Rio das narco-milícias
*Cesar Vanucci
“Enfrentar as
milícias é tarefa libertadora.” (Ministro Flávio Dino)
O calamitoso estado de coisas reinante no Rio
de Janeiro das milícias fora de controle é de molde a produzir calafrios na
espinha dorsal do mais insensível mortal. Cuidemos de recapitular algumas chocantes
passagens da enormidade de desatinos cometidos pelos milicianos. Noutras
palavras: bandidos da pior espécie, boa parte deles egressos da banda podre da
polícia, amparados ou tolerados por políticos inescrupulosos e gente
engravatada de índole perversa.
Num atentado que comoveu a nação, a Vereadora
Marielle Franco foi assassinada junto com seu motorista, Anderson Gomes. Cinco
anos passados o que se sabe a respeito do delito é que o autor dos disparos é miliciano,
morador de vivenda suntuosa num condomínio de alta sofisticação. Numa propriedade
do dito cujo, foi encontrado – pasmo dos pasmos! - um arsenal contendo grande
quantidade de fuzis-metralhadoras. Os autores intelectuais do atentado ainda
não foram identificados, em que pesem as reiteradas manifestações de que isso
estaria (sempre) prestes a ocorrer. Chefe de grupo de extermínio, foragido após haver
recebido homenagem na Assembleia Legislativa carioca, perdeu a vida, num confronto
com policiais da Bahia. Era comparsa do assassino da Vereadora.
Médicos participantes de um congresso foram
alvejados mortalmente por pistoleiros de aluguel, nas imediações do hotel em
que se hospedavam. Policiais explicaram que eles tinham sido assassinados por equivoco.
O alvo mirado era um miliciano rival de uma facção que disputa poder
territorial. A história tornou-se mais desconcertante e assustadora quando a
policia revelou que os corpos dos assassinos dos médicos haviam sido encontrados
com perfurações de balas num local ermo, pouquíssimas horas depois do ocorrido.
Acerca dos autores intelectuais e dos detalhes dessas operações misteriosas
nenhuma revelação mais veio a furo.
Mais
calafrios na espinha – delegados e agentes auxiliares apreenderam volumoso carregamento
de drogas ilícitas. Transportaram o material para a repartição policial.
Estabeleceram ali mesmo contatos com milicianos interessados na “mercadoria
aprendida”. Entregaram-na, sobescolta da delegacia, para que fossem comercializadas.
Outra ocorrência com características análogas, incriminando também policiais
cariocas, foi desbaratada pela Policia Federal.
Uma fábrica clandestina de fuzis fechada em
Minas atendia regularmente encomendas das milícias, com entregas feitas numa
mansão luxuosa na Barra da Tijuca.
Diligencias dos Federais e do Ministério Público
resultaram na detenção de milicianos que tinham como “prestimosos” guarda-costas
policiais da ativa. Utilizavam armamentos das corporações a que (dês) serviam.
Parte de armas potentes roubadas de um
arsenal do exercito em São Paulo foi localizada, por policiais do Rio em
veículo abandonado, numa zona controlada pela milícia. Não se sabe como
chegaram até lá.
Reagindo com inusitado furor a uma ação policial
que resultou na morte de um parente de “miliciano graduado”, os aguerridos
integrantes de uma das máfias que operam em bairros inteiros atearam fogo em 35
ônibus, afetando enormemente a vida dos habitantes das regiões urbana e
suburbana. Os quadrilheiros chegaram ao cúmulo de paralisar o metrô.
Nas amplas áreas em que atuam, as milícias constroem,
vendem e alugam habitações, tem o controle de transporte, cobram “taxas de
proteção”, exploram serviços essenciais, como eletricidade, água, internet e
gás. E ai de quem ouse recusar tão “prestimosa” ajuda.
De algum tempo para cá, as milícias entraram
para valer no ramo das drogas.
O tema comporta novas considerações.
Jornalista(cantonius1@yahoo.com.br)
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