terça-feira, 7 de janeiro de 2020


Nebulosas conveniências

Cesar Vanucci

“A geopolítica é regida, muitas vezes,
por conveniências as mais espúrias.”
(Antônio Luiz da Costa, educador)

Para os que conservam os instrumentos de percepção pessoal em estado de alerta sobram sempre, nesta nossa trepidante andança pela pátria terrena, copiosas evidências de que as posições da mídia internacional são regidas por inextricáveis desígnios. Refletem nebulosas conveniências. É só por tento nos desdobramentos de certos acontecimentos momentosos. Fatos propagados de maneira estrondosa são, de súbito, sem mais essa nem aquela, envoltos em sepulcral silêncio. Atenção para alguns deles.

Comecemos pela situação da Venezuela do caudilho Nicolás Maduro. O que era transmitido, até outro dia, ao respeitável público, pode ser assim descrito. Meses e meses a fio, renderam manchetes informações sobre a crise humanitária venezuelana; sobre a reação popular aos desmandos do governo; a repressão aos protestos de rua por parte das forças de segurança; o garroteamento das liberdades públicas; a instituição do governo paralelo autoproclamado de Guaidó, congregando apoio formal de numerosos países; as alianças firmadas por Caracas com Moscou e Pequim, debaixo dos flamejantes protestos de Washington, e por aí vai. Alguma mudança radical de cenário parecia prestes a ocorrer. Só que, em efervescentes bastidores, engendradas por influência geopolítica econômica, presumíveis manobras abortivas detiveram o esperado parto da montanha... O papo emudeceu. E tudo ficou como está, pra ver como é que fica. Estranho pacas!

Outra situação assaz emblemática, dentro da mesma linha de raciocínio. Diz respeito a duas organizações sinistras: o Estado Islâmico e a Al-Qaeda. A última das organizações citadas tem base no Afeganistão. Foi liderada por Osama Bin Laden, sendo apontada como responsável pelo atentado às torres gêmeas. Oportuno recordar que a Al-Qaeda operava, no princípio, ancorada em poderosa ajuda, como força auxiliar combatente, ao lado dos Estados Unidos, nas lutas dos afegãos contra os invasores russos. Logo após a retirada das tropas russas da conflituosa região, os incondicionais aliados da Casa Branca viraram a casaca. Tornaram-se inimigos ferozes de seus parceiros. Deu no que deu. Com menor estridência, mas sempre com letais propósitos, a Al-Qaeda continua a semear terror nas bandas orientais do planeta. Tem-se por absolutamente certo que os dirigentes atuais sustentam entendimentos, na “moita”, como se diz no popular, com graduados funcionários norte-americanos com o objetivo de estabelecer um pacto de governança compartilhada para o Afeganistão.  O “acordo”, reaproximando “aliados” de outros tempos, implicaria na retirada da guarnição de doze mil militares dos Estados Unidos presentemente concentrados no território. Isso aí...

Já no que concerne ao EI (Estado Islâmico), os aspectos mais frisantes a considerar, bastante perturbadores, são os que se seguem. Cercados permanentemente, na terra, no mar e no ar, por forças de diferentes países – as mais bem equipadas do mundo -, entre elas militares estadunidenses e russos, os combatentes do fanatizado agrupamento, estimados em dezenas de milhares, nunca se deparam, em momento algum – atroz “enigma” –, com dificuldades de provisões, de qualquer ordem, na consecução dos atos terroristas executados. As regiões que ocupam são desprovidas de tudo. Mas eles dispõem, tempo todo – fornecidos por quem e como? –, de armamento sofisticado, de reservas de combustível para movimentação das viaturas, de produtos alimentícios, além de recursos financeiros para remuneração dos militantes. A circulação do dinheiro é assegurada, com inabalável certeza, por uma rede bancária, “invisível”, “clandestina”. Incrível imaginar possa essa rede bancária jamais ter sido identificada pela sofisticadíssima, arguta e bem articulada contra-inteligência dos países inimigos, declaradamente empenhados em “riscar do mapa” a execrável falange extremista.

E não é que, igualmente, o EI andou tomando “chá de sumiço” no noticiário! Pelo que se ouve dizer, numa ou noutra informação estampada, já agora em canto de página, o grupo não abdicou de seus cruéis propósitos. Prossegue ativo na escalada da violência contra quem discorde de suas tresloucadas concepções políticas e religiosas. Só que os atentados, ceifando vidas inocentes, estão sendo direcionados, de tempos para cá, em regiões consideravelmente distanciadas dos centros urbanos pertencentes às grandes potências. Soaria exagerada a suposição, inimaginável à luz do bom-senso, de que pintou no pedaço algum (outro) pacto tenebroso, concebido nos domínios lúgubres de inconfessáveis interesses geopolíticos? Como é de costume dizer-se por aí, perguntar não ofende, não é mesmo? E, por outro lado, nem sempre é preciso explicar tudo, o que a gente quer é só entender...

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