sexta-feira, 17 de abril de 2020


Clamor universal

 “Isso não é, tchê, chuva pra quem tem capote”.
(Sentença popular gaucha aplicada, nestas considerações, a propósito de uma sugestão de especialistas em questões sociais sobre uma taxação mínima das grandes fortunas)

Recapitulando o que ficou dito. São 26 “cabras da peste danados de sortudos”, pra valer-nos de expressão típica do colorido dialeto nordestino. Fazendo uso ainda do descontraído linguajar das ruas, cada um deles tem certa parte do corpo – naturalmente agasalhada por confortáveis calças de grifes famosas – “inteiramente voltada pra lua”... É o que se pode deduzir, com tranquilidade, da espantosa constatação de que as fortunas somadas do seleto grupo correspondem à renda acumulada de 50% da população mundial. Em (atordoantes) números: perto de 4 bilhões de “semelhantes”.

Vejamos uma outra vertente na avaliação dos efeitos perversos da concentração de renda deste mundo do bom Deus em que o diabo costuma plantar incômodos enclaves. Cá está mais uma sugestiva informação. Especialistas em questões sociais asseveram, com convicção, que a simples incidência de uma taxa tributária de apenas meio por cento sobre os haveres dos viventes enquadrados no rol dos 1 (um) por cento mais abonados financeiramente será de molde a proporcionar recursos suficientes para solucionar dramáticas situações de carência social. O dinheiro arrecadado permitirá que nenhuma criança, no mundo inteiro, fique fora de sala de aula. Além disso, garantirá a todo mundo assistência em saúde. O cálculo aritmético dá asas à imaginação. E se, ao invés de meio por cento, a hipotética taxa viesse a ser de 1, 3, 5%? Nalguns casos, até de 10, 20%? Pensem só nos benefícios que adviriam dessa taxação especial. As contribuições do pessoal seriam absorvidas sem comprometimento exorbitante do patrimônio pessoal.

No começo deste papo se fez menção ao linguajar nordestino. Que tal utilizar, agora, para descrever o real impacto tributário da proposta aventada, uma sentença do dialeto “gauchês”? Ei-la: “Mas isso aí, tchê, não é chuva pra quem tem capote”.

Adiante. Juntamente com as incríveis anotações já feitas, atinentes a injusta partilha da riqueza universal, pesquisas promovidas por fontes confiáveis trazem-nos outros dados impressionantes, nesse desfile extenso de situações reais desnorteantes.

Fixemos atenção na vida brasileira. O Banco Mundial, a “Oxfam International”, a Fundação Getulio Vargas e o IBGE deixam expresso o fato de que a desigualdade de renda no país vem crescendo de forma abismal. Dado do IBGE: a renda da metade mais pobre caiu 18 por cento entre 2018 e 2019. Enquanto isso, os 1 por cento mais ricos viram aumentar  quase 10 por cento seu poder de compra. Banco Mundial: a pobreza aumentou no Brasil entre 2014 e 2017, atingindo 21 por cento da população, 43,5 milhões de criaturas. Dado da FGV: equivale ao total dos habitantes chilenos nosso contingente populacional com renda insuficiente para as necessidades básicas. Os “entrantes” na categoria da exclusão social chegavam, no final de 18, a 6,3 milhões. A população inteira do Paraguai.

O Brasil é o décimo país mais desigual. Apresenta mais disparidades sociais que vizinhos como Chile e México. É o que afirma o “Relatório do Desenvolvimento Humano” (RDH) elaborado pelas Nações Unidas. O levantamento emprega como referência o chamado “Índice de Gini”, uma forma de calcular a distorção de renda. O indicador varia de 0 a 1 – quanto menor melhor. No Brasil, ficamos com 0,515, mesmo índice da Suazilândia.

Deixemos bem aclarada, a esta altura, que a má distribuição da riqueza, bem visível na paisagem brasileira, é um fenômeno de dimensão universal. Suas consequências são percebidas, como se está a ver agora, em todos os rincões do planeta, mesmo no assim chamado “primeiríssimo mundo”. Sirva como amostra deste impactante quadro de privações sociais, o que vem rolando na mais importante cidade do mais poderoso país do mundo. Nem todos conseguem assistência adequada para problemas de saúde. O clamor por transformações sociais, visto está, é universal.

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