Histórias
momentosas e intrigantes
Cesar Vanucci
“Eu de nada sabia.”
(Alegação
do parlamentar em cuja fazenda foi localizado e abatido um dos chefões da
milícia carioca acusado de participação na trama que vitimou a vereadora
Marielle.)
É
extenso o cortejo de fatos intrigantes, momentosos, passíveis de gerarem
perplexidade e merecedores de acompanhamento e avaliação. Temos aqui mais
amostras sugestivas.
Caso
Marielle.
O miliciano achava-se foragido há mais de um ano. Não era o único, entre
companheiros de estripulias, a perambular por locais incertos e não sabidos.
Apontado como um dos chefões da temida milícia carioca, foi abatido, dias
atrás, numa propriedade rural baiana, em confronto com agentes de segurança.
O
dono da fazenda, parlamentar do PSL, deu uma de “Joãozinho sem braço”. Alegou,
candidamente, não saber nadica de nada a respeito da circunstância de o cara
ter se refugiado no local sem seu conhecimento e permissão... O miliciano
pertenceu aos quadros da PM do Rio como oficial graduado, atuando no BOPE. Sua
folha de serviços acusa louvores de políticos famosos, aos quais esteve por bom
tempo vinculado. Ele vinha sendo procurado sob a acusação de suposto
envolvimento no atentado que vitimou a vereadora Marielle Franco e assessor. No
dia anterior ao da troca de tiros em que sucumbiu, o miliciano comunicou-se com
o advogado. O causídico apressou-se em informar a imprensa que seu constituinte
denunciou um complô para eliminá-lo assim que fosse detido, tendo em vista ser
detentor de informações capazes de comprometerem outras pessoas. Sua morte, no
choque armado, levantou compreensivelmente suspeita de “queima de arquivo”. E
adicionou outra enigmática ocorrência à novela, composta de intermináveis
capítulos, do assassinato da desassombrada vereadora.
Marielle,
como público e notório, bateu de frente contra o crime organizado. Contrariou
interesses poderosos e provocou a ira de forças clandestinas que operam na
cidade considerada no passado maravilhosa, não apenas e exclusivamente pelas
belezas naturais.
A
Justiça do Rio de Janeiro conseguiu trancafiar dois integrantes da milícia.
Indiciou-os como autores dos disparos fatais. Comprovou-se, nas apurações, que
um deles, ex-sub oficial da PM, morador de majestosa vivenda num luxuoso
condomínio da Barra da Tijuca, é também dono de um formidando arsenal: mais de
uma centena de fuzis - metralhadoras de última geração. No dia do atentado, seu
assecla foi buscá-lo onde mora. Juntos, provavelmente com outra pessoa no
carro, ainda por ser identificada, saíram no encalço das inocentes vítimas. As
morosas investigações registram muitos lances desnorteantes, como os dos
inexperientes porteiros que confundiram vozes de moradores, bem como material
bélico com instrumentos musicais...
A
Polícia e o Ministério Público do Rio sustentam estar seguindo, com inabalável
disposição, pistas valiosas que possam conduzir aos autores intelectuais da
nefanda trama. Dá para intuir que muitos ainda serão os obstáculos a sobrepujar
até chegarem aos dito cujos. Bem entendido, se chegarem...
Planos
de saúde.
Passando por cima, com incrível desenvoltura e demolidora arrogância, de
sagrados direitos fundamentais, contando com censurável complacência dos órgãos
governamentais de regulação, os planos de saúde instituíram, ao seu exclusivo
alvedrio, uma tabela de taxas mais elevadas na prestação de serviços a idosos.
Chegaram ao absurdo de estipular a duplicação do valor a ser pago assim que o
usuário atinja 59 anos de idade. A política de preços descerimoniosamente
praticada alveja em cheio - visto está – a dignidade das pessoas. Agride o
Estatuto do Idoso. Constitui abominável arbitrariedade.
Não
poucos usuários, em todas as partes do país, apoderados de justo inconformismo,
bateram às portas da Justiça, reivindicando abolição do extravagante critério
de cobrança diferenciada. Viram seus pleitos acolhidos nas instâncias judiciais
inferiores. Só que, daí pra frente, a questão emperrou. A justa e almejada
solução das pendências, atribuída institucionalmente aos tribunais superiores,
vem sendo procrastinada, sabe-se lá por que cargas d’água, já por enervante
espaço de tempo. Nas prateleiras e gavetas dos doutos julgadores vão se
acumulando processos e mais processos com sentenças que dão ganho de causa aos
lesados clientes dos planos de saúde. Essa situação provoca, obviamente, muita
indignação. Notórios os danos causados à coletividade. A imaginável cessação do
abuso permitirá economia de gastos pra muita gente. Permitirá, igualmente, que
os prejudicados sejam ressarcidos de valores indevidamente apropriados.
Resumindo
o papo: já passou a hora das cortes superiores da Justiça colocarem cobro nesse
incômodo estado de coisas.
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