A
grama tiririca...
Cesar
Vanucci
“Simplesmente
inventaram o que seriam “candidatos laranjas”,
cuja
única função aparente era receber verbas e transferi-las.”
(Editorial do “Diário do Comércio”, dois de
março)
A
corrupção, sempre com as mandíbulas expostas à desmesura, é mais antiga do que
a Serra da Canastra. “Rome omnia venalia esse” (“Em Roma tudo está à venda”),
já denunciava Salústio, bocado de anos antes do advento do Cristianismo. O
registro pertence ao esplêndido “Dicionário de Citações” organizado no supremo
capricho por Paulo Rónai. Outras frases, também inseridas na mencionada
publicação, atestam a perversa longevidade da abominável prática. Aqui estão:
“A corrupção do melhor é a pior das corrupções” (“Corruptio optimi pessima”).
Autor? S.Gregório, O Grande, que viveu entre 504 e 604. William Shakespeare
(1564-1616) bate forte, como de costume: “Ah, se as propriedades, títulos e
cargos/Não fossem fruto da corrupção! E se as altas honrarias/Se adquirissem só
pelo mérito de quem as detêm!/Quantos, então, não estariam hoje melhor do que
estão?/Quantos, que comandam, não estariam entre os comandados?” Isso aí...
A
corrupção, já foi dito também noutra ocasião, é que nem grama tiririca. Extraio
de um poema composto no saboroso dialeto roceiro sugestiva descrição dessa
planta daninha. Ilustra bem a comparação arguida. Vamos lá: a tiririca “a gente
pode arrancá,
virá de raiz pro ar, mais qua! Um fiapo escondido
no torrão faiz a peste vicejá...” A citação do verso cobra
deste desajeitado escriba uma explicação. Por bom pedaço de tempo andei
admitindo que os dizeres sobre a matreira gramínea fossem da lavra do notável
Catulo da Paixão Cearense, Primeiro Violão inconteste da Sinfônica Poética
Brasileira. Dei-me conta do equívoco, certo dia, ao ouvir o Rolando Boldrin
declamar o poema por inteiro em seu magnífico programa na televisão. Contudo,
lastimavelmente, não houve como reter na memória velha de guerra o nome do
verdadeiro talentoso autor.
Os
corruptores e corruptos de carteirinha de todos os tempos não esmorecem em seus
nefandos propósitos. Imaginação fertilíssima, valem-se de todos os estratagemas
já inventados para burlar a boa fé coletiva. No andamento da operação “Lava
Jato” tivemos amostras disso. Quando começaram a vir a lume as primeiras
informações acerca dos malfeitos cometidos, a impressão que se tinha era de que
os atos ilícitos estavam circunscritos à esfera petista. Com o andar da
carruagem comprovou-se que não era bem assim. O “propinoduto” atendeu a gregos
e troianos. Despejou “agrados” em todas as bandas. Por mais inverossímil que
pareça, oposicionistas extremados, entre os tucanos, emedebistas e outros, que
se gabavam em tom triunfal de sua conduta ilibada em meio à pororoca de
denúncias, se viram, também, de hora para outra, clamorosamente pilhados com a
“boca na botija”. A opinião pública, estarrecida, deu-se conta, então, das
reais proporções do asfixiante problema. Empreiteiros desonestos, agentes
públicos infiéis, políticos inidôneos, das mais diferentes tendências,
achavam-se enredados num colossal esquema de desvio de recursos públicos.
A
vigorosa expectativa e mesmo a ardente esperança da sociedade brasileira,
focadas em mudanças fundamentais que consigam opor barreiras a desvios de
conduta geradores de fraudes no manuseio dos dinheiros públicos, expressamente
evidenciadas na campanha sucessória, já se vêem molestadas por ardilosas
manobras indicativas do reflorescimento da “tiririca”. O nosso DC, no editorial
estampado na edição de 2 de março, pontua magistralmente, ao se reportar à
“invenção” dos “candidatos laranja”, que “mais uma vez, para desilusão talvez
dos mais crédulos, a diferença entre o desejável e o acontecido foi grande e
não foi preciso muito tempo para que se percebesse como partidos políticos e
candidatos – nem todos é de se supor – se adaptaram aos novos tempos e com
assustadora agilidade”.
Há
mais coisas inconvenientes relacionadas com o vasto “laranjal”. A bancada
parlamentar convocada a apoiar projetos governamentais, tal qual acontecia no
passado, impôs condições - ao que parece já devidamente acertadas – para que
tudo se enquadre no enredo costumeiro. Ou seja, para que tudo permaneça “como
dantes no quartel de Abrantes”. O propalado “banco de talentos” não passa de rótulo
novo para a antiga distribuição de cargos a cupinchas na administração pública.
A liberação de “bônus” nada mais é do que a tradicional e generosa oferenda de
verbas para ações de interesse estrito dos representantes parlamentares.
Encurtando razões: mais do mesmo.
Um
fiapo escondido no torrão faz mesmo a peste vicejar...
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