“Arauto da palavra de Deus .”
(Cardeal Lucas
M. Neves, sobre Alexandre Amaral)
Em meu comentário passado, reverenciei a memória do grande Arcebispo
Alexandre Gonçalves Amaral, lembrando sua destemida postura cívica nos idos de
64. Agrego ao relato mais informações sobre a atuação do Prelado naquele
instante perturbador da vida nacional.
No
período mencionado, o desassombro de
Alexandre é posto a prova. A atuação de Jango, criticada por muitos setores, levou
ao golpe militar. Das circunstâncias se aproveitaram, nas horas prefaciais do
movimento, para raivosos acertos de contas pessoais, alguns políticos da região
do Triângulo Mineiro, notadamente Uberaba, inesperadamente catapultados à
crista dos acontecimentos numa versão bem suburbana. Os tais “guardas de
quarteirão”, dos compreensíveis temores de Pedro Aleixo. Ah! Se dependesse só
deles, mandariam pôr em cana os adversários e mais um bocado de
gente considerada incômoda aos seus humores, temores e... Negócios. A lista
dos incômodos abrangia padres, freiras, educadores e a combativa imprensa
católica. Na vesga concepção do mundo dos fatos sociológicos, nutrida pelo
grupelho, achavam-se no mesmo nível dos pecados capitais, a serem purgados com
sanções severas, todas as denúncias e críticas desconfortáveis que se lhes
houvessem sido imputadas, direta ou indiretamente, por pessoas com as quais não
“amarrassem as éguas”, ou que não compartilhassem de seus “irretorquíveis” pontos de vista. Na lista das
"críticas criminosas" figuravam denúncias sobre omissão de socorro
médico, práticas racistas, incentivo ao trabalho escravo, transferência para o
Tesouro de patrimônios particulares em estado pré-falimentar, corrupção com
dinheiro público, assédio sexual, desmandos policiais, por aí... Prisões
chegaram a ser feitas. Com espalhafato. Mas o terror foi enfrentado com
desassombro pelo Bispo. Do alto de inconteste autoridade moral, Dom Alexandre
exigiu o fim dos excessos. Pôs pra correr de uma faculdade dominicana a
arrogância de oportunistas fardados e civis que assacaram infâmias contra a
admirável obra e suas abnegadas Irmãs. Retirou da prisão, com pedido de
desculpas dos carcereiros pessoas alvejadas pela injustiça, três ou mais
cidadãos acima de qualquer suspeita, cujos nomes figuravam no "rol dos
culpados". Ou seja, dos desafetos dos políticos empoderados. Passou uma
descompostura em regra nas autoridades engajadas no maquiavélico esquema. Foi
para a rádio e, como se dizia em tempos de antigamente, pôs a boca no trombone.
No programa semanal, que
mantinha, por mim produzido, ele exprobrou o comportamento radical de militares
e civis envolvidos no processo da inclemente e desabrida perseguição aos
adversários. Sem que ninguém ousasse tolher-lhe as ações e palavras corajosas
assumidas naqueles perigosos momentos de feroz censura à livre manifestação de ideias,
Alexandre condenou as arbitrariedades, citando expressamente nomes dos autores.
Retomarei o assunto na sequência.
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