Guido Bilharinho * |
DIALETO CAPIAU
Não
bastou ao historiador Hildebrando Pontes pesquisar, conhecer e escrever sobre
futebol, imprensa, fatos e bastidores da política uberabense. Não lhe bastou
efetuar o hercúleo trabalho de medição, arrolamento e descrição minuciosa de
todo o sistema fluvial de Uberaba e região, bem como de proceder à pesquisa,
levantamento e ementário de toda a legislação municipal de Uberaba (leis,
decretos, portarias e resoluções de 1892 a 1933).
Além disso, também pesquisou, estudou,
analisou e discorreu sobre todos os demais aspectos e setores do município.
Contudo, embora enciclopédico e
diversificado, tudo isso foi pouco para ele, curioso de todos os saberes. Seu
interesse por tudo que é humano, uberabense e regional ultrapassou todos os
limites e o fizeram perquirir, pesquisar, estudar e escrever até sobre assunto
completamente alheio e estranho à sua formação científica e técnica de
engenheiro agrônomo, egresso do lendário Instituto Zootécnico de Uberaba.
Faltava-lhe, ainda, estudar e escrever
sobre o dialeto regional.
Faltava. A partir de 1932 não faltou
mais. E para sempre. Pelo trabalho meticuloso, rigoroso e altamente filológico
do Dialeto Capiau.
Esse ensaio - ora publicado no blog
https://bibliografiasobreuberaba.blogspot.com/ em edição fac-similar do
manuscrito vazado na ortografia da época - não só pela dificuldade de sua
digitação, como também para permitir o acesso direto ao texto sem nenhuma
intermediação que pudesse, por mínima que seja, alterar ou afetar suas
meticulosas disposições, esteve até agora em lugar ignorado, desde quando
Hildebrando, por volta do ano de seu término ou logo em seguida, enviou os
originais ao escritor Coelho Neto.
Falecidos Coelho Neto em 1934 e
posteriormente seu filho Paulo Coelho Neto, responsável pelo espólio
intelectual e material de seu célebre pai, como localizá-los? Onde procurá-los?
Até que por informações correntes no
circuito cultural, aventou-se a possibilidade desses originais estarem na
Biblioteca Nacional. E estavam. E estão. E que, com a máxima boa vontade e
diligência de autênticos servidores públicos, foram reproduzidos e remetidos a
Uberaba.
O Dialeto Capiau, de Hildebrando
Pontes, como se pode verificar no Sumário, espelho sincrético do texto, é obra
de alta linhagem intelectual, cultural e técnica. Certamente, ninguém poderia
fazer melhor e nem com tanta consciência e conhecimento do falar regional. Tanto
que ninguém o fez. Só Hildebrando, sedento de todos os saberes. Por isso, o
fez. Nenhum, mas nenhum mesmo, profissional da área (professor, filólogo,
gramático, escritor) se abalançou a tal cometimento. Possivelmente nem ao menos
dele cogitou. Hildebrando, porém, dele não só cogitou como o realizou. Ninguém
faria melhor.
A
partir desta edição, que o divulga e disponibiliza erga omnes, os estudos
filológicos na área dialetal brasileira terão acesso a essa contribuição de
capital importância, que os deverão influenciar e nortear de ora em diante.
* Guido Bilharinho é advogado em Uberaba e autor de livros de literatura,
cinema, estudos brasileiros, História do Brasil e regional editados em papel e,
desde setembro/2017, um livro por mês no blog https://guidobilharinho.blogspot.com.br/
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