sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020


Histórias momentosas e intrigantes

Cesar Vanucci

“Eu de nada sabia.”
(Alegação do parlamentar em cuja fazenda foi localizado e abatido um dos chefões da milícia carioca acusado de participação na trama que vitimou a vereadora Marielle.)

É extenso o cortejo de fatos intrigantes, momentosos, passíveis de gerarem perplexidade e merecedores de acompanhamento e avaliação. Temos aqui mais amostras sugestivas.

Caso Marielle. O miliciano achava-se foragido há mais de um ano. Não era o único, entre companheiros de estripulias, a perambular por locais incertos e não sabidos. Apontado como um dos chefões da temida milícia carioca, foi abatido, dias atrás, numa propriedade rural baiana, em confronto com agentes de segurança.

O dono da fazenda, parlamentar do PSL, deu uma de “Joãozinho sem braço”. Alegou, candidamente, não saber nadica de nada a respeito da circunstância de o cara ter se refugiado no local sem seu conhecimento e permissão... O miliciano pertenceu aos quadros da PM do Rio como oficial graduado, atuando no BOPE. Sua folha de serviços acusa louvores de políticos famosos, aos quais esteve por bom tempo vinculado. Ele vinha sendo procurado sob a acusação de suposto envolvimento no atentado que vitimou a vereadora Marielle Franco e assessor. No dia anterior ao da troca de tiros em que sucumbiu, o miliciano comunicou-se com o advogado. O causídico apressou-se em informar a imprensa que seu constituinte denunciou um complô para eliminá-lo assim que fosse detido, tendo em vista ser detentor de informações capazes de comprometerem outras pessoas. Sua morte, no choque armado, levantou compreensivelmente suspeita de “queima de arquivo”. E adicionou outra enigmática ocorrência à novela, composta de intermináveis capítulos, do assassinato da desassombrada vereadora.

Marielle, como público e notório, bateu de frente contra o crime organizado. Contrariou interesses poderosos e provocou a ira de forças clandestinas que operam na cidade considerada no passado maravilhosa, não apenas e exclusivamente pelas belezas naturais.

A Justiça do Rio de Janeiro conseguiu trancafiar dois integrantes da milícia. Indiciou-os como autores dos disparos fatais. Comprovou-se, nas apurações, que um deles, ex-sub oficial da PM, morador de majestosa vivenda num luxuoso condomínio da Barra da Tijuca, é também dono de um formidando arsenal: mais de uma centena de fuzis - metralhadoras de última geração. No dia do atentado, seu assecla foi buscá-lo onde mora. Juntos, provavelmente com outra pessoa no carro, ainda por ser identificada, saíram no encalço das inocentes vítimas. As morosas investigações registram muitos lances desnorteantes, como os dos inexperientes porteiros que confundiram vozes de moradores, bem como material bélico com instrumentos musicais...

A Polícia e o Ministério Público do Rio sustentam estar seguindo, com inabalável disposição, pistas valiosas que possam conduzir aos autores intelectuais da nefanda trama. Dá para intuir que muitos ainda serão os obstáculos a sobrepujar até chegarem aos dito cujos. Bem entendido, se chegarem...

Planos de saúde. Passando por cima, com incrível desenvoltura e demolidora arrogância, de sagrados direitos fundamentais, contando com censurável complacência dos órgãos governamentais de regulação, os planos de saúde instituíram, ao seu exclusivo alvedrio, uma tabela de taxas mais elevadas na prestação de serviços a idosos. Chegaram ao absurdo de estipular a duplicação do valor a ser pago assim que o usuário atinja 59 anos de idade. A política de preços descerimoniosamente praticada alveja em cheio - visto está – a dignidade das pessoas. Agride o Estatuto do Idoso. Constitui abominável arbitrariedade.

Não poucos usuários, em todas as partes do país, apoderados de justo inconformismo, bateram às portas da Justiça, reivindicando abolição do extravagante critério de cobrança diferenciada. Viram seus pleitos acolhidos nas instâncias judiciais inferiores. Só que, daí pra frente, a questão emperrou. A justa e almejada solução das pendências, atribuída institucionalmente aos tribunais superiores, vem sendo procrastinada, sabe-se lá por que cargas d’água, já por enervante espaço de tempo. Nas prateleiras e gavetas dos doutos julgadores vão se acumulando processos e mais processos com sentenças que dão ganho de causa aos lesados clientes dos planos de saúde. Essa situação provoca, obviamente, muita indignação. Notórios os danos causados à coletividade. A imaginável cessação do abuso permitirá economia de gastos pra muita gente. Permitirá, igualmente, que os prejudicados sejam ressarcidos de valores indevidamente apropriados.

Resumindo o papo: já passou a hora das cortes superiores da Justiça colocarem cobro nesse incômodo estado de coisas.

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