quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020


Guido Bilharinho *

                                               DIALETO CAPIAU
Não bastou ao historiador Hildebrando Pontes pesquisar, conhecer e escrever sobre futebol, imprensa, fatos e bastidores da política uberabense. Não lhe bastou efetuar o hercúleo trabalho de medição, arrolamento e descrição minuciosa de todo o sistema fluvial de Uberaba e região, bem como de proceder à pesquisa, levantamento e ementário de toda a legislação municipal de Uberaba (leis, decretos, portarias e resoluções de 1892 a 1933).
Além disso, também pesquisou, estudou, analisou e discorreu sobre todos os demais aspectos e setores do município.

Contudo, embora enciclopédico e diversificado, tudo isso foi pouco para ele, curioso de todos os saberes. Seu interesse por tudo que é humano, uberabense e regional ultrapassou todos os limites e o fizeram perquirir, pesquisar, estudar e escrever até sobre assunto completamente alheio e estranho à sua formação científica e técnica de engenheiro agrônomo, egresso do lendário Instituto Zootécnico de Uberaba.

Faltava-lhe, ainda, estudar e escrever sobre o dialeto regional.

Faltava. A partir de 1932 não faltou mais. E para sempre. Pelo trabalho meticuloso, rigoroso e altamente filológico do Dialeto Capiau.

Esse ensaio - ora publicado no blog https://bibliografiasobreuberaba.blogspot.com/ em edição fac-similar do manuscrito vazado na ortografia da época - não só pela dificuldade de sua digitação, como também para permitir o acesso direto ao texto sem nenhuma intermediação que pudesse, por mínima que seja, alterar ou afetar suas meticulosas disposições, esteve até agora em lugar ignorado, desde quando Hildebrando, por volta do ano de seu término ou logo em seguida, enviou os originais ao escritor Coelho Neto.
Falecidos Coelho Neto em 1934 e posteriormente seu filho Paulo Coelho Neto, responsável pelo espólio intelectual e material de seu célebre pai, como localizá-los? Onde procurá-los?

Até que por informações correntes no circuito cultural, aventou-se a possibilidade desses originais estarem na Biblioteca Nacional. E estavam. E estão. E que, com a máxima boa vontade e diligência de autênticos servidores públicos, foram reproduzidos e remetidos a Uberaba.

O Dialeto Capiau, de Hildebrando Pontes, como se pode verificar no Sumário, espelho sincrético do texto, é obra de alta linhagem intelectual, cultural e técnica. Certamente, ninguém poderia fazer melhor e nem com tanta consciência e conhecimento do falar regional. Tanto que ninguém o fez. Só Hildebrando, sedento de todos os saberes. Por isso, o fez. Nenhum, mas nenhum mesmo, profissional da área (professor, filólogo, gramático, escritor) se abalançou a tal cometimento. Possivelmente nem ao menos dele cogitou. Hildebrando, porém, dele não só cogitou como o realizou. Ninguém faria melhor.

A partir desta edição, que o divulga e disponibiliza erga omnes, os estudos filológicos na área dialetal brasileira terão acesso a essa contribuição de capital importância, que os deverão influenciar e nortear de ora em diante.
* Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e, desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/








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