sexta-feira, 22 de novembro de 2019


São regras morais talibanistas!

Cesar Vanucci

“Ficar completamente nu durante o ato sexual invalida o casamento.”
(Aiatolá Rasjah Hassán Jalil, do Egito)

O pasmo suscitado da leitura de certas notícias chegadas de plagas distantes pode levar o leitor à suposição de estar sendo alvo de uma bem-humorada armação de repórteres imaginosos, sequiosos por quebrarem a aridez e contundência de sua rotina como tradicionais informantes de tragédias. Despacho de algum tempo atrás, procedente do Cairo, Egito, falando de decisão tomada por religiosos fundamentalistas, faz parte perfeitamente desse rol de histórias incríveis que parecem inventadas. Se não vejamos. De acordo com decreto religioso (fatwa) baixado por acatado xeque da Universidade de Al-Azhar, a mais célebre de tendência sunita no mundo islâmico, o casamento pode ser invalidado na hipótese de os cônjuges cometerem o “sacrilégio” de se encararem despidos no curso do ato sexual.

Outros renomados doutores na interpretação dos textos sagrados entenderam também de expender considerações a respeito do assunto. Caso de outro xeque, dirigente do “Comitê de fatwas” da mesma Universidade. “Mais brando” nas avaliações, ele assevera, judiciosamente, que os cônjuges podem, sim – como não? -, olhar cada qual para o corpo do outro, quando em trajes de índios da Amazônia... Só que com uma ligeira ressalva: para que a sacralidade conjugal não seja profanada, terão que se esforçar ao extremo, ambos os dois, mode que evitar visão pecaminosa das chamadas partes pudendas do parceiro. A piedosa recomendação é complementada com orientação ao marido e mulher para que se cubram, pudica e prudentemente, com manta ou lençol, durante a junção carnal. O despacho comentado não esclarece se a sentença dos aiatolás se aplica, com vistas ao cabeça do casal, apenas à primeira esposa, ou a toda a fileira de consortes da tradição conjugal sunita.

Outro item relevante na momentosa questão levantada, que também estaria carecendo de instrução mais precisa por parte dos doutos doutrinadores, diz respeito a determinados conceitos, pacificamente aceitos pela psicologia contemporânea, sobre o que venham a ser, na realidade, as chamadas partes erógenas na anatomia humana. Pela teoria vigorante admite-se que o erotismo, fonte de “concupiscência” na cachola  atormentada dos aiatolás responsáveis pelas regras de pureza e recato traçadas para leais devotos, pode desabrochar, inopinadamente, com todos seus desdobramentos malévolos, em regiões corporais imprevisíveis. O dedão do pé, por exemplo. Os olhos, considerados janelas da alma, nem se fala! Podem se transformar, de repente, não mais que de repente, diria o poeta, nas ações descontroladas de criaturas que não estão nem aí para as práticas da autêntica devoção, em dardejantes mensageiros de lascivos desejos e inconfessáveis paixões. E o que não dizer, então, dos “pecados inomináveis” que empedernidos e devassos hedonistas serão capazes de produzir, sorrateiramente, com a simples gesticulação das mãos? Algum cara, obviamente preocupado com a necessidade de salvaguardar os efeitos “salutarmente” moralizadores dos éditos fundamentalistas anunciados, já deve ter, com certeza, alertado os zelosos aiatolás para que baixem normas adicionais de proteção aos fieis ameaçados pelas impuras tentações mundanas. O ideal, talvez, para que tudo funcione a pleno contento, é a adoção de vestes que cubram o corpo inteiro dos viventes no leito. Homens e mulheres se comprometeriam, no momento próprio, a envergar caprichadas indumentárias, naquele estilo bolado pelos criativos figurinistas talibãs. Talibãs do Afeganistão, do Egito, do Paquistão, Irã, Arábia Saudita e de outros lugares onde o fundamentalismo religioso bote banca...

Fica-se a imaginar, também, como louvável “tentativa” de se obter eficácia total naquilo que se almeja atingir com as “moralizadoras fatwas”, a possibilidade da promulgação de ato complementar prevendo a redução da prática do banho a dosagens mínimas. Algo que se ajusta (ao que se fofoca por aí) aos hábitos culturais em alguns refinados ambientes europeus. E, nesse caso, com a expressa determinação de não se dispensar camisola protetiva sob o jato do chuveiro. Por derradeiro, neca de se desprezar, ainda, a conveniência do uso de venda espessa nos olhos naqueles cruciais momentos em que o fervoroso crente se entregue, prosaicamente, ao gesto fisiológico de aliviar a bexiga.

Fundamentalismo religioso, gente boa, é fogo!

Um comentário:

Paulo Miranda disse...

Sinal de que há hiato lá...quando se vai atolá...?

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