sexta-feira, 7 de janeiro de 2022




 

Artigo do Acadêmico Antônio Pereira Silva

 

O TELEFONE CHEGA A UBERABINHA

 

                        Um dos pioneiros da telefonia no Triângulo foi o nosso admirável Fernando Alexandre Vilela de Andrade que construiu uma linha particular de sua fazenda até a fazenda de Joaquim Carvalho, interligando-as com sua residência na cidade de São José do Tijuco (Ituiutaba). Isso em 1903 ou 4. E foi valiosa essa iniciativa porque, pelo telefone, ele soube que um grupo de jagunços, vindo de Mato Grosso (distrito de Tupaciguara), pretendia atacá-lo por vingança, pelo fato de ele ter deposto em juízo contra um dos membros da quadrilha que assassinara um joalheiro. Vilela deixou a fazenda e avisou a cidade que enviou três praças armados e mais uma turma de amigos para proteger-lhe a propriedade. Não deu em nada. Antes de chegarem ao Tijuco, os bandidos foram desbaratados pelo cel. João Chaves.

                        Mais tarde, em 1916, Fernando Vilela estendeu fios telefônicos ao longo de suas estradas e inaugurou a primeira linha de 112 quilômetros ligando diversas cidades servidas por suas estradas de rodagem além de colocá-las em tráfego mútuo com a companhia telefônica daqui ligando aquelas comunidades a Uberabinha, Araguari, Santa Maria, Prata, Bom Jardim e Sobradinho.

                        Bom, mas e aqui, como é que foi?

                        No dia 11 de janeiro de 1909, Manuel Caldeira e outros entraram com requerimento na Câmara Municipal solicitando concessão para o estabelecimento de uma linha telefônica no Município. A Comissão de Obras Públicas analisou o pedido e despachou favoravelmente. No dia 15, a Câmara aprovou, mas quem não apareceu para fazer as instalações foi o requerente. E essa oportunidade que a cidade teve para começar a fazer comunicações rápidas, pelo menos dentro do Município, foi por água abaixo.

                        Quem, enfim, começou a instalar telefones na cidade foi Lázaro Ferreira, a partir de 1911. Não consegui saber se ele comprou a concessão dada ao Manuel Caldeira ou se fez outro pedido.

                        O fato é que ele começou a fincar pelas ruas uns postesinhos miúdos, raquíticos, tortos que o jornal da época chamou de “infantis, ridículos e bons para o fogo.” Noutras notas dizia que os fios passavam tão baixos que serviriam para as lavadeiras pendurarem suas roupas pra secar. Mas aí, pelo menos, o povo já começou a conversar à distância.

                        A inauguração dos serviços telefônicos foi no dia 2 de julho de 1911. O povo aglomerou-se em algum lugar, certamente em frente à sede da empresa. Houve muito discurso e muita música pela Banda União Operária. Por certo, alguém fez o uso inaugural de um aparelho assistido pelo povo estupefato. Infelizmente não há pormenores da inauguração.

                        Acho que o Lázaro não se deu bem com o negócio, tanto que em setembro do mesmo 1911, passou a concessão para Oliveira & Cia. Essa firma era de Araguari, de modo que as duas cidades já começaram a se falar por telefone. Foi o Oliveira quem comunicou ao povo de Uberabinha, pelo jornal, que a novidade da união telefônica entre as duas cidades se daria dentro de pouco tempo. Informou também que o centro telefônico atenderia das 6 às 21 horas, todos os dias, e durante a noite, só por motivo de forma maior, como chamar médico ou farmácia.

                        O negócio, à época, não parecia muito bom, tanto que o jornal “O Paranahyba”, de novembro de 1914, publicou que alguns dos seus leitores pediam-lhe que chamasse a atenção do co-proprietário Francisco Coelho para o mau estado em que se encontravam as linhas.

                        Segundo Tito Teixeira, em 1917 entra outro empresário “na linha”: o português José Monteiro da Silva, industrial do algodão, que também não resistiu muito tempo repassando a empresa para o Tito Teixeira e Arlindo Teixeira Jr. por trinta contos de réis. A essa altura, já passados alguns anos de sua instalação em Uberabinha, a empresa só possuía cinquenta assinantes.

                        Mas o Tito e o Arlindo aguentaram alguns anos juntos. Enfim, em 1932, o Arlindo Teixeira Costa (que tinha mudado o seu nome para manter a razão social de uma outra empresa sua, atacadista de secos e molhados), passou sua parte para o Tito e surgiu a conhecida “Empresa Telefônica Teixeirinha” que se manteve em atividade até 1954, quando a CTBC assumiu o seu controle acionário. Daí para cá é o que todo mundo já conhece. (Fontes: jornais da época, Atas da Câmara Municipal, Tito Teixeira).

========



Poema da Acadêmica Célia Laborne Tavares

 

NOITE CLARA

 

Rondas noturnas velam pela paz.

Dorme comigo o cheiro das estradas

e o brilho das estrelas se impregna de vida.

 

Um espectro adeja sobre as águas

e procura romper a santidade desta noite,

mas há luz no coração e há paz na emoção.

