sábado, 29 de agosto de 2020


O amigo que nos deixou
Cesar Vanucci

“Cada qual tem seu dia marcado”.
(Virgílio)

Disse Camões: “As pessoas não morrem, partem primeiro”. Disse Richard Bach: “Existe um jeito simples de saber se está cumprida a missão de alguém. Se está vivo não está.” O que nem o poeta, nem o pensador disseram é que, na fase outonal da vida, a gente descobre, de súbito, que vai se tornando frequente a “partida primeiro”, bem cumprida a missão, de um punhado de amigos diletos. A lista dessas separações envoltas em saudade acaba de ser acrescida do nome de Silviano Cançado Azevedo, companheiro de jornadas memoráveis.
Cidadão de bem, engenheiro culto e capaz, dono de irradiante simpatia, este construtor do progresso deixou pegadas cintilantes em trilhas percorridas no rumo do desenvolvimento econômico e prosperidade social. Causa por ele perseguida com benfazeja obsessão. Desempenhou, com zelo e competência, funções executivas nas áreas pública e privada. O BDMG, a Secretaria de Estado da Indústria e Comércio, a Companhia de Distritos Industriais guardam, em seus acervos, anotações exuberantes de atos e decisões brotados de seu labor, talento e inventividade. Trabalhamos juntos, por longo espaço de tempo, no Sistema Fiemg. Eu, como Superintendente Geral; ele, como dinâmico coordenador do Conselho de Estudos Econômicos e, noutro período, como Superintendente de Cultura do Sesi.
A parceria rendeu frutos compensadores. Silviano passava para os colegas, continuamente, lições de vida impregnadas de otimismo. Sua crença em valores caros ao sentimento de brasilidade e ao sentimento comunitário era bem arraigada. Ele foi uma dessas criaturas raras, desprendidas e leais, que, antes de tudo mais, costumam encarar o trabalho, executado com afinco, espírito público e sensibilidade social, como recompensa do próprio trabalho.

· No dia em que o Brasil chegou a cem mil mortos pela Covid, sem qualquer sinal no ar de que a pandemia está se aproximando do fim, num suplemento da “Folha de São Paulo”, saiu estampado um poema de forte simbolismo. O texto é de autoria de W.H.Auden, traduzido por João Mostazo. Intitula-se “Blues fúnebre”. Tomo a liberdade de reproduzi-lo. “Parem os relógios, desliguem o telefone, / calem com um osso o cão que está com fome, / fechem o piano, abafem os tambores / para o caixão passar, cortejo e flores.// Deixem o avião rodar no céu / riscando esta palavra no ar: morreu. / Que a pomba use uma fita de amuleto / e o guarda tire a farda e vista preto. // Morreu. Era meu norte, era meu leste, / meu sul, meu sol, minha noite, meu oeste. / Meu canto, meu descanso, minha canção. / O amor era pra sempre, que ilusão. // Apaguem as estrelas, não servem de farol. / A Lua, guardem, que derreta o Sol. / O mar, recolham, varram as florestas / que nada me consola uma hora destas.”

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