de Deus .”

 (Cardeal Lucas M. Neves, sobre Alexandre Amaral)

 



Em meu comentário passado, reverenciei a memória do grande Arcebispo Alexandre Gonçalves Amaral, lembrando sua destemida postura cívica nos idos de 64. Agrego ao relato mais informações sobre a atuação do Prelado naquele instante perturbador da vida nacional.

No período mencionado, o desassombro de Alexandre é posto a prova. A atuação de Jango, criticada por muitos setores, levou ao golpe militar. Das circunstâncias se aproveitaram, nas horas prefaciais do movimento, para raivosos acertos de contas pessoais, alguns políticos da região do Triângulo Mineiro, notadamente Uberaba, inesperadamente catapultados à crista dos acontecimentos numa versão bem suburbana. Os tais “guardas de quarteirão”, dos compreensíveis temores de Pedro Aleixo. Ah! Se dependesse só deles, mandariam pôr em cana os adversários e mais um bocado de gente considerada incômoda aos seus humores, temores e... Negócios. A lista dos incômodos abrangia padres, freiras, educadores e a combativa imprensa católica. Na vesga concepção do mundo dos fatos sociológicos, nutrida pelo grupelho, achavam-se no mesmo nível dos pecados capitais, a serem purgados com sanções severas, todas as denúncias e críticas desconfortáveis que se lhes houvessem sido imputadas, direta ou indiretamente, por pessoas com as quais não “amarrassem as éguas”, ou que não compartilhassem de seus “irretorquíveis” pontos de vista. Na lista das "críticas criminosas" figuravam denúncias sobre omissão de socorro médico, práticas racistas, incentivo ao trabalho escravo, transferência para o Tesouro de patrimônios particulares em estado pré-falimentar, corrupção com dinheiro público, assédio sexual, desmandos policiais, por aí... Prisões chegaram a ser feitas. Com espalhafato. Mas o terror foi enfrentado com desassombro pelo Bispo. Do alto de inconteste autoridade moral, Dom Alexandre exigiu o fim dos excessos. Pôs pra correr de uma faculdade dominicana a arrogância de oportunistas fardados e civis que assacaram infâmias contra a admirável obra e suas abnegadas Irmãs. Retirou da prisão, com pedido de desculpas dos carcereiros pessoas alvejadas pela injustiça, três ou mais cidadãos acima de qualquer suspeita, cujos nomes figuravam no "rol dos culpados". Ou seja, dos desafetos dos políticos empoderados. Passou uma descompostura em regra nas autoridades engajadas no maquiavélico esquema. Foi para a rádio e, como se dizia em tempos de antigamente, pôs a boca no trombone.

No programa semanal, que mantinha, por mim produzido, ele exprobrou o comportamento radical de militares e civis envolvidos no processo da inclemente e desabrida perseguição aos adversários. Sem que ninguém ousasse tolher-lhe as ações e palavras corajosas assumidas naqueles perigosos momentos de feroz censura à livre manifestação de ideias, Alexandre condenou as arbitrariedades, citando expressamente nomes dos autores.

Retomarei o assunto na sequência.

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