 

========

 

Poema do Acadêmico João Bosco de Castro

 

 Farpas de um Natal!

 

Um dia, tanto pecado

Deste Mundo tão boçal

Fez nascer um Menininho

̶  Assinzinho, qual mindinho  ̶  ,

Nas estivas dum curral,

Muito frio e emborrascado!

 

Nasceu, ali, entre reses,

Longe de plumas e painas,

E deu asilo aos pastores,

Amáveis contempladores,

E reanimou-lhes as fainas

Diárias, com bons jaezes!

 

Era, uma vez, um Menino!...

Era, uma vez, um minúsc’lo!...

Era, uma vez, um Divino

Que, sempre, será Maiúsc’lo!...

 

Enfrentou grandes torpezas,

Cultivou dotes gentis,

Não adulou as riquezas,

Mas perdoou gentes vis!

Coisou de cabras montesas,

Engalanou bem-te-vis,

Fez prodígios de proezas:

Amou verdugos hostis!

 

Ensinou a reis minazes,

Com seus verbos muito amáveis,

E enxotou ladrões vorazes,

Com chibatadas placáveis

̶  Pra que, na Paz, haja pazes

E momentos memoráveis!...  ̶  ,

Em favor da Inteligência,

Contra qualquer violência!

 

Mas não pregou a discórdia,

Nem sustentou a injustiça,

Nem adotou a incúria,

Sequer a falácia e a injúria!

 

 Não fez a mentira nem a preguiça,

Mas semeou a rosa da concórdia,

Da tolerância e do amor:

Da autodoação desinteressada!

Refutou hosanas e pilatarias,

Améns e quaisquer vilanias.

Não inventou a ganância

E a discriminação materialistas

E lucristas deste Natal faraônico,

Enganoso e antiCristo,

Que não Lhe pode ser a Festa

De Sua Santa Nascença,

Por injusta e por funesta,

Porque nos traz a descrença

E porque mutila a alegria

De milhões e milhões de criancinhas

Pobres e abandonadas,

A se mirrarem... Vexame!... :

“Eli! Eli! Lamma Sabactani!”,

Travos de vinagre e fel

Que espinham o coração e a vontade

Recôndita do mísero proletário,

Contra o vinho e o fino mel,

Que mais assanham ao onzenário

A cupidez marginalizadora

E esgorjante do poder econômico!

 

Um dia, todo o pecado

Desta Terra tão boçal

Fez nascer um Menininho

̶  Assinzinho, qual mindinho  ̶  ,

Em borrascas, num curral,

Que tentou curar o Mundo,

Pestiloso, podre e imundo,

Mas não criou o Natal!  

 

Belo Horizonte-MG, 10 de dezembro de 1987


========


Poema de Ubirajara Franco

 

VENDINHA DA ESTRADA

 

​Já não sou advogado,

isto é assunto encerrado!

Sou agora o proprietário,

sem ser latifundiário,

da vendinha lá da estrada,

que só me traz alegria,

e por mim arrematada

em concorrido leilão.

 

       Não falo de rodovia

       porque a estrada é de chão,

       margeada pelos dois lados,

       por arbustos de capim,

       onde cobras serpenteiam,

       saracuras gorjeiam,

       e há lagartos assustado,

       em disparada sem fim...

 

E onde passam cavaleiros,

(eu não disse cavalheiros)

pedestres e carroceiros,

e também carros-de-bois,

sem pressa de chegar,

pois se nada atrapalhar,

vão chegar muito depois...

 

       Para lá estou mudando,

       e para sempre ficando

       longe do computador

       que me causa pavor.

 

       Da música estridente

       do meu vizinho de frente,

       que é a razão dos meus ais!

 

       Das etiquetas sociais,

       da lâmpada fluorescente,

       do meu cliente que enguiça

       pelo atraso da justiça,

 

       Daquele falso sorriso

       que me dão quando é preciso

       favores solicitar...

 

 - O que? Tudo abandonar?

(diz a minha secretária)

E aquela ação temerária,

com data já marcada?

E a audiência trabalhista

para amanhã designada?

 

       Qual audiência, qual nada!

       E o Dr. Juiz está ciente

       que não pedirei mais vista

       dos autos de nenhum cliente!

       E desse FORUM a escada,

       com minha pasta pesada,

       nunca mais hei de subir,

       disposto para até mentir,

       com testemunhas compradas,

       já de mim envergonhadas!

 

Não mais o meu parecer

para o Juiz convencer

que a verdade do meu cliente

é a verdade verdadeira,

porque a SUPREMA VERDADE,

está naquela vendinha,

a casa toda branquinha,

bem ao lado da paineira,

onde em preguiçosa tarde,

a patativa anuncia

a hora da AVE-MARIA.

 

E os homens da freguesia,

suas mãos cheias de calos,

ficam pitando... assuntando...

enquanto os seus cavalos

com seus rabos afugentam

os mosquitos que os atentam!...


Nenhum comentário:

A SAGA LANDELL MOURA

Pacto sinistro

                                                                                              *Cesar Vanucci   “O caso Marielle abriu no...